Card Master Sakura escrita por ghost of Sparta


Capítulo 24
Capítulo 14 - A soma de todos os medos PT2


Notas iniciais do capítulo

Enquanto o medo se espalha, Sakura tem que lidar com as maldades de Sekai e ainda proteger uma amiga!



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(CONTINUANDO...)

A professora Nagase sorri.

Professora Nagase: Nos encontramos na segunda-feira para a prova de recuperação, então.

Jun despenca.

Jun: Segunda-feira? É muito pouco tempo para estudar...
Sakura: Não tem como ser outro dia?
Professora Nagase: Não. Os horários das provas de recuperação já foram decididos pelos professores e pelo diretor. O Conselho Estudantil deve estar colando avisos nos murais neste exato momento.
Sakura: Dois dias para aprender tudo de matemática?
Jun: Esse desafio já está beirando o impossivel... a professora pode pelo menos dizer o que vai cair na prova?
Professora Nagase: Se vocês não estudarem direito, serão lágrimas...
Jun: Ahhhhhhhhh!

Jun põe as mãos na cabeça e começa a correr como louca pela sala dos professores. A professora Nagase dá uma discreta risada e, então, se volta para Sakura.

Professora Nagase: O conteúdo da recuperação será o mesmo da prova, mas as questões certamente serão diferentes.
Sakura: Entendido.
Professora Nagase: Ainda está disposta a tentar?
Sakura (fechando o punho): Claro. Nós ainda temos uma chance de conseguir. Enquanto houver uma chance, eu não vou desistir.
Professora Nagase: Gostei da determinação. Desejo boa sorte para ambas.

Sakura e Jun, que havia parado de correr e se acalmado, fazem uma reverência, agradecendo a oportunidade apresentada.

Professora Nagase: Espero encontrar vocês respirando matemática na segunda, meninas. Dispensadas.

Sakura e Jun deixam a sala, fechando a porta atrás de si. Elas suspiram aliviadas e escorregam até o chão, onde ficam sentadas. Após se recuperarem do susto, elas se levantam e começam a caminhar juntas.

Jun: Essa foi por pouco...
Sakura: Vamos ter trabalho para sair dessa, Misaka...
Jun (esfregando a cabeça): Já estou com dor de cabeça só de pensar em estudar matemática...
Sakura: Ei... você está ouvindo isso?

Sakura se levanta lentamente.

Jun: Ouvindo o que?
Sakura: Tem vozes vindo ali da frente... talvez seja do andar de baixo...
Jun: É verdade. Parece ser uma discussão. Vamos lá ver.

As duas meninas caminham um pouco e viram à esquerda, descendo um lance de escadas. Havia um grupo de alunos amontoados ali aos pés da escadaria, alguns cochichando, outros apenas observando. No meio do grupo havia uma menina discutindo com uma indiferente Sekai Natsume.

Jun: Parece que a Natsume-senpai vai dar uma surra em outra aluna... tenho pena da outra garota. Não é muito inteligente comprar briga com a Raposa-de-Prata...

Sakura fica surpresa ao perceber quem estava discutindo com Sekai.

Sakura: Naoko?!?
Jun: Eh? Você conhece ela?
Sakura: Ela é da minha turma e é uma grande amiga. Tenho que fazer alg...
Garoto 1: Ali está ela! Segurem-na!

Dois garotos abrem passagem de maneira violenta em meio ao grupo de curiosos e agarram Naoko pelos braços, impedindo que a menina desferisse um tapa contra Sekai. A Raposa-de-Prata permanecia calma, apenas ostentando um sorriso debochado no rosto. Um garoto baixinho com cabelos num tom esverdeado de azul e usando um óculos de armação vermelha se aproxima. Seu semblante sério chegava a ser um pouco intimidador. Todos os três garotos que haviam entrado em cena possuíam faixas na cor laranja no braço direito.

Shirou: Bom trabalho, rapazes. A infratora foi capturada.
Jun: Agora o problema ficou sério...
Sakura: Quem são eles?
Jun: Você não os conhece, não é?

Sakura apenas balança negativamente a cabeça.

Jun: Eles são do Conselho Estudantil da escola. O tampinha de óculos é o vice-presidente Shirou Urashima, um aluno do oitavo ano. Eles às vezes fazem patrulhas pela escola à procura de problemas para resolver, tudo seguindo as ordens do diretor.
Sakura: Essa não...
Jun: Sua amiga acaba de se meter num grande problema, seja lá o que foi que ela fez...

Shirou passa a mão no queixo de Naoko, forçando a menina a olhar diretamente em seus olhos.

Shirou: Fugir da gente daquela maneira não foi nada legal, Yanagisawa.
Naoko: Eu não fugi! Eu vim atrás da verdadeira culpada! É a Natsume que vocês tem que levar para o diretor!
Shirou: Tentar jogar a culpa nos outros não vai te salvar, menina tola. Vamos levá-la para o diretor!
Sakura: Esperem!

Sakura abre caminho em meio ao grupo de alunos curiosos e ergue seus braços, impedindo o avanço de Shirou e seus ajudantes. Shirou trinca os dentes e olha com raiva para Sakura.

Shirou: O que você pensa que está fazendo? Quem é você?
Sakura: Eu sou Sakura Kinomoto e sou da mesma classe que a Naoko. Por já conhecê-la há muito tempo, posso afirmar que ela é uma menina muito gentil e calma. Tenho certeza que o que está acontecendo aqui se trata de um mal-entendido.
Shirou: Um mal-entendido?

Shirou dá uma risada, desdenhando de Sakura.

Shirou: Essa sua “amiguinha santa” roubou alguns ingredientes no laboratório de ciências e fez uma bomba fedorenta, que foi jogada na sala do diretor.
Sakura: O que?
Shirou: Você pode imaginar o quão furioso o diretor está nesse momento, não é? Sua amiguinha vai ganhar uma boa suspensão.
Sakura (olhando para os alunos ao redor em busca de apoio): Mas a Naoko nunca fez esse tipo de coisa antes. Ela sempre tirou boas notas e sempre se comportou muito bem. Como podem pensar isso dela? Tenho certeza que a maioria das pessoas aqui têm a mesma opinião.
Shirou: Eu não ligo para opiniões, só me importo com fatos.

Shirou se aproxima de Sakura e começa a contar nos dedos.

Shirou: Primeiro fato... Naoko Yanagisawa frequentemente ajuda os membros do clube de ciências em suas experiências. Ela possui acesso livre ao laboratório.
Sakura: Mas isso...
Shirou: Segundo fato... Naoko Yanagisawa foi vista por testemunhas perambulando próximo à sala do diretor de maneira suspeita.
Naoko: Eu já disse que tem um motivo para isso! Kaya Miori me arrastou para lá dizendo que precisava me mostrar algo importante!
Shirou: Terceiro fato... parte dos ingredientes roubados foram encontrados enquanto buscávamos em todas as salas e revistávamos os alunos. Os itens roubados estavam na mochila de Naoko Yanagisawa.
Sakura: Não pode ser!
Naoko: É uma armação! A Natsume deve ter colocado essas coisas na minha mochila. Ela estava lá na minha sala...

Sekai se aproxima, fazendo um bem convincente cara de coitada.

Sekai: Estava apenas conversando com minha amiga Mika. É muito feio acusar sua senpai desse jeito, Yanagisawa.
Naoko: Sua mentirosa!
Shirou: Segurem ela firme, rapazes. Não queremos uma briga no corredor.
Sakura: Isso não faz sentido, Urashima-senpai. Por que a Naoko faria algo assim?
Yuriko: Não é óbvio? Por vingança.

Todos os olhares se voltam para Yuriko Yanagisawa, que havia acabado de entrar em cena acompanhada de Kaya. Naoko fica perplexa com a chegada repentina da prima.

Sakura: Vingança?
Yuriko: Meiling Li foi suspensa após aquela briga com a Natsume-senpai no refeitório. Naoko, como amiga bem próxima dela, deve ter ficado indignada com a decisão tomada pelo diretor e resolveu se vingar com uma pequena brincadeira de mau gosto.
Shirou: Ela só não esperava ser pega, não é? Agora está tentando se aproveitar da má-fama da Natsume para tentar se safar...
Yuriko: Até eu fiquei chocada. Não esperava que uma menina que parecia tão calma fosse armar algo desse tipo...

Shirou coloca seu dedo indicador no rosto de Naoko. A garota nem ao menos mostra reação. Parecia estar em choque.

Shirou: Mas você não vai se safar dessa. Vamos mostrar o quanto nosso Conselho Estudantil é sério. Não vamos tolerar esse tipo de desrespeito às regras! Que fique bem claro para todos aqui que Naoko Yanagisawa é uma vergonha para essa escola!
Sakura: Eu acho que você está se precipitando. Será que não podemos sentar e conversar melhor? Talvez nós possamos entender o que realm...
Shirou: Você já está me irritando, garota. Saia do caminho. Sua amiguinha vai ter uma conversa com o diretor agora.

Shirou e os membros do Conselho Estudantil arrastam Naoko e abrem caminho em meio aos estudantes. Pela direção que estavam tomando, pareciam estar rumando para a sala os professores. A sala do diretor estava interditada devido ao mau cheiro. Sakura pega a mão de Sekai repentinamente.

Sakura: Por favor, Sekai. Se você fez isso como algum tipo de brincadeira, já é o bastante. A Naoko é uma amiga querida e não merece passar por isso. Não deixe ela levar a culpa por algo que não fez.

Sekai puxa seu braço para longe.

Sekai: Eu não tenho nada a ver com isso. Aprenda a escolher melhor suas amizades.

Yuriko começa a andar ao redor de Sakura e olha, triunfante, para os alunos que estavam reunidos ali.

Yuriko (fazendo cara de quem está com pena): Coitadinha... ficar andando com delinquentes não vai fazer bem para sua reputação e para suas notas, Sakura. Espero que a influência delas não faça suas notas despencarem...
Sakura: Hã? Minhas notas?

Os alunos ao redor começam a murmurar, a maioria aparentemente concordando com Yuriko.

