A Gotinha De Amor Que Faltava escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 11
Capítulo 11 - Marcas de um Passado Recente


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a três pessoas que escreveram coisas lindas ao recomendar a fic essa semana: Andarilho das Fics, Nyh_Cah e Yasmy Santana. Muito obrigada pelo carinho :))

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Pessoinhas esse capítulo está enorme, eu iria dividi-lo em dois, pelo menos, mas achei que vocês mereciam ele inteiro porque estão sendo maravilhosas (os) comigo.



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Na manhã seguinte, por volta das oito e meia, Emmett fora acordado pelo toque da campainha. Havia esquecido completamente que era dia da diarista vir limpar o apartamento, também com tanta coisa acontecendo em sua vida nos últimos dias, não era de se estranhar. Habitualmente ela era sempre recebida por Rosalie, ou pegava as chaves na portaria quando não havia ninguém no apartamento.


O toque da campainha não afetou o sono tranquilo da pequena Julia, que dormia ao lado do pai, sugando sua chupeta, com o paninho colado em uma das bochechas.


Emmett saiu da cama, alcançou um roupão preto que estava sobre a poltrona, vestiu e foi a atender a porta. Ele passava a mão na cabeça enquanto seguia até o hall de entrada, sonolento e de pés descalço. Abriu a porta sem se importar em verificar quem realmente era.


- Bom dia, senhor McCarty – saudou a mulher que estava do outro lado da porta. Era a senhora Jones, diarista. Ela tinha estatura mediana e cabelos negros, beirava seus quarenta anos de idade, divorciada, e mãe de um garoto de quinze anos. Era um bom garoto, o orgulho da mãe. A senhora Jones trabalhava para o casal desde que se casaram. E a partir daí Rosalie sempre o presenteou, fosse aniversário ou no natal.


A senhora Jones vinha ao apartamento, no mínimo, duas vezes por semana. Conversava com Rosalie e algumas vezes até ouvira seus desabafos. Ela conhecia toda a luta e angustia da senhora McCarty em ter um bebê.  


Quando ficou sabendo que Rosalie e Emmett tinham dado um tempo no relacionamento, sem duvida que ficara muito surpresa, mas jamais, em hipótese alguma se intrometera na vida intima dos patrões.  Foi a todas as faxinas, durante o mês que se passou, sem jamais se intrometer na vida intima de Emmett.


- Bom dia, senhora Jones – respondeu Emmett, ainda com cara de sono, dando espaço para que ela passasse sem esbarrar nele.


- Me desculpa por tê-lo acordado. Passei na portaria para pegar as chaves, mas me avisaram que o senhor ainda não havia saído.


- Sem problemas – Emmett fez sinal com a mão para que ela seguisse em frente.


- Com licença, senhor. Irei começar o meu serviço – disse ela ao seguir em direção à sala de estar rumo à cozinha. – Gostaria que lhe preparasse o café da manhã, senhor McCarty?


- Seria ótimo – disse ele, agradecido. – Eu vou precisar ir à empresa agora na parte da manhã. Tenho uma reunião importante com um grupo de empreendedores, devo estar de volta no inicio da tarde, mas não sei exatamente o horário – disse ele refazendo o caminho para a suíte principal. Então parou no meio do caminho e virou para olhá-la. – Senhora Jones se incomodaria de me fazer um grande favor essa manhã?


- O que precisar senhor – ela respondera.


- Poderia cuidar de minha filha até que eu esteja de volta?


A senhora Jones ficara totalmente surpresa com a nova revelação. Definitivamente não esperava por essa, uma vez que sua patroa não tinha filhos, e o casal vivia, no momento, uma crise conjugal justamente por esse motivo.


- O senhor tem uma filha? – perguntou ela sem se conter.


Emmett passou a mão na cabeça, pensando na melhor forma de explicar a origem de sua filha. Mas achou melhor não entrar em detalhes, pelo menos por hora.


- É uma longa história senhora Jones. Resumidamente ela vivia com a mãe e agora veio viver comigo. E não, eu não trair a minha esposa. Julia é fruto de um relacionamento antigo que não funcionou. Nem eu nunca quis que funcionasse. Minha gotinha tem três anos e é a criança mais adorável que já conheci.


- Me desculpa senhor McCarty se me fiz intrometida. Não foi minha intenção – desculpou-se envergonhada.


- Não se preocupe senhora Jones. Dadas às circunstancias é normal que esteja surpresa. “Até mesmo eu fiquei”, completou em pensamento. – Nesse momento ela está dormindo no meu quarto, mas deve acordar antes mesmo que eu saia. Ela acorda cedo. Com licença – disse ele ao se retirar, indo para a suíte.


Surpresa com a nova informação, a senhora Jones foi para a cozinha preparar o café da manhã para o patrão. Hoje, diferente dos outros dias, ela teria uma criança para ficar de olho enquanto trabalhava. A única coisa que esperava é que a pequena Julia não fosse uma criança peralta e mimada, ou do contrario, seria impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Principalmente porque não poderia dar bronca na criança, muito menos na primeira vez que ficava com ela.


Emmett entrou no quarto e foi em direção ao banheiro, Julia ainda dormia. Ele fechou a porta ao entrar, começando a se despir.


[...]


A senhora Jones sorriu consigo mesma ao notar que por todo o apartamento já havia sinais de que uma criança vivia ali, bem diferente de antes. Em um lugar ou outro havia brinquedos perdidos, e até mesmo chupeta. Não esquecendo que havia giz de cera e livro de colorir sobre a mesa da cozinha e no sofá da sala.


