Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 20
Cadência


Notas iniciais do capítulo

Eu gostei desse capítulo.
Muito obrigada a todos que estão fazendo comentários, eles me incentivam muito mais do que vocês imaginam. :)
E um obrigada especial a ariviel - será o meu final.
Beijo



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- Não faça isso. – tentou insistir Zeniba.

 

Boh olhou para ela sorrindo lindamente, os olhos contrastando com o negrume do lago atrás de si.

 

- Não se preocupe comigo... – pediu.

 

E deu um passo a frente, arregaçando as mangas de sua blusa de forma que ficasse com os braços fortes despidos. Pôs-se de joelhos e afundou os braços na água lodosa até que seus cotovelos estivessem cobertos. Inclinou-se para frente, a cabeça num ângulo de noventa graus, permitindo uma boa visualização das bolhas que se formavam no espaço entre seus membros. Uma delas explodiu, espirrando seus resquícios no rosto dele.

 

Era possível, agora, divisar uma tênue luz alaranjada, que Boh puxou para cima com algum esforço, os músculos se retesando, estreitou os olhos e pôs a ponta da língua para fora da boca, mordendo-a.

 

Exibiu para Zeniba o ovo seguro cuidadosamente entre suas palmas.

 

- Foi bem ensinado. – comentou a mulher embevecida.

 

- Tive bons professores. – sorriu, num momento raro de descontração, o rosto tornando-se rapidamente suave e jovial.

 

Chihiro acordou, vendo-o desta maneira, a dor pungiu em seu coração, tentou dissipar a confusão que o sono lhe imputara, tentando gravar a imagem que observava a ferro e fogo em seu cérebro.

 

- Quer fazer as honras? – perguntou a Zeniba.

 

A idosa tomou o ovo de suas mãos e se concentrou nele, arremessando-o para frente com uma força maior que seu corpo antigo teria. A imagem de pedra eclodiu do ovo, crescendo e caindo numa grande velocidade, mas pousou suavemente no centro do lago, sem sequer tocar a água. Era parecido com a forma de dragão de Boh, seu movimento pétreo imitando o real, estendendo a cauda e curvando a cabeça, num cumprimento; lentamente.

 

- Perfeito! – exclamou ela exultante. – Consegue lhe sentir a mente? – restava somente esse teste para provar o sucesso de Boh.

 

Boh tocou-lhe a consciência, tendo seus próprios pensamentos o atingindo.

 

- Consigo. – respondeu vagarosamente, vendo a si mesmo de um outro ângulo. – Tem alguém vindo. – anunciou.

 

- Não creio que seja uma daquelas cópias. – refletiu e acrescentou com algum temor: - É poderoso. É melhor sairmos daqui.

 

- Mas pode ser um amigo... – disse incerto. – Lembra a energia de... – balançou a cabeça para dispersar essa ideia.

 

- Sabe que não pode ser. – Zeniba tivera a mesma impressão que ele, mas não comentou. – Vamos sair daqui. – resolveu, tomando as rédeas da situação. – Fique perto de Chihiro, vamos para minha cabana.

 

- Mas... – tentou avisar a sua tia. – Yubaba...

 

- É daí? Aquela é minha cabana! – replicou contrariada. – Fique perto de Chihiro. – ordenou, sacudindo a mão para ele.

 

Boh virou-se para a garota, curvando-se para ela.

 

- Está acordada? – perguntou vendo os olhos da menina abertos. – Temos um problema, vamos ter que sair daqui. – explicou rapidamente.

 

- Tudo bem.

 

- Consegue se levantar? – perguntou, a voz tomada de uma nova urgência. – Zeniba, está próximo! – alertou.

 

- Acha que não sei? – gritou, furiosa pela pressão. – Só estou garantindo que seu demônio não seja removido por esse importuno!

 

Murmurou alguma coisa para si mesma e correu na direção deles, erguendo as saias até os joelhos para que pudesse ir mais depressão, revelando as pernas magras e macilentas e as meias coloridas que lhe escondiam as canelas. Enquanto Boh ajudava Chihiro a se erguer, enlaçando a cintura dela para auxiliá-la a se sustentar. Zeniba agarrou-se a camisa de Boh, puxando-o.

 

E no instante seguinte estavam ouvindo gritos afobados e injúrias sendo profanadas contra eles, ditas por uma mulher exatamente igual a Zeniba, só que sem maquiagem alguma, com o corpo enrolado numa toalha cor de rosa imensamente úmida e felpuda. Os cabelos acobreados escorrendo por seus ombros.

 

- Idiotas! O que pensam que estão fazendo? Assustando-me assim desta maneira! Fazendo uma algazarra sem igual no meu recinto...

 

- Pare de gritar sua maluca! Essa casa é minha! – brandiu Zeniba a irmã, abrindo espaço violentamente para que pudessem entrar. Sentou pesadamente numa cadeira. – Entrem. – acenou para Boh e Chihiro que trocavam palavras em voz baixa.

 

As lembranças atingiram a garota de uma maneira violenta, enquanto avançava, não conseguia deter o fluxo de imagens. Tocou instintivamente o prendedor de cabelos, observando as paredes, mais escuras do que se lembrava. A organização meticulosa do aposento, maculada por alguma desordem causada, na certa por Yubaba. A roca jazia num canto isolado, fios de lá, numa cesta abaixo dela. Parecia a casa de uma avozinha, foi a primeira coisa que pensara na primeira vez que entrara naquele lugar. Procurou o olhar de Boh, recebendo um assentimento mudo. Ele sabia. Suspirou, buscando o calor do corpo dele.

 

- Eu quero que saiba meu nome. – quase podia ouvir sua própria voz dizendo aquelas palavras, a garotinha afobada e delicada, sorrindo para a bondosa Zeniba há... seis anos atrás para ela. Mas não sabia quanto tempo fazia para a velha, muito menos para as sólidas estruturas da casa, para seus utensílios, suas vigas...

 

Sentiu seu corpo ser abraçado, convidando-a para a realidade e ficou grata pelo contato, não sabia por mais quanto tempo conseguiria agüentar sozinha, sem embarcar permanentemente naquelas memórias, sem que se afogasse nelas, encontrando nos anacronismos uma alegria que não conhecia mais.

 

Zeniba já voltara a se mover, providenciando rapidamente alguma comida quente. Gritando furiosamente com a diminuta e molhada Yubaba, que desarrumara todas as suas coisa, tomando posse do que era dela. O que sempre dispensara, alegando que não eram suficientemente robustas.

 

O fogo crepitava e os dois jovens ficaram felizes em sair do caminho, juntando-se ao primeiro. Repartindo calor entre si. Boh e Chihiro estavam juntos, nunca quebrando o contato físico, necessitando da presença do outro, beijaram-se delicadamente, sem compromissos. Temiam que lhes restasse pouco tempo.


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