Um Sopro De Felicidade escrita por Mihara


Capítulo 31
Capitulo 31 - País das Maravilhas?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, minha vida não esta nada fácil e apesar de ter dito que ia escrever nas ferias acabei não fazendo nada, já que esta cada vez mais difícil de continuar a historia, ainda sim, esta emocionante escreve-la. Espero que aproveitem.



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Capitulo 31

 

País das maravilhas?

 

—Me desculpem, estou atrasada!

Sakura entrou na sala afobada como todos os dias normalmente entrava, mas dessa vez, sentia o medo descer por suas pernas. Todos estavam com uma cara esquisita, meio deformada, com os olhos muito fundos e a boca aberta. Parecia que a qualquer momento eles pulariam em cima dela e a comeriam viva. Mesmo assim, sorriu, pediu licença e entrou. Andando pelo corredor até sua carteira, uma das últimas perto da janela, sentia os olhares sobre si, era como andar em um corredor da morte, até mesmo o professor da sala estava esquisito, no entanto, sentiu que seu plano estava dando certo, ninguém a atacou, se ela agisse de acordo, talvez pudesse sair daquele lugar.

Caminhou até sua carteira ouvindo apenas seus passos ecoar pela sala, assim que sentou, sentiu alivio ao ver que a aula continuou normalmente e todos se voltaram para frente.

Pronto, e agora, o que você vai fazer Sakura, pensava ela desesperada. Olhou para os cantos da sala e para os armários, e nem sinal do sino. Seu olhar curioso se encontrou com uma de suas amigas, Sakura instantaneamente sorriu e voltou-se pra frente. Tinha entrado no ninho e nada do sino, seria necessário olhar o resto da escola? Não se lembrava muito de outros lugares do prédio, era mais como desenhos em sua cabeça meio apagados.  Ficou imaginando se Kero ainda estava do lado de fora lhe esperando para poder ir embora.

Com seu nervosismo e inquietação na carteira, acabou deixando sua caneta cair, mas antes que pudesse pegar o garoto ao seu lado, conhecido como Yamazaki, abaixou-se primeiro, ao segurar a caneta que o menino gentilmente lhe entregava, Sakura pode ver sua verdadeira face, segurou-se para não gritar, na verdade, deveria sorrir, mas sabia que seus olhos demonstravam outra coisa. Apenas pegou a caneta e se virou para frente rapidamente, sabia que ele continuava encarando, observando suas reações.

Não soube quanto tempo ficara ali, parecia que o tempo tinha se estendido, estava suando frio, o relógio parecia não querer andar e muitas vezes sentia olhares alheios de todos os lados, eles estavam desconfiados que ela já tivesse percebido a realidade.

A aula havia acabado, Sakura se assustou quando todos levantaram e agiram como pessoas normais, os meninos como meninos, brincando e atacando bolinha nos outros, enquanto as meninas viravam para traz para conversar ou abriam um livro, parecia que tinha voltado para a vida real, suas amigas se levantaram e vieram até Sakura, mas ela apenas sorriu e pediu licença para olhar nos armários da escola, nada do sino. Antes que o próximo professor entrasse, ela saiu da sala.

—Onde você vai Sakura? – era Chiharu.

—Banheiro – disse sorrindo.

—Voce sabe a resposta daquela lição que o professor de inglês passou? – disse ela entrando em seu caminho.

—Ah, aquela lição? Ela é muito fácil, você vai entender rapidinho. – disse Sakura se distraindo com a imagem perfeita de Chiharu.

—Entao vem me mostrar como se faz.

Chiharu parecia uma menina normal, sua amiga de infância, feliz e sempre convidativa, era difícil acreditar que ela não era real, que poderia se tornar um daqueles monstros. Sakura olhava para ela com muita vontade de ficar para conversar, mas não podia se distrair, quase esquecera disso por um minuto, e era isso que eles estavam fazendo, distraindo-a de sua prioridade.

— Mas eu estou muito apertada, vou ao banheiro rapidinho e já volto - riu Sakura, saindo rapidamente antes que a menina se convidasse para ir junto.

Por onde passava, em uma sala ou outra, alguém a chamava, pedindo para fazer lições, jogar bola, e até mesmo um professore que pediu para levar uns documentos na diretoria, ela nunca fora tão popular.

