Sangue Puro escrita por RandomNote


Capítulo 2
Capítulo 2 - Personalidades


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o segundo capítulo da história, como tinha dito também ficou um pouco grande. Espero que gostem!
Vou tentar actualizar a fic de dois em dias, no máximo, mas terei muito mais vontade de o fazer se forem comentando o que acharam :)
Queria agradecer às duas pessoas que deixaram reviews, obrigado!
(Leiam as notas finais porque têm sempre informações importantes sobre o capítulo.)



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Aquele sábado pareceu aproximar-se rapidamente e Cherise, embora ligeiramente embriagada ainda pela notícia de que passaria a frequentar a Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, estava calma e composta. Não fora afectada por qualquer nervosismo ou ansiedade ao pensar na festa à qual teria que atender aquela noite. Afinal ela era Cherise Gaunt, não tinha motivo algum para temer ou recear uma simples gala do ministério. Claro que lá encontraria pessoas importantes e poderosas, o Ministro da Magia, Nellus Flint, era uma delas, ou o chefe do Departamento de Cooperação Mágica Internacional, do Departamento de Execução da Lei Mágica, em resumo todos os chefes de departamento estariam presentes. Isto não era preocupante uma vez que o próprio ministro era um fantoche nas mãos de outros nomes mais importantes, entre os quais o de seu pai. , A família Barto - quase tão antiga e influente como os Gaunt… quase! – sem dúvida marcaria presença; os Potter, os Nott, os Prewett…Com certeza encontraria figuras de fora do Ministério também.

Poderia continuar a listar nomes o resto do dia. A maioria daquelas pessoas já conhecia, não pessoalmente claro, mas através de relatos completos e fiáveis de Chenillus. Estudou todas as famílias de algum renome no mundo mágico e facilmente se familiarizou com essas figuras, mesmo nunca as tendo encontrado.

Estava há algum tempo à espera de ser chamada para fazer a última prova do vestido e começar as preparações finais para a gala, já começava a ficar aborrecida. Raras eram as vezes em que preferia paz e sossego a um bom desafio mental ou físico. Guardou cuidadosamente a varinha de Nogueira que acariciava entre os dedos e levantou-se do assento luxuoso onde descansava. Dirigiu-se até ao outro lado do grande salão da casa e abriu as portas de um armário de ébano discreto, lá dentro encontrou uma porção de materiais diversos e passou a mão por eles até tocar uma pequena alavanca escondida que, depois de pressionada, abriu um compartimento secreto de onde Cherise retirou um grosso livro de capa preta enfeitado por alguns padrões ligeiramente mais claros.

Voltou a sentar-se no divã macio e sentiu a textura fria do livro que tinha no colo. Na capa algumas letras cinzentas formavam um título sedutor: Segredos da Magia mais Maléfica, por Godelot. Abriu-o e procurou por algo em especial. As primeiras páginas falavam das três Maldições Imperdoáveis, as seguintes de um encantamento capaz de encerrar um homem dentro de si mesmo, e após essas vinham as indicações de como criar um Inferi. Finalmente encontrou o feitiço que buscava.

Na página aberta podia ler-se: Manipulação das Trevas e por baixo via-se uma grande nuvem de fumo negro borbulhante que rapidamente envolvia um feiticeiro indefeso. Nas folhas que se seguiam leu atentamente as instruções indicadas. Primeiro teria que cozinhar a poção que lhe possibilitaria alterar a escuridão para um estado consistente e depois precisava aprender o feitiço para a controlar. Se feito como deve ser permitiria ao feiticeiro atacar os seus inimigos com um manto negro que os envolvia na mais completa escuridão, física e mental, capaz de levar o mais forte dos homens à loucura. Era um processo demorado e muito complexo, Cherise sabia, já vinha a estudar aquela magia em particular há muito tempo. A ideia de possuir um poder assim era demasiado atraente para a deixar de lado. Só ainda não tinha decidido quando a poria em prática.

