Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 16
XIV — Beije meus olhos e me leve pra dormir.




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O ambiente estava com um clima horrível.

Jane e Julian encaravam o garoto que tremia enquanto vestia seus trajes.

Unknown parecia estar cada vez mais furioso e Oli ainda não descobrira porque Tommy estava fazendo estas coisas com ele e seus amigos.

Depois de ignorar todas as inúmeras perguntas da garota que ainda estava desnuda dentro da banheira, ele saiu do banheiro a procura de Anthony, Alice e Matt.

Não adiantaria muito falar sobre a mensagem de texto que acabara de receber com o Coven, a única moça do círculo mágico estava a transar com o namorado há minutos. Matth, o primeiro a ser ameaçado e o primeiro a descobrir quem é Unknown estava tão bêbado que mal conseguia manter os olhos abertos e Anthony, o único que seria capaz de compreender a situação estava aos beijos com sua namorada que Oliver tanto detestava.

Sem ter muito que fazer, o garoto que ainda estava apavorado sentou escorando-se na porta do quarto da amiga. Cabisbaixo, ele só queria dar um fim naquilo tudo.

Depois de alguns minutos Jane e Julian saíram do banheiro com um enorme sorriso. Julian a abraçava por trás e os dois caminhavam juntos pelo corredor. Aqueles sorrisos foram inibidos ao ver o garoto ao encarar-los como se estivesse em um funeral.

A menina, sem saber o que fazer se soltou do velho amigo e correu em direção de Oliver sentando-se na sua frente. O garoto que já estava se acalmando voltara a tremer quando percebera que Jane estava encarando seus olhos com uma expressão preocupante. Ela queria tomar alguma atitude, fazer o garoto se sentir melhor, porém, nenhuma palavra confortadora ira ajudar o rapaz.

Assim que a garota encostou-se ao garoto ele paralisou. Não sentia mais angustia nem dor.Desde que se conheceram Oliver teve certeza que ela era especial de uma forma muito particular para ele, era como o alivio de uma tortura.

Olhando-o nos olhos do garoto, Jane encostou seus lábios num delicado beijo na testa do garoto e ele envolveu-a num abraço de qual não gostaria de terminar.

Oliver se recompôs e caminhou lentamente até a sala junto de Jane. Julian sem saber o que fazer os seguiu. Assim que chegaram no ambiente, jogaram alguns almofadões no chão fechando um circulo. Jane sentou entre os primos e deu uma das mãos a cada um deles.

Anthony tentava reanimar o Matt que já estava meio consciente. Matt queria ficar sozinho, como na maioria das vezes que ele bebia, mas Antony foi a sua direção e o arrastou até o círculo de almofadas que se formara no chão.

Oliver caminhava de costas em direção à cozinha enquanto perguntava se alguém o acompanharia. Assim que se virou pra seguir o caminho normalmente, esbarrou em Alice e Ethan. Ambos totalmente suados e de aparência cansada. O garoto lançou um olhar e deu um sorriso malicioso pra amiga que não aguentou e riu. Seguindo pelo corredor com os braços dados com o namorado, Alice acomodou-se na roda de amigos.

Na sala todos tentavam falar de um assunto que não fosse chatear ninguém. Todos tinham seus motivos pra se chatearem fácil e ninguém queria uma briga na festa de boas vindas a Antony.

Quando o garoto voltou todos estavam ali reunidos e comendo Drunk Food. Assim que Oliver acomodou-se na sua almofada do lado de Jane e Alice começaram a conversar sobre o futuro e planos.

—E aí, vocês estão animados pra visitar a universidade essa semana? — Ethan disse com um sorriso cansado enquanto ajeitava seu cabelo suado.

— Universidade, como assim? — Alice bufou sem entender nada.

— É, universidade. O ano já está acabando Ali. É nosso ultimo ano. — enquanto dava um gole no uísque que pegou pra dividir com Julian, Oliver encarava a reação da amiga. — Vamos com a escola visitar algumas universidades aonde vamos tentar vestibular.

— Algumas até em outra cidade, como meu caso e do Oliver. — Ethan disse com empolgação.

— Como assim em outra cidade?! Vocês irão me abandonar? — Alice disse em desespero.

— É claro que não Ali, certamente não tentarei em uma cidade tão longe. Não aguentaria ficar muito tempo longe de você. — Ethan deu uma piscadinha para a garota.

— Mas, mas porque não ficamos todos aqui na mesma cidade? — ela protestou fazendo beicinho e uma cara homossexualmente meiga.