Poderia olhar na escola inteira mas não encontraria o sino, sua mente já dizia isso, se prepararia para encontrar Kero do lado de fora. Foi muito idiota e arriscado de sua parte achar que estaria na escola, ela colocou a mão no fogo pra nada.  Estava chamando atenção mais do que queria, todos que estavam nos corredores a deixaram de chamar e a encaravam, ela não estava agindo de acordo? Correu para o banheiro e se trancou em um dos boxes, respirando de alivio por estar fora de vista daqueles olhares.

Sakura sentou-se na tampa da privada, o sino não estava lá, não sabia mais onde procurar, fora perda de tempo entrar na escola, mais uma vez achava burrice de sua parte. Esse era um mundo muito aberto, mas os únicos lugares que Sakura sabia ir era os que ela se lembrava, teria que tentar lembrar de mais alguma coisa.

Estava começando a ficar assustada, o desespero subia a cada segundo que passava, pois eles sentiriam sua falta, ela não encontraria o sino. Queria ir embora, talvez fosse melhor passar o dia agindo normalmente? Ou achar o sino? Não teria tempo para ficar brincando de teatro, queria ir embora o mais rápido possível.

Calma Sakura, mantenha o controle, se concentre, sairia dali e encontraria aquele sino, esse era o certo. Olhando para a porta, percebeu que na mesma havia escrito muitas palavras com caneta e outras de corretivo, provavelmente, no mundo real era isso que os alunos faziam no banheiro para passar o tempo, sempre pichando as paredes e porta, aquele mundo era apenas um espelho do que ela se lembrava, então era obvio que aquilo estaria lá também. Mas uma palavra em si chamou sua atenção, “Omatsuri”. O que era omatsuri mesmo?

Um fleshback passou rápido em sua cabeça, um lampejo de muitas lembranças festivas. Era um lugar lindo, cheio de lanternas a noite, com todas as pessoas passando, rindo e conversando, muitas vestidas de lindos quimonos. Sobre sua cabeça, o céu era iluminado por fogos de artifícios.

Era isso, Omatsuri, como um grande festival. Sempre gostava de grandes festivais que ocorriam no templo Tsukimine, fora em muitos com seu irmão e Yukito. Como ela não tinha conseguido lembrar disso? O sino provavelmente estaria lá.

Alguma coisa em sua mente dizia que aquilo não era coincidência, talvez tenha sido ajuda de Yuko, achava ela.

—Sakura, você está ai? – disse uma voz do outro lado da porta, parecia a voz de Naoko. – eu sei que você está ai, Sakura!

Sakura se assustou com a menina batendo na porta, ela deve ter demorado demais para voltar, antes que respondesse a Naoko, as batidas começaram a ficar mais forte e a voz da menina mais estridente.

—Eu sei eu você está ai Sakura – batia na porta cada vez mais forte – abre essa porta! SAKURA!

A voz de Naoko começou a engrossar, as batidas eram tão fortes que a porta não resistiria muito tempo. Era tarde demais para Sakura voltar, ela tinha que sair dali.

                                   -------****--------

Watanuki andava pelos corredores tenso, ele temia que a qualquer momento algo ou alguém pudesse aparecer em sua frente para impedir sua missão de libertar Sakura, que descobrissem que ele era um traidor. Desde que se separou de Syaoran, começou a suar frio, suas habilidades nunca foram voltadas para lutas, mas assim que tirasse Sakura do globo de vidro, saberiam instantaneamente de suas ações. Mesmo assim, teria forças para fazer o que fosse preciso, realizaria seu sonho de se encontrar com Srta.Yuko novamente.

Ele andava preocupado, olhando para os lados, Sakura se encontrava do outro lado do castelo, Fey Wang nunca coloraria a garota em um lugar fácil de encontrar, criara uma sala especial para isso, por esse motivo o castelo era cheio de passagens secretas, apenas as pessoas mais importantes possuíam um caderno preto com todas as informações do castelo, mas Watanuki não precisava mais dele, havia decorado todos os caminhos, teve tempo o suficiente para isso nesse fim de mundo.

—Sr.Watanuki?

Watanuki travou ao escutar a voz a suas costas, quando se virou, percebeu que era apenas um guarda, quase se desmontou de susto. Era um dos guardas inferiores, empunhando apenas uma espingarda, assim como os outros guardas, ele era barbudo e seu rosto parecia mais um porco do que um ser humano.

—Sr.Watanuki, as forças armadas foram todas concentradas no salão principal a pedido do grande mestre.

—Sim – Respondeu firmemente Watanuki – Eu sei disso.

