Capítulo 4

Dois meses depois

Dois meses. Dois meses se passaram, desde o dia em que Kagome acordou na cabana de Kaede, ferida quase mortalmente. Dois meses desde que fora sequestrada do Templo e perdera sua virtude e a Jóia de Quatro Almas, dois meses que se martirizava, todos os dias. Nesses dois meses, Kagome aprendera a confiar em Kaede, soube que Akemi estava viva, se recuperando junto às outras garotas que sobreviveram ao ataque. Akemi havia pedido à Kagome que voltasse ao Templo, mas Kagome recusou não merecia voltar àquele lugar. Havia falhado, e só voltaria para suas irmãs no dia em que recuperasse a Jóia de Quatro Almas.

A flecha acertou o alvo bem no meio. Desde que conseguiu ficar em pé sem sentir as dores terríveis causadas pelos ferimentos, Kagome vinha treinando com o arco e flecha. Precisava estar preparada para o dia em que enfrentasse Naraku, pois era isso que pretendia, iria encontrá-lo e recuperar a Jóia de Quatro Almas.

Outra flecha acertou o alvo, Kagome suspirou, sabia que sua mira era perfeita e sabia que estava preparada, mas precisava treinar, nem que fosse somente para ocupar sua cabeça, ou acabaria enlouquecendo. Disparou outra flecha, mas essa ao invés de acertar o alvo acertou outra coisa. No momento em que a disparou, algo cruzou seu caminho.

– Hey, que diabos você está fazendo. –disse o garoto de cabelos prateados, que estava fincado na árvore, a flecha de Kagome acertara a manga de sua roupa vermelha, prendendo-o na árvore que a garota usava como alvo.

– Quem é você? –indagou Kagome, apontando-lhe outra flecha.

Inuyasha abriu a boca para retrucar, mas parou espantado. Por um momento uma outra cena lhe veio à mente, no dia em que a garota que amava lhe apontara uma flecha, da mesma forma que Kagome estava fazendo agora.

– Só pode ser piada. – murmurou ele. Era ela! A garota que salvara do castelo de Naraku, aquela que o fez lembrar-se imediatamente de Kikyou.

– O que você disse? –perguntou Kagome, que não ouvira o murmurar dele.

– Quem é você? –perguntou Inuyasha, livrando-se da flecha que o prendia na árvore.

– Eu perguntei primeiro. – disse Kagome – Responda e receberá uma resposta minha. – continuava apontando uma flecha para o peito dele.

Ele bufou impaciente e encarou a garota por um minuto. Seus olhos eram de um azul intenso, incrível, como se pudesse olhar através da alma dele, o que o deixou muito incomodado.

– Inuyasha. –disse – Meu nome é Inuyasha.

Kagome arregalou os olhos ao ouvir o nome dele, abaixou a flecha que apontava em sua direção. Então era ele, o meio youkai que Kaede dissera que salvara sua vida, fora ele que a tirara do castelo de Naraku naquele dia e a levara para a vila de Kaede. Ele havia ido embora, e ela não pode conhecê-lo. Até agora.

– Você salvou minha vida. – ela disse encarando-o.

– Hum, de nada. –falou ele

Kagome fechou os olhos respirou fundo. Estava começando errado.

– Obrigada- disse ela –por salvar minha vida.

– De nada.- repetiu ele.

Kagome o encarava sem saber o que dizer, não sabia o que fazer para agradecê-lo. Ele a encarava também, parecia perdido, distante e ela imaginou o porquê. Ele a olhava como se a conhecesse...

– Me chamo Kagome, a proposito. –diz por fim.

– Prazer em conhecê-la. – respondeu apenas. Queria saber muito mais sobre ela. Queria saber tudo sobre ela. E principalmente o porquê dela se parecer tanto com Kikyou, a semelhança era quase...cruel para ele.

Kagome precisava sair dali, não suportava mais a intensidade daquele olhar, ele a olhava tão diretamente que Kagome pode sentir o rosto começando a esquentar, podia apostar que estava ficando vermelha.

– Ah, eu tenho que ir. –disse de repente virando-lhe as costas e correndo por entre as árvores, de volta para o vilarejo.

– Ei! Espere- chamou Inuyasha correndo atrás dela.

.:.

Kagome abriu a porta da cabana de Kaede e entrou correndo, mas parando estática ao ver que a sacerdotisa tinha visitas.

– Ah, Kagome, está tudo bem? – perguntou Kaede ao ver a expressão assustada da garota.

– Ah sim. –disse ela. – tudo bem.

– Deixe-me apresentá-la. Esse é Miroku, o monge. –disse apresentando o rapaz que a encarava perplexo.

Miroku! Kaede contara que ele ajudará Inuyasha quando este a resgatara.

– Oh, prazer em conhecê-lo. –disse ela sorrindo.

– O prazer é todo meu. –disse ele sorrindo galanteador. Miroku até podia ser um monge, mas era o monge mais mulherengo da face da Terra.

