Truques Mortais escrita por Anna Evans


Capítulo 14
Capítulo 13 - Corrida Mortal - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Nem vou falar o motivo pelo qual não postei ontem o capítulo... Vocês não iriam acreditar.
E... Até eu me surpreendi com o tamanho da segunda parte, Deus, dava para ter dividido em 3 partes, mas como fiquei sem atualizar a história por uns ... Dois meses? Eu estava devendo essa a vocês.
Espero que gostem!
XOXO



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— Então vocês estão me dizendo que — A enfermeira olhou de Scott para Jennifer — Ele caiu de bicicleta?

Jennifer ainda não conseguia acreditar em como Scott jogou a pior desculpa para explicar o acidente com Josh na estrada Escala Azul.

— Estávamos meditando perto do campo de trigo — Disse ele com a inocência de uma criança quando chegaram na enfermaria e deixaram Josh em uma das macas — Daí ele e mais um grupo de garotos vieram pedalando em bicicletas no que parecia uma corrida. Acho que ele não viu que a estrada estava suja de terra — Scott deu de ombros — Foi desviar de um dos amigos e o pneu derrapou fazendo com que ele virasse na inclinação direto para a plantação de Trigo.

Josh estava com o braço esquerdo quebrado e cheio de cacos de vidro. Arranhões superficiais no rosto e uma blusa completamente ensanguentada e, tudo que Scott falara fora que ele caíra de bicicleta. Ninguém nunca iria acreditar nisso.

— Escuta — Scott passou a mão pelos cabelos — Nós ainda tivemos a boa vontade de traze-lo até aqui. Eu o coloquei no banco traseiro do meu carro novo e agora ele está repleto de sangue e terra. Acha mesmo que eu estou mentindo sobre o acidente?

A enfermeira olhou novamente para Jennifer que permaneceu calada todo o tempo. Apenas torcendo para que não descobrissem a verdade e ela acabasse sendo suspensa ou talvez até pior.

— Jennifer Green

A enfermeira era velha o suficiente para ter um rosto enrugado e expressão severa. Fios grisalhos escapavam de seu coque improvisado a deixando sem cor mesmo sob a luz de sol que irradiava da janela ao lado.

— Tem certeza do que estão dizendo? Pois eu não acho que isso tudo tenha sido por causa de uma queda de bicicleta...

Jennifer abriu a boca para falar algo, mas Scott que estava ao seu lado sussurrou algo inaudível, como um ruído. Em seguida tomou com rispidez a mão da enfermeira e novamente falou, mais calmo e solene:

— Ele caiu de bicicleta, quebrou o braço na queda, e nós não conseguimos ajuda-lo, então o trouxemos numa boa ação para que pudessem cuidar dele.

Jennifer olhou para Scott e em seguida para a enfermeira a sua frente. Os olhos dela estavam arregalados numa expressão neutra e vazia.

— Cair... Bicicleta...Cuidar — Ela falou baixo num tipo de hipnose enquanto olhava para Scott.

Jennifer observou a cena quando Scott soltou a mão da mulher que dera um passo para trás roboticamente e se virou novamente para a maca onde Josh se encontrava deitado ainda inconsciente.

Scott sem expressão se virou para Jennifer.

— Vamos embora ou você pretende ficar aqui? — Perguntou ele.

— Mas... — Ela olhou para a enfermeira. — A gente... Quer dizer, ela não...

Novamente a enfermeira os olhou.

— Agradeço por terem trago ele aqui... Não sei o que seria dele se vocês não estivessem por perto. Esses jovens de hoje... Sempre querendo apostar corrida, olhem só o resultado!

Jennifer abriu a boca surpresa e então Scott pegou sua mão e a puxou para que saíssem da sala de emergência.

— O que foi aquilo? — Ela finalmente perguntou enquanto passavam por corredores brancos ainda na extensão da ala médica do Campus.

Scott sorriu de lado.

— Sou ótimo com desculpas esfarrapadas.

— Não, você não é! — Jennifer falou — Caiu de bicicleta? Pelo amor de Deus... Quem é o idiota que acredita nisso?

Scott contraiu a mandíbula apressando o passo e saindo do corredor direto para o pátio principal.

— Ela é uma mulher velha. As vezes não pensa direito... É a idade.

— Você fez... — Scott girou rapidamente par alha-la.

— Um favor? — Ele perguntou pondo as mãos nos bolsos da calça Jeans. — Sim, Jennifer, eu te fiz um favor. De nada.

— Não ia dizer isso — Ela falou.

Scott suspirou olhando para o céu atrás dela.

— O que vai fazer mais tarde?

Jennifer franziu o cenho.

— É o que?

Ele balançou a cabeça com uma careta.

— Você entendeu... — Ele a olhou — Eu não tenho nada de tão interessante para fazer mais tarde.

— Está me chamando para sair?

Scott sorriu. Os olhos pequenos estreitos num charme irresistível. Se aproximou dela e com o polegar e o indicador segurou o queixo de Jennifer aproximando o rosto dela ao dele.

— Te encontro ás seis — Sua voz era um sussurro.

Jennifer prendeu a respiração enquanto olhava seus olhos escuros.

— Nem sabe onde eu vou estar a essa hora... Não vou estar no dormitório. — A voz saiu fraca e no final falhou o que a fez se amaldiçoar silenciosamente.