Não, ele não sabia, quando aquele homem tinha dado essa ordem? O salão principal era onde se encontrava Syaoran e os outros, todos os guardas estavam indo para lá? Eles estariam em sérios perigos, já estavam enfrentando Fey Wang e agora aquela levada? Seriam encurralados. Teria que agir rápido a respeito de Sakura.

—No entanto, o próprio Fey Wang me encarregou de uma missão secreta – mentiu Watanuki – o que está esperando guarda? Vá para seu posto!

—Sim senhor!

Ele bateu continência e continuou andando. Watanuki lembrou de respirar novamente, para ele, a melhor maneira de mentir era contar a verdade, foi a própria Yuko que o ensinou, ele apenas teve que mudar uma coisinha ou duas. E assim ele continuou andando, imaginando em sua cabeça o quadro em que Syaoran se encontrava. O que estaria acontecendo? Quanto mais rápido ele pegasse Sakura, mais rápido ele poderia ir para o salão principal.

Watanuki repassou mentalmente o caminho que iria seguir, no entanto sem muita pressa e espanto, poderia correr o risco de ser descoberto, e isso seria a última coisa que poderia lhe acontecer agora. Caminhando pelo corredor escuro, como todos os outros do castelo, encontrou o quadro que estava procurando, essa era a passagem secreta mais difícil de todas as outras, se ele errasse, não encontraria o caminho. Sabia que era aquele quadro, pois era um dos únicos que ainda estavam por inteiro, a partir dali, ele contou trinta passos, encostou a mão na parede e conjurou um pequeno feitiço em outra língua, um linguajar mais antigo, em latim. E assim, um dos blocos da parede afundou, junto com todo o restante, abrindo uma passagem para uma enorme escadaria.

Fey Wang nunca deixava ninguém sem sua total confiança descer ali, ele próprio só tinha descido algumas vezes, mas fora o suficiente para decorar o caminho. Sentiu um gosto amargo na boca, para poder descer ali, ele tivera que fazer coisas horríveis, como assustar pessoas e queimar moradias, deixando-as ao relento. Lembrou-se da cena terrível, em que ele segurava uma faca na mão com a ordem de matar uma das crianças fugitivas, nunca esqueceria do rosto da menina.

Watanuki Kimihiro desceu as escadas apressado, seus pés tropeçaram nos degraus, quase rolando escada a baixo. Parou por um momento, tinha que se acalmar, inspirou e respirou. O rosto dela veio lhe a mente, aqueles olhos lacrimejando de medo e angustia, enquanto sua mãe lhe segurava afastando a até ficar contra a parede.

—Saiam, eu cuido disso! – Disse ele aos guardas!

Eles lhe olharam feio, mas obedeceram. Do lado de fora da cabana, podia-se ouvir gritos de dor e agonia. Sem duvida, o rapaz novo havia feito um bom trabalho. Pelo menos era isso que eles pensavam, o que realmente havia acontecido na cabana foi o feitiço de watanuki, aprendera com Fey Wang, ele torturava as pessoas, fazendo o sangue dela queimar por dentro, aos poucos, começando pelos pés e cabeça até chegar ao coração. Mas momentos antes de queimar o coração, Watanuki parou. Ele viu a filha gritando e chorando tentando ajudar a mãe, ela se contorcia de dor, todos os seus músculos estavam contraídos, era como ter caibra em todas as partes do corpo. Quando a magia cessou, Watanuki olhou para a janela para ver os guardas, abaixou-se e disse bem baixo:

Me perdoe! Me perdoe! – Disse segurando as mãos da mulher – Esse era o único jeito!

Mas não importava o quanto ele se desculpasse, em seus olhos, o medo estava estampado. Ela não precisava dizer uma única palavra.

Saiam pelos fundos antes que eles notem!

E assim, ele conseguiu evitar duas mortes. Mas aquilo ficara marcado pelo restante de toda sua vida, Yuko havia dito que tudo valeria a pena mais tarde, todo esse sofrimento seria um grande pagamento um dia, uma grande cicatriz que um dia valeria a pena. Retomou sua corrida escadaria a baixo.