Ao abrir a geladeira não fora diferente, havia mais indícios ali. Muitas guloseimas infantis recheavam as prateleiras. Sobre a pia havia mamadeiras, limpas e por lavar. Latas de farinha láctea e achocolatado estavam sobre o balcão marcando presença.


[...]


No quarto, a pequena Julia acordara de seu sono tranquilo na segurança da grande cama de seu papai. Sentou-se sobre o colchão em meio a um monte de cobertores, com o rostinho sonolento, retirando a chupeta da boca, chamando pelo pai.


- Papai – em sua bochecha havia a marca deixada pelo paninho. – Papai... – continuava a chamar. Engatinhou até a beirada da cama e desceu devagar.


Emmett não a ouviu chamar devido o barulho do chuveiro. Sem saber onde seu papai estava Julia saiu do quarto a sua procura, levando seu paninho e a chupeta em mãos. Ao ouvir sons de movimentos na cozinha, ela achou que fosse Emmett e foi até lá.


- Papai – o chamou ao entrar no cômodo. – Papaizinho...


A senhora Jones que estava na área de serviço foi até a cozinha ao ouvir o som daquela doce voz infantil, porém ainda sonolenta.


- Bom dia, Julia – disse ela, com um sorriso saudoso.


Surpresa com a presença da mulher desconhecida e por ela saber seu nome, Julia respondeu timidamente em um sussurro.


- Bom dia...


- Você quer alguma coisa, querida? – questionou a senhora Jones, surpresa com a semelhança entre Julia e o pai, não havia dúvidas de que era uma verdadeira herdeira McCarty. Então ela se perguntou se Rosalie já tinha conhecimento daquela criança.


- Quelo meu papai... – sussurrou.


A senhora Jones lhe sorriu, estendendo a mão para lhe afagar os cabelos, mas Julia rapidamente recuou dois passos.


- Quelo o meu papai – pediu, com os olhinhos repletos de lágrimas, e o lábio se projetando em um beicinho.


A senhora Jones a olhou com preocupação ao notar os vários hematomas nos braços e pernas daquela criança. Perguntou-se internamente quem seria o monstro que lhe causara tamanha dor.


- Seu papai está tomando banho no banheiro do quarto dele. Você não quer ficar aqui e comer alguma coisa, até ele terminar? – sugeriu, com um sorriso.


Julia maneou a cabeça negativamente, lágrimas ameaçando cair a qualquer momento. O azul de seus olhinhos brilhava com mais vivacidade por causa do acumulo de lágrimas.


-Tudo bem então, querida – disse a senhora Jones. – Quando quiser é só me chamar. Qualquer coisa eu estarei aqui. Meu nome é Delina Jones. Pode me chamar de Delina, ou de senhora Jones, como você achar melhor.


- Tá – respondeu Julia, receosa, antes de virar as costas e sair correndo, com suas peninhas trôpegas para o quarto do pai.


Próximo ao corredor que antecedias os quartos, Julia parou em frente ao console, onde pegou, mais uma vez, o porta-retratos que continha a fotografia de Rosalie. Continuou correndo até a suíte principal. Assim que entrou na suíte ela bateu na porta do banheiro, mas era tão fraquinho que Emmett mal pode ouvir, levando em consideração o chuveiro ligado. As lagrimas já percorriam suas bochechinhas coradas.


- Papai... Não fica condidinho... – ela murmurava em meio ao choro, recostada à porta do banheiro, com a chupeta na boca agora, o paninho e o porta-retratos entre ambas as mãozinhas.


Cerca de dois minutos após Julia chegar ali, sem saber que ela estava recostada a porta, Emmett a abriu, o que ocasionou um encontrão entre o corpo pequenino e suas pernas. Pego de surpresa, assim como Julia, ele se assustou. Ao se dar conta do que acabara de acontecer, rapidamente Emmett a pegou no colo, ele usava agora um roupão de banho azul marinho e seus cabelos estavam molhados. O aroma e o frescor de seu perfume se espalharam pelo o ambiente.


- Ei, gotinha, o que estava fazendo aqui? – perguntou, passando uma das mãos em ambas as bochechas da filha, limpando as lágrimas após tê-la pego no colo.


- Pulque você tava condido? – fungou ao perguntar.


- Papai não estava escondido gotinha. Estava tomando banho. E você estava dormindo quando eu entrei aqui. Porque estava recostada a porta, hein? Você poderia ter se machucado.


Julia fez carinho no rosto de Emmett com sua mãozinha livre em seguida encostou a cabeça ao ombro largo dele.


- Não fica condido papai. Eu tenho medo... – pediu chorosa.


Emmett lhe sorriu dando um beijo na bochecha. – Papai não estava escondido filha. Não vai contar isso para a sua avó, né?! É bem capaz que ela credite que eu estava realmente escondido – só então ele percebeu o porta-retratos que Julia segurava em uma das mãos. – Você quer que ela volte logo, não é? – ele referia-se a Rosalie da fotografia.


Julia maneou a cabeça positivamente. – Mamãe... – murmurou, mostrando a fotografia para Emmett.


- É. Ela é a sua mamãe sim. A única que deveria ter sido desde sempre. Não tenho dúvidas de que ela vai te amar muito. Meu único medo é que ela me condene, mas quanto a amar você, minha gotinha, ela fará de tudo para te ter ao lado dela para sempre.