Ele tirou a mão de seu queixo ainda próximo de seu rosto.

— Te encontro ás seis, Jennifer. — Ele repetiu suavemente e em seguida se virou e partiu.

Jennifer soltou a respiração totalmente inerte. Seguiu para seu dormitório sem conseguir tirar Scott da cabeça. Isso a irritava, ele a irritava. Era o primeiro rapaz que conhecera que mesmo sendo incrivelmente cavalheiro era um arrogante. Mesmo sendo perfeitamente charmoso era totalmente misterioso. E, podia não admitir para ninguém, mas estava cada vez mais difícil olhar para ele e fingir que o odiava.

— Festa da fogueira hoje? — Uma voz masculina se aproximou.

Jennifer olhou para o seu lado esquerdo já perto ao pátio dos dormitórios a procura da pessoa. Para a sua surpresa o rapaz que falou com ela estava acompanhado de um grande grupo. Duas meninas loiras de olhos cor de caramelo, as gêmeas O'brien. Eram muito apegadas e não só andavam sempre juntas como na maioria das vezes se vestiam iguais. Jennifer nunca soube diferenciar Tina de Leah, por isso sempre que falava com uma das irmãs nunca mencionava nomes.

Também no grupo estava Joshua Henrico o estudante de Educação Física. Provavelmente havia acabado de chegar da sua corrida matinal pela Praia da Águia. Joshua tinha pele bronzeada e cabelos louros cacheados. Os olhos castanhos acompanhados de longos cílios e destacado pelas maçãs do rosto angulares. Vestia uma regata branca e um short azul marinho. Era uma visão perfeita de um salva vidas de algum filme da TV aberta.

Chamando mais a atenção mesmo estando mais atrás estavam Freddie e suas amigas Juliet e Holly. Jennifer sustentou o olhar sobre elas por um tempo antes de desviar para Ricardo Fontini, o dono da voz. Ricardo tinha 25 anos apesar de aparentar ser mais novo. Era seu único colega de faculdade brasileiro. Ricardo era alto e moreno. Um sorriso largo e uma covinha no queixo sempre barbeado. Os cabelos desgrenhados eram pretos e curtos.

— Não sei se vou poder ir... — Jennifer respondeu chamando a atenção de Juliet e de Holly.

— Ah, mas você não pode deixar de ir! — Uma das O'brien falou — Precisamos de você lá... Vamos fazer o jogo da garrafa 3.0

Jogo da garrafa 3.0... Nada mais do que um verdade ou consequência aprimorado de indecência. Jennifer se lembra que no 2.0 fizeram Lily Smith se jogar no mar meia noite sem roupa alguma... A garota ficou uma semana inteira resfriada.

— Deixa para lá, Tina! — Juliet falou encarando Jennifer — Ela deve ter coisas mais importantes para fazer.

— Certo — Respondeu Tina — Mas fale isso para Leah... Eu não disse nada... Quero dizer, até agora.

Jennifer olhou para Juliet

— Sim, eu tenho o que fazer.

— Bom — Ricardo voltou a falar — Se tem algo importante para fazer nós entendemos, mas mesmo assim é uma pena...

— Obrigada.

— É claro — Era Juliet cruzando os braços — Brincar de duas caras é bem mais importante do que a festa da fogueira.

— Juliet! — Holly a repreendeu com uma cotovelada nas costelas.

Todos olharam de Juliet para Jennifer. E, Jennifer podia não ter certeza, mas sabia que seu rosto não devia estar nada amigável porque a raiva havia subido na mesma hora.

— O que foi agora? — Perguntou olhando firme para Juliet. A voz afiada.

Juliet deu de ombros.

— Não sei, não sei! Você vive com segredinhos e quer saber? Cansei de suas mentiras. Aposto que nem vai fazer nada hoje. Simplesmente não quer ir para uma festa cheia de gente que você detesta!

— Cala a boca! — Jennifer elevou o tom de voz — Você nem sabe o que está falando!

— Ah é? — Juliet ergueu as sobrancelhas — Então nos diga o que vai fazer de tão importante hoje a tarde?

Jennifer olhou para Holly que tinha uma expressão cautelosa. Respirou fundo e falou:

— Não é da sua conta Juliet.

Juliet rompeu o silêncio com uma risada irônica.

— Aposto que você vai ficar o resto do dia inteiro no dormitório escrevendo naquele maldito diário, não é? Sabe porque Jenny? Porque você não é mais tão importante quanto era no ano passado...

— Chega! — Jennifer gritou dando passos na direção de Juliet ficando bem de frente para ela — Sabe porque não vou para a festa hoje a tarde?

Juliet uniu as sobrancelhas, mas permaneceu calada.

— Vou fazer o que você sempre quis, mas não conseguiu! — Jennifer olhou atenta para Juliet — Vou sair com Scott... E para melhores informações saiba que foi ele quem me convidou...

Silêncio.

Holly suspirou pondo uma mexa do cabelo loiro atrás da orelha enquanto Freddie se mexia desconfortavelmente ao lado de Juliet.

— Você disse que não gostava dele... — Juliet falou baixo — Mas era mentira, não é?

Mesmo sem dizer nada Jennifer permaneceu olhando para Juliet.

Juliet fechou os olhos por alguns segundos e quando os abriu estavam marejados.

