The Fox escrita por Haru Chan


Capítulo 1
The Proposal




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Em uma vila pobre, da Europa medieval, viviam pessoas simples, sem boas condições e cheias de crendices. As famílias eram muito conservadoras, e praticamente todos se conheciam por ali. A família Addams vivia, na medida do possível, bem. Eram lenhadores, e como todos na vila realmente precisavam da lenha, tinham uma clientela muito boa. O mais novo deles, Tommy, sempre relutara em seguir o caminho da família. Para ele, era crueldade destruir a floresta e deixar tantos animais sem comida, habitat e proteção. De fato, a destruição predatória acarretava algumas consequências. Muitas e muitas vezes animais silvestres eram pegos na área urbana, dentro de casas ou em pomares. No geral, eram executados, ou conseguiam fugir, muitas vezes com a ajuda do Addams caçula.

Os anos passaram, e o jovem aprendeu que, para sobreviver, deveria trabalhar com a família. Relutou o máximo que pôde, e por muito tempo viveu de fazer entregas, levando grandes quantidades de lenha para os compradores. Foi assim que conheceu Ashley, uma menina mais ou menos de sua idade, filha de agricultores. A família da garota não era pequena, tinham uma boa horta e vendiam bem. Os Marsons, porém, como todos os outros, dependiam inteiramente das lenhas dos Addams. Tommy estava impressionado com a beleza da menina. Era muito pálida, e tinha longos cabelos cacheados em tom de mel, com olhos claros, esverdeados. Magra, e de baixa estatura, era muito diferente do resto da vila, e dele próprio. No geral, a população dali tinha cabelos escuros e espessos, com olhos igualmente negros, salvas algumas exceções, que possuíam olhos amendoados. Todos eram corpulentos, por viverem em geral do trabalho braçal, e tinham a pele muito bronzeada, por passarem os dias ao sol. Mas Ashley não. A menina era muito delicada, e seus pais nunca a deixavam sair. Tinha asma, e por isso, não podia fazer muito esforço.

O jovem Addams sentiu-se instantaneamente atraído pela pequena. E a partir daquele dia, encarregou-se das entregas aos Marsons pessoalmente. Ia lá quase toda semana, e dava-se muito bem com ela. Demorava-se mais do que o usual, perdia-se em conversas com ela, e em pouco tempo, estavam realmente namorando. Claro, com a aprovação dos pais da menina. E também, não poderiam reclamar muito, afinal, o casal só se encontrava dentro da casa deles, enquanto eles estavam em casa, e Tommy nunca podia demorar-se muito, tinha sempre outras entregas para fazer.

A família Addams estava muito feliz com a notícia. Era comum aos pais indicarem o par para o casamento, mas ambas as famílias lucrariam muito com essa união, afinal, naquela pobre vila, os dois lados eram beneficiados por uma clientela fiel. O tempo passava, e com certeza, aquele relacionamento evoluiria para algo mais, o que já era esperado por praticamente toda a vila. Quando o garoto decidiu pedir-lhe em casamento, fora conversar com seu pai, sobre a possibilidade, a festa, os gastos e tudo mais.

– O senhor sabe, meu pai, já está na hora de nos casarmos.

– Com certeza, Tommy. Mas, não posso permitir, e tenho certeza que o velho Marson não permitirá também, que você se case antes de estar apto a herdar nossos negócios.

– Mas, meu pai, eu conheço todos os contatos! Eu estou apto!

– Dessa parte, sei que você poderá cuidar muito bem, Tommy. Mas, lidar com as pessoas é o trabalho de uma mulher – Disse com certo receio – E você deverá aprender a lidar com a madeira, digo, ser um verdadeiro lenhador!

Por mais que doesse, seu pai tinha razão. Sabia que deveria tomar conta dos negócios, e isso significava derrubar árvores. Ashley, por sua situação debilitada, cuidaria das vendas, e precisaria de um ou dois filhos para carregar as toras e ajudarem-no a lenhar. Provavelmente, depois do casamento, teriam de ter filhos logo. Sabia que teria o pai por bastante tempo, mas não poderia contar com os irmãos, cada um seguiria sua vida, o mais velho já não morava mais na vila, e o do meio não demonstrava interesse em ter uma vida, levava uma vida boêmia. Sempre fora evidente que Tommy herdaria tudo, e isso o deixava extremamente contente. Na mesma semana, falara com o senhor Marson, um velho encarrapitado, que, mais por interesses pessoais do que sentimento paternal, aprovou a proposta de casamento. Então, deixou Ashley sair em um passeio pela vila com o namorado, que insistira em pedir-lhe ao ar livre. Não que houvesse algo diferente ali, na realidade. O rapaz só queria que acontecesse em um lugar diferente daquele que passaram todo o namoro.

