Luzes & Anjos escrita por Caelum


Capítulo 1
Capítulo I - Luzes & Anjos (pt.01)


Notas iniciais do capítulo

Vocês lembram do que ocorreu na minha one-shot "Amigos e Rivais", não é? Temos pequenas referências à ela. Se não lembra, Daisuke pede Hikari em namoro e a mesma o rejeita, então Daisuke e Takeru conversam no Digimundo... As primeiras falas são que nem as que iniciam "Amigos & Rivais", caso se confundam.
Bem, essa é a introdução, e, de verdade, não acontecem muitas coisas. É apenas de Amizade, com dicas de Takari. Porém, iniciar a fic com o texto do capítulo II me pareceu incompleto, por isso, apresento-lhes o primeiro capítulo, a introdução! :)
Aproveitem!



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“-Você quer ser minha namorada, Hikari?

-E-eu... Me desculpe. Não posso aceitar... Não é você quem me faz feliz. E-eu sou apaixonada por outra pessoa... Sinto muito... Por favor, me perdoa.”

***

No mínimo, aquilo era irônico.

Após derrotar os mais temidos monstros digitais, ela encontrava-se temendo com veemência por um triângulo amoroso.

Aquilo a atormentava - como não poderia? Após todas as terríveis provas de coragem em um mundo que sempre existiu como uma mera sombra na Terra, após passar por tantos perigos, tantas enrascadas, de pensar que morreria e jamais voltaria ao seu mundo, aquilo parecia completamente infundado, ridículo, patético. Em parte, consolava-se com o pensamento de que a verdadeira prova que revelaria se ela realmente havia amadurecido chegara de uma forma que ela não pudera se preparar.

E ela estava fracassando - essa era a parte em que o consolo quase nulo oferecido pela parte de sua personalidade que era adepta à autocomplacência falhava, mas não custava tentá-lo.

Hikari Yagami apenas desejava um modo de viver seu verdadeiro amor sem machucar ninguém.

Um suspiro de extrema exaustão escapou dos lábios da morena.  A adolescente mudara consideravelmente desde a primeira vez que pisara em solo digital. Seus cabelos lisos castanhos, antes tão curtos, agora estavam longos e desciam graciosamente por suas costas magras. Seus olhos, que antes se aproximavam a algo como um castanho-avermelhado bem fraco, agora estavam com uma cor mais bela e definida, mais intensa - quase como dois rubis brilhantes. Não apenas por sua beleza, mas também por sua personalidade doce e meiga, havia uma penca interminável de belos pretendentes aguardando-a fervorosamente.

Um, se tivesse sorte, poderia ser seu melhor amigo - seu amor secreto.

E outro - o que não fazia segredos e mostrava a todo Japão que a amava-, havia sido descartado no dia anterior, para sempre, e não tivera as melhores das reações.

“Será que Daisuke ainda está irritado comigo?” Atormentava-se. “Ele deve estar tão magoado...”

-Ei! Terra pra Hikari! - Alguém berrou, tirando-a de seus devaneios. Hikari piscou várias vezes até compreender que a figura em sua frente era sua melhor amiga, encarando-a com um semblante nada satisfeito, quase irritado. Voltou para a realidade: Era noite, um dia após ela ter rejeitado o pedido de namoro de Daisuke. Às 19 horas, em uma rua comercial bem espaçosa e movimentada de Odaíba, em Minato, as duas jovens, faziam um passeio juntas numa noite amena.

Horas atrás, sem elas souberem, Takeru e Daisuke conversavam do Mundo Digital.

-Hikari! - Suspirou a jovem à sua frente. - Quer parar de pensar sobre isso? Ou por acaso você esqueceu que estamos fazendo esse passeio para você relaxar um pouco?! - Continuou, bufando.  - Quero dizer, Daisuke já é bem grandinho para ficar irritado com uma coisa assim! Se você não quer namorá-lo, ele que se vire e se resolva! - Hikari sorriu levemente.  Ela precisava mesmo dar créditos à sua melhor amiga, que se dispôs a levá-la para passear um pouco, a fim de fazê-la esquecer daquele triângulo amoroso mal resolvido. 

-Tem razão, Miya, desculpe. Vou esquecer isso e vamos continuar nosso passeio. - Prometeu.

Miyako Inoue sorriu em triunfo.

A garota de longos cabelos violetas não tivera uma grande mudança em sua personalidade demasiado enérgica e berrante, ainda assemelhando-se bastante à filha única dos Tachikawa. Seus óculos redondos de lentes imensas estavam límpidos como sempre, mostrando olhos âmbar repletos de uma malícia divertida e uma sinceridade evidente. Claro que ainda possuía seu jeito amável - que conquistara Ken Ichijouji aos treze anos, e namoravam desde então.

“Quem me dera eu fosse tão sincera com meus sentimentos.” Hikari suspirou enquanto andavam, tentando se manter otimista.

-É uma pena não termos nos visto ultimamente. - Comentou, tomando um sorvete de morango.