— Acho que... — A voz de Juliet falhou — A pior coisa que fiz durante esses meus 19 anos, foi ter dado valor para essa amizade.

Dito isto Juliet passou por Jennifer logo sendo seguida por Freddie. As irmãs O'brien se despediram junto de Joshua e Ricardo num desconforto grandioso. E por fim, restaram apenas Jennifer e Holly. Jennifer encarando o chão e Holly a observando.

— Acho que você foi um pouco dura com ela. — Falou por fim.

Jennifer não disse nada.

— Sabe... Ela tem passado por alguns problemas — Continuou Holly — Precisava da melhor amiga dela e, eu não estou falando de mim.

Holly suspirou antes de prosseguir.

— Jennifer, você tem se afastado cada vez mais da gente e por vezes eu penso que você não quer dar mais continuidade a nossa amizade...

— Não é isso! — Jennifer se apressou em dizer. Os olhos castanhos marejados encarando Holly agora.

Holly reprimiu os lábios.

— Então o que é?

— Eu não quero falar sobre isso! Tudo bem? — Jennifer perguntou — Eu estou tentando esquecer Holly, eu juro! Eu quero esquecer, mas está difícil, ok?

Holly sentiu um pequeno aperto no coração. Não via Jennifer chorar com muita frequência. Com ela estava sempre tudo bem, afinal, era ela quem estava sempre lá para dar conselhos para seus problemas idiotas. Mas agora... Agora ela estava ali na sua frente completamente invulnerável...

— Se tem algo te incomodando tanto porque você não nos conta? A gente pode tentar ajudar e...

Jennifer interrompeu Holly.

— Vocês não podem me ajudar! Ninguém pode me ajudar! — Ela gritou desesperada.

— Jennifer eu não...

— Esqueça — Jennifer limpou as lágrimas — Vai atrás da Juliet... Ela costuma fazer besteiras quando está irritada.

— Mas e você? — Holly perguntou. Os olhos verdes brilhando de preocupação.

— Eu estou bem... Eu só não esperava por isso tudo. Agora vai lá... Eu vou para o quarto. Quero ficar sozinha.

Holly a encarou virando as costas para ir para o dormitório e antes que se afastasse muito falou:

— Você vai acabar se arruinando, Jenny. — Jennifer parou ainda de costas para Holly — Guardar segredos pode ser uma dádiva, mas também uma maldição... Se tem algo te incomodando deveria contar, se guardar para você fingindo que nada aconteceu, vai ter uma hora que não irá suportar e sabe Deus o que irá fazer por conta disso.

Jennifer fechou os olhos no intuito de impedir mais lágrimas e voltou a andar.

— Eu já estou perdendo a paciência — Scott falou quase para si próprio encostado em uma árvore na saída do campus.

— Seja paciente — A voz cortante era de seu pai. Uma sombra fantasmagólica ao seu lado. — Já falei que ele irá vir por aqui. Uma hora ele irá aparecer.

— Sabe — Scott falou — Ao contrário de você eu ainda estou vivo... Tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar esperando um surfista amador em um dia nublado.

A imagem de seu pai tremeluziu. Duas linhas profundas surgiram em sua testa ao erguir as sobrancelhas.

— É exatamente por estar vivo que deve espera-lo.

Scott suspirou cansado.

— Aquela garota — Falou ele — Lola... Será fácil, mas é realmente necessário tudo isso? Quer dizer... O que ela tem com tudo isso?

— Seu pai é Anthony Greymaker... O motorista do carro onde estava quando morri.

Scott permaneceu calado.

— Sabe — William Vitorino continuou — As vezes não devemos fazer nada diretamente ao nosso opressor. Devemo fazer com que eles percam a coisa ou pessoa mais valiosa para ele... E acredite, meu filho. Lola Greymaker é a única coisa que sobrara para Anthony depois daquele acidente.

— Assim como você era tudo que eu tinha — Scott falou mais para si mesmo.

Seu pai encostou-se na árvore ao seu lado.

— Eu quero me orgulhar de você — Falou ele — mas para isso terá de concluir todas as etapas deste espetáculo... E — Ele apontou com o queixo para a frente — Lá está o seu amigo de cena... Sabe o que fazer.

Scott olhou na direção em que o pai mostrara antes de sumir. Lá estava o alvo da vez... Tudo que sabia sobre ele é que cursava Educação Física e que deveria estar indo a Estilo Neutro nesse exato momento, uma loja de roupas localizada na rua Híbrida. Seu nome era Joshua Henrico, um veterano de 25 anos... E, era a próxima vítima do início de uma história sangrenta.

Com o quarto todo revirado, Jennifer se encontrava jogada na cama. O rosto escondido pelo travesseiro. Havia procurado pelo diário em todos os cantos do quarto, mas não o encontrava em lugar algum. Precisava dele para escrever... Escrever era sua terapia. Era como desabafar para si própria, sem ter que ouvir sermões ou ser julgada. Era apenas como falar e ouvir.

Virou-se de lado retirando o cabelo castanho dos olhos. Foi quando encarou o poster de Velozes e Furiosos que tinha perto da cama de Holly, uma grande fã do Vin Diesel, que percebera uma terrível coisa:

Havia deixado sua mochila com suas coisas dentro do carro Fiat que Mike e Liza alugaram. Teria de acha-los a todo custo. Além de ter seu novo diário o antigo também estava lá... Ela iria lê-lo hoje para ver se conseguiria esclarecer alguns de seus problemas, mas agora só havia criado outros. Se eles lessem aquilo, tudo se tornaria público em questão de segundos. E, um fato incrível é que todo mundo tem um segredo que ninguém jamais deve saber... Ela tinha um e nesse exato momento ele poderia estar a vista de Mike e Liza.

