- Explique-se. - Ordenou Sora. Estava impaciente e havia cansado das brincadeiras e joguinhos de Maaku. O irmão sempre fora assim. Desde pequeno, sempre o mais popular e brincalhão dentre as crianças do orfanato; já Sora era mais afastado e reservado. Alvo de constantes piadas de Maaku. O tempo havia passado, ambos estavam maiores, quase adultos, mas afinal, irmãos vão ser sempre irmãos.
 Maaku estava prestes a pousar as mãos sobre a pedra, quando notou o brilho de uma lâmina ser apontada para si.
 Sora mantinha uma espada contra o pescoço do irmão. Não iria machuca-lo, apenas dar uma prensa para que o Light Angel o levasse a sério.
- Explique-se. - Repetiu tirando um sorriso do rosto do irmão. Maaku elevou as mãos ao alto como em sinal de rendição.
- Está bem, - começou. Sua voz preenchida de um tom cômico, quase de deboche - o que o senhor deseja saber primeiro?
 Sora respirou profundamente.
- O que significa esta sua guilda? Por que estão atrás desta magia e o que pretendem fazer com ela?
Mais uma vez, Maaku dera uma de suas gargalhadas escandalosas.
- Irmãozinho, você sabe o que esta magia faz? - Como Sora ficara calado, ele prosseguiu - A Dark Crower, o corvo do pesadelo. Uma magia capaz de destruir o bem mais precioso que a humanidade carrega consigo: A esperança. - Um calafrio correra pelo corpo de Sora, e agora o mago começara a suar frio. Vendo a reação do irmão, Maaku gargalhou outra vez e logo voltou a falar - Aquele que domina esta magia, tem o poder de transformar os sonhos da humanidade em pesadelos. Horríveis e assombrosos pesadelos que vão atormentar mentes por anos até que todos enlouqueçam. - Ele gargalhou, desta vez mais forte, deixando explicita as expressões mais feias que Sora havia visto no rosto de alguém. 
- Por que você quer algo assim? - O mago da Fairy Tail não entendia, ou pelo menos não queria compreender, o motivo pelo qual o irmão faria algo assim. Logo Maaku, aquele que sempre foi considerado como líder nato desde pequeno. O garoto sempre sorridente e brincalhão se fora, pelo menos para Sora, aquele não era mais o irmão que tinha antigamente. Maaku fez um movimento sutil, algo que Sora não percebera. Em segundos, chutava a espada do irmão para o alto enquanto em uma velocidade inumana, corria em direção a Marik, segurando-o pelo pescoço.
As pernas do garoto debatiam-se no ar e seu rosto pálido assumiu uma tonalidade avermelhada.
 Foi quando Sora explodiu. Em um piscar de olhos, as engrenagens brilharam, transformando-se logo em seguida em Edragon, a espada composta de escamas de dragão.
- Solte-o - Ordenou, entredentes. Uma veia em sua testa estava saltada.
- Por que você se preocupa tanto com esta coisinha? - Perguntou, rindo - Isso nada mais é do que um receptáculo. Um corpo que existe apenas para selar algo que não deveria existir. - Maaku soltou o garoto, passando a segurar seus cabelos com força, puxando-os. As primeiras lágrimas escorreram por seu rosto - Modéstia a parte, fui muito inteligente de fazê-lo te encontrar, Sora. Imagina quanta magia ele não deve ter roubado de seu grupo? Magnífico! 
Sora não estava mais a fim de dialogar. Tudo o que queria era partir para cima de Maaku e dar-lhe uns cascudos. Talvez assim ele acordasse para a realidade e parasse de dizer asneiras. 
- Você não quer saber, Sora? - Perguntou em tom de deboche - Não quer saber quem é essa coisa em forma de gente? - O mago da Fairy Tail ficara calado, mas isso não impedira seu irmão de continuar a falar - Essa coisa é nada mais nada menos do que o receptáculo de Dark Crower! Esta nele o segredo para se dominar esta magia!
 Marik agora chorava rios de lágrimas. Não sabia do que aquele homem falava. Ele tinha a mesma aparência de seu precioso Sora, mas ainda sim não era a mesma pessoa. Era uma pessoa má, alguém terrível. Coisa que Sora nunca seria.
- Sora-kun... - Começou, a voz chorosa - Sora-kun, eu não sei de nada do que ele esta falando... Sora-kun... - Ele fungou - está doendo...
O mago nada dissera. Ele permanecia no mesmo silêncio calculista de antes. 
- Ora por favor! - Maaku gargalhou pela trilhonézima vez aquele dia - Não minta para mim, seu lixo. - Um tapa foi desferido contra o pequeno, que ficara com o rosto marcado onde a mão do mago da Light Angel entrara em contato. - Talvez eu deva retirar o seu selo, não? Assim você vai recuperar as memórias. Mas talvez isto seja um tanto problemático para mim... - Ele pareceu pensativo, indeciso. Mas logo seu rosto iluminou-se com a escuridão mais obscura que Sora já havia visto. Ele arrastou Merik até o altar de pedra. O garoto tinha o rosto vermelho banhado por lágrimas. Seus olhos estavam fechados e a boca tremula. Sora deu um passo a frente. Não iria deixar aquilo acontecer.
 Não ao seu pequeno Marik. Naquele momento, o mago da Fairy Tail odiava profundamente seu irmão, e estava mais do que claro para Sora que Maaku não estava apenas fora de si, mas sim louco. 
- Não vou deixar você fazer isso... - Sora deu mais um passo a frente, agarrando Edragon com força, mas foi surpreendido - ou nem tanto - por uma nova onda de risos eufóricos de Maaku.
- Vai é? - Desdenhou - Creio ser um tanto tarde demais para isso!
Com um movimento rápido, agarrou as mãos de Merik e as posicionou sobre a pedra que brilhava em tons de lilás e roxo. 
Sora não entendeu o que aconteceu em seguida. O altar explodira em um raio escarlate que atingia o céu negro, dando-lhe uma coloração avermelhada. Aquela luz incomodava seus olhos. Colocou o braço em frente ao rosto para diminuir o contato com os raios. Foi então que ouviu: Os gritos de dor do pequeno Marik. 
Ele se contorcia, tentava se desvencilhar de Maaku, mas é claro, não tinha força física para isso. Seu rosto contorcia-se em uma máscara agonizante. 
- Veja, irmão! - Gritou Maaku, entre risos - Veja a verdadeira forma da magia que vai extinguir a luz desse mundo! Um novo pesadelo vai nascer!
 Então, tudo parou. O raio de luz escarlate diminuía, a medida que Merik cessava seu choro. A leve brisa que atingia o rosto de Sora parou. O Ar estava pesado. O mago sentia uma pressão horrível sobre si, como se seu corpo estivesse sendo comprimido contra o chão. Ele olhou para Maaku. Seu irmão parecia congelado com um brutal sorriso no rosto. Passou seus olhos para a pedra que agora brilhava em um tom negro como petróleo. As mãos de Maaku soltaram as de Merik, que automaticamente cairam a seu lado, pendentes, como dois pedaços de pano presos a um boneco de madeira.
O garoto, antes de cabeça baixa, agora levantara o rosto, exibindo o mar negro de seus olhos. Sora ficara aliviado, isso até notar a maneira como o pequeno mago o estava encarando. Um olhar desprovido de qualquer emoção. Um olhar ameaçador, como o de um predador antes de caçar seu alimento. Um olhar que cativa nada mais nada menos do que o puro medo.
                           