Emmett se aproximou da grande cama, colocando a pequena Julia sentada no centro.


- Eu domí aqui na sua caminha foi papai? – perguntou, passando a mãozinha direita sobre os cobertores. – Pulque eu tava aqui quando eu acodei.


- Foi sim gotinha, você dormiu na cama do papai – Julia sorriu, mesmo com vestígios de lágrimas nos olhos. – Espera um pouquinho que o papai já volta para te dar banho – avisou antes de seguir em direção ao closet, e antes de entrar ele disse. – Não vou ficar escondido não, pode ficar tranquila.


Julia secou os olhinhos com seu paninho e ficou olhando em direção à entrada do closet. Lá Emmett escolheu uma cueca boxer cinza e a vestiu, fechou novamente o roupão de banho e voltou para o quarto. Decidiu vestir o terno somente depois, para não correr o risco de molhar por inteiro.


- Pronto já estou de volta, nem fiquei escondidinho – brincou ele.


Julia estendeu os bracinhos para Emmett e ele a pegou no colo, levando-a para o quarto de hospedes onde estavam todas as suas coisinhas. Entrou no banheiro e a colocou sentadinha sobre a bancada da pia.


-Tira a chupeta da boca – pediu. – Papai vai escovar seus dentinhos até que você já possa fazer isso sozinha – disse ele. Pegou a pequena escova de dentes da Barbie que comprara para Julia, colocando uma pequena quantidade de creme dental de tutti frutti.


Julia colocou a chupeta sobre o mármore da pia em seguida abriu a boca. Antes que Emmett inserisse a escova na boca dela, Julia passou o dedinho indicador sobre a camada de creme dental e colocou na boca engolindo em seguida.


- Ei, eu já falei que não pode fazer isso, Julia– disse ele, um tanto sério. – É para escovar os dentinhos, não para comer – Julia encarou as mãozinhas, mexendo uma na outra, sentindo-se envergonhada.  – Não precisa ficar assim, gotinha.


Sem olhar para ele, Julia sussurrou.


- Você ficou bavo...


Emmett tocou a pontinha do nariz dela. – Eu não estou bravo, gotinha. Olha para papai – pediu.


Julia o olhou, porém, seus olhinhos transmitiam medo. Sufocado por aquele olhar inocente e temeroso, Emmett olhou para o teto do banheiro em seguida beijou a testa da filha, cheio de carinho paterno. A pequena Julia suspirou tendo a certeza de que ele não iria brigar com ela.


Emmett se afastou minimamente para poder colocar mais creme dental na escova, já que ela havia retirado com o dedinho a camada anterior. Julia observava com atenção cada gesto dele.


- Abre esse bocão que o avião com creme dental já está quase na pista – brincou ele.


Julia abriu a boca, mas começou a sorrir. Depois de se concentrar ela abriu a boca outra vez.


- Que boca grande que você tem Julinha – continuou brincando.


- Não é vedade papai – respondeu, fazendo sinal com o dedinho indicador.


- Ah eu acho que é – provocou Emmett. – E esses dentes tão grandes – provocou mais uma vez, mas teve que virar o rosto, pois não aguentou permanecer sério diante tamanha mentira. Os dentinhos de sua filha eram tão pequeninos, a quem ele estava querendo enganar.


- É pla modê você, papai – disse Julia, imitando um rugido, erguendo as mãozinhas, como se mostrasse as garras, fingindo ser um monstro. – Eu sou um monto. Vou pegá você, papai.


Emmett encostou a mão no peito no lado do coração, fingindo estar assustado. – Estou com muito medo desse monstro.


Julia ficou preocupada e encostou sua mãozinha direita no rosto do pai. – Não pecisa ficá com medo papai. Não é de vedade. É um monto de mentilinha. É a Julinha.


Emmett suspirou falsamente. – Que susto você me deu gotinha – em seguida ele estava gargalhando, segurando o rostinho delicado de sua gotinha de amor entre ambas as mãos.


A senhora Jones que passava em frente à porta do quarto, ouviu o riso de ambos e acabou rindo também. Era sinal de que pai e filha estavam se dando bem. O coração ranzinza estava enfim rendido ao amor de um filho, no caso, filha.


“Ah senhora McCarty, volte para sua casa, não sabe a coisa linda que te aguarda aqui”, pensou a senhora Jones.


- Que gargalhada mais gostosa – disse Emmett, apertando levemente ambas as bochechas de Julia. – Mas é sério gotinha, deixa o papai escovar os seus dentinhos – ele aproximou a escova de dentes da boca dela outra vez. Julia abriu a boca novamente, então, Emmett começou a escovar seus dentinhos, sempre dando instruções. Algumas vezes ela ameaçava um sorriso, mas ouvia com atenção. Alguns minutos depois, Julia já cuspia na pia e enxaguava a boca.


- Pronto agora é a hora do banho. Você fez xixi na cama na noite passada outra vez, antes de ir dormir na cama do papai – disse Emmett enquanto ajudava Julia a retirar o pijama.


- Não quelo lavá esse cabelo – resmungou, fazendo beicinho de manha quando Emmett a colocou dentro do box.