No fim do corredor, pode-se ver uma luz meio avermelhada. Era a sala. Ficou pensando o que faria ao tirar Sakura, Fey Wang saberia no mesmo momento. Não havia porta, parecia até um filme de terror, era apenas uma sala no final das escadarias escuras. Não havia luz sem ser a das maquinas ali em baixo. Sim, maquinas, era isso que prendia Sakura, e por fim, ele pode ver o corpo dela. Ela estava presa dentro de uma grande maquina, recoberta de feitiços poderosos e magia, esse era o combustível. Era como um gigantesco jarro, mas o vidro tinha inúmeras escrituras, havia diversos cabos de força pelo chão, também recobertos por escrituras. Nunca chegou a perguntar a Fey Wang qual era a fonte de energia, pois ele desconfiaria, mas sabia que não era uma coisa nada boa. O poder de Sakura era tão grande assim para precisar de tanta energia para conte-la?

A menina estava recoberta pelas asas, grandes e luminosas que a protegiam, sua luz se misturava com o ambiente da sala, mas era como acender um fosforo em um quarto escuro, a maquina a enfraquecia. Olhou ao redor, só havia uma única maneira, algo que tivesse força o suficiente para destruir todos os cabos e anular a magia.

—Venha, minha Mugetsu!

E da manga de sua camisa, uma pequena criatura saiu deslizando por seu braço. Conhecida no mundo espiritual como Kudakitsune, ou raposa de tubo, era uma raposa em formato de cobra, podia-se ver como uma pequena cobra peluda com olhos pretos. No seu mundo, não havia guardiões como no mundo de Syaoran e Sakura - sim ele conhecia bem a historia dos dois, pois estava ali por esse motivo certo? - No entanto, Mugetsu o protegia como se fosse, ela fora a única companhia que ele teve por todo aquele tempo, Yuko lhe garantiu que se algo acontecesse como o plano ser descoberto, sua kudakitsune o tiraria dali às pressas.  Mas era preciso ela se mante-se escondida, pois no mundo atual não existiam seres mágicos, foi assim que Fey Wang conseguiu conquistar esse mundo facilmente, pois as pessoas o viam como Deus. A raposa subiu por seu braço e deslizou pelo pescoço.

—Poderia fazer esse favor para mim?

A raposa começou a crescer, criando patas com garras longas e afiadas, marcas azuis em sua cabeça e por todo o restante do corpo, suas nove caudas balançavam para todos os lados como chicotes cortantes, sua pelagem se misturava com um fogo meio azulado, ela era gigantesca. Watanuki sentiu seu ombro pesar violentamente, caindo no chão e esmagando seu corpo, faltando-lhe ar.

—Mugetsu, você poderia sair do meu ombro primeiro! – a raposa apenas uivou e lambeu seu rosto. – Ah, já disse pra você não fazer isso, vamos voltar ao trabalho!

E assim como foi lhe pedido, Mugetsu arrancou com seus dentes afiados todos os cabos de energia, suas garras, por onde passava perfurava os fios grossos no chão como se fossem de papel. Ela abriu a boca e soltou fogo por todo a sala, mantendo Watanuki junto de si para que ele não se queimasse. Por fim, olhou para o núcleo com Sakura, e soltou uma grande rajada até que as escrituras queimassem e o vidro derretesse.

—Já está bom, Mugetsu, você vai acabar queimando ela!

Watanuki correu até Sakura, o vidro derreteu e toda a agua de dentro inundou a sala, as asas de Sakura haviam desaparecido, era agora apenas uma garota de camisola com cabelos molhados. O fogo de Mugetsu não era uma chama qualquer, era como um fogo divino com propriedades especiais.

—Conseguimos Mugetsu – disse ele conferindo a temperatura da menina primeiro, ela estava meio quente, mas estava bem, pegou-a no colo e virou-se para a raposa – agora vamos sair antes que eles cheguem aqui. Tenho certeza que Fey Wang já percebeu. Tenho que garantir que Syaoran não entre naquele estado de novo.

E assim, Watanuki, com Sakura em seus braços, montou em sua kudakitsune e foi ao encontro de Syaoran.

                                   -------****--------

Sakura presa em um dos banheiros, procurou por uma saída e a única maneira era por cima ou por baixo, passando pelas aberturas entre os boxes, achou melhor se esgueirar pelas lacunas, iria até a primeira porta do banheiro que estava mais próxima da saída e correria até Kero.

Foi uma proeza muito complicada, o corpo de Sakura era muito grande e o boxe muito pequeno para poder se abaixar, mas teria que dar um jeito, ela se escorou contra a parede e passou primeiro os braços, para poder puxar o resto do corpo, na primeira abertura, suas costas se arranharam e ela sentiu arder, mas tinha que continuar, o restante foi fácil, era só se esgueirar. Bem a tempo, quando Sakura chegou no ultimo boxe, Naoko quebrou a porta em que ela estava, lascas da porta voaram para todos os lados, não perdeu tempo, respirou fundo antes de abrir a porta e correu, saindo do banheiro. Nem se atreveu a olhar para traz para ver a imagem desfigurada de Naoko, provavelmente não seria uma visão agradável.