Garota 1: Eu ouvi dizer que a Sakura ficou de recuperação...
Garota 2: Talvez a Yuriko esteja certa. Talvez andar com essas delinquentes possa afetar nosso comportamento.
Garota 3: Ela devia ficar longe desse tipo de pessoa, não é? Eu vou manter distância delas.
Garota 4: A gente devia fazer algo para proteger a Sakura dessas delinquentes... elas já até conseguiram fazer a coitada ficar de recuperação.
Garoto 1: Odeio essas garotas que ficam se fingindo de santas. Tomara que essa Naoko ganhe o que merece.
Garoto 2: Essa Naoko e essa Meiling parecem o tipo de pessoa que deveriam andar com a Natsume-senpai e não com a Kinomoto...
Sekai (uma sobrancelha erguida): O que você quis dizer com isso?

Sekai encara o garoto, que se agacha e treme de medo alucinadamente. Sakura fica parada ali, não acreditando que todos estavam duvidando de sua amiga. Não apenas isso. Eles estavam crucificando Naoko e Meiling, falando delas como se fossem as piores pessoas do mundo. Sekai se aproxima lentamente de Sakura para cochichar em seu ouvido.

Sekai: Isso é apenas o começo, menina-esmeralda...

Sekai exibe um sorriso debochado e sai andando pelo corredor lentamente, apreciando o momento de sua vitória. Sakura apenas observa, sentindo uma onda de raiva crescer em seu peito. Ela queria loucamente atacar Sekai, mas sabia que isso não mudaria nada e ainda causaria mais problemas. A herdeira de Clow tinha que manter o controle.

Yuriko (colocando as duas mãos no peito): Eu te considero uma rival, Sakura, mas isso não significa que eu desejo seu mal. Nós possuímos uma rivalidade sadia. Espero do fundo do coração que você consiga uma boa nota na sua prova de recuperação...
Garota 1: Como esperado da Yuriko, não é? Ela está se preocupando com os outros...
Garota 2: Ela é uma garota tão boazinha.
Garota 3: Queria ser como ela...
Garota 4: É uma verdadeira princesa...

Yuriko e Kaya sorriem uma para a outra e seguem seu caminho, rumando para a saída da escola. Jun se aproxima de Sakura e coloca a mão no ombro da amiga.

Jun: Você está bem, Sakura?

Sakura cerra o punho e dá uma boa olhada nas pessoas ao redor.

Sakura: Vocês estão errados! A Naoko e a Meiling são excelentes amigas! Já esqueceram todos os momentos que passamos juntos? Como podem achar que a Naoko seria capaz de algo desse tipo?

Todos os alunos ficam sem saber o que dizer e se limitam a baixar a cabeça.

Jun: É melhor deixar para lá, Sakura. Você não vai conseguir nada desse jeito.
Sakura: Tem razão. Só há uma coisa que eu posso fazer...

Sakura sai correndo pelos corredores.

Jun: Sakura!

Quando Jun finalmente alcança Sakura, percebe que estavam novamente diante da sala dos professores. Sakura estava sentado no chão no lado contrário a porta.

Sakura: Eu vou ficar ao lado dela, Misaka. Amigos servem para apoiar uns aos outros. Sei que todas as provas estão contra Naoko e que provavelmente ela vai ganhar uma suspensão. Mas quando ela sair dessa sala, eu quero fazer o melhor que puder para consolá-la.
Jun: Eu entendo como você se sente...

Jun sorri e se senta ao lado de Sakura.

Sakura: Misaka?
Jun: Eu faria a mesma coisa se a Ayu estivesse com problemas. Ela pode ser cabeça-dura e muito severa, mas ela é a amiga mais próxima que possuo.
Sakura: Misaka...
Jun (piscando): Vou te fazer companhia. Ficar esperando sozinha pode ser muito chato, não é?
Sakura (sorrindo): Obrigada, Misaka.

As duas meninas ficam sentadas lado a lado naquele corredor. Podiam ouvir algumas vozes, algumas vezes um pouco exaltadas, mas não tinham certeza do caminho que a discussão estava tendo. Tudo o que podiam fazer era esperar. Esperar por minutos angustiantes. A espera faz a raiva no peito de Sakura diminuir um pouco, mas ela não consegue deixar de pensar em Sekai Natsume.

Sakura: Eu não consigo entender...
Jun: Hã? Entender o que?
Sakura: Ficou claro para mim que a Sekai armou para a Naoko. Mas por que? Por que fazer essa maldade? O que a Naoko fez para ela?
Jun (coçando a cabeça): Você vai ficar maluca se ficar pensando nisso. Algumas pessoas simplesmente são ruins e pronto. Não existe razão por trás do que elas fazem. São como demônios em forma de gente.
Sakura: Eu acho que você tem razão... mas estou com uma vontade de...

A porta da sala dos professores se abre e Naoko surge no corredor. Os membros do Conselho Estudantil deixam a sala logo atrás dela, fechando a porta atrás de si e seguindo para as escadas. Estranhamente todos eles usavam pregadores no nariz.

Jun (murmurando): O cheiro do diretor deve estar bem agradável...

Sakura rapidamente se levanta e abraça a amiga.

Sakura: Naoko!
Naoko: Sakura? Por que ainda está aqui?
Sakura: Eu não podia ir embora preocupada com você desse jeito.
Jun: Como foram as coisas lá dentro?
Naoko: Bem... eu tentei argumentar, mas não deu muito certo. A armação da Raposa de Prata foi muito bem feita.
Jun: Então você foi punida?
Naoko: Três dias de suspensão e meus pais vão ter que comparecer na escola para conversar com o diretor. E isso porque a professora Nagase intercedeu em meu favor. Poderia ter sido pior.
Sakura: Isso é tão injusto. Nós sabemos que é culpa da Sekai...
Naoko: Mas não podemos provar.
Jun: É melhor você tomar mais cuidado com a Raposa de Prata, colega. Ela não é flor que se cheire.
Naoko: Depois dessa, eu aprendi a lição. Vou ficar sempre de olhos bem abertos.
Sakura: Você vai ficar bem, Naoko? Você parece muito abalada...
Naoko: É que... é que... é que eu não esperava que a Yuriko fosse ficar contra mim nessa história...
Sakura: Bem... ela nunca foi muito com a sua cara, não é?
Naoko: É verdade que nós não nos damos muito bem... mas eu queria muito que ela ficasse ao meu lado...
Jun: Será que essa Yuriko não está envolvida na armação? Afinal, a Sekai provavelmente iria precisar de cúmplices para isso...
Naoko: Não mesmo! A Yuriko pode ter vários defeitos, mas ela nunca seria capaz de fazer algo desse tipo. Eu a conheço há muito tempo e sei disso.
Jun: Bom... se você diz...
Sakura: E o que você vai fazer agora, Naoko?
Naoko: Vou até a sala do Conselho Estudantil pegar minha mochila e depois vou para casa. Tenho uma conversa difícil pela frente.
Sakura: Quer companhia?
Naoko: Muito obrigada, mas não. Vocês já fizeram muito por mim.
Sakura: Naoko...
Naoko: E também eu gostaria de um tempo sozinha para pensar...
Sakura: Tudo bem. Eu te ligo depois então, tá?
Naoko: Certo. Até mais.
Sakura (e Jun): Até.

Sakura e Jun observam Naoko se afastar e seguir caminho rumo à sala do Conselho Estudantil. Sem ter mais o que fazer, as duas amigas decidem ir embora e começam a caminhar, logo chegando ao armário de sapatos.

Jun: Que situação chata, não é?
Sakura: Nem me fale.
Jun: Tomara que sua amiga fique bem...
Sakura: Sim... aliás, obrigada por ficar comigo até agora, Misaka. Te devo uma.
Jun: Não foi nada. Pelo menos pude me livrar de ter a Dama-de-Ferro pegando no meu pé.
Sakura (tentando acenar discretamente): Hã... Misaka...
Jun: Que foi?
Sakura: Eu não acho que você devia falar desse jeito da capitã Sakagami...
Jun: Por que não? Ela fica pegando no meu pé só porque sabe que sou melhor que ela. Na verdade nós somos as estrelas do time. A dama-de-ferro devia aceitar logo o papel de personagem secundária e...
Sakura: Misaka...

Jun sente uma aura ameaçadora emanando bem próximo a ela.

Jun (ficando pálida): Ela está bem atrás de mim, não é?

Sakura confirma com um aceno de cabeça. Jun se vira lentamente e se vê diante do olhar sanguinário de Ayu Sakagami.

Ayu: Então eu sou uma personagem secundária, não é?
Jun (dando uma risada nervosa): Como estou feliz em te ver, querida capitã...
Ayu (estalando os dedos): É mesmo?

Poucos minutos depois, Sakura se reúne com Ayu, Rina e Rei próximo aos portões da escola. Jun fica deitada de quatro no chão, servindo de cadeira para a capitã da equipe de atletismo.

Jun: Está confortável, querida capitã?
Ayu (dando tapinhas em Jun): Essa poltrona podia ser melhor, mas acho que dá para o gasto.
Jun: Você não acha que já está bom de castigo, Ayu?
Ayu (dando um peteleco na orelha de Jun): Calada. Todas as falas da personagem secundária foram canceladas.
Sakura: Sakagami-senpai, por que vocês ainda estão aqui?
Ayu: Fiquei sabendo que a coordenadora dos professores discutiu com o diretor sobre a situação de vocês duas e que haviam falado sobre sua participação no clube de atletismo.
Rei: Ficamos com medo de vocês serem cortadas do clube por causa das notas ruins.
Ayu: E então? O que a professora Nagase disse?
Sakura: Bem... ela chegou a pensar em nos tirar do clube. No meu caso, eu teria que sair do clube de atletismo e do clube de líderes de torcida.
Rei: Isso não pode acontecer! Todo o nosso trabalho até agora seria perdido!
Sakura: Calma, calma. Eu e a Misaka entramos num acordo com a professora e conseguimos que nossa suspensão dos clubes fosse apenas temporária.
Rei: Como assim?
Sakura: Se conseguirmos mais de 80 pontos na prova de recuperação de matemática, ela vai nos deixar ficar nos clubes.
Ayu: Então ainda resta uma esperança. Como foi a sua nota?
Sakura: 10 pontos.
Ayu (gota caindo): Você ao menos estudou para essa prova, Kinomoto?
Sakura (sorrindo sem graça): É que eu e a matemática temos um problema de compatibilidade...
Rina: E-eu acho... e-eu a-acho...
Ayu: O que foi, Sanehara?
Rina: E-eu acho q-que se a S-Sakura se esforçar como sempre f-faz... ele c-consegue p-passar na prova...
Ayu: Hmmm. A Sanehara tem razão. E para ajudar a Sakura a passar por esse desafio, todos do clube de atletismo vão formar um grupo de estudos.
Sakura: Grupo de estudos?
Rei: Boa ideia, capitã. Dessa forma podemos ajudar a Sakura a tirar suas dúvidas e se preparar melhor para a prova.
Sakura: Vocês fariam isso por mim?
Ayu: Claro que sim! Somos uma equipe e todos os membros devem se ajudar!
Sakura: Obrigada, pessoal.
Ayu: Então está tudo certo. Nos encontramos em frente a estação de trem amanhã pela manhã. Preparem-se para “Operação Sakura Nota Cem”! Vamos indo para casa, pessoal.

