DM: O motivo de estar aqui é que eu imagino que temos muitos assuntos a ser discutidos todos nós. Não é mesmo Noelia, ou devo dizer.... Paola.

A reação de cada um perante a afirmação sem lógica de Douglas Maldonado foi distinta. Carlos Daniel e Paulina se entreolharam intrigados, em suas faces predominava expressões que transmitiam todo o espanto e dúvida que havia em suas mentes. Douglas permaneceu olhando fixamente nos olhos de Noelia silenciosamente, a certeza e seriedade de sua fala eram ilustradas também em sua mirada, não precisava mais de nenhuma palavra de acusação. Já Noelia permaneceu com a mesma expressão anterior, fria e séria, arqueando leve, porém incisivamente uma das sobrancelhas.

CD: O que? – Disse Carlos Daniel ainda não acreditando na afirmação.

Paulina: Não Douglas você está enganado. Essa não é a Paola, essa é a minha outra irmã Noelia. Nós éramos trigêmeas e não apenas Paola e eu, como todos pensavam.

DM: Paulina, eu posso colocar a minha mão no fogo e afirmar que essa que está a minha frente é a Paola.

Noelia: Não coloque sua mão no fogo, porque você pode se queimar queridinho. – Disse com toque de sarcasmo no tom da sua voz e um sorriso no rosto.

CD: Você está doido Maldonado? Isso não faz o menor sentido.

Paulina: Douglas, a Paola morreu anos atrás, ele foi cremada, eu estava lá.

CD: Eu estava presente ao lado de Paulina naquele momento, e te digo sem nenhuma dúvida, a Paola está morta.

A tentativa inútil de Carlos Daniel e Paulina em tentar convencer Maldonado fez com que os três conversassem internamente, esquecendo por um minuto a existência de Noelia. A irmã de Paulina estava observando tudo com um sorriso maquiavélico desenhado em seus lábios vermelhos, sua satisfação por estar vendo aquela cena era visível. Sem que ninguém a notasse, ela seguiu em direção ao sofá da sala e sentou-se provocativamente cruzando suas pernas.

Perdidos ainda na discussão de desacreditar Douglas da ilógica ideia, eles apenas voltaram a fixar seus olhares na dona da casa ao escutarem uma risada saindo de sua boca. Aquele modo de rir tão marcante espantou a todos, evaporando qualquer dúvida que restava a respeito de quem realmente era Noelia. Seguindo a origem da risada, eles encontraram uma Noelia totalmente diferente da que haviam conhecido, não que houvesse alguma mudança física, mas sim no espírito. A postura de rainha, o olhar debochado, o sorriso maquiavélico pontuavam uma confirmação que não estavam preparados para ter.

“O engraçado disso tudo é que parece que o único inteligente aqui é o meu querido Douglas Maldonado. Estou decepcionada com você Carlos Daniel, depois de tanto tempo de casados, você não se deu conta do que estava a sua frente, até entendo, afinal, eu te traia com meio mundo e você não percebia. E o que falar da minha querida irmãzinha, tão inteligente, mas mesmo assim, caiu feito um patinho em minhas mãos.”

A declaração foi envolta de risos sarcásticos da mulher e incredulidade na face de quem a escutava. Qualquer dúvida que ainda permanecia no ambiente e na mente dos presentes foi exterminada em um piscar de olhos, todos tinham a certeza que a pessoa que estava a sua frente, era ninguém mais e ninguém menos que a lendária Paola Bracho.

CD: Não... não

Paulina: Ai meu deus, não pode ser. - O tom de surpresa presente na voz da nossa eterna usurpadora evidenciava seu desconcerto, suas mãos estavam tremulas, sua respiração acelerada e seu rosto estava pálido.

Paola: Ainda não acredita usurpadora? Pois olhe bem, Paola Bracho está de volta.