Voltou a guardar o livro e dirigiu-se para o andar superior onde Arigna e Soma tratavam dos últimos pormenores no vestido que levaria à gala do Ministério. Aproximou-se do quarto onde estavam e ouviu a voz fria de Arigna que dava uma qualquer ordem ao elfo doméstico.

- Ah Cherise! Ia agora mandar chamar-te. – disse quando viu a irmã aproximar-se da porta. Estivera a fazer uma alteração de última hora no vestido por causa de uma inspiração repentina. – Está pronto para provares.

- Não era sem tempo – Enfadada com a situação a mais nova soou extremamente rude, mas não se preocupou em alterar o tom.

- Bem, tens que fechar os olhos para experimentar o vestido. – Arigna informou a outra que torceu o nariz em desagrado.

- Porque raio tenho que fechar os olhos? Se pensas que vou sair de casa sem ver o vestido que uso estás fora de ti.

- Podes vê-lo claro tonta! Mas apenas depois de vestido.

- Não vou fazer nada disso e és menos inteligente do que eu pensava se achavas isso possível - Aproximou-se do armário e fechou a porta que escondia um belo vestido de cerimónia. Imediatamente olhou a irmã incrédula e ia fazer um comentário desagradável mas foi interrompida por esta.

- Experimenta-o antes de exigires alguma coisa Cherise! – A voz num tom mais elevado do que habitualmente usava pareceu surtir algum efeito na outra que encolheu os ombros e se preparou para experimentar a peça.

Arigna alargou os fios que prendiam o vestido que a irmã usava e ajudou-a a retirar a roupa de forma a não desarrumar muito os cabelos rebeldes que teimavam em saltar por todo o lado. Finalmente Cherise pegou o traje que usaria naquela noite e passou as pernas pelo tecido macio, puxando-o para cima onde as alças o prenderam. Esperou que a irmã apertasse o fecho do vestido e depois de receber um olhar de admiração virou-se para o espelho de corpo inteiro pregado na parede e observou-se.

Estava muito bonita. O vestido não muito simples mas também não muito faustoso caía perfeitamente sobre o seu corpo e parecia dar-lhe as curvas que não tinha, o decote discreto era quadrado e empurrava-lhe os seios de forma a parecerem maiores. À frente uma mecha triangular branca adornada por padrões brilhantes contrastava com a cor sólida do tecido que caía numa camada suave e encantadora. No geral gostou muito do resultado, apenas tinha um problema.

- Não quero esta cor – exigiu e o seu tom não admitia ser contrariado.

- Essa cor fica-te maravilhosa Cherise.

- Não quero esta cor Arigna. – E quando a irmã nada fez para obedecer à sua ordem pegou a varinha do vestido que envergava inicialmente e apontou-a para o que usava agora, com um movimento suave.

O vestido antes num tom vermelho vinho mudou para verde ligeiramente escuro e na frente os padrões de prata brilhante estavam agora acompanhados de uma risca verde-escuro.

- Perfeito. – Disse quando se olhou novamente no espelho. A pele branca dos braços nus parecia resplandecer contra a cor do tecido. Estava absolutamente perfeito, pensou.

- Sempre achei que o vermelho te ficasse melhor. – ela ouviu a irmã lamentar-se.

- Sabes bem que detesto essa cor. Não iria ser apresentada oficialmente às pessoas mais influentes do mundo de vermelho. Não podias mesmo achar que estaria de acordo com isso! – respondeu rispida e admirada.

- Tu é que sabes.

- A menina está magnífica menina Gaunt. Absolutamente perfeita. Parece a imagem da sua mãezinha. Soma está maravilhada. – O elfo estava a ponto de começar a chorar de emoção o que provocou uma gargalhada em Cherise.

As duas irmãs concordaram que não seria necessária qualquer outra mudança no vestido e que, com a hora de partida tão próxima, não seria conveniente retira-lo para voltar a colocar dentro de pouco tempo. Cherise levou as próximas duas horas a treinar a pouca paciência que possuía enquanto a irmã tentava inutilmente domar o seu cabelo num penteado chique. Sentia a teimosia da mais velha em cada escovadela e por duas vezes teve que mandar um grito para que tivesse cuidado. Era uma perda de tempo e quando finalmente Arigna se apercebeu disso decidiu que seria melhor levar o cabelo caído como habitualmente.

