Sábado -13/02 – Guilherme

            Nossa, eu realmente estava exausto quando acordei hoje pela manhã. Lembro-me bem da minha cabeça latejando levemente de dor, nas laterais. Tinha ido dormir bastante tarde fazendo nada. Nem no meu livro eu me concentrara, nem a Yoko tinha me ligado. Que ótimo. Talvez ela tinha ido a alguma festa e eu fiquei aqui, como sempre, com cara de estúpido, sem notícia alguma. Nem o moonwalker eu tinha vista na noite anterior, para pelo menos me divertir um pouco antes de dormir. É, realmente tinha sido um dia em branco.                                                                                                                                      

Me levantando, segui diretamente para o banho, para ver se eu relaxava da noite muito mal dormida. Eram apenas 9 da manhã. Tomei um café rapidamente, e fiquei andando de um lado para o outro, na sala. Não tinha muito o que fazer, mas tinha algo me deixando realmente inquieto. Era a Yoko, sabia que era. Eu estava percebendo que havia perdido a total confiança nela, com o ultimo comentário do Paulinho. Tinha perdido. E agora eu queria saber se ela tinha estado com o Luke na noite anterior. A amiga dele saberia... mas eu não saberia perguntar a ela esse tipo de coisa. Eu sabia que não.                                                                                                             

Sei que decidi sair de casa, e ir atrás dela, digo, da Yoko. Estava disposto a bater na casa dele, ali, naquele momento, as 11 da manhã. Eu tava tão distraído com os meus pensamentos que terminei esbarrando em uma garota. A minha vizinha. A que poderia responder a minha pergunta medrosa, que estava se escondendo há muito tempo. Me apresentei, puxei assunto, pelo jeito que ela tinha me olhado, com simpatia, apostaria qualquer coisa, que para não se fazer de mal educada, ela responderia. Mas eu sentia que não deveria perguntar a ela esse tipo de coisa. Ela merecia um assunto melhor. Ela até lia o caçador de pipas. Então só fiz deixar para lá, a idéia maluca de metê-la nesses assuntos, de perguntar a ela sobre a Yoko. Ela parecia legal, e ainda tinha uma dança maluquinha que me fazia rir. Definitivamente, não era com ela que eu queria falar da minha namorada.

E então, eu decidi fazer a coisa mais maluca da minha vida: falar com ele, o Luke. Eu sabia que ele não gostava de mim, mas se eu parecesse simpático e educado, quem sabe ele não debocharia de mim. Ou ele se aproveitaria da minha então inocência e dúvida... Acorda Guilherme, onde é que você vive? No país das maravilhas? Que eu saiba no Brasil esse negócio de confiança nunca existiu.                                                    Foi aí quando eu percebi o quanto o Paulinho estava certo, sobre eu nunca perguntar onde a Yoko ia, ou pelo menos procurar saber se era verdade as desculpinhas que agora estavam me importunando... eu realmente não confiava mais nela. Só tinha medo. Medo de perceber o quanto idiota eu tinha sido.                                                                                                                                                

Decidi que ia ligar para a Letícia. Uma amiga da Walesca e da minha namorada, que era completamente apaixonada pelo Luke. Ela saberia onde ele estaria de noite. E era pra lá que eu iria, para perguntá-lo. Eu não agüentava esperar até a segunda-feira.                                                                                                   

- Letícia? Você pode falar agora?                                                                                  

-GUILHERME! – disse ela, com um gritinho completamente dispensável. Eu não queria parecer mal educado, então fiquei calado. Mesmo eu tendo enlouquecido por dentro com aquele agudo

– Claro que eu posso falar com você querido! Como você está ?                                                                               

- Eu estou bem.. na verdade, eu liguei para saber se pra onde você vai hoje... Porque eu tava pensando em me distrair um pouco...                                          

- O QUÊ? VOCÊ QUER SE DISTRAIR COMIGO? – disse ela, gritando novamente, com um tom bastante empolgado. Foi aí que eu percebi que realmente precisava explicar a situação.                                                                                  

- É sim, me distrair. E também porque eu queria levar um primo meu para conhecer algumas pessoas, ele ta precisando, e como você é amiga da Yoko... eu pensei que você poderia conhecê-lo..                                                                     

Certo, foi uma mentira nojenta e completamente improvisada. Mas como estamos falando de Letícia...                                                                                                    

- Mas é claro que eu posso conhecer ele! Principalmente se ele se parecer com você..                                                                                                                  - Não sei como uma garota pode achar que falando esse tipo de coisa tá conquistando alguém. Realmente é embaraçoso Mas como estava precisando da ajuda dela...                                                                                                                    

- Ele se parece sim... mas quem da faculdade, dos meninos freqüentam esse lugar?                                                                                                                                   

- O quê?! Quem lá da faculdade freqüenta o Rockabilly dia de sábado? Tipo todo mundo. As meninas, digo, Juliana, Vicky, Kelly, o Augusto, o Ronaldo, o Peter, ah, e o LUKE – adcionou ela, com uma empolgação que me enjôo, mas que me fez sentir aliviado – mas, você vai levar seu primo, certo? E Como é o nome dele?                                                                                                             

- Claro que vou Letícia. O nome dele é... Igor. Tchau, e obrigado.                         

Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, eu desliguei o telefone. Como eu poderia ter dito Igor? Como o único nome que tinha vindo na minha cabeça era o do primo da Yoko e justamente o primo que não gostava nada do Luke? Bom, pelo o que eu sabia sobre ele, o Igor não rejeitava festa. Tudo bem que no dia em que eu o vi, ele não estava muito sóbrio. Mas quem se importa. Com tanto que ele ficasse com a Letícia a noite toda e ela não me perguntasse nada sobre o meu primo que não existe, estava tudo bem. O problema todo seria convencer a Yoko de não ir para o Rockabilly. Mas isso o Paulinho tinha como ajudar, e ele o faria com certeza.                                                                                     

E foi então que eu resolvi voltar para casa, seguindo diretamente para o meu quarto; me preparar para a verdade. Eu nunca tinha imaginado como isso poderia ser difícil. Mas com a vizinha, Alice, dançando loucamente ficava, mais fácil. Olhar ela daquele jeito me fazia pensar sobre como tudo pode ser bom. Ela parecia feliz só de está balançando o cabelo ali, em cima da cama. Eu realmente me admiro com gente que precisa de tão pouco pra se sentir bem.