Douglas observando a reação de Paulina frente aquele descoberta correu para o seu lado para ampara-la. O nervosismo tomava conta de seu corpo e seus sentidos, sua mente estava sendo torturada por uma chuva de informações inacreditáveis. Ela não conseguia pronunciar palavra alguma, suas pernas não respondiam a seu comando, suas forças foram arrancadas de seu corpo. Em questão de segundos, Maldonado sentiu o corpo de Paulina desfalecendo em seus braços, e com a mesma rapidez com que tudo aconteceu, ele a levou até a outra parte do sofá.

A reação de Carlos Daniel não foi surpreendente, ele foi sucumbido por uma mistura de raiva, incredulidade e ira descomunal. Sua mente estava frenética, tomada por lembranças vividas e ideias das quais ele não quis acreditar. Por um tempo, tentou convencer a si mesmo que toda aquela situação não era real, que não se passava de um jogo de engano de sua mente atordoada. Entretanto, no seu interior ele sabia que era verdade e a vê-la parada a sua frente, com o mesmo olhar de superioridade de anos atrás, acabava com toda ilusão que sua mente insistia em formar. E percebendo o estado de Paulina frente a revelação, a fúria de Carlos Daniel aumentou ainda mais.

CD: EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FOI CAPAZ DE FAZER ISSO!

Paola: Ai Carlos Daniel, é incrível como você não conheça a mulher que tem.

CD: VOCÊ NÃO É MINHA MULHER, VOCÊ É UM MONSTRO PAOLA, VOCÊ SE FINGIU DE MORTA DURANTE TODOS ESSES ANOS, COMO VOCÊ PODE? – Perguntou Carlos Daniel indignado.

Paola: Ai calma queridinho, não grita, eu não sou surda. E sim, sou sua mulher sim, porque se não estou enganada, nós não nos divorciamos antes de acidente.

CD: MAS É MUITA CARA DE PAU MESMO... VOCÊ SE FINGIU DE MORTA DESGRAÇADA...

Paulina: Mas como é possível? Eu te vi sendo cremada – Disse Paulina aos prantos.

Paola: Era isso o que você mais queria não era Paulina, me ver morta para ter o caminho livre para se casar com o MEU MARIDO. Mas olha como o destino é travesso, aqui estou eu, linda, bela e viva, pronta para retomar tudo o que foi meu.

Paulina: Não Paola, eu não queria te ver morta, você é minha irmã, a única família que eu tinha. Você não sabe como eu sofri quando você morreu.

Paola: Sofreu tanto que prontamente se casou com o meu marido.

Paulina: Mas... mas... você mesma disse para eu fazer Carlos Daniel feliz...

Paola: Ora Paulina, eu nunca disse isso.

Paulina: Sim, você disse. Quando você estava morrendo na cama do hospital, você me pediu para me casar com Carlos Daniel, para o fazer feliz.

Paola: Mas que bobinha você é querida irmãzinha, eu nunca diria isso, nem se estivesse morrendo.

CD: ISSO NÃO ESTÁ FAZENDO SENTINDO ALGUM PAOLA, NÓS VIMOS VOCÊ MORTA, EU ESTAVA NO HOSPITAL, NO FUNERAL, ESTAVA LÁ QUANDO COLOCARAM O SEU CORPO NO FOGO.

DM: E ALÉM DE SE FINGIR DE MORTA, VOCÊ AINDA TEVE A AUDÁCIA DE CRIAR TODA ESSA HISTÓRIA DE TRIGÊMEAS SÓ PARA SE APROXIMAR DE PAULINA.

Paola: Eu não criei nada, isso é real.

Paulina: Você está dizendo que nós realmente somos trigêmeas?

Paola: Claro irmãzinha.

Paulina: Então... então, a Noelia existe??

Paola: Existia.

Paulina: Você quer dizer que ela...

Paola: Ay por favor, será que vou ter que explicar tudo?? Use essa cabeça despenteada que você tem Paulina. Se eu estou viva é porque alguém tinha que estar morta não é verdade.