The Fox escrita por Haru Chan


Capítulo 3
The Babies




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Tommy não fora bem recebido em casa. Ashley ficara horrorizada com a história, e relutou muito para permitir que o filhote de raposa ficasse com eles. O pai, porém, estava alarmado.

– Você mentiu pra mim, Tommy!

– Não, meu pai! Eu realmente estava procurando por madeira, mas achei o filhote, não pude abandona-lo.

– Pra cima de mim? Eu conheço você desde pequeno!

– Então deveria acreditar em mim!

– E acreditaria, se não tivesse um animal envolvido. Você é assim, é um homem íntegro, honesto e altruísta. Mas coloca animais indefesos acima disso tudo.

– Não vejo o problema em ter um filhote de raposa. Quantas pessoas não têm cachorros de estimação?

– A diferença é que um cachorro doméstico não mataria os donos a qualquer momento!

– E nem uma raposa! Isso é puro preconceito, meu pai!

Tinham discutido feio, e por muito tempo, Tommy teve de ir lenhar sozinho, o que era muito mais cansativo e demorado, e fazia-o almoçar fora de horário, e chegar tarde das entregas. Agora, quase não passava tempo com a esposa, que definitivamente estava barriguda. Para evitar mais um drama, o homem tinha o cuidado de ser carinhoso o tempo todo, e ainda mais atencioso que antes. Não queria que a esposa pensasse que estava se afastando por ela estar gorda, principalmente porque não estava.

Durante a noite, depois do jantar, dedicava-se a cuidar do filhote. Ashley não queria ter nada a ver com ele, mas Tommy não a culpava. Sabia que ela se sentia ameaçada, e também, estava grávida, tinha de pensar na vida do filho que estava por vir. No geral, a esposa estava sempre mal humorada. O doutor dizia que era culpa da gravidez, que deixava a mulher instável, coisas que ninguém entendia direito. Conversar com a futura mamãe era algo que exigia cuidado e paciência.

– Querida... Como está hoje? – Disse, chegando em casa uma noite qualquer.

– Como estava ontem. Cansada, sozinha e grávida.

– Mas... sente-se bem? Quer alguma coisa?

– Quero muitas coisas, mas não adianta muito pedir.

Tommy sabia que o que Ashley queria era se livrar do filhote de raposa. O neném era tão adorável, e não dava trabalho nenhum. Dormia praticamente o tempo todo, acordava quando Tommy estava em casa, para o almoço e durante a noite, e o rapaz o alimentava. Depois de comer, o homem o levava lá para fora, para que pudesse dar uma andada, e assim não faria sujeira dentro da casa. Mesmo assim, a mulher estava sempre irritada com a presença do pequeno.

– Você sabe que não podemos deixa-lo sozinho, Ashley...

– Claro que não. Afinal, ele é seu filho, né?

– Não, querida... Mas somos responsáveis por ele. Foi o vilarejo que matou a mãe dele, então, é nossa culpa.

– Que seja, não vou argumentar com você. É inútil.

– Obrigado por compreender.

O homem sabia que ela não compreendia coisa nenhuma, só não queria discutir sobre. Mesmo irritada, como o doutor disse que ficaria, a pequena ainda era bondosa. Preferia engolir as coisas do que discutir sobre, e causar uma briga que teria sido facilmente evitada. Por essas e outras, Tommy a amava mais que nunca.

– Eu estava pensando... Que nome você acha que deveríamos dar a ele?

– Tommy! – A mulher arremessou o pano que usava para secar a louça – Como é? Você nunca perguntou de nomes para o nosso filho! Mas pra esse rato carnívoro, você quer dar nome?

– Ashley, acalme-se... Eu nunca dei ideias de nomes pro nosso filho porque não sabemos o que vai ser, menino ou menina... E também, eu queria que você escolhesse. Você que carregou por tanto tempo, tem esse direito.

E era a mais pura verdade. Tommy não estava nem aí para o nome da criança, pois a amaria de qualquer forma. E, além disso, o filhote de raposa estava ali há algumas semanas, e só o chamavam de neném, exceto quando Ashley estava brava, então o chamava de “coisa”, “rato”, “bola de pelos”, ou coisas do gênero. Era maldade, o pequeno merecia um nome. E, pelo visto, a esposa vira o escândalo que tinha feito. Ficou quieta, pegou o pano e voltou a cuidar das louças.

– Eu tinha pensado em Campeão, já que ele foi o único que sobreviveu... Ou Herói. O que você acha?

A grávida apenas grunhiu em resposta, e Tommy entendeu que ela não gostara.

– Nada nesse ramo? Talvez... Valente? – Ashley crispou – Certo, então... Ferrugem? Fogo? Algo a ver com o pelo?

– Ferrugem combina perfeitamente bem. – Disse, irônica.

– Ah, isso é muito difícil!

– E por que não o chama de algo carinhoso? Afinal, você gosta mesmo dele.

– É... Rubio? Que acha?

O filhote, que estava se enrolando sob as carícias do rapaz, mordiscou gentilmente os dedos do dono. A futura mamãe fez silêncio, e então, estava decidido. O filhote chamava-se Rubio. Tommy pegou-o no colo, deixando-o na altura de sua face. Rubio esperneou um pouco, mas pareceu achar mais interessante lamber toda a face do dono, que ria. Batidas fortes na porta fizeram com que a brincadeira parasse. O homem colocou o filhote no chão e correu até a porta. Surpreendeu-se quando se deparou com o burgomestre da vila.