Passearam por entre as casas e mercearias, e foram até a praça central, a única coisa realmente bonita na vila. Sentaram-se num banquinho, enquanto algumas crianças corriam e brincavam, e as senhoras fofocavam.

– Ashley... Ah, está confortável?

– Sim, muito. Obrigada, Tommy, querido. – O rapaz abriu a boca para falar, mas a garota prosseguiu, sem perceber – Nunca tinha saído de casa assim, tão longe e por tanto tempo. Papai só me deixava ir até a igreja, e nem era todo fim de semana. Devo agradecer-lhe, acho.

O Addams caçula até perdera a fala. A namorada segurava sua mão, e mantinha a outra repousando sobre as coxas, muito bem cobertas por um vestido florido. Mantinha os olhos fixos no chão, mas o garoto via que estava corada e sorrindo. Usava um chapéu comum, e um belo lenço no pescoço. Os cabelos claros caíam-lhe pelo ombro, e Tommy gastou alguns minutos mirando-a, antes de voltar a falar.

– Querida... Você está mais bonita do que nunca.

– Obrigada. – Disse, apertando delicadamente o vestido sobre a perna. – Você é sempre lindo.

Rindo, o jovem acariciou a mão da amada. Levou um momento olhando os dedos entrelaçados, imaginando como ela ficaria quando recebesse o anel.

– Bom, eu queria falar com você, e acho que não devo me demorar. – A menina agora o olhou, com certa relutância. Era muito tímida. – Eu já falei sobre isso com o senhor seu pai, e já tenho sua bênção. Eu quero me casar com você, Ashley.

A pequena levou a mão solta até a boca, contendo a expressão de surpresa. Agora, mantinham contato visual, e seus olhos esverdeados marejaram. Mas não era tristeza, sem dúvidas. Soltava grunhidos de emoção e alegria, e logo, atirou-se aos braços do noivo, num forte abraço. Abraçaram-se, enquanto trocavam palavras de amor e carícias, e logo Tommy tirou do bolso o anel, que colocou gentilmente no anelar de Ashley, que agora chorava. Então, o momento foi quebrado por um grito de criança. O casal olhou, assustado, e lá estava, uma raposa, recém saída de um arbusto da praça.

Não levou muito tempo e as crianças e senhoras da praça correram em desespero, mas a agitação parecia irritar a raposa, que corria atrás deles, mostrando os dentes e rosnando alto, mas logo voltava para perto do arbusto, receosa. A essa altura, todos os cidadãos já espiavam pelas janelas ou nas esquinas, e logo vieram os homens com machados. Ao vê-los, o animal rosnou ameaçadoramente e pulou sobre eles, mordendo um grandalhão, mas logo fora atingida por um golpe do machado. Fora só um arranhão, mas fez o mamífero rolar para longe e choramingar de dor. Ashley cobria o rosto, assustada, e Tommy mantinha-se a frente dela. Mas quando viu o golpe, não se conteve.

– Parem! Vão mata-la! Saiam daqui! Eu cuido disso!

Teve dificuldade em afastar um dos homens, que gritava desaforos à raposa, como se ela pudesse entender. O homem que fora mordido, levantou com ajuda de outros dois, que o auxiliaram a ir para longe, provavelmente, para o médico da vila. Tommy foi muito cauteloso ao se aproximar do animal ferido, mas conseguiu. Tinha muita experiência nisso. Acocorou-se ao lado da raposa, afagando-a cuidadosamente, enquanto sussurrava, mais para si mesmo do que para o animal.

– Calma, calma, calma... Vai ficar tudo bem. É só um arranhão... Você vai ficar bem. – Parou por um momento, olhando nos olhos do animal. Suspirou, ainda afagando-a, e aumentou o tom de voz, apenas o necessário para ser ouvido. – Ashley, busque uma fatia de carne... Bem generosa, por favor. Não precisa ser de boa qualidade.

A menina, que já arfava freneticamente, colocou-se em pé em um pulo. Andou o mais calma que pôde, lembrando-se das pessoas perseguidas ao correrem, e foi até uma mercearia próxima. Pegou um grande pedaço de bife e voltou a praça, ainda ofegante.

– Não se aproxime, querida. Aqui, jogue para mim; - Pediu o rapaz, e assim foi feito. – Aqui... calma, amiguinha...

Tommy entregou a carne ao animal, que o abocanhou sem hesitar, e fugiu, mancando, para o outro lado da cidade, voltando para a floresta. Levantou-se, cansado, e recebeu um forte abraço da noiva, que chorava. Toda a vila ficara muito assustada com o acontecido, mas, por sorte, só houve um ferido, e não fora muito grave.


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