                                                              ***

Julliet não estava apenas cansada, estava esgotada. Não sabia mais como poderia ganhar aquela batalha.
- Needles Tempest - Gritou Nyall. Seus cabelos, novamente, levantaram-se, e de lá saiu uma saraivada de fios que atingiam a pele de Julliet, cortando-a, como se fossem espinhos cravados em sua carne. Ela gritou. Não tivera tempo nem de criar a sua tão boa carta na manga, a Astral L. Barrier. Ela caiu no chão. Aquele já era o décimo golpe consecutivo que levara. Sua força, tanto física quanto mágica, estavam no limite. "Se ao menos fosse noite..." Lastimava-se. Ela sabia que se a lua estivesse iluminando o céu, seu poder seria significativo e aquela batalha já teria terminado. Os cabelos castanhos de Nyall formavam tranças e sem piedade desferiam golpes contra a maga da Fairy Tail, que se encolhera em posição fetal para amenizar, sem sucesso, o campo de contato das chicotadas. A garota chorava, estava em pânico. Cris, Sora e ela eram um dos grupos numero um da Fairy Tail. - So ficavam para trás do grupo formado por Titânia e seus amigos e da Tribo do Deus Trovão, que desde a saída de Laxus, enfraquecera, fazendo com que perdesse muito status - Mas a verdade era uma: Julliet era inofensiva. Pelo menos durante o período em que o sol iluminava o céu, ela sempre tinha que contar com Sora e Cris para dar uma surra nos inimigos. Isso era frustrante. Saber de seu potencial, mas ter grande parte de sua magia selada a deixava louca, insegura. Quando dissera que derrotaria o inimigo, estava apenas movida pelo calor do momento, ela sabia, lá no fundo, que não tinha a mínima chance. Queria sair dali, correr ate Sora, pedir ajuda a Cris. Foi então que veio a sua cabeça: Talvez sejam eles que possam estar precisando de sua ajuda. A essa altura, Seus amigos deveriam estar travando suas próprias batalhas. E ela sabia que sem sombra de duvida eles venceriam. Por que era isso que eles deveriam fazer, esta era a missão cujo eles foram incumbidos. Perder não era opção. Nyall surpreendera-se quando a garota de cabelos negros agarrara o maior número das tranças com as mãos. Ela tentou soltar as tão preciosas mechas de seu cabelo, usando a força, como num cabo de guerra, mas Julliet permanecia firme, com os pés fincados no chão. Sua expressão fácil mudara, estava assim como no inicio da batalha. Confiante. Mas havia algo de novo naquele olhar? Sim... Não era apenas confiança, havia ali uma pontada de determinação que ia além do que a maga da Light Angel poderia imaginar.