– Boa noite, senhor Addams.

– Boa noite, burgomestre.

– Eu fui informado... – Tentava manter-se cordial, mas estava visivelmente exaltado. – de que o senhor está criando um... um filhote de raposa.

– Sim, estou sim, burgomestre.

– Você... Digo, o senhor entende aonde quero chegar?

– Não quer que eu fique com ele, certo?

– Ora, não sou eu, meu rapaz... Eu apenas represento o melhor interesse da vila.

– Ah, claro. Bom, desculpe-me, mas Rubio é inofensivo. Não vou me livrar dele. – O senhor fez menção de interromper, mas Tommy não deu brecha – Não vejo perigo em um filhote que não consegue nem correr atrás da própria cauda.

– Meu jovem... Crianças crescem. Vai querer mesmo ter seu filho ao lado desta... coisa?

– Burgomestre... com todo o respeito... Na minha vida eu aprendi que essas “coisas” podem ser mais amorosas que um ser humano.

Tentando ser o mais educado possível, Tommy despediu-se do prefeito. Olhou para o pequeno, que estava aconchegado no chão, perto da porta, e entendeu que teria muitos problemas por causa dele. E estava certo.

O tempo passou. Rubio era muito inteligente, e agora já estava grande. Conseguia correr e pular, e já não dormia o dia inteiro. Tommy levava-o durante a manhã para a mata consigo, e a raposa se divertia. Corria pela mata, caçava e até ajudava o dono, carregando uma ou outra tora que escapavam do amontoado, ou afastando castores e esquilos dos troncos. Já Ashley estava enorme. Com certeza, estava para dar a luz em breve. Agora, o senhor Addams voltara a ajudar o filho nas entregas, mas se recusava a ir lenhar com a raposa. Tommy já não se importava. Tinha pegado o jeito nesse tempo, e conseguia cumprir as metas, chegando relativamente atrasado pro almoço, mas a esposa já aprendera a lidar com isso também.

Agora, o doutor fazia visitas quase diárias ao casal. Sabia que Ashley teria logo o filho, e tomava todo o cuidado para que nada desse errado. Muitas vezes, ficava para o jantar, o que resultava em comidas sem gosto nenhum, pois o doutor restringia a mulher de praticamente tudo. Entretanto, assim como toda a cidade, o médico morria de medo de Rubio, e para ficar lá dentro, a raposa precisava estar fora.

Em um desses jantares, Ashley sentiu uma forte dor, e o doutor logo fora examinar. Avisou Tommy que o filho estava por vir, e que precisaria de ajuda. O homem correu até a casa dos pais, com a raposa em sua cola, e chamou a mãe. Tendo parido três vezes, a senhora Addams saberia muito bem como ajudar. No caminho, chamou também a senhora Marson, que, apesar de velha e mirrada, poderia ser de alguma ajuda. Assim, voltaram para casa, mas a pedido de todos, o futuro papai ficou para fora, com Rubio.

Os gritos eram de partir o coração. Tommy acocorou-se e ficou abraçado com seu animal de estimação o tempo todo. Chorava em silêncio, e a raposa o lambia, choramingava e não sabia o que fazer. Ouvia a correria, barulho de água, mais gritos, algo caindo, novos gritos, pedidos de calma, e novamente, gritos, até que tudo se acalmou. Ao longe, um chorinho veio rasgando o silêncio, e num pulo, o homem entrou na casa. Não passou da entrada, mas o doutor veio com seu filho nos braços. Estava todo sujo de sangue, assim como o bebê, mas mesmo assim, Tommy achou lindo.

– É um menino. – Informou o doutor, com a voz pesada.

– Ah, que graça! Meu Deus, que maravilha! – O doutor suspirou, mas o rapaz não parou de agradecer. – E Ashley, como está?

Fez-se silêncio. Ouviu-se um alto guincho, seguido de choro, vindo do quarto, e Tommy reconheceu como sendo sua sogra. Não era burro, e já entendera. O doutor aproximou-se, depositando o neném em seus braços. Evitou o contato visual o tempo todo, mantendo a cabeça baixa.

– É... É isso. Meus parabéns... E sinto muito, meu rapaz.

O homenzinho sujo de sangue ia saindo, quando Rubio entrou. Desta vez, o médico limitou-se a dar passagem, mesmo estando arrepiado de medo. A raposa colocou-se aos pés do dono, olhando o neném com olhar vidrado. Tommy agachou-se, e o animal lambeu gentilmente a cabeça da criança. O doutor suspirou alto.

– Talvez, Tommy, seja hora de se tornar adulto de verdade. Já perdeu muito, não acha? – Insinuou, ao ver Rubio lamber o recém nascido novamente. – Essa criança é tudo que restou de sua família. Acho que você não deveria arriscar perdê-la para esta coisa...

– Com todo o respeito, senhor. Perdi minha mulher, não quero perder mais nada, de fato. E justamente por isso, não vou me livrar de Rubio. Já perdi demais, mas ainda tenho ele, e meu filho. Isso é o que sobrou da minha família.

Tommy chorava, silenciosamente. O médico suspirou novamente, e retirou-se, quieto. Aos poucos, as mulheres foram saindo. Nenhuma quis demorar-se, simplesmente passaram, em lágrimas, despediram-se e saíram, deixando o caçula com seu filho, sua raposa, mas sem sua esposa.


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