-Verdade. - Miyako franziu a testa. - Mas as coisas ficaram tão rápidas de um tempo para cá, e, quando eu dei por mim, não havia mais tempo para nada! - Fez uma careta exagerada de desgosto, e Hikari riu. Era impressionante como Miyako conseguia animá-la mesmo em seus momentos mais tristes.

-Excluindo o Ken, claro.- Murmurou com um pequeno sorriso, e Miyako deu-lhe um olhar divertido.

-Obviamente. - Ela sorriu, empinando o nariz de brincadeira. - Não posso nem pensar em deixá-lo só por muito tempo, dói até de pensar.... - Suspirou apaixonada, e Hikari riu. - Além disso, tem muita garota com os olhos nele. - Fez um careta. Então, a jovem de cabelos roxos arqueou uma sobrancelha à amiga. - E então? Algum avanço?

Desconfiada perante o tom inquisitivo e os olhos estreitados de Miyako, Hikari replicou:

-Como assim, algum avanço, Miyako? - A mais velha suspirou em descontentamento visível. As duas pararam de andar por um momento, e ela tratou de esclarecer, com seu famoso sorriso malicioso e as lentes dos óculos refletindo um brilho impaciente:

-Com o Takeru!

-Oh. - Hikari piscou e arregalou os olhos após engasgar com o sorvete de morango. - Isso.

-Se você rejeitou Daisuke ontem, ele já teve tempo para agir! - Exclamou sua amiga, convicta. - Então, ele já se declarou pra você? - Inqueriu Miyako, extremamente interessada no assunto. Ao ver a cara um tanto desapontada, perplexa e envergonhada da amiga, suspirou, compreendendo que o loiro não fizera isso. - Tão lentinho o garoto, ó, coitaaaado...

-Miyako! - Repreendeu-a o mais severamente possível.  Hikari não acreditava que Takeru fosse realmente fazer isso, duvidava se ele a via mais que apenas uma irmã ou amiga. Antes que Miyako pudesse arquitetar sua defesa, um grito masculino atravessou as ruas de Odaíba, fazendo as duas pularem de susto.

-Meninas!  - Takeru Takaishi acenou alegremente, com um entusiasmo invejável, correndo até as duas.

-Falando do diabo... - Resmungou Miyako, baixinho. Esperou, novamente, Hikari repreendê-la, mas, ela, por sua vez, encontrava-se com o sorriso mais bobo e apaixonado do mundo. Miyako viu que os olhos da amiga, antes levemente opacos pela sua tristeza, agora reluziam mais que pedras preciosas. A adolescente de cabelos violetas riu, perversa e debochada, e disse em tom baixo: - Oh! Romeu está chamando, Julieta!

Hikari, nem um pouco afetada com a provocação de Miyako, sussurrou, divertida:

-Então não me espere, que eu vou ali morrer e não tenho hora pra voltar.

Anos antes, Hikari teria enrusbecido violentamente e gaguejado algo sobre ela vê-lo apenas como amigo.

Mas essa era uma máscara que ela já havia deixado cair há muito tempo.

-Oi, meninas, tudo bem? - Takeru questionou no segundo que chegou até elas, após espremer-se na multidão que povoava Odaíba. Miyako, que utilizava todo seu raso poder de autocontrole para não rir com o comentário anterior de Hikari, limitou-se a assentir. A morena sorriu em resposta, com uma evidente felicidade repentina. Não passou despercebido por nenhuma das duas que Takeru, curiosamente, parecia mais feliz. Claro que, aos olhos escarlates da filha mais nova dos Yagami, isso o tornava ainda mais bonito. - Fazendo o quê por aqui?

-Apenas passeando. - Miyako viu-se obrigada a responder, uma vez que Hikari parecia bem afetada pela presença contente do loiro e incapaz de proferir alguma coisa que ultrapassasse o limite de duas sílabas. O mais discretamente que pôde, pisou no pé dela para trazê-la de volta a realidade - claro que o “discreto” de Miyako não fazia verdadeiro jus ao significado da palavra, e qualquer um no raio de dois quilômetros pôde perceber, mas Takeru não pareceu se importar.

-Sinto muito em interromper o passeio de vocês. - Desculpou-se ele, educado, coçando a nuca com certo constrangimento. Riu de leve. - Mas eu realmente preciso falar com você, Hikari, se a Miyako não se importar. Me acompanha? - Pediu à morena. Fitou a adolescente com seus olhos azuis, aguardando uma resposta, ansioso. Antes que Hikari pudesse usufruir da oportunidade de abrir a boca para falar, Miyako moveu-se brusca e repentinamente, assustando ambos, e empurrando Hikari com toda sua força na direção de Takeru.

-É claro que ela te acompanha! - Berrou alegremente, animada. - Vai lá, Hika! - Exclamou, enquanto Takeru piscava meio atordoado com a súbita explosão de Miyako. Aproximando-se, rápida, do ouvido de uma Hikari igualmente perplexa, sussurrou: - Vai lá e não ouse se esquecer de que eu serei madrinha no seu casamento.