— Nem sempre o que buscamos pode estar por aqui Alice, temos de tentar a área que é pioneira de cada cidade, onde existam mais chances de emprego na área em que nos formarmos — Oliver explicou.

— E você Anthony para onde pretende ir? — Alice disse torcendo pra ouvir que ele não sairia da cidade. Ela realmente não queria ficar sozinha.

— Eu e Michelle queremos ir pra federal do rio de janeiro. — Ele disse afagando a namorada.

“Por que não vão pra Boa Viagem no Recife? Lá sempre tem ataque de tubarão, vai que a cabra da Michelle tem o terrível azar de ser atacada por um?” Oliver sussurrou torcendo pra que ninguém tivesse ouvido, porém Matt que estava calado a todo o momento ouviu e soltou uma gargalhada e logo mandou o amigo parar de usar a imaginação.

— Nossa, por que tão longe? — Alice mais uma vez fez bico.

— Independência. — Michelle disse dando seu mesmo sorriso falso de sempre.

— Você entenderá quando estiver no terceiro ano, sua bebezinha. — Oliver caçoara de Alice por será dois anos mais nova do que ele.

— O que tem contra pessoas do primeiro ano? — Jane, que era da sala de Alice e também dois anos mais nova protestara com uma das sobrancelhas franzidas.

— É que vocês duas ainda são bebezinhas e tem muito a que aprender da vida. — Antony riu encarando ambas as meninas que desdenhara todos ali na sala.

— Vocês não sabem a saudade que eu tenho da escola. Universidade é uma merda. — Julian resmungara logo após de dar outro gole.

— Não pode ser pior do que o ensino médio. — Oliver e Antony disseram ao mesmo tempo e se encarando com um olhar estranho e confuso.

Logo Ethan fizera questão e mudar de assunto novamente. Ele percebera que o clima havia ficado ruim pelo assunto que ele puxou há instantes atrás. A noite seguiu adentro com todos sentados e conversando e testando a paciência por estar tão perto e amigos que não valiam nem o ar que respiravam.

A madrugada chegara e todos já estavam sóbrios o suficiente pra tomar rumo de casa. Alice estava na varanda escorando seu corpo frágil e cansado na porta vendo seus amigos indo embora.

Oliver estava descendo às escadas que ligavam a varanda à rua com as mãos sobre o ombro de Jane. Logo atrás Julian os seguia usando as duas mãos para acender um cigarro. Antony já havia atravessado a rua e caminhava para sua casa que ficava há alguns metros de distancia junto a Michelle. Kyoto e Artur haviam saído mais cedo, o garoto recebera uma ligação e precisara ir e como ela estava de carona, não pudera ficar.

Julian sem olhar para trás levantara a mão pra se despedir de Alice e continuara a caminhar em direção ao seu carro. Jane parara Oliver antes de seguirem o motorista do trio e o abraçara.

— Obrigada. — Robustamente a menina escondera uma voz de choro.

— Pelo que? — Disse o garoto meio roco.

— Por me fazer sentir de novo o que eu já não sentia mais. — A menina sorriu ainda abraçada ao garoto.

— Que sentimento foi esse? — Sem entender do que se tratava aquilo, o garoto se esforçava pra não dizer uma bobagem.

— Andei muito tempo temendo tudo e a todos por medo de ser machucada novamente. — Ela soltou o menino de seus braços passando a mão sobre os olhos evitando que uma lagrima escorresse.

— Quando você aceita que um monstro vive em você, para de temer todos os outros. — O garoto deu um sorriso seco olhando para o céu.

As luzes dos postes refletiam sobre os dois. O único barulho que eles conseguiam ouvir era do motor do carro e de suas respirações acelerada.

O rapaz meio envergonhando esticou as mãos até a da garota e com pequenos passos se aproximava da moça que ficava cada vez mais vermelha. Uma das mãos passaram de Oliver se envolveu na cintura de Jane a puxando pra cada vez mais perto de seu corpo, a outra estava em entre os lindos cabelos ruivos da garota. Seus rostos se aproximavam cada vez mais um do outro. A cada dez segundos Oliver conseguia sentir cheiro de floratta blue, livros velhos e morango que a garota tinha. Ela se arrepiava enquanto seus rostos de aproximavam cada vez mais. Ela já conseguia sentir o cheiro de chiclete de canela que vinha do rapaz. Eles estavam quase desmentido Newton e provando que dois corpos podiam sim ocupar o mesmo lugar no espaço. Oliver tomou a iniciativa de beijá-la, antes de conseguir encostar seu lábio no dela, Julian buzinou, fazendo com que os dois dessem um pulo pra trás.