- Além disso, fica melhor assim. O teu cabelo não foi feito para prisões! – disse e recebeu um olhar de puro ódio da mais nova!

- Podias ter chegado a essa conclusão antes de me atacares com isto! – Segurava na mão a escova maldita que a irmã usara para a pentear. – Não te irás aproximar do meu cabelo tão cedo. – Arigna riu e colou-se por trás da outra com a cabeça pousada no ombro da irmã.

- Estás incrivelmente bonita. – Ambas olharam para o reflexo, pareciam estranhamente diferentes naquele dia.

- Obrigado.

- Talvez arranjes um futuro marido hoje. – brincou enquanto dava um beijinho suave na sua bochecha.

- Talvez – Mas duvidava muito que isso fosse acontecer. Além disso não tinha qualquer interesse em arranjar marido. Ela sabia que Chenillus esperava que todas as suas filhas casassem com homens influentes e de importantes famílias, mas também sabia que conseguiria facilmente dar a volta ao pai. Tinha poder suficiente para, por si mesma, se tornar num dos mais poderosos feiticeiros do mundo. Um marido apenas atrapalharia esse caminho. Às vezes quase desconfiava que Chenillus não planeava casá-la, ao contrário dos seus irmãos que tiveram casamentos arranjados desde cedo, ela ainda não tinha qualquer pretendente a esse lugar. Melhor assim.

- Marvolo e Merópe também irão estar no ministério… - Arigna disse calmamente.

- Sei. Mas segundo o pai, Marvolo vai partir da casa dos Barto.

- É estranho estar de regresso a casa e não encontrar todos os meus irmãos aqui.

- Não diria estranho… A palavra que eu escolheria seria… Fantástico, sim… - Cherise detestava os dois. Marvolo era um idiota que sonhava em ocupar o lugar do pai à cabeceira da família e Merópe uma rapariga medíocre que achava ser mais importante do que realmente era.

Aquele verão a irmã tinha ficado em casa da família Black, aparentemente Wirina Black tornara-se sua amiga durante o 6º ano de Hogwarts e Cherise, não fosse pela falta das incessantes conversas vazias, nem notaria a ausência de Merópe. Por sua vez Marvolo passava todo o dia fora de casa a “tratar dos seus assuntos”, como costumava informar muito solenemente. No que consistiam esses assuntos, Cherise não tinha o mínimo interesse em saber.

O irmão apenas vinha a casa fazer a última refeição do dia e nessas alturas a sala de refeições ficava quieta e sensabor. O ambiente enfadonho apenas era interrompido por um ou outro comentário desesperado de Marvolo para puxar a atenção do pai. Muitas vezes Cherise tinha que controlar a vontade rir da figura triste que fazia. Ela, sentada na ponta da mesa oposta a Chenillus, preferia manter-se uma observadora distante, como sempre.

À excepção de Arigna, não suportava os irmãos. Não passavam de duas figuras tristes que, apesar de usarem a varinha para fazer alguns feitiços interessantes, nunca poderiam ser considerados excepcionais como ela. Claro que também eles não sentiam grande carinho por ela, era um ódio recíproco e Cherise preferia que fosse assim. Causava-lhe pesar imaginar que um dia o nome da família Gaunt fosse continuado por Marvolo. Provavelmente iria levá-lo para a desgraça.

 - Às vezes pergunto-me se falas a sério. – Arigna olhou-a triste e saiu do quarto.

***

O relógio do corredor marcava as sete horas quando Cherise desceu o último degrau da grande escadaria da mansão dos Gaunt. O seu pai já esperava junto à porta principal pronto para sair e ligeiramente impaciente. Observou a filha aproximar-se e, embora não demonstrasse qualquer reacção, estava contente com a escolha do vestido: era adequado e bonito e isso era o que tinha pedido.