Ayu lidera o grupo de meninas rumo à saída da escola.

Jun: Por que “Operação Sakura Nota Cem”? E quanto a mim? Eu também preciso de nota! Ei! Não me ignorem! Ei!

Jun se levanta e sai correndo atrás de suas amigas. Com sua excelente velocidade, ela não leva muito tempo para alcançá-las. Sakura e suas amigas passam pelo portão e seguem juntas pelo caminho com belas cerejeiras que fica próximo a escola Tomoeda. Mal sabiam elas que estavam sendo observadas por um casal se ocultando atrás de uma moita. O homem de olhos verde-claro, que estava no auge de seus 20 anos, estava usando roupas casuais e tinha um boné de um time de beisebol local em sua cabeça. A mulher de longos cabelos negros ao seu lado, que era sua amante e parceira, estava vestindo um sobretudo negro com lapelas sobrepostas, um chapéu cinza enfeitado com flores negras e óculos escuros. Ela estava olhando de uma foto para o grupo de meninas que acabara de sair da escola.

Chitanda: É aquela que está no meio do grupo. Aquela é a Sakura Kinomoto.
Oreki: É. Sem dúvidas é ela.
Chitanda: Até que ela é fofinha...
Oreki: Posso te perguntar uma coisa, Eru?
Chitanda: O que foi, Hotaro?
Oreki (gota caindo): Por que diabos você está vestida desse jeito?
Chitanda: Esse é meu disfarce de detetive. Desse jeito eu não vou chamar atenção e poderei seguir a menina sem preocupações.
Oreki (balançando a cabeça negativamente): Uma mulher vestida toda de preto em pleno verão andando atrás de um grupo de meninas que acabou de sair da escola. Definitivamente você vai chamar atenção desse jeito.
Chitanda: Sinto muito. Eu só queria entrar no clima...

Eru Chitanda baixa sua cabeça, parecendo um pouco deprimida. Hotaro Oreki puxa um caderninho de seu bolso e faz algumas anotações. Ele tenta ignorar sua namorada e se focar em seu trabalho, mas não consegue. Por fim, ele suspira pesadamente.

Oreki: Está tudo bem. Só temos que ser um pouco mais cuidadosos.
Chitanda: Tem certeza?
Oreki: Tenho sim. Vamos em frente.

O casal se move sorrateiramente, mantendo-se oculto atrás de árvores, lixeiras e veiculos. Algumas esquinas depois, Sakura e suas amigas se despedem de Rei. Oreki consulta seu relógio e faz mais uma anotação em seu caderno.

Chitanda: O que você está anotando nesse caderno, Hotaro?
Oreki: Estou registrando as ações da menina.
Chitanda: Boa idéia! Assim podemos revisar os dados quando estivermos pensando na solução do mistério.
Oreki: Eu não creio que haja um grande mistério dessa vez, Eru. Tudo que vi até agora foi uma garota normal tendo uma vida normal.
Chitanda: Mas e todos os eventos sem explicação que a Yuriko nos mostrou?
Oreki: Ainda não consegui encontrar nenhuma ligação entre os eventos, como a Yanagisawa sugeriu mesmo após a pequena investigação que fiz.
Chitanda: É verdade, mas aconteceu mais um incidente estranho na escola Tomoeda.
Oreki: Você está falando da garota que sofreu uma crise de pânico e entrou em coma?
Chitanda: Sim. Você ouviu os relatos. Algo muito estranho fez aquela pobre menina ficar daquele jeito. E esse estranho evento aconteceu perto de Sakura Kinomoto novamente.

Num cruzamento onde existe uma banca de jornal, Sakura, Jun e Ayu se despedem de Rina.

Oreki: Você está se adiantando nas conclusões, Eru. Sakura não estava na biblioteca no momento do incidente. E pelo que pude apurar, ela estava em repouso na enfermaria quando os alunos da escola Tomoeda foram sequestrados. A única relação entre esses dois eventos é a escola Tomoeda.
Chitanda (com a mão no queixo, pensativa): Analisando mais cuidadosamente... é... você tem razão.
Oreki: Não se deixe levar pelas sugestões da Yanagisawa. Vamos analisar todos os fatos e tirarmos nossas próprias conclusões, sem nos deixar levar por opiniões alheias. Descobriremos o segredo de Sakura Kinomoto e resolveremos o mistério dos incidentes.
Chitanda: Mas e se eles estiverem ligados? E se forem a mesma coisa?
Oreki: Você não está mesmo acreditando nessa história de garota mágica que a Yanagisawa disse, não é? Isso é coisa de mangá e não existe no mundo real.
Chitanda: Será que não?
Oreki: Você consegue realmente imaginar uma menina vestida de rosa, carregando algum tipo de bastão mágico e recitando feitiços enquanto voa por aí com algum bicho fofinho que sirva de parceiro?
Chitanda: Eu acho que a Sakura ficaria bem desse jeito...
Oreki (gota caindo): Eru... esse tipo de coisa é tudo fantasia... temos que levar esse caso a sério para resolvê-lo logo.
Chitanda: Eu sei, eu sei. Vou ser mais séria quanto a isso. Só acho que você devia ter a mente mais aberta quanto a essas coisas.
Oreki: Se eu encontrar provas de que magia existe de verdade, pode ter certeza que eu vou acreditar.

Ayu e Jun se despedem de Sakura e entram num mercado. A herdeira de Clow segue seu caminho rumo a casa da familia Kinomoto. Oreki e Chitanda continuam atrás dela, sendo muito cuidadosos para não levantarem suspeitas.

Oreki: Por enquanto, vamos apenas ficar de olho em Sakura Kinomoto...

NOS ARREDORES DA ESCOLA NATAIME

Localizada não muito distante da estação de trem da cidade de Tomoeda, a escola Nataime fora fundada por uma familia de imigrantes portugueses há alguns anos. A construção assemelhava-se muito a uma igreja devido ao seu estilo. Havia uma estátua do fundador da instituição, algo bem chamativo, logo na entrada da escola. No momento o local estava quase completamente vazio, visto que o dia de aulas já havia se encerrado.

Nos fundos daquela escola, logo após um imenso muro de tijolos alaranjados, havia uma densa floresta, mas que não era muito extensa. Os alunos eram proibidos de ir aquele lugar, pois, devido ao terreno irregular, estariam muito propensos a acidentes.

Mas isso não significava que a floresta estava vazia. Bem no âmago dela, haviam diversas pessoas, de variadas idades, presas de ponta a cabeça em troncos de árvores. Estavam desacordadas e a pele em seus corpos havia perdido toda a coloração.

Spinel: Estão atacando de novo!
Kero: Mais que bichos chatos!

Kero e Spinel estavam em suas verdadeiras formas, batalhando contra um bando de corujas. Não se tratavam de corujas normais, entretanto. Suas penas ficavam alternando tons de cinza e preto e seus olhos irradiavam uma assustadora luz laranja. Kero cospe uma bola de fogo que derruba duas das corujas e erra Spinel por centimetros.

Spinel: Ei! Cuidado para onde direciona seus ataques, seu louco!
Kero (sorrindo maliciosamente): Desculpa. É que vocês são todos parecidos para mim.
Spinel: Você não vai se livrar de mim tão fácil, Kerberos. É melhor se acostumar a ser o segundo lugar...
Kero: Hah! Como se isso fosse verdade, Suppi. Aposto que derrubo mais desses bichos do que você...

Uma das corujas pousa diante de Kero, pegando-o de surpresa. A criatura gira sua cabeça num ângulo de 360 graus e abre seu bico, de onde surge uma espécie de serpente. Antes que a serpente alcance o guardião, entretanto, ela acaba cortada ao meio por uma lâmina de cristal. Ao se virar, Kero nota que seu companheiro Yue havia acabado de se aproximar e o salvara.

Yue: Prestem mais atenção, seus tolos. Esses magogs são de uma variação perigosa. Se forem pegos por essas serpentes, terão toda sua energia vital drenada.

Um grupo de magogs surge voando do topo de uma árvore e tentam atacar Yue. O guardião conjura seu arco e dispara uma simples flecha feita de magia. Em seu percurso, a flecha se multiplica diversas vezes, alcançando uma quantidade capaz de abater todos os magogs daquele ataque.

Kero (suspirando, irritado): Exibido...

Spinel joga um magog desacordado e ferido diante de seus aliados.

Spinel: Quantos desses bichos a gente vai ter que derrotar?
Yue: Quantos forem necessários.
Kero: Mas eu estou com fome e cansado...
Eriol: Então vamos encerrar essa batalha sem mais demora, meu querido guardião e amigo.

Eriol Hiiragisawa, trajando sua tradicional roupa de combate, havia se aproximado. Ele ergue seu báculo dourado, de onde surgem diversos tentáculos feitos de uma luz azul. Os tentáculos se espalham pela floresta e envolvem os magogs, inclusive os que ainda estavam ocultos nas sombras das árvores.

Eriol: Trovão.

As nuvens se acumulam sobre aquele trecho da floresta e um raio rompe os céus, sendo absorvido pelo báculo de Eriol. O báculo redireciona a eletricidade para os tentáculos. Todos os magogs são eletrocutados e acabam subjulgados.

Kero: Teria sido mais fácil se você tivesse agido desde o principio, Clow.
Eriol (com um sorriso amistoso): Eu não privaria meus estimados aliados de um pouco de diversão.
Kero (gota caindo): Nossos conceitos de diversão são bem diferentes...
Yue: Vamos reunir os magogs para baní-los.

Yue, Kero e Spinel se movem rapidamente pela floresta, reunindo as criaturas amaldiçoadas e formando uma pilha com elas. Enquanto isso, Eriol liberta todas as vítimas, colocando-as sentadas e verificando seus sinais vitais. Spinel se aproxima de seu mestre após concluir sua tarefa.