- Vai ter que lavar. Você estava suada quando eu te levei para dormir na minha cama – disse Emmett, abrindo o chuveiro, começando a molhar os cabelos de Julia com cuidado. Embora a água estivesse morna, ela estremeceu assim que escorreu em seus olhinhos. Julia segurou-se ao braço de Emmett, tremendo de medo quando ele colocou o shampoo em seus cabelos. – Calma gotinha. Esse não arde como o do outro dia, e o papai também não vai deixar cair em seus olhinhos – tranquilizou.


- Tenho medo... – choramingou.


- Não tenha medo filha, o papai não vai judiar de você – disse Emmett, massageando levemente os cabelos de Julia, como da primeira vez. Pediu que ela inclinasse a cabeça um pouco para trás e começou a retirar o excesso cuidadosamente.


A senhora Jones estava agora no quarto de hospedes trocando o jogo de cama que estava molhado de xixi. Ela mantinha uma expressão confortável no rosto enquanto ouvia, sem querer, a conversa entre pai e filha.


Quando Emmett repetiu o processo com o condicionador Julia estava mais tranquila. Ela até se arriscava a aspirar o cheiro do shampoo, nas espumas que aparava em suas mãozinhas.


- Viu o papai não deixou que caísse em seus olhinhos, não precisa ter medo nem chorar – disse Emmett, começando a lavar o corpinho dela com a esponja em formato de patinho. – Agora é com você – entregou a esponja para Julia. – Lava essa florzinha, direitinho.


Julia achava graça sempre que ele falava isso. No quarto, a senhora Jones também achou graça da forma como ele havia explicado pra filha. Como das outras vezes, Julia se lavou da melhor forma que pode. Emmett sabia que ela precisava de uma mãe que pudesse lhe dar um banho decente, mas por hora ele nada podia fazer.


Emmett envolveu a pequena Julia em uma toalha da gatinha Marie que tinha capuz, que era no formato da cabeça da gatinha. Julia adorou e não parava de alisar o capuz. Ele a levou no colo até o quarto, onde a colocou de pé sobre a cama. A senhora Jones havia acabado de trocar os lençóis. Ela os deixou sozinhos e foi para o banheiro recolher as roupas sujas.


Emmett foi até o closet, pegou um vestidinho lilás com detalhes em branco na barra, uma calcinha e um par de sandalinhas também.  Quando voltou para o quarto, Julia ainda estava enrolada a toalha assim como ele a deixou, ele sorriu começando a secá-la. Passou anti-inflamatório nos hematomas e a pomada nas queimaduras em fase de cicatrização, só então a ajudou se vestir.


Julia cheirou o próprio bracinho e disse. – Eu to chelosa papai, olha – estendeu o bracinho para que Emmett pudesse cheirá-lo.


- Que gotinha mais cheirosa – elogiou. Julia lhe sorriu revelando suas covinhas herdadas. – Agora vamos pentear esses cabelos. Você sabe que o papai é burro, e não sabe arrumar cabelos de garotinhas todo bonitinho, isso só a mamãe sabe, mas eu achei isso – mostrou um arquinho branco, que tinha um lacinho lateral, e deu uma piscadela de forma divertida. De pé na cama, Julia abraçou as pernas dele.


Emmett pegou a escova de cabelos das princesas Disney, que comprara no dia anterior e começou a pentear os cabelos da filha, cuidadosamente, da mesma forma que penteava os da esposa em ocasiões distintas.


A senhora Jones saiu do banheiro do quarto de hospedes segurando o cesto com roupas sujas da garotinha. Estava surpresa com a forma com a qual Emmett vinha demonstrando cuidado para com aquela criança, uma vez que presenciara, sem querer, algumas vezes, discussões dele com Rosalie quando o assunto era filhos. Ele ficava louco quando o assunto era adoção.


- Julia essa é a senhora Jones – disse Emmett enquanto analisava a expressão no rosto da filha. – Ela trabalha para o papai e para a mamãe. Hoje você vai ficar um pouquinho com ela – os olhinhos de Julia ficaram tristes, então Emmett prosseguiu. – A senhora Jones é de confiança, não vai te machucar. O papai não te deixaria se assim não fosse. Eu tenho uma reunião importante na empresa e não posso levá-la comigo gotinha.


- Não quelo papaizinho... – sussurrou com os lábios projetados em um beicinho.


- A senhora Jones é boazinha, filha. Ela vai cuidar de você direitinho até o papai voltar. Eu prometo que volto logo.


Notando a insegurança daquela criança, a senhora Jones se aproximou da cama com cautela.


- Você está muito bonita com esse vestidinho. E está muito cheirosa também – sorriu. – Foi o seu papai que lavou os seus cabelos e te deixou tão perfumada assim?!


Emmett lhe sorriu agradecido pela tentativa de aproximação com sua gotinha de amor. Julia sorriu timidamente para a senhora Jones, ganhando um pouco de confiança.


- Fica sentadinha aqui vendo desenho – disse Emmett. – Que eu vou me vestir apropriadamente para ir à empresa, depois você toma café da manhã com o papai.


- Tá bom, papai – respondeu Julia, sentando sobre as próprias pernas, feito um indiozinho, de frente para a grande TV de plasma do quarto. Emmett ligou a TV e deixou no Disney Junior, estava passando, no momento, o jardim da Clarilu. E a garotinha, Clarilu, cantava: a, e, i, o, u é o Jardim da Clarilu...



Julia começou a mexer a mãozinha no ritmo da música e tentou acompanhar. – A, e, i, o, u é o Jádim da Calilu... – Emmett saiu do quarto sorrindo.