Se levantou da cama num salto e seguiu para o banheiro, estava com um curativo no rosto que a enfermeira havia colocado na ala médica quando levara Josh com Scott.

Tomou um banho de água fria e limpou mais uma vez o machucado em seu rosto. Ele era fino e comprido ainda escarlate. Já vestida com um short jeans escuro e uma blusa de renda branca. Calçava uma bota preta assim como a jaqueta de couro. A pedra da lua brilhando suavizada pelo colar prateado que a prendia em seu pescoço.

Jennifer atravessou o quarto com o celular na mão. Abriu a porta com a outra ficou surpresa.

Scott estava na sua frente. O cabelo negro tão bem arrumado como podia se lembrar. Também havia trocado de roupa. Agora vestia um sobretudo preto fosco com uma blusa social branca por baixo. Os três primeiros botões abertos. Uma calça jeans preta e um oxford escuro. Uma correntinha brilhava envolta do seu pescoço.

Apenas sua expressão era alarmante... Ele parecia triste e ao mesmo tempo irritado, Jennifer não sabia ao certo ainda, mas fora ele o primeiro a falar assim que ela abriu a porta. Era como se ele soubesse que ela abriria naquele momento.

— Vamos fugir —Na sua voz rouca havia e sedutora havia um pouco de desespero se alastrando.

Jennifer o examinou... Aquilo não era uma pergunta, muito menos uma proposta, ela sabia.

— Como assim vamos fugir? — Ela perguntou com a testa franzida.

— Fugir — Ele repetiu impaciente — Pegar o carro e seguir qualquer direção. Ir embora daqui por algumas horas.

Ela o examinou. Ele a encarava diretamente nos olhos. Apesar de ainda não ter perdido o charme, ele aparentava estar cansado e abalado.

A curiosidade chegou até Jennifer... E ela conhecia Scott o suficiente para saber que se ela fosse perguntar diretamente o que havia acontecido ele jamais iria dizer.

— Da última vez que fugiu você me ignorou... Agora quer que eu fuja com você? — Ela perguntou fechando a porta atrás de si logo voltando a encara-lo — Qual é o seu problema?

Ele abaixou a cabeça encarando o chão como uma criança contrariada.

— E... — Jennifer continuou — Eu já estava de saída.

Ele a olhou de cima a baixo. Um sorriso torto se formando em seus lábios.

— É, eu notei.

Jennifer odiava ele. Era o único que conseguia deixa-la completamente envergonhada.

— Bom — Ele se recompôs pondo as mãos no bolso do sobretudo — Então eu acho que você arrumou um acompanhante. — Ele uniu as sobrancelhas estreitando os olhos — Para onde vamos?

Jennifer riu incrédula.

— Você só deve estar brincando... — Ele permaneceu olhando-a — Não, você não vai!

Ele deu de ombros sutilmente se virando. Um som metálico chegou aos ouvidos de Jennifer.

— Estarei te esperando no carro — Eram as chaves em sua mão. As chaves do carro. — Ele está estacionado bem em frente ao dormitório.

Ele deu as costas virando o corredor e descendo as escadas de madeira num silêncio que Jennifer pensou ser impossível naquela velha escada que sempre rangia.

Ela bufou ajeitando a jaqueta e seguiu pela mesma direção que ele, mesmo indo logo atrás só o viu novamente encostado no próprio carro esporte vermelho. Ele só podia ter descido as escadas correndo... Mas também ela não estava com tanta vontade de fazer este tipo de observação agora.

Scott parecia posar para uma foto. Estava encostado no carro completamente paralisado exceto pelos cabelos lisos que voavam por conta do vento enfurecido daquele dia nublado. Os braços cruzados e o pé direito apoiado no carro.

Ele sabia que ela iria atrás dele. Ou ele era muito convencido ou muito idiota... Jennifer ainda estava para decidir.

— Acho que você já pode dizer para onde vamos — Ele falou assim que ela se aproximou.

Ele sorriu enquanto ela o encarava. Deu um impulso para a frente e abriu a porta do carro fazendo sinal para ela entrar.

Quando ela o fez, ele fechou a porta e deu a volta no carro, sentando no banco do motorista.

— Estou indo atrás de Mike. — Jennifer falou quando ele pôs a chave na ignição.

Ele virou o rosto e a encarou.

— Porque está indo atrás daquele idiota? — Ele esperou pela resposta.

— Deixei minha mochila no carro dele.

Scott girou a chave pondo o motor para funcionar. Pegou no volante ao soltar o freio de mão. Abriu a boca, mas pareceu desistir de falar e pisou no acelerador.

Ele passou pelo pátio do dormitório e logo pelo pátio principal.

— O que o fez mudar de ideia? — Jennifer perguntou olhando pela janela ao seu lado.

Ele mexeu os ombros.

— Como assim?

— Ia me pegar ás seis... — Ela respondeu — Ainda vai dar meio dia.

Ele sorriu.

— O que tem de tão importante na mochila?