- Você errou em um ponto crucial. – Anunciou Julliet, entre dentes.

- Hm? Do que falas? – Perguntara a outra. Estava começando a temer a garota de longos cabelos negros. Uma aura mágica a envolveu e todo seu corpo brilhou em um prateado cintilante. “Ela escondia tanta magia dentro de si?” perguntou-se, assombrada.

- Você errou – repetiu séria – quando fez da Fairy Tail sua inimiga! – Com uma força inumana puxou Nyall pelas tranças a girando de um lado para o outro – Sinta a fúria das fadas! – Ela a jogou para o alto e uniu as mãos com movimentos circulares – Top... Lunar Gun! – A magia que corria por seu corpo foi toda direcionada para a palma de suas mãos, que explodiram em um raio prateado, mirando sua inimiga, acertando-a em cheio.  Julliet sorriu. Um sorriso de felicidade, um sorriso de satisfação. Havia usado de uma técnica nível A, sem nem ao menos estar escurecendo. Havia mostrado seu poder e finalmente sentiu-se em paz consigo mesma.

 Ela encostou o corpo inerte - porém vivo - de sua adversária no tronco seco de uma árvore e seguiu em direção ao centro da ilha. “Sora, Cris-san, estou chegando.”

                                               ***

As asas negras que nasceram nas costas de Marik cintilavam. Sora estava estático, boquiaberto. Convocou um escudo para defender-se dos socos consecutivos que o garoto desferia contra ele. Sora saltou, desviando de uma esfera mágica que o garoto lançara contra ele mas foi atingido em cheio por um chute em seu rosto, o que o fez ser lançado contra uma rocha, chocando-se  contra ela com força. Maaku ria. Ria escandalosamente alto.

- Não adianta! – Bradou com os braços abertos como se parar abraçar a vitória – Essa coisa é um demônio! É mais rápido que nós, mais forte que nós! E o mais importante: Apenas eu sei como para-lo!

 Novos golpes foram desferidos contra Sora. Socos e chutes cada um mais potente que o outro. A magia que emanava do pequeno receptáculo era maior do que Sora já havia visto em toda sua vida. Um raio de energia foi lançado contra o mago da Fairy Tail, que se defendeu convocando Mahoucut, uma lâmina escarlate presa a um cabo de couro. Com sua ajuda, conseguiu desbravar o raio mágico com um único golpe. Não que Sora não pudesse derrotar seu inimigo, o que o fazia suprimir seus poderes era o fato de estar lutando justamente contra o pequeno Marik. Receptáculo ou não, o mago sabia que a magia da Dark Crower não era algo natural do garoto, e isso o deixava com a consciência pesada. Não iria machucar Marik, quando o culpado por tudo era Maaku. Sora foi preenchido por fúria. Não podia bater em Marik, mas descontaria no irmão megalomaníaco.  Com um movimento rápido de mãos, Mahoucut se desfez em pequenas engrenagens cintilantes que por sua vez formaram Edragon em sua mão. Ele segurou a espada dos dragões com força. Sem hesitar, partiu para cima de Maaku, desviando de mais golpes de Marik. Ele girou sua lâmina e saltou. O mago da Light Angel estava em sua mira e Sora estava prestes a atingi-lo quando seu corpo, novamente, foi bruscamente lançado na direção oposta por mais um golpe de Marik. Maaku tornou a rir. Ele teria de lutar contra Maaku, mas defendendo-se dos golpes do pequeno? Isso seria um tanto complicado. Sora levantou-se, limpando o sangue escarlate e quente que escorria de seu nariz. Voltou a bradar Edragon com convicção e partiu para um novo ataque.

- Pobre irmãozinho! – Disse Maaku, em tom de deboche – Não pode lutar contra dois ao mesmo tempo e mesmo assim insiste! Pois bem, foi você quem pediu. – Um círculo mágico negro surgiu a seus pés, ele fechou os olhos, fazendo alguns momentos com a mão – MP System! Darkgears!  - Engrenagens negras brotaram do chão e assim como as de Sora, dançavam ao redor do corpo do Maaku – Equipar! Kami Lance! – As Dargears agitaram-se mais ainda e rapidamente, formaram uma lança de cabo dourado e ponta cobreada  nas mãos do mago que partiu ao encontro de Sora.