A senhora Jones também se retirou, seguindo para a área de serviço para pôr as roupas de cama e as roupinhas de Julia na maquina para lavar.


[...]


Minutos depois Emmett estava sentado à mesa da cozinha tomando o café da manhã na companhia da filha. A pequena Julia estava de pé sobre a cadeira, de frente para o pai, comendo cereal matinal em uma tigela vermelha. A cada colherada levada à boca, Julia o olhava, na maioria das vezes o leite respingava sobre o jogo americano, com tema da gata Marie, que sua avó Esme lhe trouxera na noite passada.


- Vou ter que comparar uma cadeirinha para você – disse Emmett. – Não dá para comer sempre de pé na cadeira, né filha. Além de ser desconfortável, você pode vir a cair. Você gostou desse cereal?


- Eu gosti, papai – respondeu com a boca cheia.


Emmett sorriu, segurando um guardanapo, passando na boca de Julia.


- É o meu preferido também. Mas não pode falar com a boca cheia gotinha.


- Pulque? – perguntou, novamente com a boca cheia, chegando a tossir.


Rapidamente Emmett ficou de pé, achando que ela estivesse engasgando, mas Julia olhou para ele, com o rostinho vermelho, ameaçando um sorriso de covinhas herdadas.


- Porque não é educado, e pode acontecer isso – disse ele, passando o guardanapo no queixinho dela limpando um caminho de leite. – Você quase engasgou e deixou o papai preocupado.


- Diculpa... – pediu ela, segurando a colherzinha com o cabo cor de rosa.


- Está tudo bem. Continue comendo, mas devagar, e sem falar com a boca cheia.


Emmett voltou a sentar normalmente e continuou tomando café da manhã. Antes de sair da cozinha Julia pediu a mamadeira ao pai. Ele preparou o leite dela e a entregou. Mesmo com a mamadeira na boca, ela esteve ao lado do pai enquanto ele arrumava alguns documentos na pasta para levar a na reunião.


- Senhora Jones?! – disse Emmett na sala de estar, minutos antes de sair de casa.


A senhora Jones, que estava limpando alguns cristais, desviou a atenção para olhar para Emmett.


- Em que posso ajudá-lo, senhor McCarty?


- Eu já estou de saída – avisou. – Cuida dela pra mim, por favor.


- Eu quelo ficá com você papaizinho – choramingou, segurando a mamadeira.


- Papai não pode te levar gotinha. É uma reunião importante – Julia abaixou a cabeça e voltou para o quarto. Ele iria dar um beijinho nela, mas ela já estava fazendo o caminho de volta. Ele ficou um pouco triste olhando ela voltar pro quarto, caladinha. Olhou para a senhora Jones e pediu mais uma vez. – Cuida dela pra mim.


- Pode deixar senhor McCarty.


- Pedirei a minha secretaria que mande entregar o almoço para vocês. Até mais tarde senhora Jones.


- Até mais tarde, senhor McCarty.


Emmett se dirigiu ao hall de entrada em seguida o hall do elevador. Jamais pensou que sentiria algo assim com relação a Julia, mas estava preocupado quanto a deixá-la com alguém que não fosse de sua família. Talvez por medo que alguém a machucasse novamente.


Julia voltou para quarto de hospedes e ficou assistindo TV, que ainda estava ligada no mesmo canal de antes, mas agora passava o desenho, Doutora brinquedos.


A senhora Jones foi até o quarto. Com cautela se aproximou da porta que estava aberta. A encontrou deitada na cama, recostada aos travesseiros, com a chupeta na boca e o paninho entre as mãos. O pônei de pelúcia sempre ao seu lado. De todo os brinquedos que Emmett lhe dera, o pônei, sem dúvida, se tornara seu fiel companheiro. Julia mal piscava olhando para a tela da TV, vez ou outra ela sorria com algo que via no desenho. Estando tudo bem, a senhora Jones voltou para seus afazeres.


[...]


A manhã passou depressa e até tranquila, considerando que havia uma criança no apartamento para a senhora Jones tomar conta enquanto trabalhava. Julia não lhe dera trabalho algum, esteve durante toda a manhã vendo desenho no quarto. Algumas vezes a senhora Jones até achou que estivesse sozinha, mas sempre esteve voltando ao quarto para conferir se estava tudo bem com a criança.


Por volta de meio dia e quinze, o almoço foi entregue. Pela etiqueta da embalagem a senhora Jones soube que era de restaurante caro. Chamou Julia para almoçar, embora tentasse diversas vezes puxar papo com a garotinha, ela só falava o necessário. Era como se tivesse medo de falar e fosse castigada por isso. Certamente era algo que lhe faziam onde vivia antes.


Depois do almoço Julia ficou na sala de TV, deitada no carpete, colorindo com giz de cera. Ao seu lado havia algumas bonecas, sentadas uma ao lado da outra, e o porta-retratos com a fotografia de Rosalie.


[...]


Por volta das quinze horas, depois de ter dado o lanche para Julia, a senhora Jones estava limpando uma das sacadas da cobertura. Aproveitou que estava na parte externa do apartamento para fumar um cigarro. Era o seu primeiro daquele dia. Ela só não imaginou que fosse causar o desconforto que causou.


Diferente do decorrer do dia, Julia decidiu procurá-la. Talvez estivesse mais confiante em relação à senhora Jones agora.


