Dizem que quando morremos vemos toda a nossa vida a passar à nossa frente. Quanto a Enjolras apenas um momento escorregou para fora da sua boca.

Tinha pedido a Marius que fosse à barreira do Maine falar - lhes de Robespierre, de Danton e dos princípios, mas desde que Marius andavam namoriscando com Cosette que não aparecia. Mais uma vez não tinha ninguém.

– Aqui estou eu - Disse Grantaire.

– Tu?

– Eu, sim!

– Pois tu podes servir para alguma coisa?

– Tenho essa vaga ambição. - Disse Grantaire.

– Tu não crês em nada.

– Creio em ti.

– Queres prestar - me um serviço, Grantaire?

– Todos. Até engraxar - te as botas.

– Não te envolvas com os nossos trabalhos! Coze o teu absinto!

– És um ingrato Enjolras.

– Serias tu homem capaz de ir à barreira do Maine?

– Os meus sapatos são capazes de tudo! Mas vocês não me fazem justiça.

– Sê sério! - Disse Enjolras.

– Sou feroz. - Respondeu Grantaire.

Enjolras, após alguns segundos, fez o gesto de um homem que adota uma resolução.

– Grantaire - disse ele gravemente - consinto em experimentar - te. Irás à barreira do Maine.

Grantaire morava numa estalagem próxima do café Musain. Saiu e voltou cinco minutos depois; tinha ido a casa vestir um casaco à Robespierre.

– Vermelho. - Anunciou ele, entrando e fitando Enjolras.

Depois aproximou - se do outro e disse - lhe ao ouvido

– Fica descansado.

Um quarto de hora depois estava deserta a sala interior do café Musain. Todos os Amigos do ABC tinham saído, indo cada um cumprir a sua missão. Enjolras, que reservava para si a Cougourde, foi último que saiu.

Tudo ia bem. Isto fê - lo pensar em Grantaire. «É verdade,» disse ele para consigo, «a barreira do Maine fica próxima do meu caminho. Vejamos sempre o que faz Grantaire e em que alturas está.»

E, apesar de Grantaire nunca ter sabido dessa visita de Enjolras, Enjolras ficou atento a partir daquele dia. Ele tinha se preocupado pela primeira vez com Grantaire.