Spinel: Eles estão vivos, Eriol?
Eriol: Felizmente sim. Ainda existe energia vital fluindo em seus enfraquecidos corpos.
Yue: E o que vai fazer?

Eriol toca a ponta de seu báculo com sua mão esquerda, que começa a emanar uma leve luz dourada. Com essa mão carregada magicamente, a reencarnação de Clow começa a tocar a cabeça das vítimas uma a uma.

Eriol: Esse feitiço vai acelerar a reposição de energia vital, garantindo que essas pessoas inocentes se recuperem por completo o mais rápido possivel. Contudo, não é justo nem sábio simplesmente deixá-las à deriva numa floresta.

Eriol desenha um círculo no ar com seu báculo, apontando-o para uma clareira logo a frente. Naquele exato ponto, surge uma carruagem feita de metal. Eriol usa sua magia para fazer as vítimas flutuarem até a carruagem.

Eriol: Spinel.
Spinel: Sim?
Eriol: Você ficará responsável por levar estas pessoas para o templo Tsukimine. Lá elas poderão se recuperar com tranquilidade e estarão sob nossa vigilância pelo tempo que se fizer necessário.
Spinel: Pode deixar.
Eriol: Agradeço a cooperação.

Spinel abre suas asas e levanta vôo, arrastando a carruagem em suas costas. Eriol observa calmamente a pantera negra sumir em meio as nuvens.

Yue: E quanto aos magogs, Clow?
Eriol: Eles devem deixar este mundo imediatamente, meu caro Yue.

Eriol ergue seu báculo e um círculo mágico surge embaixo da pilha de magogs.

Eriol (com os olhos fechados): Criaturas imbuídas com o poder maligno do caos, retornem ao seu plano de existência original, onde não poderão causar mal. Partam e não mais retornem, assim ordena Eriol Hiiragisawa.

Os magogs vão se dissolvendo em partículas de luz até desaparecerem por completo.

Kero: Mais um trabalho bem feito.
Yue: O nível de ameaça das criaturas que estão escapando está aumentando.
Kero: Isso significa que nosso trabalho vai ficar mais dificil daqui para frente.
Yue: Já conseguiu elaborar alguma estratégia em relação a isso, Clow?

Yue e Kero notam que Eriol estava olhando fixamente para algum lugar no horizonte.

Kero: Clow?
Eriol: Ela está aqui.
Yue: Do que você está falando?
Eriol: A porta que lacra a magia do caos surgiu nessa cidade. Posso ver a luz dela daqui.

Eriol aponta para uma ladeira ao longe, de onde emanava uma fraca luz.

Kero: A porta selada está aqui? Mais como não conseguimos sentir sua presença?
Yue: Será que... ?
Eriol: Vamos!

Eriol sai correndo, as mãos esticadas as costas. O mago se move tão rápido que Kero e Yue têm dificuldade em acompanhá-lo. O grupo pára à beira da ladeira. Dali era possível ver o quintal dos fundos de uma casa de dois andares, que aparentava estar vazia no momento. Haviam cadeiras, equipamentos de jardinagem, sapatos, roupas entre outros objetos flutuam sem rumo naquela área.

Kero: A gravidade foi alterada naquele terreno.
Eriol: Não apenas isso, caro Kerberos. Analise mais atentamente. Foque sua magia em sua sensibilidade mágica.

Seguindo as instruções de seu antigo mestre e criador, Kero fecha seus olhos por um momento. Após alguns segundos de concentração, o guardião abre seus olhos e consegue ver o objeto oculto naquele quintal, a verdadeira fonte da alteração na gravidade. No meio do quintal havia dois pilares vermelhos fincados no chão unidos no topo por duas traves horizontais, também de coloração vermelha, embora num tom levemente mais escuro. As traves horizontais eram maiores que a distância entre os pilares. Tratava-se de um Torii, algo tradicional e comum em templos japoneses. No interior do Torii havia uma porta dupla de madeira de carvalho com algumas runas provenientes de diversas escolas de magia entalhadas nela. Sete cadeados de tamanho fora do comum estavam alinhados verticalmente na porta, impedindo sua abertura. A porta dupla por si só estava flutando dentro do Torii, sendo presa a seus pilares por correntes douradas.

Kero: A porta selada!
Yue: Ela estava sendo disfarçada por um feitiço de ocultação...
Eriol: Por sorte, eu pude sentir sua aura mágica antes de partirmos.
Kero: O que estamos esperando? Vamos até lá reparar os danos!
Yue: Espere!

O tigre alado não ouve o alerta de seu companheiro e voa até o quintal. Do solo emerge uma mão gigante, feita de um cristal negro e muito resistente, que agarra o guardião. Kero é golpeado no chão três vezes antes de ser jogado contra a casa. Yue pega Eriol e voa até o local, pousando próximo a Kero.

Yue (verificando o companheiro): Você está bem, Kerberos?
Kero: Sim. Só o que foi ferido foi meu orgulho. O que foi que me atacou?
Eriol: Nos encontramos de novo, Mestre.

Uma figura vestindo trapos velhos e imundos surge de trás da mão gigante, seus brilhantes e aterradores olhos vermelhos focados na reencarnação de Clow Reed.

Mestre: Clow Reed.

Kero e Yue se colocam em posição de combate, preparando-se para atacar. Dois disparos repentinos atingem o solo a frente dos dois guardiões, fazendo-os recuar.

Zhen: Na na ni na não. Nada de travessuras com meu mestre.
Zhen também surge de trás da gigante mão cristalizada, carregando em suas mãos duas pistolas de borracha.

Yue: O filho bastardo também está aqui.

O Mestre dá uma leve risada, que ecoa pelo ambiente.

Mestre: Que infortúnio. Não esperava encontrá-lo aqui, Clow. Não agora quando estava concentrado num trabalho importante.
Eriol: A porta selada. Como fez para descobrir sua localização?
Mestre: Ora, ora. Um mágico nunca revela seus truques, não é?

Eriol dá uma boa olhada na porta dupla. Estava muito desgastada e havia rachaduras por toda sua extensão.

Eriol: Você já fez um bom estrago aqui...
Mestre: Eu e meu associado estávamos reunindo um pouco de magia do caos para nossas pequenas atividades quando percebemos uma aproximação indesejada.
Eriol: Você tem que parar. Esse excesso de magia do caos vai provocar o desequilíbrio e resultar em diversas catástrofes neste mundo. Você vai acabar provocando a morte de milhares de inocentes.
Mestre: Eu não me importo com esse mundo patético! Todos vão morrer se eu liberar a magia do caos? Que assim seja! Não é como se eles não fossem viver para sempre de qualquer maneira. Esses tolos vivem se matando por motivos fúteis e destroem seu próprio planeta por diversão. Eles não tem futuro!

O Mestre respira fundo, procurando se acalmar um pouco. Eriol apenas observa sem mudar em nada sua habitual expressão.

Mestre: Quanto a mim... eu sempre estive destinado a grandes feitos. Vou me unir a magia do caos, vou me tornar a magia do caos e assumir total controle. Não irei falhar dessa vez. Quando obtiver minha vitória, me tornarei a pessoa mais poderosa do universo e poderei cumprir uma promessa feita há muito tempo. Se este mundo for destruído no processo... bem... eu serei deus, então criarei um mundo apenas para mim.
Eriol: Isso é tolice, Mestre. Ninguém pode controlar a magia do caos. Ela é muito instável e destrutiva. Muitos já cometeram o mesmo erro, levados pela ganância, e tiveram um fim trágico. Por favor, não siga o mesmo caminho.

Alguns vultos saem voando das rachaduras da porta mágica e flutuam lentamente rumo aos céus.

Yue: Mais criaturas do caos!

Yue conjura seu arco mágico e dispara algumas flechas. Elas são destruídas em pleno ar pelos disparos das pistolas de borracha de Zhen.

Zhen: Que menino egoísta. Quer ficar com toda a diversão toda só para você? Deixe os amiguinhos saírem para se divertir também.

Zhen dá uma gargalhada descontrolada e doentia. O Mestre apenas acena para os vultos, que desaparecem no horizonte.

Eriol: Para alguém que se entitula “Mestre”, você não parece ter muita sabedoria.
Mestre: Pelo contrário, caro Clow. Eu sei muito mais do que você imagina.
Eriol (erguendo se báculo): Eu esperava resolver isso de maneira pacífica, sem a necessidade de uma batalha.

A porta mágica começa a brilhar de maneira intensa.

Mestre: De maneira pacífica? Pare de bancar o tolo, Clow. Você sabe que isso não é possível. Só há uma maneira dessa história terminar...

A luz se torna cada vez mais intensa até envolver todo o quintal e a casa por completo. Quando o brilho se desfaz, Eriol, Yue e Kero notam que a porta selada havia desaparecido, bem como o Mestre e Zhen. Todos os objetos que estavam flutando anteriormente, haviam caído no chão.

Yue: Eles escaparam.
Kero: Eles levaram a porta selada embora?
Yue: Claro que não. O tempo de visibilidade da porta deve ter se encerrado. Lembre-se que a porta selada fica disponível apenas uma hora por dia.
Kero: Droga. Perdemos muito tempo argumentando com eles enquanto devíamos estar reparando o selo da porta. Que desperdício.
Eriol: Eu não penso desse jeito, meu caro amigo.
Kero: Como assim?
Eriol: Se você parar para analisar, perceberá que descobrimos algumas coisas interessantes neste inesperado encontro com o Mestre.
Yue: Se importaria em dividir suas idéias conosco?
Eriol: De maneira alguma. Ponto um: Sabemos a extensão dos danos na porta selada, então já podemos nos preparar com os feitiços mais adequados para repará-la.
Kero: Isso é verdade.
Eriol: Ponto Dois: Não vi qualquer sinal de um feitiço que poderia danificar o selo. Isso pode significar que o Mestre estava aqui apenas para consumir magia do caos para seus propósitos ocultos.
Kero: Então isso quer dizer que o quer que aquele maluco tenha feito contra a porta, o efeito se mantém sozinho, danificando-a constantemente. Tudo que o Mestre precisa fazer é checar o estado da porta de vez em quando para saber se ela ainda está inteira. Mas como ele poderia fazer isso? Usando algum tipo de maldição?
Eriol: Eu não teria tanta certeza. Eu disse que não pude ver sinal de um feitiço, não disse que não havia um feitiço. São situações diferentes.
Yue: Você está sugerindo que ele pode estar usando algum feitiço desconhecido em seu plano? Não acho isso possivel. Você tem conhecimentos mágicos vastos e únicos, Clow. Não há nada no mundo mágico que você não conheça.
Eriol: Você me superestima, Yue. Não sou perfeito. Sou apenas um homem, afinal. É possivel sim que o Mestre possua conhecimentos que excedam os meus. Sem sabermos quem ele é, não temos como saber a real extensão de seus poderes.
Kero: Alguém que sabe mais que Clow Reed? Só de imaginar isso já fico todo arrepiado...
Eriol: E isso nos leva a minha observação final. Ponto Três: o Mestre deu uma pequena pista de sua identidade.
Yue: Ele deu?
Eriol: Sim, meu amigo Kero. Enquanto discursava sobre suas motivações e objetivos, influenciado pelo rumo da conversa, o Mestre disse “não irei falhar dessa vez”. Conseguem perceber o que isso significa?
Yue (com a mão no queixo): Significa que ele já tentou algo parecido antes. Provavelmente foi como ele morreu.
Kero: Isso ajuda a diminuir a lista de suspeitos?

