A Lenda Perdida e a Rainha Esquecida escrita por Mitzrael Girl


Capítulo 1
.Prólogo.




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As Crônicas de Nárnia

A Lenda Perdida e A Rainha Esquecida

Para Lis

.Prólogo.

Lúcia, a Destemida; Edmundo, o Justo; Susana, a Gentil; Pedro… o Magnífico.

Os grandes reis e rainhas que um dia governaram o mundo mágico de Nárnia. Um mundo esquecido pelo mundo fora dos limites do guarda-roupa. Um mundo onde humanos e seres mágicos vivem em paz… ou assim se pensava.

xXx

O ser cujo corpo se moldava entre um humano e um cavalo observou o céu noturno com os olhos escuros. O brilho das estrelas refletia fracamente em seus orbes concentrados. O silêncio pairava ao seu redor, mesmo o vento parecia ter se calado. Tantos anos… tantos anos escritos naquele véu de luzes esbranquiçadas. Anos passados, anos presentes, anos futuros. Mas era aquilo que mais o preocupava no momento: em que lugar, dentre aquelas estrelas de sempre… se escondera o futuro?

– Argorius… – uma voz feminina fez-lo virar o rosto para encarar outro ser de forma semelhante à sua, mas com características visivelmente femininas. – O que faz aqui tão tarde na noite? Aconteceu alguma coisa?

– Elária… devias estar descansando com os outros. – ele respondeu, mantendo o tom de voz baixo, como se falar alto demais pudesse incomodar as folhas quase imóveis das árvores ao redor.

– Você também. – ela devolveu, desviando os olhos pouco mais claros que os do homem para fitar o mesmo céu que ele olhava momentos antes. – O que buscas com tanta concentração? Parece muito preocupado, meu senhor.

– Talvez não seja nada mais que a minha imaginação. – Argorius respondeu, olhando para frente, encarando os vários arbustos que cercavam a clareira em que estava naquele minuto.

– O que acha que está imaginando? – Elária perguntou, arqueando as sobrancelhas em dúvida.

– Um futuro… um futuro que as estrelas não sabem mais me contar. – ele respondeu, fitando o céu novamente.

– Argorius…? – a centauro sentiu o coração palpitar um pouco mais forte com aquela frase, parecia ter entendido o que ele queria dizer… mas não queria.

– Ou elas estão se calando diante de nosso povo… ou não há mais futuro para contar sobre nós. – Argorius completou, olhando para a companheira, com um olhar preocupado.

Ela encarou-o de volta, confusa e temerosa com o tom no qual ele falava.

– Depois de milhares de anos de guerra e sobrevivência, parece que perderemos para algo que não podemos enfrentar. Se as estrelas se calaram… está na hora de Nárnia desaparecer. – foram as últimas palavras do centauro, que apenas naquele segundo, desapareceram com a leve brisa que parecia ter escutado a voz do mesmo.

No pôr-do-sol dois dias após a visão do centauro Argorius, naquela mesma clareira, não só ele e Elária se encontravam, mas vários outros seres mágicos habitantes do mesmo mundo. Anões, animais, fadas, elfos, humanos, mesmo as árvores saíram de seus interiores para ouvir o que todos estavam murmurando… o futuro de Nárnia.

– Por favor… silêncio! – Argorius se fez ouvir em meio ao burburinho. – Creio que os mesmos rumores tenham trazido vocês aqui. Rumores que se espalharam por minha culpa…

– É verdade, Argorius? Nárnia vai desaparecer? – uma voz masculina se pronunciou, vinda de um dos anões.

– As estrelas disseram isso? O que está lendo nas estrelas? – uma voz feminina dessa vez.

– Qual o futuro que elas reservam? – uma terceira voz deu luz para mais uma vez a confusão se formar.

– Tem certeza que não se enganou? – uma voz perdida na multidão desapareceu com a grande quantidade de seres falando ao mesmo tempo.

– Por favor! Peço silêncio mais uma vez… vou tentar explicar o que está acontecendo aqui. – Argorius fez seu tom de voz se pronunciar mais alto.

O silêncio pairou entre as árvores e todos os outros presentes. Argorius teve toda a atenção voltada para si mais uma vez. Suspirando profundamente, pôs-se a falar.

– Por dez luas eu observei os céus. E durante essas dez luas, eu percebi uma coisa… o futuro de Nárnia desapareceu nas estrelas. – ele falou, e antes que tivessem tempo de voltar a murmurar palavras de choque, ele continuou a falar. – É como se as estrelas que nos contam a nossa história tivessem morrido… mas elas ainda continuam lá. Continuam agora silenciadas. Não há mais um futuro escrito nelas, tudo se apagou. E aos poucos… o presente e o passado provavelmente comecem a se fragmentar.