Tudo o que Sakura pensava era em Kero do outro lado do corredor, o monstro atrás de si fazia sons horríveis e emitia um rugido grotesco inumano.

—A GAROTA SABE – disse uma voz grossa – PEGUEM ELA!

Todos que estavam nos corredores e salas começaram a se deformar, seus rostos estavam derretendo como cera e seus olhos e bocas eram uma escuridão sem fundo, apenas emitindo sons sem sentido, virado criaturas escuras e sombrias, eles se juntavam e transformavam-se em um só, como uma massa espessa e flácida, as paredes e o chão começavam a se tornar instáveis novamente, derretendo como gelatina, parecia mais que Sakura estava correndo sobre cola, tornando mais difícil de dar passos, como o ambiente podia se transformar desse jeito? Era muita loucura para ser verdade. Nas entradas das salas, haviam muitos deles que se aglomeravam, entrando em seu caminho, forçando-a a se desviar, muitas vezes acabava trombando na massa grossa das paredes, ela era gelada e muito grudenta.

Sentiu os pés gelados e presos ao chão, Sakura caiu com tudo no chão, quando olhou para traz levou um susto e hesitou, não era mais o ambiente da escola, tudo tinha derretido e virado apenas aglomerados de massa derretida, parecia um monstro tentando engoli-la que avançava como um mar negro, Isso deu mais forças a Sakura, seus pés e mãos estavam presos, parecia que quanto mais se mexia, mais ela afundava.

—NÃO, ISSO NÃO – gritou ela – EU VOU VOLTAR!                                    

Num grito desesperado, ela se impulsionou para a frente, era como se várias mãos estivessem lhe segurando, em sua cabeça era essa a imagem que vinha, vários rostos passavam como flash em sua cabeça, se ela não saísse dali, nunca mais veria aquelas pessoas, não queria isso. Usando todas as forças que tinha, ela foi se soltando aos poucos, ao mesmo tempo, ouvia lamurias implorando e lamentando seu nome. Sakura se soltou e saiu catado chão até que se equilibrasse novamente.  Viu de longe, na janela, a cabeça gigante de Kero. Avistou uma carteira no corredor, subiu nela e pulou pela janela, quebrando a vidraça, por sorte, caiu sobre Kero, fofo e macio.

—Vamos Kero, pro templo Tsukimine!

E assim, ele voou para o céu novamente. Sakura olhou para traz e viu a grande bola de massa escura gritando ao céu, como se acabasse de perder um filho, foi estranho encarar aquilo, sabia que não tinha motivo e sem entender o porque, sentiu-se culpada por isso.

O templo Tsukimine era mais perto do que imaginava, era lindo como em suas lembranças, mas vazio, bem diferente de suas lembranças. Antes que Kero pudesse pousar, assim como todas as outras coisas, ele também começou a derreter, as mãos e pés de Sakura começavam a afundar em seu pelo antes fofo, mas agora grudento, bem lentamente. Não foi um pouso suave, metade do rosto de Kero já estava deformado, ele caiu perto da entrada se arrastando pelo chão. Sakura, desesperada desceu de sua cabeça para amparar o amigo. Sabia que ele não era real, e que não era o verdadeiro Kero, mas sua aflição aumentava vendo a grande criatura aos poucos derreter e escurecer, como a escola e todas as outras pessoas, assim que ele virasse uma bolota de massa negra, ele não seria mais seu amigo.

Com os olhos marejados, Sakura colocou a mão no centro de sua testa gentilmente, a criatura gemeu como se estivesse chorando.

—Obrigada por me ajudar!

Nesse momento, ela entendeu, as pessoas, a escola e até o Kero, não queriam que Sakura fosse embora, aquele mundo tinha sido feito para ela. Mas não importava, ela precisava voltar. Com esforço, deu as costas para a criatura, que mesmo sendo daquele mundo, ajudou a pequena cerejeira.