- Senhola Jones – Julia a chamava pelo o apartamento. Em suas mãos segurava um blu-ray do filme Barbie a Princesa e a Popstar. Depois de procurá-la por quase todo o apartamento Julia a encontrou em uma das sacadas, de costas, limpando os vidros do parapeito.  – Senhola Jones. Eu quelo assisti esse... – disse Julia, erguendo as mãozinhas com o blu-ray.


A senhora Jones virou-se para olhá-la, retirou o cigarro da boca, expelindo uma nuvem de fumaça. Imediatamente buscando apagá-lo. Os olhos azuis daquela criança instantaneamente perdera o brilho que vinha ganhando nos últimos dias. Cedendo lugar ao desespero. Seu coraçãozinho palpitou forte contra o peito. Em um nanosegundo ela deixou que caísse de suas mãozinhas o blu-ray e saiu correndo para o quarto. Soluços de um choro angustiante e desesperado ecoavam pelo apartamento.


- Papai... Vovozinha... – ela os chamava em desespero cortante. Quase que um pedido de socorro.


A senhora Jones ficara sem saber o que fazer. A reação da pequena Julia fora desconcertante. Rapidamente jogou o cigarro apagado na lixeira que estava usando – não que ela soubesse que aquilo fora a causa do choro. Ela apagara para não deixar odores no apartamento dos patrões.


- Julia? – a senhora Jones a chamava enquanto a procurava por todo o apartamento. – Julia o que aconteceu, meu anjo? Onde você está? – perguntou ao entrar no quarto de hospedes e fazer uma varredura no cômodo com o olhar. – Estou preocupada com você Julia. Aparece por favor, lindinha – pediu cautelosamente. Então ela ouviu um chorinho contido, como se estivesse com as mãos tapando a boca, vindo de dentro do quarto.


A senhora Jones abaixou-se e olhou embaixo da cama. Para sua surpresa encontrou a garotinha encolhida, agarrada a seu paninho, engasgando com o próprio choro, tapando a boca. A senhora Jones não acreditou no que vira, para piorar, embaixo do corpinho trêmulo havia uma poça do que ela jugou ser xixi.


- Ai meu Deus o que está acontecendo aqui?! – murmurou ao estender os braços para alcançar Julia. A pegou com cuidado e retirou de lá. – O que houve Julia, porque está chorando assim, querida? – ao sentir as mãos da senhora Jones pegando-a, Julia tremeu compulsivamente.


- Não, não, não... – ela pedia desesperadamente em meio aos soluços causado pelo choro. – Não faz um dodói... Eu fico quietinha... Julo, julandinho.


- Um dodói?! – exclamou a senhora Jones, confusa. – Ai meu Deus, eu não vou fazer um dodói em você Julia. Pelo amor de Deus, lindinha.


A senhora Jones tentava niná-la em seus braços, em uma tentativa de diminuir o pânico daquela criança. A preocupação estava lhe corroendo por dentro. O medo de que Emmett chegasse e encontrasse a filha naquele estado era inibidor. Pediu a Deus que ele não chegasse naquela hora, pois tinha medo que achasse que tinha judiado de sua filha. Deus sabia que não, mas McCarty, às vezes, era prepotente demais e não dava ouvidos a ninguém.


- Não... Faize... – tropeçou na palavra, deixando-a toda confusa. – Um dodói... Quelo o meu papai... Minha vovó...


A senhora Jones andava de um lado para o outro ninando a pequena Julia em seus braços. Sua mente vivia um conflito entre ligar ou não ligar para Emmett e informar o que estava acontecendo, pois ela não sabia o motivo. Talvez fosse importante avisá-lo, mas o medo de ser acusada de maus tratos fazia uma barreira de medo.


“Meu Deus o que fizeram a essa criança?”, era o que se perguntava mentalmente.


Julia soluçava enquanto era aconchegada entre os braços da senhora Jones. Então ela decidiu ligar para o pai daquela criança antes que a situação ficasse ainda pior.  Um pouco nervosa a senhora Jones aconchegou a pequena Julia em um único braço, enquanto estendia a mão para pegar o telefone do quarto. Manteve preso entre o ombro e o ouvido enquanto discava o número do celular de Emmett.  Ele havia deixado o número do celular ao lado do telefone para o caso de emergência. Bem, a senhora Jones entendera que esse era o momento.


Emmett entrava na garagem do prédio no exato momento em que seu celular tocara insistentemente. Reconhecendo o número de seu apartamento, ele já sabia de quem se tratava. Apertou um botão próximo ao volante do veiculo e atendeu no viva voz.


- Senhora Jones. Aconteceu alguma coisa com a Julia? – o timbre de voz de Emmett, nesse momento, era de preocupação.


- Senhor McCarty me desculpa interrompê-lo no trabalho. Mas me disse que poderia ligar em caso de emergência...


- Pode falar senhora Jones – pediu com ansiedade.


- Algo estranho está acontecendo com a Julia. Acredito que seja uma crise de pânico. De repente ela começou a chorar, até fez xixi na roupa. E não é um choro de birra é choro de desespero. Eu não sei o que fazer. Já tentei de tudo, mas ela não para de chorar.


Nem precisava ela ter dito isso. Emmett podia ouvir o choro angustiante de sua gotinha através do telefone. Em um ato inconsciente Emmett passou a mão na cabeça, depois as bateu no volante do carro.


- Ela estava dormindo? “Geralmente ela tem crises assim quando dorme”, completou mentalmente.