– Como assim o futuro desapareceu? As estrelas podem perdê-lo? Não há alguma coisa errada com o que está vendo, Argorius? – um urso se pronunciou, dando um passo a frente.

– Meu amigo, por longas décadas eu observei as estrelas, e elas nunca me esconderam nada. O céu de Nárnia sempre foi um livro aberto para aqueles com o dom de entendê-lo, e foi o que aprendi desde que vim a este mundo. – Argorius respondeu. – E por todo esse tempo que o observei, eu lhe digo que a história de Nárnia está se perdendo. Talvez não porque as estrelas tenham se calado, mas porque o céu… não é o mesmo céu de Nárnia que sempre vimos.

– Não é o mesmo céu de Nárnia?

Com aquela frase vinda de um dos muitos seres ali presentes, os murmúrios tomaram o lugar mais uma vez, mas antes que Argorius tentasse responder, uma nova voz o fez.

– Nárnia está desaparecendo. É uma verdade. – a voz era cansada, como se pertencesse a uma pessoa muito velha.

Todos os seres viraram a atenção para um ancião, um anão que estava sentado numa enorme pedra. Tinha longos cabelos e barba grisalhos e segurava um cajado que alcançava o chão, visivelmente mais alto que ele mesmo.

– O céu é o primeiro sinal disto. Só os muito entendidos sabem que as estrelas, mesmo com o mesmo brilho, nos mesmos lugares, no mesmo manto negro… elas não são as estrelas de Nárnia, porque elas não contam a história de Nárnia. – ele continuou. – Elas contam a história de outro mundo. Um mundo que está avançando de tal maneira que não deixa espaço para que continuemos… esse mundo quer mais espaço, e mesmo com nossa magia, Nárnia não pode resistir sozinha.

– Não pode ser verdade. – Elária foi quem falou daquela vez. – Nárnia… Nárnia não pode desaparecer… como assim um mundo avançando? Que mundo? Que mundo é este que não podemos conviver em paz?

– A Era de Ouro. – o anão sorriu. – Os grandes reis do passado. Quem não se lembra deles? O mundo deles se tornou mais forte que o nosso…

– Como sabe de tudo isto? Não pode ser verdade! – um dos centauros bateu os cascos, inquieto. – Lês as estrelas que pertencem a este mundo para saber o que vai acontecer? Não há porque acreditar!

– Não, eu não li as estrelas. – o anão sorriu novamente, tossindo levemente. – Eu não sou capaz de tal coisa, meu rapaz. Mas ouvi de um dos Grandes que isso pudesse acontecer… há muito, muito tempo atrás, um tempo tão distante que mesmo eu não consigo lembrar quando foi.

– De quem ouviu tamanha blasfêmia? – um dos ratos perguntou, correndo para subir agilmente na pedra.

– Aslam. – o anão respondeu, e um silêncio mórbido se instalou no local. Até os ventos se calaram com a pronúncia daquele nome.

– Então… Nárnia vai mesmo desaparecer. – Elária quebrou o silêncio, abrindo espaço para que todos voltassem a murmurar, dessa vez, não chocados, não indignados… mas pesarosos. Com aquele simples nome, foi como se a verdade fosse marcada na mente de todos os presentes. Uma verdade que não queriam acreditar.

– Ah… – o velho anão tossiu algumas vezes, até se recompor. – Mas, eu lembro que houve mais palavras depois disso. Faz tanto tempo. Acho que as palavras dele foram mais ou menos essas: "Mas quando esse momento chegar, é dever do povo de Nárnia lembrar-se da Era de Ouro, dos grandes reis e rainhas do passado, do que eles fizeram, do que eles puderam fazer… por um mundo que não era deles".

– Quer dizer… que os reis do passado vão voltar? – dessa vez, um dos faunos se pronunciou, com pernas de cabra e dorso de homem.

Quando se voltaram para o velho anão, esperando por uma resposta, ele já não estava mais lá. Parecia ter sido levado com o último sopro do vento daquela noite, carregando consigo todos os demais sons que deviam ter sido pronunciados ali, naquele instante. Com a confirmação das palavras do pequeno ser, a única coisa que vagava por Nárnia sob lua ou sob sol, era sobre a possibilidade de que seu mundo fosse desaparecer. Se fosse para os reis do passado salvá-los… quem haveria de chamá-los de volta à Nárnia?

.Prólogo – Fim.


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