– Você já está cantando a garota, seu monge safado! – rosnou Inuyasha para à porta. Kagome pulou de susto ao ouvir a voz dele.

– O que? Não...eu...eu n-ão. –gaguejou o monge ficando vermelho.

Kagome sabia que também estava vermelha, agradeceu que ninguém pareceu notar. Mas, Inuyasha ainda a encarava, afinal qual era o problema dele?

– O jantar está quase pronto. Por que não vai até o lago se lavar Kagome? –disse Kaede sorrindo.

– Claro. –respondeu a garota. Kagome passou cautelosa por Inuyasha que estava parado à porta e saiu.

A brisa soprou seus cabelos para longe de seu rosto enquanto ela descia a colina em direção ao rio. A água estava fria, Kagome a jogou sobre o rosto, sentindo a pele esfriar. Teve a incômoda sensação que alguém a observava olhou para trás, mas não viu ninguém. ‘Estranho’ pensou, voltou a lavar-se no rio, com um arrepio subindo-lhe a espinha.

O jantar foi tranquilo. Miroku e Inuyasha jantaram com elas e Inuyasha continuava a encará-la por cima da tigela de sopa. Já estava irritada, estava prestes a abrir a boca para perguntar qual era o problema dele, quando ouviu os gritos vindos de fora.

– Mais que diabos...-resmungou Kaede levantando-se indo até a porta. Mal teve tempo de abrí-la quando alguém lá fora gritou em desespero

– Youkai!!

Kagome, Inuyasha e Miroku levantaram-se ao mesmo tempo, Kagome pegou seu arco que jazia no chão ao seu lado. Lá fora tudo estava um caos, casas estavam sendo despedaçadas, uma confusão de tentáculos se espalhava por toda a parte. Um monstro enorme se erguia diante do vilarejo, era estranho, como um polvo gigante. Kagome forçou a vista, na direção do monstro lá em cima da cabeça dele, alguém estava sentado. Um homem belo, mas que tinha um brilho cruel nos olhos escuros.

– Naraku – sussurrou Kagome.

– O que esse demônio faz aqui? – indagou Miroku.

– Não importa. – disse Inuyasha – Vou acabar com ele, tenho esperado por isso há muito tempo.

Inuyasha sacou a espada que carregava na cintura e partiu para cima do youkai, desviava dos tentáculos pegajosos dele, era rápido demais. Kagome quase não conseguia acompanhá-lo com o olhar. Um dos tentáculos do youkai atingiu o teto da cabana de Kaede derrubando madeira para todo lado. Kagome abaixou-se, pegou uma flecha e colocou-a no arco. Apontou para um dos tentáculos do mostro que segurava uma garota do vilarejo e atirou. A flecha acertou-o em cheio e ele soltou a garota que caiu no rio.

Kagome preparava outra flecha quando ouviu um barulho estranho, como se de repente uma terrível ventania começasse, sentia seus cabelos ricochetearem em seu rosto, virou-se e viu Miroku um pouco distante, ele tinha a mão estendida à frente, havia um buraco negro na palma de sua mão, o vento entrava no buraco e arrastava com ele tudo que conseguia, inclusive os tentáculos do youkai que tentava resistir. Kagome olhou para o topo da cabeça do mostro, Inuyasha tentava chegar à Naraku, Kagome podia sentir a presença da Jóia, podia ver seu brilho, ela estava pendurada no pescoço dele, ela sentia a raiva queimar-lhe as entranhas. Sabia que seria impossível vencer Naraku enquanto ele estivesse com a Jóia, mas se não podia vencê-lo, podia desestabilizá-lo. Era loucura, só podia estar completamente louca, mas mesmo assim, Kagome colocou outra flecha no arco e mirou-a em Naraku, mas não exatamente nele, em seu pescoço no brilho pendurado nele. Fechou os olhos, respirou fundo e atirou a flecha, esta voou, passando por entre os tentáculos do youkai. Quando Naraku percebeu era tarde demais, a flecha havia acertado a Jóia de Quatro Almas, bem no centro, por um minuto todo o cenário iluminou-se, um brilho lilás, forte e potente, tudo se aquietou então a pequena bola de vidro explodiu, milhões de pedaços voaram por toda à parte, espalhando seu brilho por todo o céu.

– Não!!! –gritou Naraku paralisado.

– O que diabos você fez? –disse Inuyasha encarando-a perplexo.

Kagome fitou o céu, agora completamente iluminado pelo brilho dos fragmentos da Jóia. O que fizera? Estava ficando louca, só pode. Ela havia atirado na Jóia, havia quebrado-a em milhares de pedaços que agora se espalhavam pelo mundo.

– Sua idiota. –rugiu Naraku avançando para cima dela. Kagome jogou-se no chão batendo a cabeça, a última coisa de que lembrou-se foi de ver um borrão vermelho entrando em sua frente, impedindo que Naraku a atacasse.