Cherise pegou o braço de Chenillus e ambos se viraram para partir. Antes de passar pela porta examinou-se uma última vez no grande espelho pregado à parede. O conjunto de jóias que escolheu para completar o traje era composto por um pendente redondo de prata brilhante com as iniciais da família discretamente cravadas, e por uma pulseira do mesmo material que colocou no pulso sobre a luva branca que ia até aos cotovelos e compunha o vestido sem mangas. Usava um manto leve sobre os ombros que apenas iria tirar após chegar ao ministério. O cabelo estava indomável como sempre, mas era assim que o queria. Sim… Olhou com admiração para o reflexo que lhe sorriu. Estava muito bem, pensou e seguiu o pai para a saída.

- Vamos Desaparecer até á entrada do ministério. – Ela fez uma cara de desagrado que não passou despercebida. – Irei apresentar-te a algumas pessoas importantes e depois podes fazer como quiseres. – Chenillus informou. Era cruel deixar a filha sozinha poucos momentos após chegar à sua primeira aparência pública, mas ele nunca fora muito considerativo e tinha a certeza de que Cherise não sentiria qualquer dificuldade em misturar-se com os feiticeiros do seu meio. Ela assentiu com a cabeça em concordância e segurou o seu braço com mais força. Aparataram.

Cherise sentiu que todo o seu corpo era espremido e moldado com facilidade, o ar escapou-lhe dos pulmões e tão depressa como começou, a sensação evaporou-se.

Estavam em frente a um grande edifício moderno, as paredes cinzentas estavam inclinadas de forma estranha, quase formando um triângulo torto. No topo do prédio dois enormes M’s de pedra reluziam com a luz da lua e as sombras dançavam sobre a superfície. À sua volta viu várias pessoas chegarem, da mesma forma que eles, e dirigirem-se para a entrada. Umas escadas largas corriam o caminho que os levava até à grande porta dupla que dava passagem para o interior e foi até lá que Chenillus a guiou. Cherise prestou atenção às mulheres que via e sorriu com superioridade. Nenhuma estava tão magnífica quanto ela, nenhuma emanava o poder que ela sabia os outros podiam sentir. Ah! Era tão bom ser Cherise Gaunt, pensou divertida.

- Chenillus meu amigo! Quem é essa moça adorável que te acompanha? – Ela virou-se para o homem robusto e com uma barba castanha bem penteada, não se deu ao trabalho de sorrir. Desagradava-lhe ser referida como “adorável” ou “encantadora”, eram características tão insonsas que considerava um insulto quando dirigidas a si.

- Crouch. – o pai cumprimentou. – A minha filha mais nova, Cherise Gaunt. – informou sério. A Cherise não surpreendeu minimamente que Chenillus fosse tão seco como sempre. Não imaginava o homem arrogante derreter-se em sorrisos e piadas em torno dos amigos… Se lhes pudesse chamar amigos…

- A famosa Cherise! Não sei como consegues desencantar filhas cada vez mais encantadoras – O feiticeiro, que ela percebeu ser Stanley Crouch, fez-lhe uma vénia educada á qual ela respondeu por boa educação. – O mundo mágico tem-se perguntado o porquê de Chenillus manter a sua última filha escondida durante tanto tempo – brincou com boa disposição. – Mas parece-me absolutamente normal – O sorriso que lhe lançou era carinhoso.

- Garanto-lhe que estou muito longe de ser apenas “normal” – Cherise deu especial ênfase à palavra normal. Como se atrevia a considerá-la menos que excepcional. Pobre escolha de palavras.

- Sempre fui grande fã da superioridade dos Gaunt – disse e ela não conseguiu entender se estava a ser sarcástico ou sincero, mas a sua expressão parecia não esconder qualquer significado.

- Vemo-nos mais tarde Stanley. – Chenillus despediu-se e viram o homem partir em direcção ao interior do Ministério.