Merda. — O garoto sussurrara envergonhado e em seguida soltou uma risada sem graça e então olhou pra Alice que já estava prestes a entrar e caminhou com Jane até o carro.

Estava tocando Mardy Bum do Arctic Monkeys no rádio do carro e a única voz que eles ouviram até chegar a casa de Oliver foi a do Alex Turner cantando.

Assim que Julian acabou de estacionar o carro subira para o quarto do primo. O rapaz e garoto não trocaram nenhuma palavra desde que ele interrompera a tentativa de Oliver beijar a garota de cabelos ruivos e expressões vazias.

O mais velho dos primos havia ido tomar um banho antes de se deitar e quando acabara percebera que seu primo não havia arrumado a cama aonde ele dormiria. Sem saber o que fazer teve que acordar o Oliver que estava tão exausto com os últimos acontecimentos.

— Cara. Cara, acorde. — Julian balançava o guri pelo ombro.

— Hm? — Oliver balbuciou algo ainda de olhos fechados.

— Você não arrumou nenhum lugar pra eu dormir.

— Ah, irei arrumar então. — O garoto rapidamente abriu os olhos bocejando e antes que levantasse o tronco fora interrompido.

— Bem, você já estava até dormindo, deve estar muito cansado, se não se importar dormimos na mesma cama nesta noite, afinal, já é quase manhã.

— É, tudo bem então. — Um pouco constrangido Oliver levantou caminhando até seu armário para pegar um travesseiro para o primo. — Bem, a coberta é de casal, se importa de se cobrir com ela também? Se não pego outra. — Ele disse apontando para a coberta marrom sobre a cama.

— Sem problemas. — Julian riu dando de ombros.

Oliver entregou o travesseiro ao primo e deitou na cama encostando-se à parede para ter espaço para o rapaz se deitar. Ele esperava que Julian deitasse com a cabeça virada pros pés da cama, porém, ele colocara o seu travesseiro ao lado dos de Oliver, tirou sua blusa do Darth Vader e ficando apenas com sua samba canção preta de seda deitou ao lado de Oliver encostando seus braços nas costas dos primos que estava com a cara na parede morrendo de vergonha.

Já era quase meio dia e os garotos ainda não haviam levantado. Oliver tinha uma competição de natação muito importante às 13h e se não levantasse rápido não conseguiria chegar a tempo.

O garoto sentira seu celular vibrar por baixo do travesseiro e logo abriu os olhos assustado. Ao invés de olhar quantas horas no dispositivo como fazia todas as manhãs ele estava paralisado. Seu rosto e o de Julian estavam tão pertos que seu cheiro de cigarro, álcool e perfume amadeirado confundiam seus sentidos. Aquele cheiro o transmitia uma sensação incomoda ao mesmo tempo prazerosa.

Se esforçando pra não fazer muito barulho, ele pegou seu celular e viu quantas horas era. Apavorado ele correu para o banheiro pra se arrumar, quando voltou, Julian estava sentado na cama se apoiando sobre os joelhos brincando com a gata de Oliver.

— Vai a algum lugar? — Ele disse acenando com o queixo para a mochila que Oliver arrumava apressadamente.

— Tenho uma competição daqui alguns minutos e estou mais do que atrasado. — Ele jogava sem nenhuma delicadeza todos seus pertences dentro da mochila.

— Bem — Julian pegou seu celular sobre o criado e olhou as horas. — Nossa! Já é tão tarde assim? — Ele levantou e começou a se vestir. — Preciso estar em um lugar também daqui a alguns minutos, se quiser te deixo no lugar da competição.

Não demorou mais do que dez minutos da casa de Oliver até o local da competição. Um ginásio enorme com três piscinas e que a cada segundo se enchia cada vez mais.

O garoto preocupado com seu atraso andava rapidamente até o vestiário. No caminho ele passou por várias pessoas de sua escola e não fez questão de cumprimentar nenhuma.

Oliver já estava dentro do ginásio e se aproximava do vestiário quando sentiu um cheiro familiar e em seguida teve uma das suas mãos puxadas. Era Jane. Ela parecia aflita, mas tinha um belo sorriso no rosto.

— Oliver, sei que está atrasado, porém, não podia deixa-lo competir antes sem te entregar duas coisas.

— Ah, estou feliz por ter vindo me ver nadar. — Ele tinha um sorriso de uma orelha a outra. — Então, o que me veio entregar?