Sakura correu para dentro do templo, o chão afundava mais do que nunca, as arvores balançavam como se fossem cobras e seus galhos batiam como chicote, eles não deixariam a garota chegar ao sino. Ela ouviu um grande barulho atrás de si, um gigantesco ursinho gigante apareceu rugindo em suas costas, um ursinho marrom com um laço vermelho nas costas. Ele, com suas grandes patas macias, tentou prender Sakura com seu peso, mas a menina corria rápido. Era muito doido para ser verdade, aquele cenário era de gente louca. Grandes relógios cuco e ampulhetas rodopiavam no ar, marcando doze badaladas, o céu parecia que iria despencar e mudava de cor como se o dia estivesse passando em apenas um segundo, acelerado, as nuvens passavam correndo sobre o gigantesco ursinho atrás de si. Meu Deus, que mundo era esse? Pensava Sakura.

Ela finalmente avistou o sino, ele era grande e muito dourado, parecia brilhar mais que o normal, ficou surpresa com o tamanho, tinha imaginado ele menor, era só puxar a corda a seu lado, mas para isso teria que chegar até lá. A passagem estava bloqueada, as estatuetas de raposas que sempre estiveram dentro do templo ganharam vida e vieram rosnando em sua direção. Ela não tinha saída, o grande urso rugia atrás de si, nos lados as arvores lhe chicoteavam e agora tinha as raposas. Tudo estava tão grande, agitado e doido que Sakura teve quase certeza de que ela estava ficando de cabeça para baixo.

A garota estava cercada, não tinha mais para onde ir, o sino ainda estava a uns bons metros de distância, ela estava perdida. Sakura abaixou-se e colocou as mãos sobre os ouvidos. Era um sonho, tudo ou sonho, nada mais que um sonho. Ela acordaria e estaria ao lado daquela pessoa que lhe parecia tão familiar, ao lado daquele garoto estranho.

Apenas um sonho— resmungava rapidamente para si mesma – um sonho, nada mais que um sonho. Não é real!

Ela abriu os olhos por um instante, mas nada havia sumido, o ursinho estava praticamente sobre sua cabeça e as raposas de pedra mais perto, latindo e rosnando, até as arvores pareciam que tinha aumentado de tamanho.

Isso não é real, nada disso é real! – Delirava Sakura – Eu não estou aqui de verdade! É UM SONHO! Um ...sonho.

A mente de Sakura finalmente se deu conta que tudo aquilo era um mundo de sonhos, um mundo em que as coisas impossíveis eram possíveis e as ideias mais abstratas podiam ser reais. Aquele mundo também poderia estar a seu favor, afinal, era um sonho seu. No mesmo momento, imaginou-se voando com lindas e grandes asas, no mais alto céu, entre as nuvens e mais além, e assim se fez, grandes asas cresceram nas costas de Sakura, asas com penas grandes e rosadas, ela alcançou voo antes que o gigantesco urso de pelúcia a prendesse no chão com suas enormes patas macias.

Era uma sensação maravilhosa, era um sonho, mas podia sentir a brisa em seus cabelos. Um sorriso largo surgiu em seu rosto, sentia-se boba, fechou os olhos por um momento aproveitando a sensação, era como ser um passarinho que tinha se libertado, dava rodopios no ar de felicidade. Ao abrir os olhos, levou um susto, um grande relógio cuco estava na sua frente badalando freneticamente, Sakura se desviou habilmente, para quem nunca voou antes, ela estava indo bem. De repente, a situação se inverteu, ela se sentia meio perdida no meio de tantos relógios e ampulhetas que giravam no ar, perdeu a noção de cima e baixo, teve que desviar várias vezes, o tempo também não parava de mudar, era dia e depois noite, Sakura ficou meio tonta.

Concentrou-se no sino, podia ver ele do alto, no entanto, parecia que todas as ampulhetas e relógios decidiram ficar em seu caminho. Teria que ter coragem, ela respirou fundo e mergulhou no ar, descendo rapidamente e desviando dos objetos que estavam em sua frente. Suas asas novas eram muito ágeis e ajudavam na movimentação rápida, muitos cucos tentavam bica-la ou prende-la nas molas. Estava quase lá, faltava pouco.

Sakura esticou a mão, quando seus dedos encostaram na corda ela pode ouviu o som do grande sino pesado, e de repente, tudo ficou branco, a ultima coisa que escutou foi o som do sino badalando dose vezes.


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Notas finais do capítulo

Bom, demorou pra postar, mas esta ai. Achei o capitulo meio ridículo, mas não teve jeito, tinha que fazer isso. Obrigada a todos por acompanharem, escreverei o próximo em breve.