- Julguei que os seus conhecidos fossem mais prudentes na escolha daquilo que dizem. – Comentou aborrecida.

- Alguma vez dei a entender tal coisa? – Chenillus parecia divertido o que era muito incomum.

Depois de passarem as portas e seguirem por um corredor de mosaicos escuros entraram num elevador que os levou até ao 2º piso. As paredes eram mais claras e o chão também. Cherise achou que tinha um aspecto muito moderno e interessante. Já podia ouvir uma música suave ao longe e foi para lá que caminharam. Atrás deles vinham várias outras pessoas, alguns casais e alguns feiticeiros mais jovens, perto da sua idade.

Quando chegaram ao salão de gala Cherise percebeu imediatamente uma divisão. De um lado da grande sala estavam os homens mais velhos que juntos formavam uma imagem poderosa e intimidante, no lado oposto juntavam-se os mais novos, adolescentes que provavelmente ainda não tinham saído de Hogwarts.

Chenillus guiou-a para junto do primeiro grupo e ela percebeu que já a esperavam, observou enquanto sussurravam alguns comentários e viu como várias cabeças se viraram na direcção dos dois.

- Gaunt… - Um homem forte e recto cumprimentou o seu pai com um aceno de cabeça. Usava um manto preto sob o fato clássico que vestia.

- Senhor Ministro.

- Não sabia que planeava trazer finalmente a sua filha mais nova. - Cherise examinou-o com mais cuidado. O cabelo negro começava a ser atacado por grossos fios brancos e as sobrancelhas fartas davam-lhe uma expressão rígida. Mas ainda assim não conseguiu achá-lo intimidante. – Cherise Gaunt… Nellus Flint ao seu dispor. –

Ela respondeu-lhe com uma vénia educada, mas manteve-se calada.

- Diga-me, é tão excepcional como o seu pai faz acreditar? – O ministro perguntou divertido.

- Acredito que o meu pai nunca exageraria nos seus elogios.

- Acredito que não. –

Entretanto mais pessoas juntaram-se aos três e Cherise foi apresentada oficialmente a Brutus Malfoys, que já conhecia, aos Fawley, a Edmund Rosier e a outra família cujo nome esqueceu imediatamente.

- Suponho que Chenillus irá finalmente mandar-te para Hogwarts… - Blimunda Barto disse numa crítica para todos ouvirem. Sendo que Marvolo e o seu filho eram amigos chegados, Cherise já tinha tido alguns encontros com a família Barto.

- Lamento desiludi-la Madame Barto, mas este ano Rick deixará de ser o melhor aluno de Hogwarts. – Disse com escárnio.

- Oh oh. As crianças e os seus sonhos irreais... Diz-me querida, pensas tirar-lhe o lugar? – Perguntou com falsa simpatia.

- Sem grande dificuldade… Afinal um Gaunt a sério nunca ficaria atrás de um Barto, mas claro que a senhora sabe isso, de tão habituada que está ao segundo lugar… - Cherise terminou.

A mulher olhou-a com visível ódio, nenhum feiticeiro gostava de ser humilhado em frente aos seus pares. Os Barto tentavam com insistência tornar-se mais importantes, reconhecidos que a sua família, Cherise sabia que qualquer menção ao falhanço que eram quando comparados com eles seria terrivelmente humilhante.

-Cherise quero apresentar-te a uma pessoa – Chenillus disse impaciente. Atrás de si encontrava-se um homem uns anos mais velho que ela, pensou. Mostrava-se muito confiante e nada intimidado pela presença de todas aquelas pessoas influentes. Ela achou-o muito atraente, com cabelos negros num penteado lateral que deixava escapar uma mecha sobre a testa forte, tinha os olhos de uma cor doce, dourados, e, não fosse pela expressão calculista que transpareciam, Cherise achá-los ia carinhosos. Era alto e os seus músculos definidos davam lhe um ar perigoso.