— O primeiro é isso: — Ela tirou do bolso uma ágata geodo branca e a o entregou ficando vermelha. — É pra te dar sorte.

— Muito obrigado. Tenho certeza que essa pedra me trará sorte. — Ele olhou para o enorme relógio em um dos telões e depois voltou a olhar pra garota. — E o segundo? — Ele suspirou.

A menina sem enrolação se aproximou do garoto e o beijou passando seus braços pelo seu ombro enquanto ele passava seus braços por sua cintura.

— Pra te dar mais sorte ainda.

E então a garota saiu correndo em direção as arquibancadas e como não hesitou em olhar pra trás o garoto seguiu em direção ao vestiário. Na porta estava Ethan, o capitão da equipe, o aguardava.

— Cara, você está mais do que atrasado. — Ele abriu a porta e se afastou dando espaço para o garoto passar. — Você deu sorte que não é o primeiro a saltar.

— Desculpa. Isso não vai acontecer novamente.

O garoto estranhara. O vestiário masculino estava vazio. Era algo raro antes das competições. Ele vestira sua sunga e sua toca do seu time e foi se molhar antes de ir pra beira da piscina.

Ele já estava procurando o armário com uma etiqueta com seu nome para guardar seus pertences quando alguém abriu a porta do vestiário o assustando. Automaticamente ele pensara que era Unknown, então tirou seu celular da mochila pra ver se tinha alguma mensagem que ele havia recebido e não percebera, mas não havia nada novo, a última mensagem era de Alice falando sobre o empenho sexual de Ethan na noite anterior.

Houve um silencio após a porta se fechar. Ele rapidamente deu um jeito de achar seu armário guardar sua mochila. Depois do ataque na floresta com Tommy, ele tinha motivo pra desconfiar de tudo.

Sem saber o que fazer ele sentiu o chão da água molhado e viu que aquilo era uma vantagem, pois se realmente fosse Unknown, ele poderia usar a água para se defender.

Ele começou a caminhar lentamente em direção a porta que levava em direção aos bancos onde ficava os competidores e seus treinadores.

Faltando alguns metros pra porta alguém colocou as mãos sobre seu ombro esquerdo o fazendo dar um pulo de susto.

Oliver virou rapidamente e deu de cara com um adolescente alto, vestido apenas com uma sunga bonina e uma touca branca, de uma equipe rival. Ele conhecia aquele garoto de algum lugar. Prestes a se lembrar de onde conhecia aquele rapaz quando o mesmo abriu a boca surpreso.

— Você... — Ele respirou fundo e voltou a falar. — Eu conheço você. — O garoto tinha uma expressão safada no rosto.

Oliver abriu a boca olhando para o lado fingindo estar confuso, porém, ele lembrava muito bem quem era aquele garoto. Há alguns dias atrás eles haviam e encontrado no metrô e se encararam até o ponto de ficarem excitados e o metrô chegar à estação em que Oliver desceria.

— Que azar. — O garoto deu de ombros demonstrando interesse algum.

— Não sabia que competia. Digo, nado há algum tempo e nunca te vi nas competições.

— Bem, pra ser sincero é minha primeira competição e eu já estou atrasado. Estou na segunda volta. — Ele apontou pra porta demonstrando a necessidade de sair.

— Sério? Que pena, eu também vou nadar na segunda. — Ele riu enquanto se gabava. — Vai precisar de sorte.

— Sorte é pra perdedores, eu terei sucesso. — Oliver deu de ombros e começou a caminhar em direção a porta novamente.

Antes do quarto passo Oliver foi puxado pela por um dos braços e quando foi usar o outro pra se afastar, também o teve segurando e então o garoto o beijou e em seguida Oliver afastou. Antes que pudesse retribuir o beijo ou esmurrar o rapaz a sirene do ginásio havia tocado avisando que a primeira rodada havia acabado e que a segunda começaria em instante e então o garoto quase desconhecido soltou os braços de Oliver que foi correndo pra piscina escondendo um sorriso entre o orgulho.

Assim que colocou a mão na porta pra empurrá-la, percebera algo escrito no vidro embaçado. Ele podia sentir seu estomago contrair. Ele tinha quase certeza de quem havia escrito aquilo no vidro.

Nade rápido, respire fundo, não tente bancar o esperto e não pense que irá se divertir. Esse tanto de beijos fará alguém visita Ian Curtis no inferno.

Boa prova Azeitona. Unknown.


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