Ela revirou os olhos... Sabia que ele não responderia.

— Nada demais.

— Se não fosse nada de mais você não estaria indo atrás dele agora... Poderia recuperar a mochila na festa da fogueira onde o encontraria.

Ela suspirou se virando para encara-lo enquanto ele se concentrava na direção.

— Meu diário está na mochila.

Scott abafou uma risada.

— Você não tem cara de que escreve em diários — Ele a olhou rápido — É muito... Séria e...

— Eu sou séria? — Ela o interrompeu — Mesmo? Não sei, porque eu acho que o sério da história é você.

— Isso foi um elogio, Green. — Ele a chamou pelo sobrenome — Você é... Atraentemente diferente das outras garotas... E olha que essa palavra nem existe.

— Isso na sua blusa é sangue? — Ela perguntou vendo a gola da blusa social branca manchada de vermelho. Não tinha visto antes por estar escondida pelo sobretudo, mas agora que o vento a levantou ficou quase impossível não notar.

Ele suspirou.

— Atraentemente diferente, portanto mais curiosa do que deveria.

Ela o encarou esperando ele responder a pergunta.

— Um garoto do meu dormitório cortou a mão com um arame farpado. — Ele falou simplesmente — Ele ia caindo da escada quando eu estava subindo. Se apoiou em mim e, bem, o resultado foi esse.

Jennifer semicerrou os olhos.

— Arame farpado no dormitório?

Scott deu de ombros

— É, eles tinham posto um arame farpado de enfeite na porta do quarto 21. Julgam ser masculinidade. Eu julgo ser coisa para idiotas.

Jennifer voltou a olhar a janela estavam andando pelo mesmo lugar a um tempo.

— Onde Mike está? — Perguntou Scott parando o carro no meio do pátio principal.

— Eu não faço a menor ideia.

Ele balançou a cabeça.

— Ia atrás dele e nem sequer sabe onde ele está...

Jennifer revirou os olhos

Scott pisou no acelerador e em dois tempos estavam fora da universidade.

— Para onde está indo? — Jennifer perguntou.

— O pai de Mike é militar. Tem uma casa aqui na ilha depois da estrada Escala Azul. Já passei em frente uma vez, sei onde é... É bem provável que ele esteja lá até a festa.

Jennifer o olhou aturdida.

— Como sabe disso tudo?

Scott deu de ombros.

— Ouvi por aí.

Pisou fundo no acelerador quando pegaram a Avenida principal. Jennifer sentiu o cheiro da maresia ficar mais forte enquanto iam subindo a estrada. O mar estava logo abaixo do lado esquerdo deles.

Naquele dia o sol aparecera por apenas alguns momentos. Agora estava completamente escondido por nuvens cinzentas carregadas. Logo, logo deveria chover.

— Estamos quase lá — Ele disse quebrando o silêncio — É logo ali... Virando à direita.

Jennifer olhou pela janela. Após a plantação havia uma rua cheia de casarões com quintais e piscinas.

Scott virou na rua indicada e assim que o fez Jennifer avistou o Fiat azul estacionado de frente para uma casa de madeira clara.

— Vamos lá pegar a sua preciosa mochila. — Ele tirou as chaves do carro e saiu acompanhado de Jennifer.

Não havia ninguém do lado de fora e as janelas estavam fechadas e cobertas por cortinas cinzentas.

Scott olhou amargamente para dentro do carro enquanto Jennifer ia em direção a porta.

— A sua mochila está aqui. — Ele falou vendo a mochila jogada no banco traseiro do carro.

Jennifer apertou a campainha ao lado da porta de madeira talhada.

— Ok... Vou chama-lo — Ela falou — Ele precisa destrancar o carro para que eu possa pegar.

Scott bateu o indicador três vezes na fechadura da porta de trás do carro. Encostou a palma da mão na porta e em seguida falou.

— Se eu fosse você pegaria logo.

— Já falei que ele precisa destran... — Jennifer se virou vendo Scott segurando a porta aberta do carro. — Quem deixa a porta de um carro destrancada hoje em dia?

— Babacas como ele — Scott respondeu puxando a mochila de dentro do carro e jogando para Jennifer impaciente. — Agora podemos ir embora.

Estava voltando para o carro quando Mike saiu de dentro da casa gritando.

— Ei! Ei seu otário! O que pensa que está fazendo? — Ele saiu correndo na direção de Scott com os pés descalços.

Scott se virou para ele enquanto Jennifer fazia o mesmo.

— Estava indo embora, ou será que quer minha companhia?

— Mexeu no meu carro!

Scott revirou os olhos.

— Vim pegar minha mochila — Jennifer explicou — Esqueci ela aí mais cedo.

Mike olhou de Scott para Jennifer... Seus olhos estavam vermelhos.

— Não dei autorização para abrirem o meu carro e pegar esta mochila.

— Mas a mochila é minha! — Protestou Jennifer.

— E o carro é meu e era lá que a sua maldita mochila estava! — Ele gritou com ela.

Scott pôs a mão nas costas de Jennifer.

— Vamos embora — Falou indo com ela até o carro.

Jennifer se sentou no mesmo lugar de antes com sua mochila no colo. Scott olhou para Mike que vinha na direção deles a passos fortes. Scott apontou o dedo para ele.