- Miss Gaunt – o homem disse com um sotaque estranho que ela não conseguiu identificar. – Domic Orion, muito prazer. – Olhou-a com admiração enquanto lhe pegava suavemente a mão e pousava um beijo casto por cima da luva. Cherise achou a atitude galanteadora e ao mesmo tempo um desperdício. Nunca lhe tinham agradado muito as pessoas excessivamente amáveis.

- Igualmente Sr. Orion. – a resposta polida e sem grande interesse pareceu agradá-lo, uma vez que sorriu de lado como se soubesse um segredo que ela ignorava. Não gostou. Talvez fosse alguém importante, embora nunca tivesse ouvido falar daquela família, mas sendo que ninguém se sobrepunha aos Gaunt isso não interessava.

Espantava-lhe que o Chenillus a quisesse apresentar a uma pessoa sem nome, fosse qual fosse a circunstância, afinal o pai não era conhecido pela sua amabilidade e não se importava de ver qualquer pessoa desconfortável, sendo que não pertencessem ao seu meio, claro.

- Domic veio da Rússia, a sua família tem uma grande história com o estudo das Artes… - O pai respondeu à pergunta mental. As Artes significavam as Artes das Trevas, mas no meio de tantos feiticeiros era prudente não mencioná-lo directamente, embora praticamente todos soubessem o que queria dizer que muitos fingiam ouvidos mocos.

O rapaz despediu-se e de seguida afastou-se calmamente, Cherise não percebeu porquê, mas parecia que ia animado à sua custa…

Quando finalmente Chenillus decidiu que tinha apresentado a filha a pessoas suficientes liberou-a e ela dirigiu-se a uma das travessas que pairavam com cuidado pelo ar e retirou um copo com um líquido amarelado e cheiro intenso. Olhou o salão com a sua expressão altiva e observou os instrumentos musicais que a um canto criavam, sozinhos, uma melodia calma que enchia o ar. Passou o olhar pelos feiticeiros presentes, alguns ainda olhavam na sua direcção com curiosidade, mas a grande maioria estava embrenhada em conversas com os seus pares.

No outro lado do salão os bruxos mais jovens pareciam divertir-se com os amigos, muito civilizadamente claro. As raparigas usavam vestidos trabalhados, com grandes caudas, mas ainda assim nenhuma chamaria mais a atenção que ela, não pela beleza, mas pela postura intocável e inatingível. Cherise pousou a vista num grupo de três rapazes que discutia alegremente, entre eles distinguiu Marvolo e Rick Barto, o outro não conhecia. Encontravam-se ligeiramente afastados dos restantes jovens e chamavam um pouco a atenção das raparigas que lhes deitavam vários olhares… apaixonados? … Cherise riu interiormente com pena despegada das feiticeiras.

Avançou calmamente até eles com uma expressão desafiadora no rosto, seria um bom entretenimento brincar com Marvolo. O irmão que apenas reparou na sua figura já ela estava próxima de mais fez uma careta de desagrado e desencostou-se da parede numa atitude defensiva.

- Estão tão divertidos. – Ela tentou soar interessada e olhou os dois rapazes que rodeavam o irmão. – Não me digam que Marvolo está a contar-vos o grande fiasco que foi o seu exame de Aparição – disse com uma curiosidade fria.

- Não… Ele ainda não nos falou disso. – Rick disse não muito a vontade.

- Então Marvolo? Fiasco?– A voz do outro rapaz era fina e irritante e a sua expressão demonstrava um divertimento doentio. Marvolo não respondeu, limitando-se a olhar a irmã com fúria evidente.

- Oh. Foi apenas um pequeno pormenor, Marvolo não se concentrou o suficiente nos três D’s – Cherise provocou-o com a sua atitude altiva. - O que foi que deixaste para trás? A perna esquerda ou a direita? – E quase gargalhou quando o viu coçar a perna direita lembrando-se provavelmente da dor que sentira naquele dia.

Os seus amigos pareciam na dúvida sobre como reagir, o mais magrinho, que Cherise não lembrava quem era, parecia querer rir da figura do amigo enquanto Rick mantinha uma postura rígida e pouco receptiva.