-O quê?! - Foi a reação engasgada da mais nova, que não teve tempo para alongar seu espanto, uma vez que Miyako deu o empurrão final na direção do jovem loiro, quase fazendo-a cair de cara na calçada se o mesmo não tivesse agarrado seu pulso a tempo, impedindo-a.

-Uau, Miyako, calma. - Takeru riu, enquanto Hikari, com as bochechas tingidas com um leve tom rubro, estabilizava-se em pé.

-Você é muito prepotente, Inoue. - Declarou Hikari num murmúrio, com um leve sorriso de agradecimento tomando-lhe a face. Miyako piscou para ela, alegre.

-Bem, eu já vou então! - Despediu-se, afável. Acenou para os dois alegremente, e, antes de se virar na direção oposta, enviou um rápido - porém bastante expressivo - olhar para Takeru. Estava mais que claro para ele que o olhar de Miyako aproximava-se a algo como “Declare-se para ela hoje mesmo ou mando Hawkmon fazer picadinho de você”.

Takeru revirou os olhos - as pessoas tinham assim tanta pouca fé nele?

-Então, sobre o que você quer conversar? - Hikari perguntou, um tanto curiosa, mas muito contente por dispor de atenção total do parceiro de Patamon. Ele hesitou por um breve momento, antes de dizer, com cautela:

-Anh, podemos ir para outro lugar primeiro? - Pediu. - O que eu tenho para te dizer é... particular. - Explicou-se nervosamente. Hikari, apesar de ter estranhado, concordou prontamente, tentada com a possibilidade de passar um tempo a sós com ele.

-Claro! - Sorriu. - Pra que lugar você quer ir? Minha casa, sua casa, o parque? - Sugeriu Hikari prontamente. Takeru, contente pela doçura habitual da garota que mais amava no mundo, espelhou seu sorriso e disse, gentil:

-Não, nenhum desses lugares, Hikari. Eu tenho uma surpresa pra você!

***

Enquanto isso, Daisuke Motomiya encontrava-se em um momento de realização de uma guerra perdida.

Não que um dia ele estivesse de fato travando um confronto no campo de guerra - o vencedor já estava decretado antes mesmo dele preparar suas armas e reconhecer que havia um rival competindo com ele ou algo pelo que valesse a pena lutar com todas as suas forças; Takeru Takaishi e Hikari Yagami, respectivamente.

O vencedor já estava decretado há oito anos, quando dois Anjos uniram-se pela primeira vez no céu do Japão e os Digiescolhidos conheceram uma nova companheira.

De repente, ele sorriu, lembrando-se de que Takeru lhe contara sobre seus planos, sua surpresa e declaração à Hikari.

“Era pra ser assim, de qualquer maneira.” Encolheu os ombros, sentindo-se estranhamente em paz. O sorriso transformou-se numa risada incrédula que ressoou pelo seu quarto. “E eu aqui, tratando isso tudo como uma guerra.  Uma guerra, francamente! Batalhas, inimigos e confrontos... Que exagero, o meu! O Digimundo afetou meu cérebro! Acho que agora entendo o motivo de todos me chamarem de imaturo...Takeru não deve ver isso como uma guerra... Não, não mesmo. É apenas para mim que o amor é uma espécie de guerra. ” Suspirou. “Takeru...”

A conversa com Takeru alguns horas atrás o lembrara novamente do significado da palavra amizade. Para ser franco com si mesmo, Daisuke precisava reconhecer que, de seus dois Brasões, o da Amizade era o mais complexo. Coragem tratava-se de enfrentar seus medos, e isso ele fazia com facilidade... Mas proteger e apoiar os amigos era algo distinto, requeria mais forças - forças que ele aprendera que não deveria tirar apenas de si mesmo, mas também de seus companheiros, devia confiar neles.

E apoiá-los.

“Takeru...”

Aquietou seus pensamentos por um segundo, e, antes que perdesse a coragem, dirigiu-se à sua escrivaninha, que raramente era utilizada. Empurrou algumas coisas que não deveriam estar ali, e elas aterrissaram com um baque irritante na bagunça espalhada pelo chão de seu quarto. De forma rápida e atrapalhada, vasculhou uma caneta em uma das gavetas entupidas de tralhas. Quando a encontrou, começou a escrever algo num papel. Passaram-se alguns minutos até que decidiu que sua pequena carta estava boa o suficiente. Guardou-a no bolso com um último pensamento:

“Boa sorte, TJ.”


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Notas finais do capítulo

Bem, como vocês puderam constatar, foi apenas um intro para o verdadeiro Romance! E, claro, ainda pude dar a deixa para uma futura one-shot minha, vou falar sobre ela nas notas finais do próximo capítulo. Algum palpite sobre o que Daisuke escreveu no papel e como ele mandará esse bilhete?
Quem quer ver a surpresa de Takeru para Hikari?! Tudo no próximo - e último - capítulo! :)
Vou postá-lo agora mesmo, para finalizar a fic. Não vejo problemas em receber reviews apenas no próximo capítulo, que é uma continuação direta desse, mas, isso é com vocês ;)