- Não senhor McCarty, ela estava acordada. Estava até brincando, coloriu alguns desenhos. Foi tão de repente... O que devo fazer?


Emmett parou o carro em sua vaga e desligou o motor.


- Não se preocupe senhora Jones, eu acabei de chegar ao prédio, estou subindo. – então ele desligou, e sem olhar para trás seguiu direto para o elevador.


Assim que saiu do elevador, no hall da cobertura, Emmett deu passos largos. Ao abrir a porta deixou a pasta de documentos sobre a mesinha do hall de entrada. De onde estava ele pode ouvir o choro de sua filha. Era um choro angustiante que chegava a comprimir seu coração dentro do peito.


Ele seguiu a passos largos atravessando a parte principal da sala de estar, seguindo pelo corredor até alcançar o quarto de hospedes onde sua filha estava. Tão logo entrou no cômodo estendeu os braços para pegá-la no colo.


Movida pelo medo, Julia, até então, não tinha notado a presença do pai. Assim que Emmett segurou o corpinho frágil com ambas as mãos e a trouxe para a proteção dos seus braços fortes, Julia estremeceu, mas ao notar que era o seu papai, agarrou os seus dedinhos ao paletó que ele usava.


- Shiii... – murmurou ele. – Está tudo bem gotinha, o papai já está aqui – a tranquilizava fazendo cafuné em seus cabelos.


A senhora Jones olhava para Emmett, um tanto envergonhada e notavelmente preocupada, não só com seu emprego, mas também com o que poderia ter acontecido para aquela criança ter ficado tão assustada.


- Me desculpa senhor McCarty eu não sei o que aconteceu... Juro que não toquei nela.


Emmett beijou o topo da cabeça da filha, e a encostou cuidadosamente em seu ombro.


- Onde ela estava quando o choro começou? Deve ter um ponto de partida, por favor, senhora Jones, eu preciso saber – pediu.


A senhora Jones pareceu pensar um pouco antes de responder.


- Tudo aconteceu tão rápido. Eu lembro que estava limpando uma das sacadas quando ela me chamou. Foi à primeira vez durante todo o dia...


Com o rostinho escondido no vão do pescoço do pai, Julia murmurou.


- Papai...


- Papai está aqui com você agora – disse ele, beijando o rostinho molhado de lágrimas. Olhou novamente para a senhora Jones e continuou.  – O que ela te pediu quando te chamou? Já estava chorando, ou chorou somente depois?


- Ela estava segurando, acho que era um blu-ray. Queria que eu colocasse para ela assistir, mas antes que eu voltasse para dentro do apartamento ela o deixou cair no chão e saiu correndo e chorando. Imediatamente fui atrás dela e a encontrei aqui no quarto, só que embaixo da cama e molhada de xixi.


De uma maneira estranha Emmett ficou incomodado com o relato da senhora Jones, quanto a sua filha está escondida embaixo da cama e molhada de xixi. Ele se sentiu um verme por ter deixado que isso acontecesse.


- Por favor, senhora Jones, tente lembrar se ela viu algo que a deixasse assim. Você gritou com ela? Havia alguma aranha no apartamento – lembrou-se que ela disse outro dia, enquanto cantava a canção da dona aranha, que tinha medo de tal aracnídeo.


A senhora Jones ficou gélida assim que Emmett perguntou se havia gritado com a criança. Como poderia?! Não. Jamais faria isso. Não tinha tal direito e sabia bem disso.


- Meu Deus, não. Eu jamais faria isso. Ela se quer deu motivos para me chatear. Ela passou o dia inteiro tão quietinha, brincando com suas bonecas, vendo TV e colorindo com giz de cera.


- Então me diz o que aconteceu. Você estava com ela, senhora Jones. Eu preciso saber o que fez a minha gotinha ficar assim.


- Eu juro que não tenho a menor ideia, senhor McCaty. Quando a encontrei, ela começou a falar que não era para fazer um dodói nela, que ficaria quietinha. Então começou a chamar por você e pela avó. Como se pedisse por socorro... – a senhora Jones parecia a ponto de se ajoelhar e implorar que não havia feito nada com a criança.


Então algo na mente de Emmett deu um estalo, ligando a situação aos fatos.


- Senhora Jones, a senhora fuma?


A senhora Jones abaixou a cabeça um tanto envergonhada. – Sim senhor...


- Por acaso a minha filha te viu com um cigarro na mão?


A senhora Jones pareceu voltar no tempo, revendo a cena em sua mente desde o inicio.


- Sim senhor... Acredito que ela tenha me visto fumando na sacada enquanto limpava. Mas, senhor McCarty, eu jamais fumei no interior do apartamento, e foi somente um cigarro.


- Senhora Jones eu vou te pedir que, por favor, não volte a fumar em meu apartamento. A minha filha não tem boas recordações quanto ao cigarro. Tudo que envolve esse vício lhe remete a medo e dor. Torturas constantes. Agora entendo porque ela entrou em pânico.


- Me desculpa senhor McCarty isso jamais voltará acontecer – se desculpou envergonhada. – Se eu soubesse que fosse causar tantos problemas, e medo a essa criança se quer teria retirado da bolsa.


- Tudo bem, eu deveria ter lhe perguntado isso antes de deixá-la a seus cuidados. Da próxima vez serei mais exigente quanto a isso. Obrigado por ter cuidado dela por hoje, mesmo com o desfecho do dia.