- Estou admirado de ver-te aqui Cherise – Marvolo revidou, controlando a imensa raiva que sentia. – Normalmente o pai prefere deixar-te fechada em casa… Sempre me perguntei porque… - Ela fez por ignorar a insinuação que o outro fazia e sorriu com falsa afeição.

- Penso que ele se cansou de não ter nenhum filho capaz a representá-lo… Todos sabemos que não pode esperá-lo de ti, um feiticeiro de segunda categoria…

Já bastava daquilo! Marvolo estava prestes a pegar a varinha e atacar a rapariga mesmo ali. Explodir-lhe aquele sorriso cínico! Só pensar nisso dava prazer.

- Dor, dúvida, desilusão… Talvez sejam os únicos D’s em que te consegues concentrar.

O irmão pegou a varinha dentro do bolso e apontou-a violentamente para Cherise que permaneceu quieta. Marvolo estava a ameaçá-la? Em público? Aquilo era divertido… Como se conseguisse sequer sonhar em fazer magia como ela…

- Não quero dar um espectáculo Marvolo, mas estás a abusar da sorte e não me preocuparei em humilhar-te completamente. Ambos sabemos que és patético com essa varinha. – Disse perfeitamente séria. Era óbvio que não ia deixar aquilo passar em branco, mas aquele não era nem o local nem o momento indicado. Chenillus ficaria muito desiludido se Marvolo desse um espectáculo.

- Nunca nos disseste que tinhas uma irmã tão… espirituosa, Marvolo – O rapaz, que Cherise lembrou, se chamava Charles Blishwick, disse para aliviar a tensão.

O irmão guardou a varinha contrariado, deu-lhe costas e ela fez o mesmo, dirigindo-se para outro lugar no salão.

Aparentemente aquele pequeno acontecimento tinha passado despercebido aos olhos da grande maioria, mas Cherise reparou que dois rapazes, que ela não conseguiu identificar, com aparência mais velha a olhavam com interesse. Estavam um pouco afastados de Marvolo mas tinham presenciado a cena e devem ter ficado impressionados já que não deixavam de a seguir com o olhar. O mais alto, embora os dois tivessem quase a mesma altura, tinha os cabelos curtos espevitados num penteado moderno mas natural, a cor era a mesma dos olhos grandes, castanho-escuro e emoldurava-lhe a pele ligeiramente bronzeada. Tinha o nariz largo que combinava com a boca grande aberta num sorriso divertido. Viu-o o trocar algumas palavras com o amigo que por sua vez tinha o cabelo comprido até ao meio das costas, como uma cascata de fios prateados. Cherise achou este último bonito, pelo menos fora do comum. As feições eram bem definidas e rectas e o queixo fino não tinha qualquer sinal de barba, antes pelo contrário, parecia imaculado.

A música mudou para um ritmo um pouco mais acelerado e alguns casais partiram para uma pequena pista onde começaram uma dança calma. Cherise olhou-os com desprezo. Dançar era uma perda de tempo.

- Miss Gaunt. – Ela reconheceu a voz e virou-se para encarar Domic Orion. – Pensei que talvez quisesse fazer-me companhia numa dança…

Claro que ela não queria! Começava a achar que os convidados daquela festa eram um bocado obtusos… Estava prestes a recusar e o homem pareceu reparar nisso porque fez uma careta de desagrado e a olhou rispidamente.

- Sempre me disseram que a família Gaunt seguia as regras da boa educação – a sua voz soou como uma reprimenda.

- Eu não sou um Gaunt qualquer. – Cherise respondeu solene e ia virar-lhe as costas mas antes que tivesse tempo de se afastar ele pegou-lhe pelo braço e forçou-a a virar-se novamente para si. A sua sorte era a presença de inúmeros feiticeiros à sua volta ou teria naquele momento ficado estendido no chão ante a fúria da sua varinha!