— Eu já estou me cansando de você — Falou com a voz mais alta que o normal. Fria e ácida. — Será que ainda não entendeu que está mexendo com a pessoa errada?

Mike parou onde estava e viu Scott entrar no carro.

Virou as costas em direção à sua casa que agora tinha a porta escancarada.

— Jordan! Daniel! — Gritou — Aonde estão vocês?

Scott ligou o carro. Voltou para a estrada e ficou em silêncio.

Jennifer podia ver o quanto ele estava se controlando. Estava irritado e por mais que tentasse disfarçar isso era muito visível.

— Obrigada — Falou ainda duvidosa.

De início ele não falou nada e ela até chegara a pensar que ele não tinha ouvido, mas então ele suspirou e sua expressão suavizou.

— E então? — Ele a olhou despreocupado com a estrada reta a sua frente — Qual é o prêmio que eu ganho?

— Se não nos matar eu posso pensar nisso — Jennifer falou — Agora olha para a frente.

Scott riu baixo, mas logo socou o volante irritado.

— Droga!

— O que foi?

Scott apertou o volante com força.

— Aquele idiota chamou os amiguinhos dele — Scott falou entre os dentes — Estão vindo atrás da gente.

Jennifer pôs a cabeça para fora da janela e olhou para trás... Além do Fiat Azul de Mike, mas três carros vinham atrás deles. Uma caminhonete Mitsubishi prateada. Um Ford azul e uma Mercedes C180 preta.

— Qual é o problema do Mike? — Jennifer perguntou incomodada — Fui pegar a minha mochila.

Scott olhava direto pelo espelho retrovisor externo e interno. Os carros estavam se aproximando e ele estava prestes a perder a cabeça.

— É melhor parar o carro agora! — O motorista da Mercedes gritou ao parear seu carro com o de Scott.

Scott olhou para ele rapidamente e pisou mais fundo no acelerador.

A Mercedes ficou para trás, mas logo Mike apareceu no Fiat Azul do mesmo lado.

— Seu idiota! Agora você já era.

Mike afastou o carro para a direita e depois veio com tudo para cima do carro de Scott o fazendo sair da pista.

— Droga! — Scott socou o volante voltando para a pista. Mais um pouco e o carro iria cair do penhasco e parar no Atlântico.

— Ele está louco! — Jennifer falou se segurando firme no carro. — Vai acabar nos matando.

— Ah isso não! — Scott falou lentamente — Não vai mesmo!

Ele pôs toda a força no pé contra o acelerador

— Tem certeza que aí só está o seu diário?

Jennifer balançou a cabeça olhando para a mochila.

— Sim.

— Eu não acho que toda essa confusão seja por causa disso... — Scott falou —Abra a mochila.

Jennifer tentou não ficar nervosa, mas suas mãos já tremiam ao pegar o zíper. Quando abriu a mochila de início não viu nada demais... Alguns pacotes de biscoito. Uma camiseta, seu diário... Mas lá no fundo havia alguma coisa... Um saco plástico com um conteudo verde morto. Ela puxou o saco para cima e Scott olhou rápido.

— Maconha! — Falou ele — Ótimo! Agora temos um bando de motoristas alterados atrás da gente... Porque você só arruma problema?

Jennifer se irritou na mesma hora

— O que? — Perguntou — Você veio porque quis!

Scott ia dizer algo quando um impacto fez eles saltaram para frente. Se não fosse pelo cinto de segurança talvez tivessem atravessado o painel e parado no meio da pista. A caminhonete havia acabado de acertar a traseira do carro de Scott que seguiu bambo pela estrada.

Jennifer estava completamente apavorada antes da insanidade que Scott fizera. Os nós de seus dedos estavam brancos como papel pela tamanha força na qual segurava o volante. Assim que conseguiu firmar o carro na pista ele puxou o freio de mão e girou a toda o volante para a sua esquerda. O carro derrapou num som terrível descendo a inclinação com um salto incerto e parando na plantação de trigo.

— Você ficou louco? — Foi tudo que Jennifer conseguiu dizer enquanto subia apressada o vidro da janela ao seu lado. Trigos se despedaçavam ao seu lado enquanto a BMW vermelha de Scott abria um caminho cortante entre eles.

— Precisamos despistá-los! — Ele gritou ainda irritado — Veja se eles ainda estão nos seguindo.

Jennifer no mesmo instante se virou para trás no banco vendo uma trilha suja de terra e trigos despedaçados. Ao seu lado não podia ver nada além deles.

— Acho que eles desistiram. — Falou virando-se novamente para frente.

Scott ia dizer algo quando ele praguejou alto enquanto freava o carro. Jennifer não viu nada de primeira, mas quando olhou bem um azul se destacou entre a cor amarelada do trigo e para o seu desespero ele estava vindo bem a sua frente acelerando enquanto Scott tentava desviar o carro de forma inútil.

Jennifer enxergou sua morte quando os dois carros colidiram um com o outro num barulho estrondoso e metálico. O carro estremeceu os impulsionando em direção ao painel e não havia cinto que a segurasse em seu banco. De repente todas as cores se embaralharam a sua volta até que tudo escureceu.

Scott abriu os olhos. A cabeça apoiada no volante. Sentiu algo quente escorrer de sua têmpora. Sangue. Levantou a cabeça com uma dor absurda no pescoço. A cabeça latejava fortemente enquanto ele se virava para o lado. A frente do carro estava completamente destruída. O carro Fiat azul zunia enquanto a cabeça de Mike permanecia apoiada na buzina.