As feições de Eriol mudam por um instante que apenas Yue nota. O poderoso mago parecia preocupado.

Eriol: Sim, ajuda. Ainda assim, não consigo determinar com exatidão sua identidade.

Kero balança a cabeça e suspira, se mostrando contrariado.

Kero: Quem é o Mestre? Como ele consegue descobrir a localização da porta selada? Como ele está destruindo a porta? Como ele planeja dominar a magia do caos? São muitas perguntas e nenhuma resposta. Isso está me deixando louco!
Yue: Não me surpreendo que você esteja com dificuldades. Usar o cérebro nunca foi exatamente seu ponto forte...
Kero (uma veia saltando na testa): Como é?
Eriol: Precisamos manter o foco se quisermos frustrar os planos do Mestre, meus destemidos companheiros.
Kero: É... eu sei...

Kero olha para o céu.

Kero: Já é hora de partir. Não gosto de deixar a Sakura sozinha.
Yue: Tolo. Você sabe que Ruby Moon está de olho nela. Sempre que saímos em missões com Clow, um de nós guardiões fica para trás para proteger Sakura, se necessário.
Kero: O problema é justamente esse “se necessário”. Segundo as orientações do Clow, devemos interferir o minimo possivel, nos envolvendo apenas em momentos cruciais.
Yue: Ela está segura.
Eriol: Sei que isso pode ser pedir demais de vocês, cuja principal tarefa é a proteção de sua atual mestra, mas o que estamos fazendo é para o bem de Sakura Kinomoto. Ela precisa evoluir suas técnicas e se tornar capaz de acessar todo seu potencial mágico. Se for protegida o tempo todo, Sakura não conseguirá progredir.
Yue: Isso é parte do treinamento de Sakura, Kerberos. Você sabe muito bem disso.
Kero: Sim, eu sei. Mas isso não significa que eu goste disso.
Eriol: Tudo bem, Kero. Acho prudente encerrarmos por hoje. Não devemos nos sobrecarregar sabendo que ainda teremos muitos outros dias de trabalho pela frente.
Kero: Então eu vou indo.
Eriol: Mande lembranças minhas a Sakura.

Kero abre suas belas asas brancas e deixa o local voando.

Yue: Tenho certeza que ele deve estar mais preocupado em comer do que no bem estar da Sakura...

Eriol nada responde e fica apenas fitando o local onde estava a porta selada.

Yue: Você está preocupado com o Mestre?
Eriol: Sim, estou.
Yue (suspirando): Você está preocupado porque suas suspeitas não apontam para algum antigo inimigo, mas para alguém que você considera um amigo. Você desconfia dela, não é?

Eriol e Yue trocam um olhar demorado, quase como se estivessem conversando telepaticamente.

Eriol: Minhas suspeitas ficaram tão evidentes assim?
Yue: Eu conheço você muito bem, Clow. Passamos muitos anos juntos.
Eriol (sorrindo): É verdade. Você e Kerberos são os amigos mais próximos que já tive o prazer de possuir.
Yue: Eu sei o quanto você sempre possuiu fortes sentimentos por ela. Entretanto, precisamos ser imparciais e tentar confirmar nossas suspeitas. Existe alguma chance das pistas que apontam para ela serem apenas coincidências?
Eriol: Não existem coincidências, meu caro Yue. Apenas o inevitável.

Eriol baixa a cabeça e fica em silêncio. Após alguns instantes, ele sorri para Yue.

Eriol: É melhor eliminar qualquer evidência de nossa presença.

Eriol ergue seu báculo. Imediatamente os objetos jogados pelo quintal retornam a suas posições originais. Todo dano feito a casa também é consertado.

Eriol: É hora de partir.

Das costas de Eriol surgem dois pares de asas negras. O mago alça vôo, acompanhado de Yue. Eles ficam em silêncio por um tempo até que o mago resolve falar.

Eriol: Eu ando intrigado com uma coisa, Yue.
Yue: E o que seria?
Eriol: Não tenho visto você utilizando sua outra forma com muita frequência.
Yue: ...
Eriol: Há algo errado?
Yue: Estou apenas focado em resolver os problemas relacionados a magia do caos. Não tenho tempo para desperdiçar com tarefas cotidianas de pessoas comuns.
Eriol: Nesse ritmo ninguém mais verá o pobre Yukito Tsukishiro. Já tentou imaginar o que as pessoas pensariam de seu sumiço?
Yue: Meu outro eu não possui muita importância.
Eriol: É justamente o contrário. Seu desaparecimento deixaria uma grande lacuna. Você com certeza conhece os sentimentos dos irmãos Kinomoto por você.
Yue (elevando levemente a voz): Eles possuem sentimentos pelo meu outro eu! Eu e Yukito Tsukishiro somos pessoas completamente diferentes!
Eriol: E quanto a Touya Kinomoto?

Yue se volta para Eriol, um pouco de raiva em seu olhar.

Yue: Eu sou grato por ele ter me salvado. Apenas isso.
Eriol: E quanto ao Yukito?
Yue (virando o rosto): Ele... ele aparentemente têm uma ligação mais profunda com aquele homem. Mas isso acabou.
Eriol: Acabou?
Yue: Meu outro eu finalmente ouviu a voz da razão. Somos um ser mágico e não podemos sustentar relações afetivas como pessoas comuns. Eu tenho um dever a cumprir e devo sempre ficar ao lado de minha mestra, não importando para onde ela vá.
Eriol: Então isso significa...
Yue: Isso significa que meu outro eu cortou relações com o irmão de minha mestra.
Eriol (um semblante um pouco triste): Yue...
Yue: Não vejo motivo para tristeza. Você também será beneficiado com essa decisão. Afinal, Kaho terá um ombro amigo para chorar...

Eriol pára de voar, surpreso. Yue simplesmente segue seu caminho, ainda incomodado com a conversa que tivera.

RESIDÊNCIA DOS DAIDOUJI

Tomoyo estava encostada na grade da sacada de seu quarto. Estava usando um vestido de renda verde com um casaco por cima, que servia para protegê-la da leve brisa gélida que se espalhava pela noite da cidade de Tomoeda. A menina fitava a lua cheia com um olhar perdido.

Governanta: Senhorita Tomoyo.

Trazida de volta de seus pensamentos, Tomoyo se volta para a porta recém-aberta de seu quarto.

Tomoyo: Sim?
Governanta: A senhorita Nishimura acabou de chegar.
Tomoyo: Ah. Poderia mandá-la subir, por gentileza?
Governanta: Como desejar.

A governanta faz uma reverência e deixa o aposento. Tomoyo fecha a porta da sacada e se senta em sua cama. Instantes depois, ela ouve uma batida na porta.

Tomoyo: Pode entrar.

Kazuko entra no quarto carregando uma bolsa no ombro. Tomoyo cumprimenta a amiga com um rápido abraço.

Tomoyo: Bem-vinda.
Kazuko: Desculpe a demora. Teve uma confusão na estação e alguns trens se atrasaram.

Tomoyo conduz a amiga até uma mesa no canto do quarto, próximo a cama. Kazuko se senta e coloca sua bolsa sobre a mesa.

Tomoyo: Confusão?
Kazuko: Sim. Foi uma coisa horrivel. Uma senhora se apavorou e começou a gritar de repente. Ela caiu das escadas do andar superior do nada, depois se levantou cambaleante, se jogou nos trilhos e ficou rolando de um lado para o outro.
Tomoyo: Meu Deus! E a senhora ficou bem?
Kazuko: Os funcionários da estação conseguiram puxá-la para a plataforma a tempo, mas ela já estava desmaiada. Ela foi levada embora de ambulância.
Tomoyo (com a mão no peito): Que bom que ela ficou bem.
Kazuko: O mais estranho é que ela ficava gritando como se um grupo de gatos estivesse a atacando.
Tomoyo: Gatos? Por que gatos?
Kazuko: Não sei. Um senhor que estava no local estava comentando sobre isso. Parece que é um tipo de doença chamado ailurofobia.
Tomoyo: Ailurofobia?
Kazuko: É um tipo de fobia... algo a ver com medo de gatos. Também é conhecido por outros nomes, mas não lembro deles agora. O engraçado é que não vi nenhum gato por perto, apenas um coelhinho branco. Mas algumas pessoas dizem ter visto um grupo de gatos, então...

Kazuko nota alguns álbuns de fotos jogados sobre a cama.

Kazuko: Momento nostalgia?
Tomoyo (sorrindo): Algo desse tipo...
Kazuko: Eu posso ver?
Tomoyo: Claro.

Kazuko pega um dos álbuns e começa a folhear as páginas de fotos.

Tomoyo (apontando para uma das fotos): Nessa foto aqui eu tinha 5 anos. Tinha acabado de ganhar esse piano de presente de Natal.
Kazuko: Incrível. O presente mais caro que ganhei quando era pequena foi uma boneca que era quase do meu tamanho.
Tomoyo (apontando para uma série de fotos): Essas fotos foiram tiradas logo após eu ter ganho o campeonato de natação. Foi o primeiro troféu que eu ganhei. Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim e fez questão de tirar as fotos pessoalmente.

Kazuko nota que haviam diversas fotos do momento em que Tomoyo descia do pódio com uma medalha em seu peito. Eram praticamente a mesma cena, com diferença mínima da posição de Tomoyo de uma foto para outra.