- Claro, nem me passaria pela cabeça fazer uma insinuação dessas... – Colocou um sorriso no rosto e começou a guiá-la para a pista, não deixando que ela se debatesse.

- Acabou de o fazer…

– Mas ainda assim insisto que me acompanhe. – Cherise seguiu quase contrariada e mentalmente enumerou todas as maldições que usaria no homem à mínima oportunidade.

- Senhor Orion, conhece a maldição cruciatus? – O feiticeiro sorriu com prazer e puxou-a para si quando chegaram junto dos outros casais que ocupavam a pista.

- Isso é uma ameaça?

- Uma pergunta… - A voz de Cherise entregava facilmente a mentira que disse.

- Conheço. Tenho por hábito usá-la nas pessoas que me desagradam – informou e Cherise sorriu misteriosa.

- Também eu. Talvez agora deva informá-lo de outra coisa…

- Miss Gaunt? – Domic perguntou divertido.

- Está a desagradar-me Senhor Orion. – A voz dela era carregada de frieza e violência e por momentos o homem pareceu recuar ante o poder que sentiu partir daquele olhar.

Brincar com Cherise Gaunt não estava a correr tão bem como Domic esperava. Mas ela era das pessoas mais indicadas para o que procurava. Vira-o assim que pusera os olhos naquele corpo de altura mediana, no sinal pouco comum que enfeitava uma das suas bochechas.

Chenillus Gaunt vinha há muito tempo a mantê-la escondida de Domic e foi preciso uma ameaça mais… eficaz, da parte deste para que finalmente a trouxesse à sua presença. O velho feiticeiro era uma boa aquisição para a sua demanda mas já um pouco decadente e a filha seria sem dúvida a jóia da colecção. Tinha poder, ele podia sentir isso ao longe, e o temperamento de um animal cruel. Além de que toda a família Gaunt, assim como a maioria dos restantes puro-sangue, possuía a influência suficiente para pôr o seu plano em prática. Com Cherise Gaunt do seu lado chegaria facilmente ao seu objectivo, só precisava dobrá-la à sua vontade. Infelizmente isso não seria fácil de fazer, se possível. De todas as formas se não por vontade própria teria sempre outros métodos aos quais recorrer para a fazer acatar as suas ordens, pensou enquanto a girava calmamente nos braços e terminava a dança.

A música acabou e Cherise afastou-se altiva como sempre sem parecer minimamente afectada pelo encontro. Por dentro, no entanto, imaginava o homem gritar de dor enquanto ela apontava a sua varinha para o corpo contorcido no chão.  Não gostava de ser contrariada!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Por favor deixem reviews a dizer o que acharam, se acham que devo mudar alguma coisa, ou acrescentar alguma coisa. Estou aberta a sugestões!
Notas:
SEGREDOS DA MAGIA MAIS MALÉFICA, POR GODELOT - O autor deste livro é Godelot o autor de "Magick Moste Evile", um livro sobre magia negra onde os Horcruxes são brevemente mencionados. Há uma cópia desse livro na Secção restrita da biblioteca de Hogwarts. Segredos da Magia mas Maléfica é um manual extremamente antigo e com uma única cópia, passado de família em família e raramente estudado. Contém muitos outros feitiços de matéria obscura e perigosa.
FEITIÇO DO PRISIONEIRO: O feitiço referido no livro que Cherise estava a estudar. A ideia está interligada à Petrificação, mas com consequências mais graves. Supostamente um feiticeiro ataca por esta magia ficaria incapaz de libertar a sua personalidade, o seu eu interior, embora o seu corpo mantivesse alguns movimentos condicionados. É um efeito permanente. (Feitiço de minha autoria)
MANIPULAÇÃO DAS TREVAS - Esta ideia surgiu ao construir a personagem principal. Cherise ficaria realmente completamente cativada com a hipótese de poder controlar aquilo que desejava estudar, chegar onde quase nenhum chegou. Um feiticeiro com esta capacidade pode usar as trevas para atacar os seus inimigos, como um elemento físico e aterrador.
Boas Leituras!