Scott se ajeitou desconfortável em seu banco e olhou para o lado vendo Jennifer jogada sobre o painel. A cabeça contra o vidro manchado de sangue.

— Jennifer? — Scott a chamou. A voz mais fraca do que imaginava que estivesse. Ele não poderia estar com medo. Pelo menos não deveria, mas Jennifer não se mexia e isso estava começando a deixa-lo apavorado.

Ele abriu a porta do carro que estava emperrada com um chute. Cambaleou entre os trigos dando a volta no carro. Podia ouvir os outros carros se aproximando a procura deles pela plantação, mas não se importou. Abriu a porta do carro e com cuidado e pegou Jennifer no colo a pondo deitada na terra fria.

Seu cabelo estava grudado na testa pelo sangue. Ele se ajoelhou ao seu lado pegando sua mão, tomando seu pulso a procura de um sinal de vida.

Num alívio imenso ele pode sentir o pulso dela latejar sob seus dedos. E então ele tocou seu rosto, suas pálpebras tremeram e então ela abriu os olhos.

Jennifer o encarou por um bom tempo sem dizer nada. Se sentia agarrada ao solo e com o corpo inteiramente dormente, mas ela preferia olha-lo enquanto ele fazia o mesmo com uma expressão esquisita para ele. Seus olhos estreitos mostravam preocupação enquanto o rosto pálido ressaltava o sangue vermelho que descia pela sua testa. O cabelo negro como seus olhos antes arrumados estavam bagunçados e isso só o deixava ainda mais atraente.

Ele era a imagem sombria do ódio e da maldade, como um anjo renegado, desviado da luz. Porém tudo aquilo era terrivelmente charmoso e como um imã ele a atraia cada vez em que olhava em seus olhos de forma tão intensa como agora.

Então sem dizer nada ele se levantou olhando para o lado. Jennifer podia ouvir o som da terra sendo arrastada por pneus. Até que ela deitou a cabeça para o lado sentindo todo o seu corpo vibrar de dor e ela viu a Mercedes preta parando próxima a eles.

Scott deu passos firmes no chão enquanto o motorista saia do carro e olhava ao redor

— Mas que droga! — Ele praguejou olhando para o Fiat onde Mike não estava mais.

Scott olhou em volta a procura dele até que ouviu Jennifer gritando.

— Agora eu vou até o fim! — Mike gritou segurando Jennifer por trás enroscando o braço em seu pescoço.

Scott encarou a cena enquanto o rapaz que descera da Mercedes ia até Mike. Ele usava um boné azul e Scott não o reconhecia.

— Solta ela agora. — Scott pediu fechando as mãos em punho.

Mike riu.

— Vamos fazer uma troca — Ele falou — Eu solto ela. Pego a mochila e te dou uma surra...

Jennifer olhou para Scott nervosa.

— Caso contrário darei um fim nisso aqui mesmo. Não será difícil quebrar o pescoço da nossa famosa e frágil Jennifer Green.

Scott respirou fundo. Jennifer estava quase certa de que ele viraria as costas e a deixaria para morrer quando ele falou:

— Tudo bem, se é o que quer. — Ele deu passos na direção de Mike que balançou a mão negando rapidamente.

— Fique ai onde está!

Scott parou impaciente.

— Jordan — Mike falou com o rapaz de boné ao seu lado — Pegue a corda que está no porta-malas do meu carro... Amarre ele direito e o jogue no chão.

O garoto correu apressado até o carro amassado de Mike. Scott e Jennifer trocaram olhares enquanto Jordan voltava com uma corda que usavam na marina para prenderem os barcos.

Jordan parecia ter muito medo de Scott pois quando o mesmo esticou as mãos para que ele amarrasse o garoto se moveu rapidamente para trás como se fosse ser atingido pro um tijolo.

— Anda logo idiota! — Mike gritou.

Jordan imediatamente puxou as mãos de Scott para trás das costas e as cruzou enquanto amarrava a corda com tanta força que Scott sentia os pulsos queimando.

Em seguida ele o chutou na perna fazendo Scott cair de joelhos no chão enquanto segurava um grunhido de dor.

— Pegue a bolsa. — Mike apontou para o carro de Scott.

Jennifer não sabia o que fazer, mas tudo estava dando muito errado.

Jordan pegou a mochila a jogando na Mercedes preta na qual viera.

Mike sorriu e jogou Jennifer no chão bruscamente.

— Ótimo. — Falou ele olhando diretamente para Scott com um sorriso terrível no rosto. — Pode ir embora Jennifer... E, fique sabendo que se contar isso para alguém eu não terei pena de você da próxima vez.

Jennifer se levantou com esforço enquanto mordia o lábio inferior para conter um grito.

— Mas e o Scott?

Scott permaneceu ajoelhado olhando para o nada como se não se importasse com nada que estava acontecendo.

— Ele vai ter o que merece agora. — Mike foi até a Mercedes e retirou do banco do carona uma barra de ferro enferrujada.

— Não — Jennifer olhou desesperada para Mike — Não pode fazer isso! Vai mata-lo!

— Ninguém vai sentir falta do aluno novo — Mike já de frente para Scott levantou a barra com as duas mãos mirada bem na cabeça de Scott que encarou Jennifer por um tempo antes de sua sentença ser firmada.