Kazuko: Sua mãe tirou muitas fotos, né? Dava até para fazer um filme stop motion.
Tomoyo (rindo): Ela chegou a fazer depois. Minha mãe sempre gostou muito de registrar todas as ações das pessoas que ama.
Kazuko: Então você tem a quem puxar... oh! Uma foto sua e da Sakura!

Na foto, Tomoyo estava colocando um óculos escuro no rosto de Sakura enquanto Sakura colocava um chapéu lilás na cabeça de Tomoyo.

Tomoyo (observando a foto): Ah. Esse foi o primeiro fim-de-semana que passamos juntas. Nós nos conhecemos quando passamos a estudar na escola Tomoeda e depois descobrimos que éramos parentes.
Kazuko (rindo): E essa foto? Por que o Yamazaki estava usando um vestido?
Tomoyo: Isso foi quando eu, Sakura, Yamazaki e Chiharu passamos um fim-de-semana na casa de praia da minha familia. O Yamazaki tinha perdido uma aposta para a Chiharu e teve que usar roupas de menina durante um dia inteiro.
Kazuko: Chiharu e Yamazaki. Esses dois estão juntos há muito tempo, não é?
Tomoyo: Desde que eu os conheço. Na verdade, a Sakura conhece eles há mais tempo.
Kazuko: Ah é?
Tomoyo: Sim. Eles estudavam juntos em outra escola antes de irem para escola Tomoeda.
Kazuko: Olha. Uma foto de um festival.

Tomoyo dá uma boa olhada na foto. Ela, Sakura, Rika e Naoko estavam usando yukatas e brindando com copos de suco. Ao fundo era possivel ver Touya Kinomoto e Yukito Tsukishiro conversando animadamente. Ao ver a foto, a preocupação que assolova Tomoyo retorna. A menina toma cuidado para disfarçar sua expressão e segue mostrando as fotos para a amiga.

Kazuko: O que está te preocupando, Tomoyo?
Tomoyo: Que?

Tomoyo fora pega de surpresa pela pergunta.

Tomoyo: Por que está me perguntando isso?
Kazuko: Você está visivelmente preocupada com algo e está tentando disfarçar.

Tomoyo se recupera da surpresa e dá um sorriso.

Tomoyo: E depois dizem que apenas eu sou muito perceptiva...
Kazuko: Você pode desabafar comigo. Se eu puder ajudar de alguma forma...

Tomoyo olha para a janela e suspira.

Tomoyo: Kazuko...
Kazuko: Sim?
Tomoyo: Se você descobrisse um segredo de alguém, se visse algo que não deveria ter visto, algo que não devia ser feito, algo ruim... o que você faria?

Kazuko põe a mão no queixo.

Kazuko: Bem... se é algo que seja contra lei ou algo que possa machucar pessoas, eu certamente contaria para as autoridades. Eles saberiam o que fazer.
Tomoyo: Mas e se não fosse algo tão grave? E se ao revelar o segredo você acabasse destruindo uma ou mais relações? E se pessoas que você se importa muito acabassem magoadas?
Kazuko: Isso já é mais complicado...
Tomoyo: É...
Kazuko: Bem... a primeira coisa que eu faria era tentar conversar com a pessoa que possui o segredo.
Tomoyo: Por que?
Kazuko: Para tentar entender o que realmente está acontecendo. Eu tentaria mostrar a essa pessoa que o que foi feito é errado. Daria ela uma segunda chance, uma chance de se confessar e pedir perdão. Dessa forma tudo ficaria bem. Claro que isso depende do que se refere o segredo. Tem coisas que são muito difíceis de se perdoar...
Tomoyo: Entendo... faz sentido...
Kazuko: Mas por que essa pergunta? Era isso que estava te preocupando?
Tomoyo: Não é nada demais. É apenas algo que eu sonhei.

Kazuko olha, confusa, para sua amiga. Tomoyo fecha o álbum e se levanta.

Tomoyo (piscando): Que tal começarmos a estudar?

RESIDÊNCIA DOS LI

Um pequenino pássaro preto com manchas amarelas reduz sua altitude e pousa no caminho de pedras em frente a casa pertencente a família Li. Sakura fica observando-o enquanto movimenta um lápis amarelo por entre seus dedos.

A herdeira de Clow e seu namorado, Shaoran, estavam sentados num banco de madeira sem pés. O banco estava preso ao telhado da varanda com correntes, permitindo a quem sentasse nele que pudesse se balançar livremente. Numa mesa a frente do banco havia uma série de livros e apostilas, bem como materiais escolares e garrafas d’água. O casal passara as últimas horas estudando. Repentinamente, Sakura estala os dedos.

Sakura: Já sei.

Sakura começa a escrever num caderno que estava na mesa. Estava tentando arduamente superar alguns exercícios de matemática.

Shaoran: O tempo acabou.

Shaoran pausa um cronômetro e pega o caderno de Sakura.

Sakura (colocando as mãos na cabeça): Ahhh. Mas já? Agora que eu tinha pensado num jeito de resolver...
Shaoran: Você está demorando muito para resolver as questões. No dia da prova você só vai ter duas horas, então tem que ser mais rápida.
Sakura: Eu sei, eu sei. O problema é que meu cérebro demora muito para pensar numa solução. Se eu fosse um computador, diria que preciso de um processador mais potente...

Sakura dá uma risada solitária enquanto Shaoran analisa tudo que fora escrito no caderno, comparando as respostas com o gabarito. O chinês pega uma caneta e faz algumas observações no caderno. Concentrado, ele não percebe Sakura se agachando diante dele, apoiando-se em seus joelhos.

Sakura: E então? Foi muito ruim?

Tomando consciência da proximidade dos rostos, Shaoran começa a corar e a se agitar no banco. Ele acaba caindo no chão e derrubando o caderno.

Sakura: Shao-kun? Você está bem?
Shaoran: Ai, ai. E-está t-tudo bem. S-só perdi o equilíbrio p-por um instante...

Sakura ajuda o namorado a se levantar e, em seguida, recolhe o caderno.

Sakura: Oh. Eu acertei mais questões dessa vez!
Shaoran: Você está começando a pegar o jeito, Sakura.
Sakura (jogando os braços no ar e dando alguns saltos): Oba! Desse jeito eu vou conseguir passar na prova!
Shaoran (rindo): Eu não tenho nenhuma dúvida disso.

Durante um dos saltos, Sakura acaba tropeçando no próprio pé e tomba sobre Shaoran, caindo sentada sobre ele. O chinês a segura por reflexo.

Shaoran: Você está bem?
Sakura: Estou sim. Eu só...

Sakura encara os olhos âmbar do namorado. Os rostos estavam mais uma vez próximos.

Sakura: Eu só...

Sakura sente seu coração acelerar e sua respiração se alterar.

Sakura: Eu...

Sakura sente uma forte ansiedade preencher o seu peito. Ela podia jurar que Shaoran estava sentindo a mesma coisa. O elo mágico a permitia perceber esse tipo de sentimentos

Sakura: Eu...

Sakura não conseguia desviar o olhar do namorado e o mesmo parecia se aplicar a ele. Pareciam estar em transe. Lentamente ela vai reduzindo a distância entre eles. Shaoran treme um pouco ao sentir a aproximação.

Sakura: Eu...

Um celular começa a tocar repentinamente. Assustados, Sakura e Shaoran se levanta do banco num salto e se afastam, sentindo-se um pouco constrangidos. Eles olham para os lados à procura da origem do som e percebem uma movimentação suspeita numa moita. Shaoran entre em posição de combate.

Shaoran: Saia daí!

Timidamente uma pessoa sai de traz da moita, carregando um celular em sua mão direita.

Sakura: MEILING?!?
Meiling (agitando os braços no ar): Não é o que vocês estão pensando... eu não estava escondida nessa moita enquanto espiava vocês e esperava acontecer algo romântico para tirar uma foto com o celular e mandar para a Tomoyo... não tirem conclusões precipitadas...
Shaoran (gota caindo): Ela acabou de se entregar...
Sakura: O que você estava fazendo aí, Meiling?
Meiling: Eu? É... bem... eu estava... eu estava vindo avisar a vocês que o jantar está pronto e então percebi que meu celular havia sumido. Comecei a procurar por todo o quintal da casa...

O celular na mão de Meiling começa a tocar novamente e a menina rapidamente rejeita a ligação.

Meiling (sorrindo sem graça): Olha que coincidência. Acabei de encontrar meu celular.
Shaoran: Sei...
Meiling: Aliás... o que os dois pombinhos estavam fazendo? Não parecia que vocês estavam estudando...

Sakura e Shaoran coram e seus corpos ficam rígidos. Eles se separam alguns passos.

Sakura: N-não era nada.
Shaoran: E-estavamos só c-conversando...
Sakura: Isso... s-só c-conversando...
Meiling: Sei...

Shaoran pigarreia.

Shaoran: De qualquer forma, acho que por hoje já é o bastante, Sakura. Vamos relaxar um pouco e aproveitar o jantar.
Sakura: Certo. Vamos entrar então.
Meiling: Ah. Esqueci de contar. Eu preparei uma mesa de jantar especial no jardim.
Shaoran: No jardim?
Meiling: Isso. Vocês podem ir na frente.
Sakura: E você?
Meiling (mostrando o celular, que estava tocando mais uma vez): Eu tenho que atender uma ligação. Mais tarde eu janto.
Shaoram: Meiling...
Meiling: Não precisam me esperar. Bom apetite.

Meiling dá as costas para o casal e abre uma das portas de correr da casa enquanto atende seu celular.

Meiling: Alô? Ah. Desculpa por não ter atendido antes. Eu estava resolvendo algumas coisinhas...

Sakura e Shaoran dão a volta na casa e entram no jardim, que era cercado por um muro feito de plantas. Haviam muitos tipos de flores ali e o perfume que exalavam era muito agradável. Seguindo por uma estrada de terra, Sakura e Shaoran encontram uma pequena ilha cercada por uma faixa não muito extensa de água. Na ilha havia três estacas de madeira fincadas no solo que serviam de base para algumas chapas de alumínio, que seguiam uma disposição horizontal com um espaçamento entre cada peça de cerca de trinta centímetros. As chapas serviam de cobertura e, assim como as estacas, haviam sido pintadas de branco.

Sakura (murmurando): É um bonito lugar...
Shaoran: É sim. Estava meio abandonado quando chegamos, mas Wei e Feimei reformaram tudo.
Sakura: Eles fizeram um bom trabalho.