A senhora Jones assentiu, abaixando a cabeça ao se retirar. Estava extremamente envergonhada.


- Julinha olha para o papai – pediu, passando uma das mãos no rostinho da filha que estava molhado de lágrimas. O tom de azul de seus olhinhos estava realçado por conta do choro. Ela o olhou, com os lábios tremendo projetados em um beicinho. Emmett tocou o beicinho com a ponta do dedo indicador e lhe deu um beijo na pontinha do nariz. – A senhora Jones não vai te machucar gotinha – disse ele, aconchegando-a em peito forte. – Ela só não sabia que você tinha medo... – evitou falar o nome “cigarro” para não lhe causar maior desconforto. – Ela ficou assustada por não saber o que tinha acontecido com você.


Julia abraçou o pescoço do pai e deu um beijo na bochecha. Ao se afastar, olhando para o pai ela pediu.


- Quelo minha pepeta.


- O papai pega sua chupeta, mas vai ter que tomar banho. Você brincou o dia inteiro, e está molhada de xixi – ele pegou a chupeta sobre a cama e entregou a ela.


- Não quelo tomá banho... – sussurrou tristonha.


- Papai deixa você brincar na banheira igual sua vovó deixou – sugeriu. Julia o olhou com interesse. Emmett esboçou um sorriso que dizia “acho que consegui”.


Com a pequena Julia em seus braços ele seguiu em direção ao banheiro do quarto de hospedes, onde pegou todos os produtos de higiene pessoal de Julia. Toalha de banho e escova de cabelos também.


A senhora Jones finalizava seu serviço em outro cômodo do apartamento. Xingando-se mentalmente pelo deslize que cometera.


Emmett saiu do quarto de hospedes direto para a suíte principal. Já em seu banheiro, ele abriu as torneiras permitindo assim que a banheira adquirisse certa quantidade de água. Colocou na água alguns sais de banho que Rosalie gostava. Logo espumas perfumadas começaram a submergir, formando uma camada grossa e branca.


Sentado na borda da banheira, ele ajudou a pequena Julia retirar a roupinha em seguida a colocou dentro da banheira. A quantidade de água que permitira, não oferecia risco a sua filha. Julia bateu as mãozinhas na camada de espuma, fazendo respingar no piso polido do banheiro de luxo.


Notando que a filha já não se sentia tão oprimida, pelo menos não naquele momento, ele relaxou um pouco, permitindo-se retirar o paletó e a gravata.


Na borda da banheira Julia pegou o patinho de borracha que Emmett levou junto com as coisinhas dela para o banheiro da suíte principal. Mergulhou o patinho na água e sorriu fraco quando o ergueu novamente, respingando água. Já sem o paletó e a gravata, Emmett sorriu ao vê-la brincando, sem a sombra do medo que viu quando chegara.


Passou a mão sobre os cabelos da filha e lhe deu um beijo na testa, carregado de amor paterno. Ao se afastar disse.


- Brinque um pouquinho gotinha. Daqui a pouco o papai te ajuda com o banho – Julia olhou para cima, seus cílios ainda estavam molhados pelas lágrimas, voltou abaixar a cabeça e brincar com o patinho.


Emmett retirou as abotoaduras de prata do punho da camisa e as deixou sobre o mármore da pia. Ergueu as mangas até acima dos cotovelos enquanto observava Julia brincar, soprando uma camada de espuma no ar.


Ela esboçou um fraco sorriso quando um punhado de espumas aterrissou em seu pequenino nariz. Emmett suspirou olhando sua gotinha, cheia de inocência e vida, mas necessitada de amor materno.


“Preciso de você Rose, mas não posso te pedir que volte somente pela Julia. Preciso que volte porque me ama. Preciso de algo que me mostre que um filho não é a única coisa que você quer de mim. Preciso sentir que me deseja e quer o meu amor. Que me quer ao seu lado do jeito que sou, assim como eu a quero”, pensou ele.


 Ele sentou no chão ao lado da banheira observando a filha brincar. Pegou o patinho e respingou água na cabeça dela, tentando diverti-la. Apertou o patinho de borracha que apitou, chamando atenção com seu barulho.


- Não pode papai, o patinho vai ficá tliste pulque tá petando ele.


- Desculpa filha, papai é burro – brincou Emmett.


- Você não é isso – disse Julia, segurando a mão de Emmett. – É o meu papai. O meu papaizinho.


Emmett a segurou pelos ombros, mesmo cheia de espuma, e a beijou em ambas as bochechas.  Julia encolheu os ombros enquanto recebia beijos do seu papai, não mais tão ranzinza assim.


“Rose você precisa conhecê-la.” pensou ele, enquanto cobria a filha de beijos.


Emmett sabia que precisava de Rosalie tanto quanto sentia sua falta, mas ele também sabia que não deveria lhe pedir para voltar somente para cuidar e ser mãe de sua filha.









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Notas finais do capítulo

Adorei a Julinha imitando um monstro no começo do capítulo hahahaha coisa linda da mamãe ♥ ♥

Coitadinha da gotinha teve tanto medo quando viu o cigarro. Ela achou que a senhora Jones fosse torturá-la como a Savannah e o namorado faziam. Que covardia.

O capítulo foi enorme, e eu amei escrevê-lo. Agora quero saber o que vocês acharam. Então nos vemos nos reviews, combinado?!

E não se esqueçam que recomendação é um grande incentivo.

Beijo, beijo

Sill



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