O centro de Treinamento é, definitivamente, o melhor lugar onde já estive.

Pelo que vi ao chegar, as armas que estão à nossa disposição são diferentes das que usávamos nos treinos. Aparentam ser mais fáceis de manusear e os estragos provavelmente serão maiores. Já sei que vou me divertir muito por aqui.

Atala nos explica sobre as regras e então somos liberados para treinar. A primeira coisa que faço é correr para a sessão de machados, para atirá-los em alguns alvos.

Seleciono cuidadosamente o machado de aparência mais cruel. Miro no centro do alvo e o arremesso em direção a ele. Acerto bem na mosca.

— E aí, Distrito 1? —  pergunta uma menina morena e baixinha que se junta a mim no treinamento de machados. Ela é a menina do Distrito 2 que lança um olhar mortífero, e reparo que ela fala comigo de um jeito grosso. — Vai se aliar aos Carreiristas ou não?

— Vou sim, Distrito 2. — estendo a mão para cumprimentá-la, mas ela ignora. — Glimmer.

— Clove. Agora venha conhecer Cato e traga o garoto de seu Distrito. Temos que conversar algumas coisas da aliança. — ela diz, indo em direção ao garoto loiro e forte de seu Distrito que presumo ser Cato.

Procuro Marvel na estação das lanças e é ela onde ele está. Puxo-o pelo braço sem dizer uma palavra sequer e encontramos Cato, Clove e a garota do 4 nos aguardando.

— Cato e Silvia, esses são Marvel e Glimmer. — Clove nos apresenta. Cato é loiro, alto e aparenta ter uma força brutal. Silvia tem cabelos negros e os olhos da cor do mar, característica de seu Distrito. Clove continua. — Glimmer, Marvel, esse é Cato e essa aqui é Silvia. Nós cinco seremos os Carreiristas desse ano.

***

Depois de algum tempo treinando e conversando sobre nossa aliança, fazemos uma pausa para o almoço. Em nossa mesa estão Cato, Clove, Silvia, Marvel e eu. 

— E o garoto de seu Distrito, Silvia? — pergunto a ela, encarando seus olhos da cor do mar, característica do Distrito 4.

— Ele está muito confuso com os Jogos, então achou melhor não aceitar a aliança. — ela me responde, olhando para ele. — Esse é um segredo, mas saiba que eu não o considero um bom lutador para seus treze anos.

Rio com ela e voltamos a atacar a comida. 

Depois disso, Cato e Clove foram se pegar em algum canto (mentira, eles foram pegar mais comida, mas não desconfio de nada) enquanto Silvia busca alguns aperitivos para nós cinco, me deixando sozinha com Marvel.

— O que é isso no seu dedo, Glim? — pergunta ele, olhando para o meu anel rosa. Arranco-o de meu indicador e ponho na palma da mão.

— Foi um presente. — digo, estendendo a mão para Marvel examiná-lo. Ele vê o anel por alguns segundos e depois volta a tomar seu adorado suco de laranja. — Nada de mais.

— Quem que te deu?

— O Gary. — digo com um certo sentimento de culpa.

— Como é que é? — ele pergunta, furioso. Atraímos a atenção de alguns tributos, mas nem me importo com eles.

— Desculpe-me, mas eu queria uma lembrança de nosso Distrito. Eu ainda o odeio.

— Mas foi ele quem nos separou, agora um de nós irá morrer por culpa dessa atitude infantil da parte dele! — ele grita, mas ninguém mais parece ligar para isso. 

— Eu disse que ainda o odeio! É só uma lembrança das jóias do Distrito 1!

— Quer saber, Glimmer? — ele diz, virando o seu copo de suco de laranja em mim. Sinto minha boca fazendo o formato de um perfeito "O". — Fique essa porcaria, então. Lembre-se do garoto que me fez vir para cá com você.

— Cale a boca, Marvel! — grito de volta para ele, jogando a faca a poucos centímetros de sua face. Ela se finca na parede atrás de nós e ele grita de frustração.

Marvel parece surtar e tenta me dar um soco, mas algo o desvia.

Silvia.

Ela me puxa pelo braço e sai correndo comigo. Paramos em frente ao corredor dos elevadores, mas não dizemos uma palavra sequer. Quando o nosso transporte chega, entramos e Silvia nos leva até o andar de número 4.

— Você está bem? — pergunta ela, parecendo preocupada. Silvia me senta no sofá de sua sala e pelo visto, o lugar está vazio. — Ele te feriu?

— Sou eu quem devo perguntar se você está bem. — digo para ela a ponto de chorar. Sei que não devo parecer frágil, mas dessa vez a minha tentativa de conter as lágrimas falha. 

Silvia me dá um abraço. Estranho, pois mal conheço a garota. Nem penso em hesitar, já que a minha cabeça está a mil e precisava de um abraço. Noto que há um roxo na região de seu braço onde foi o impacto com o punho de Marvel, mas não comento nada.

— Me conte o que aconteceu, Glimmer. — ela sugere. — Quem sabe você descarrega a mente?

Conto a ela sobre o beijo em Marvel antes da Colheita. De Gary não ter se voluntariado. Do anel que ele me dera. Não tenho medo de contar isso para Silvia, mesmo que mal a conheço, afinal eu tenho que confiar em alguém aqui.

— E por que você não se livra desse anel? — ela pergunta. 

— É que eu me lembro de meu Distrito quando estou com ele. Mas eu não imaginava que Marvel iria fazer uma coisa dessas comigo.

— Ignore o que Marvel faz. Mas acredite, eu vejo nos olhos dele que ele sente algo a mais por você. Eu sei que ele se desculpará. 

— Eu devo aceitar as desculpas?

— Se você confia nele, sim. Agora, vamos voltar ao treino. Devem estar nos procurando.