O casal cruza uma ponte branca e encontra a mesa a que Meiling se referia. Estava abarrotada de diversos pratos, alguns doces, alguns salgados, além de duas jarras de suco e duas garrafas com chá. Posicionados em meio a comida, estavam seis castiçais coloridos no formato de maças, todos com velas acesas. Sakura e Shaoran se entreolham, surpresos.

Sakura: Um jantar...
Shaoran: ... à luz de velas!?!

O casal houve um pigarreio e notam que Wei estava presente, trazendo em seu braço esquerdo duas toalhas vermelhas.

Wei: Patrão Shaoran. Patroa Sakura.
Sakura: Hoe? Desde quando virei patroa?
Wei: Preparei esse jantar conforme as instruções da patroa Meiling. Espero que apreciem. Por favor, tomem assento.

Wei puxa uma cadeira para Sakura e a menina prontamente se senta. Em seguida ele faz o mesmo com Shaoran. Após colocar as toalhas no colo de Sakura e Shaoran, o mordomo serve dois copos de suco e coloca um sino sobre a mesa.

Wei: Estarei me retirando por agora. Se precisarem de mim, basta tocar o sino e prontamente os atenderei. Aproveitem o jantar.
Shaoran (ainda um pouco aturdido): C-certo. Obrigado, Wei.

Wei faz uma reverência e se retira. Os olhos de Shaoran e Sakura se encontram, mas eles logo viram os rostos.

Sakura (dando uma risada tímida): É a primeira vez que tenho um jantar a luz de velas. Bem... isso sem contar às vezes que faltou luz lá em casa...

Sakura estava tentando quebrar o clima constrangedor, mas não tivera sucesso. Tanto Shaoran quanto Sakura, com os rostos tão vermelhos quanto tomates, se servem e começam a jantar. Passam o tempo apenas comendo, não conseguindo nem trocar olhares. Aquele silêncio era algo terrivelmente incômodo.

“E agora? Sobre o que vamos falar? Minha cabeça está em branco e não consigo pensar em nada. Meu coração está batendo tão acelerado que estou com medo de me esgasgar com a comida.”

Sakura olha de relance para Shaoran.

“Será que eu posso falar sobre o que aconteceu? Quer dizer... sobre o que quase aconteceu... quer dizer sobre o que já aconteceu e estava prestes a acontecer de novo... Hoeee! Estou ficando confusa!”

Os olhos de Sakura começam a girar nas órbitas.

“Eu gostaria de sentir aquela sensação de novo. Tinha um sabor especial. Mas eu não sei como fazer. Só de pensar nisso fico muito envergonhada. E o Shaoran nem sabe sobre o que já aconteceu. Não tive coragem de contar para ele. Será que consigo coragem para dar uma passo adiante?”

Uma vez mais, Sakura olha de relance para Shaoran enquanto se serve de um copo de suco.

“Será que ele está pensando sobre isso também? Será que também está muito envergonhado para falar algo a respeito?”

Shaoran: E quanto aos seus sonhos? Você continua tendo eles?

“Ah. É claro. Nós temos coisas mais importantes sobre o que falar.”

Sakura: Sim, mas eles não mudaram muito. Eu apenas consigo ver aquela mulher misteriosa chorando enquanto caminha pela cidade destruída. O Eriol disse que o Mestre está interferindo em minhas visões e que os trechos que consigo ver são fragmentos de um todo.
Shaoran: Isso é frustrante. Nem você nem a Kaho Mizuki estão tendo seus sonhos e visões proféticas com perfeição. Nossos meios de prever os problemas foram neutralizados. Eu acho que essa mulher em seu sonho deve ser importante. Se ao menos pudéssemos saber quem ela é ou qual o contexto completo do sonho...
Sakura: É verdade...
Shaoran: E quanto ao hospedeiro?

Sakura sente um calafrio só de pensar nisso.

Shaoran: Percebeu mais alguma coisa?
Sakura: Apenas a Chiharu e a Naoko agiram de maneira estranha algumas vezes. Mas isso não significa que sejam elas. Eu confio nas minhas amigas.
Shaoran: Não é uma questão de confiança, Sakura. Nossos amigos estão em perigo sem ao menos ter noção disso. Temos que fazer todo o possível para ajudá-los.
Sakura: Nós estamos fazendo o melhor que podemos, Shao-kun.
Shaoran (parecendo levemente irritado): Poderíamos estar fazendo mais se deixassem.
Sakura: Fazer mais?
Shaoran: Devíamos estar junto com Eriol caçando o Mestre e procurando pela porta selada. Ao invés disso, ficamos apenas resolvendo pequenos incidentes aqui e ali...
Sakura: Esses pequenos incidentes também são importantes. Se deixarmos eles de lado, pessoas inocentes vão se machucar ou se perder.
Shaoran: Hmmm.
Sakura: Além disso, também tivemos que lidar com problemas bem grandes. Já esqueceu da Galathea e de Belial?
Shaoran: Belial, a besta da discórdia. Uma das quatro grandes bestas sanguessugas. Mesmo que ela não estivesse em sua forma completa, Belial certamente foi uma ameaça das grandes.
Sakura: E a Galathea também.
Shaoran: E, segundo o que você me contou, ainda teve aquela bagunça que misturou as realidades. Esse conceito de realidades alternativas ainda não entra na minha cabeça. É complicado de entender. A magia do caos realmente é capaz de fazer coisas assustadoras...
Sakura: É... teve isso...

Imediatamente uma imagem surge na cabeça de Sakura. Tratava-se de uma garota de cabelos na altura dos ombros, na cor castanho claro, que usava um tapa-olho branco sobre seu olho direito. Ela sorria timidamente.

Shaoran: Foi muita sorte você ter conseguido reverter a situação sozinha. Foi um bom trabalho.
Sakura: Eu não resolvi aquilo sozinha. Devemos muito a Kazuko por estarmos aqui hoje.
Shaoran: A Nishimura, né?

O semblante de Shaoran muda reagindo a menção de Kazuko Nishimura. Ele aparentava estar um pouco irritado.

Sakura: Shaoran... quanto a Kazuko, eu acho...
Shaoran (falando de maneira ríspida): Não quero falar sobre ela.

Sakura fica surpresa. Ela resolve não forçar aquele assunto, temendo que aquilo acabasse numa briga entre eles. Shaoran se concentra em terminar de beber seu copo de suco.

Sakura: Nós enfrentamos Belial e Galathea. Tivemos que lidar com Hikari Kamiya e sua vontade louca de obter poder. Encaramos de frente o Mestre e o Zhen. Além disso, ainda banimos vários bichos estranhos e objetos amaldiçoados que estavam causando problemas para o nosso mundo. Na minha opinião, o que estamos fazendo também é importante.

Shaoran olha para Sakura e suspira.

Shaoran: Bom... muitas pessoas foram salvas por nossa causa.
Sakura: Nós estamos fazendo tudo que podemos para ficarmos mais fortes e assim podermos proteger mais pessoas. Tenho certeza de que quando estivermos preparados, Eriol nos chamará para lutar lado a lado contra o Mestre.
Shaoran: Sakura...
Sakura: Enquanto estivermos trabalhando duro, nosso esforço será recompensado. No final, vai dar tudo certo.

Shaoran sorri.

Shaoran: Você tem razão.

O casal termina sua refeição. Eles decidem se sentar próximo a margem, onde estendem uma toalha. Envergonhados, eles não se sentam muito próximos um do outro.

Shaoran: É bem relaxante. Agora entendo porque a Feimei adora ficar lendo seus livros por aqui.
Sakura: O ambiente é bem agradável.

Sakura olha para o céu estrelado e se perde em pensamentos. Uma vez mais, a imagem da menina de tapa-olho surge em sua cabeça.

– Eu não creio que isso seja um adeus... apenas um até logo... mamãe...

“Uma filha. Eu vou ter uma filha. É estranho imaginar isso. É estranho saber disso. Mas eu realmente me sinto feliz em saber.”

Sakura: Sabe, Shao-kun...
Shaoran: O que foi?
Sakura: Eu sempre achei o nome ‘Reiko’ muito bonito. Você sabe o que ele significa?
Shaoran: Não faço idéia.
Sakura: Significa ‘criança bela e amável’. É um bom nome para uma filha, não é?
Shaoran: É? Sinceramente eu não sei.
Sakura: Que nome você escolheria para uma filha?
Shaoran: Nenhum.

Shaoran nota que Sakura havia se aproximado dele ostentando um olhar de repreensão.

Sakura: Você deixaria a sua filha viver sem um nome? Que cruel!
Shaoran (tentando evitar encarar aqueles olhos verde-esmeralda): N-Não é isso. Só não sei que nome escolheria...
Sakura (cruzando os braços): Não é possivel. Deve ter um nome que você goste.
Shaoran: Eu nunca pensei sobre. Isso é coisa que geralmente as meninas sonham, não é? Esse negócio de c-casamento e f-filhos...
Sakura: Mas tem que ter um nome que você goste!
Shaoran: É... bem... Reiko é um bom nome...
Sakura: Mas e se você tivesse mais de uma filha? Você não pode chamar todas elas de Reiko!

Shaoran começa a suar de nervosismo. Aqueles olhos verdes ansiavam por uma resposta. Não sabia o que deveria dizer e também não queria decepcionar Sakura. O chinês vira o rosto.

Shaoran: Jade.
Sakura: Hoe? O que você disse?
Shaoran: Eu escolheria esse nome. Jade.
Sakura (com a mão no queixo): Jade? Por que esse?
Shaoran: Era o nome da minha falecida bisavó. Ela era uma pessoa muito forte, habilidosa e corajosa. É isso que esse nome representa para mim. Eu sempre gostei de ouvir as histórias sobre os feitos de Jade desde muito pequeno.
Sakura: Jade...

– Eu sempre fui uma chorona... minha onee-chan sempre me critica por isso...

Ao lembrar do comentário de Reiko, Sakura sorri.

Sakura: Jade parece um bom nome para mim.
Shaoran: Mas o que deu em você? Por que começou a perguntar essas coisas de repente?
Sakura: Nenhum motivo especial. Apenas curiosidade.
Shaoran: Você não está escondendo nada de mim, não é?
Sakura: Hmmm.
Shaoran: Sakura?
Sakura: Sabe aquela menina que eu disse que ajudou a Kazuko a corrigir a linha do tempo?
Shaoran: Sei. Qual era o nome dela mesmo?
Sakura: Reiko.
Shaoran: Ah. Então é por isso que você estava falando sobre nomes. Você estava pensando nela. Lembrou dela quando eu comentei sobre a bagunça nas realidades, não é?
Sakura (coçando a cabeça, sem graça): Não é exatamente isso. Eu meio que omiti um detalhe dessa história...
Shaoran: Omitiu um detalhe? Que detalhe?
Sakura (corando levemente): Reiko é nossa futura filha.
Shaoran: Eh?

Shaoran fica perplexo, os olhos arregalados. Ele se levanta desajeitadamente e aponta para Sakura.

Shaoran: Ehhhhhhhhhhhhhhhhhh?

Chocado, Shaoran cai para trás. Sakura rapidamente se levanta e vai até o namorado.

Sakura: Shao-kun! Você está bem?
Shaoran (os olhos girando): F-filha? F-filha? F-filha?
Sakura: Talvez não tenha sido uma boa idéia contar isso...

Sakura ajuda Shaoran a se sentar.

Sakura: Eu também fiquei chocada ao descobrir. A Reiko me revelou isso durante nossa despedida. Ela disse...
Shaoran: Nãooooo!

Shaoran tapa a boca de Sakura.

Shaoran: Eu prefiro não saber. Esse negócio de realidades alternativas e pessoas do futuro está dando um nó na minha cabeça...
Sakura (tirando a mão de Shaoran): Ah. Mas eu acho que você ia gostar de conhecê-la. Ela tinha os olhos âmbar iguais aos seus...
Shaoran (fechando os olhos e tapando os ouvidos): Eu não estou ouvindo... eu não estou ouvindo...

Sakura começa a gargalhar. Ela se aproxima do namorado e dá um beijo na bochecha dele.

Shaoran (surpreso): Sakura?
Sakura: Você é muito sincero. Dá para ver claramente que você está tão envergonhado de falar sobre isso quanto eu.
Shaoran: Sakura...

Sakura se levanta e se espreguiça.

Sakura: Já está ficando tarde. Acho melhor eu ir para casa.

Shaoran acompanha Sakura de volta a varanda, onde a menina recolhe suas coisas e as guarda em sua mochila.

Meiling: Já está indo embora, Sakura?

Meiling havia acabado de abrir uma das portas da casa.

Sakura: Estou sim. Muito obrigada pelo jantar, Meiling. Estava delicioso.
Meiling: Não foi nada. E então? Aconteceu alguma coisa interessante lá no jardim?
Sakura (corando): Interessante? Como assim interessante?
Shaoran: Você não estava nos espionando, não é, Meiling?
Meiling (se fingindo de chocada): Oh! Como pode o meu querido primo pensar isso de mim? Eu jamais faria algo desse tipo.
Shaoran (gota caindo): Você foi pega fazendo isso logo antes do jantar...

Sakura coloca a mochila nas costas.

Sakura: Bem... eu já vou indo.
Shaoran: Eu te acompanho até sua casa, Sakura.
Sakura: Não precisa. Eu não quero incomodar mais.
Meiling: Não precisa mesmo.

Meiling entrelaça seu braço com o de Sakura.

Meiling: Sakura e eu temos uma missão especial essa noite?
Sakura: Missão especial?
Meiling: Isso. Nós vamos encontrar a Rika na praça para ensaiar para o encontro dela.
Sakura: Ela conseguiu marcar um encontro? Que legal!
Meiling: É sim. Ela marcou para amanhã. Como a Rika está muito nervosa, ela pediu ajuda para uma pessoa mais experiente no campo do amor...
Shaoran: Então por que você está se metendo nessa história?
Meiling (gota caindo): Eu estava falando de mim...
Sakura: E vocês vão seguir o plano que fizeram mais cedo?
Meiling: Isso, isso. Posso contar com sua ajuda?
Sakura (sorrindo): Claro.
Meiling: Que bom. Vamos indo então.

Meiling começa a arrastar Sakura rumo a saída, com Shaoran seguindo em seu encalço.

Shaoran: Esperem. Eu vou com vocês.
Meiling: Não vai não. Isso é assunto de meninas.
Sakura: Eu acho que a Rika ficaria constrangida se você estivesse por perto...

Meiling abre o portão e dá de cara com um alguém que estava prestes a tocar a campainha. Tratava-se de um garoto de cabelos loiros e belos olhos azuis.

Fai (abrindo um largo sorriso): Mei-chan! Sakura-chan!

Fai pega e beija a mão de cada uma das garotas.

Shaoran: Eu não acho que vocês deviam andar por aí sozinh...

Shaoran havia acabado de chegar ao portão.

Shaoran: O que você pensa que está fazendo?

Furioso, Shaoran parte para cima de Fai. O chinês tenta uma combinação de socos e chutes, mas o garoto loiro se esquiva com facilidade. Shaoran tenta, então, uma rasteira. Fai evita o ataque saltando e dando uma cambalhota para trás. Shaoran segue sua sequência de ataques, aumentando a velocidade de força dos golpes gradativamente. Fai continua se esquivando, mas em nenhum momento tenta contra-atacar. Sakura se coloca entre os dois garotos e consegue para a luta.

Sakura: Esperem! Não tem motivo para vocês brigarem!
Shaoran: Esse cara estava abordando vocês!
Fai (rindo de maneira discreta): Eu acho que temos um mal-entendido aqui...
Meiling: Esse cara é meu namorado! Então, trate de se acalmar!
Shaoran: O que?
Sakura: É verdade. Eu já havia o conhecido antes.

Fai estende sua mão para Shaoran.

Fai: Você deve ser o primo da Meiling, não é? Muito prazer. Eu sou Fai D. Flourite.

Ainda um pouco receoso, Shaoran aperta a mão de Fai.

Shaoran: Eu sou Shaoran Li.
Fai: Sinto muito por qualquer inconveniente que tenha causado. Quero deixar bem claro que amo muito sua prima e que vou cuidar muito bem dela.

Shaoran aumenta a força do aperto de mão e força um sorriso.

Shaoran: Vai cuidar dela, não é? Que bom.
Fai (sem perder o sorriso): Nossa. Nós temos um aperto de mão bem forte aqui, não é?

Quando Shaoran termina o aperto, Fai fica observado sua dolorida mão. Meiling puxa Fai pelo braço, afastando-o do primo.

Meiling: O que você pensa que está fazendo aqui?
Fai: Como assim? Você me chamou dizendo que precisava de minha ajuda.
Meiling: Sim, mas eu disse para me esperar na esquina. Não era para vir até minha casa.
Shaoran (cruzando os braços): Ah. Então você fica saindo escondido com seu ‘namorado’ por aí.
Meiling: Ele é meu namorado. Tenho o direito de ter encontros com ele.
Shaoran: Só se ele for aprovado como seu namorado.

Meiling e Shaoran começam a se encarar. Fai fica apenas observando tudo de uma distância segura, sem perder seu sorriso. Sakura logo trata de tentar acalmar as coisas.

Sakura: A Rika está esperando a gente, Meiling.
Meiling (dando as costas para o primo): Tem razão. Vamos logo.
Shaoran: Nem pensar que vou deixar vocês sozinhas com ele. Me esperem. Vou só pegar meu casaco.

Enquanto Shaoran entra na casa, Sakura aproveita para ligar para seu pai e avisar que ia ficar mais um pouco fora de casa. Após alguns instantes de espera, Shaoran retorna e o grupo caminha junto rumo a uma praça não muito distante dali. Fai e Meiling vão a frente conversando animadamente. Sakura e Shaoran vêm logo atrás, o chinês com uma expressão carrancuda.

Shaoran: Não gosto dele.
Sakura: Mas por que? Você acabou de conhecê-lo.
Shaoran: Ele está sempre sorrindo. Isso me irrita.
Sakura: Isso não é motivo para não gostar de uma pessoa, Shaoran. Ao menos tente conhecê-lo melhor.

Shaoran apenas responde com um som que parece um rosnado. Sakura procura por algum assunto para mudar o rumo da conversa.

Sakura: Ah. Tinha uma coisa que eu queria conversar com você.
Shaoran: O que foi?
Sakura: Mais cedo eu ouvi uma história estranha. Parece que uma garota da nossa escola sofreu um ataque de pânico e acabou em coma.
Shaoran: Acho que ouvi algo sobre isso também...
Sakura: O estranho é que as testemunhas dizem ter visto vários cupins se multiplicando e atacando a menina. Quando ela desmaiou, os cupins teriam desaparecido. Isso me pareceu um pouco com magia do caos.
Shaoran: É uma possiblidade. Poderia ser algum objeto amaldiçoado que provocou alucinações ou criou criaturas especiais, mas não podemos descartar a possibilidade da menina ter alguma doença também. Se bem que...
Sakura: O que foi?
Shaoran: Eu fiquei sabendo que um de meus vizinhos entrou em coma após agir de maneira estranha. Não fiquei sabendo dos detalhes. Pode ser algo que esteja se espalhando. Os efeitos da magia da Belial funcionavam desse jeito, lembra?
Sakura: O que você acha da gente...

A conversa é interrompida por um grito desesperado.

Meiling: Ei! Vocês ouviram isso?
Shaoran: Veio da praça.
Sakura: Vamos lá!

Shaoran e Fai assumem a liderança do grupo, preparados para proteger as meninas se houvesse algum perigo. Havia uma garota correndo em direção a eles vinda da praça.

Shaoran: Sasaki?
Rika: Socorroooo!

Sakura, então, nota que haviam dezenas de pequenas aranhas de coloração marrom perseguindo Rika com afinco. Elas se moviam através de saltos e tentavam segurar sua presa com teias.

Sakura: Hoeeeee!

(CONTINUA...)


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal. Passando para deixar a primeira postagem do ano. Espero que estejam gostando da história.

O Mestre fez mais uma aparição. Quem é mais malvado? Ele ou a Sekai?

Curiosidades:

— Ohayo significa ‘Bom dia’.
— Senpai significa "veterano". É usado para se referir a alunos de séries mais avançadas na escola. Serve, também, para denotar hierarquia em outros ambientes.
— Ailurofobia é o medo exagerado de gatos. Também é conhecido como felinofobia.
— Stop Motion é uma técnica de animação quadro a quadro. Os personagens são fotografados ou desenhados em diversas posições. Essas fotos são rodadas de maneira sequencial, dando a idéia de que o personagem está se movimentando.



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