— Mike! Não! — Ela tentou correr na direção dele, mas Jordan a segurou.

As mãos de Mike desceram numa fúria implacável e então Scott...

Então Scott fez o impossível acontecer. Num reflexo inumano ele ergueu as mãos já então livres da corda e segurou a barra de ferro com uma careta de dor antes que ela atingisse seu rosto.

Mike arregalou os olhos surpreso assim como Jordan e Jennifer. Ele lutava para ter força suficiente contra Scott. Foi então que Scott girou as pernas ficando sentado no chão. Chutou Mike no joelho o fazendo cambalear e perder a barra das mãos.

Mike gritou segurando o próprio joelho enquanto Scott se levantava. Seus olhos brilhavam de ódio, um ódio que Jennifer nunca vira em ninguém. A boca entreaberta numa respiração ofegante e com a graciosidade de sempre ele manejou a barra de ferro de uma mão para outra empurrando Mike para o chão com um chute no abdômen.

Mais um grito e então Mike rolou no chão com as mãos sob a barriga.

Jordan que ainda segurava Jennifer tremia apavorado. Já a mesma não conseguia se mover olhando pasma toda a cena.

Scott sem esperar se jogou em cima de Mike fincando a barra de ferro com força no chão a afundando na terra a centímetros da cabeça de Mike que agora se agitava tentando tirar Scott de cima dele.

— Eu avisei para ficar na sua! — Scott gritou com ele — Avisei que não sabia quem eu era e nem do que era capaz!

Jennifer começava a sentir medo de Scott também quando o mesmo começou a dar socos na cara de Mike sem parar arrependido ou aturdido com os gritos do garoto que apanhava.

Jordan vendo que havia perdido soltou Jennifer e correu para a Mercedes. Scott levantou o rosto para olha-lo. Quando Jordan ia fechar a porta do carro foi como se uma força invisível o impedisse de puxa-la, então ele desistiu da porta e girou as chaves ligando o carro louco para sair dali. Mas assim como a porta também tinha algo errado com o carro, era como se ele pisasse tanto no freio quanto no acelerador, fazendo as rodas girarem jogando terra para todos os lados, mas sem que o carro saísse do lugar. Jordan praguejou batendo no volante.

Scott saiu de cima de Mike que muito mal se mexia e foi até a Mercedes. Jordan gritou de pavor e então Scott o puxou pela blusa o jogando no chão.

— Você fez a besteira e agora quer fugir? Como um covarde? Que tipo de ser humano é você?

Scott gritava enquanto o garoto permanecia encolhido no chão, tremendo de medo.

Jennifer passou por Mike que tinha o rosto sujo de sangue e o nariz provavelmente quebrado. E duvidosa tocou no ombro de Scott. Ele se moveu rápido de mais e quando ela viu ele já segurava seu pescoço.

Ela parou de respirar. Os olhos de Scott estavam mais escuros do que o normal e a pupila estava dilatada. As sobrancelhas unidas numa expressão de ódio. Então ele a viu e aos poucos suavizou.

— Jennifer... — Sua voz era um sussurro.

Ele imediatamente soltou seu pescoço e então sua expressão de ódio se tornou triste e dolorosa de se ver.

— Desculpe — Ele falou — Não sabia que era você.

Jennifer viu Jordan se levantar e começar a correr entre os Trigos. Scott também deveria ter ouvido, mas não dera importância.

— Já chega — Jennifer falou — Vamos sair daqui... Por favor.

Ele a olhou. Os olhos brilhantes e os lábios reprimidos.

Virou o rosto olhando para Mike caído no chão e depois para as suas mãos sujas do sangue do menino.

— Vamos — Ele deu um passo para frente se soltando de Jennifer completamente aturdido.

Ele entrou na Mercedes.

— O carro não está funcionando — Ela falou olhando para ele que só olhava para frente como se nada mais existisse. Jordan havia deixado as chaves na ignição.

O motor ainda ligado.

— Vamos, entre no carro... Sua mochila está aqui — Ele falou com a voz ríspida.

Ela suspirou e com passos fracos andou até a outra porta. Para sua surpresa imediata o carro saiu andando normalmente assim que Scott pisara no acelerador.

Ela estava cansada demais para fazer perguntas então apenas esperou que chegassem até a estrada novamente.

Ele parou o carro perto do penhasco não muito longe da ponte de pedra saiu e se sentou no capô olhando para o horizonte. Começava a chover agora. Gotas afiadas e gélidas como cristais caindo do céu.

Ela foi até ele sentando-se ao seu lado.

— Deve me achar um monstro agora — Ele falou sem olhar para ela.

Jennifer suspirou.

— Você estava fora de controle — Ela falou olhando para a mesma direção que ele — Confesso que fiquei com medo de você.

Ele virou o rosto para encara-la. E ela fez o mesmo deixando com que seus olhos se encontrassem.

— Você não entende... — Ele falou — Pensei que você fosse morrer. Eles estavam te machucando e iam te machucar mais se eu não fizesse nada...

— Não precisava de tudo aquilo... — Ela respondeu num tom frio e repreensivo —Você quase matou o Mike com as próprias mãos.

— Jennifer — Ele pegou sua mão com firmeza sem machuca-la. — Eu perdi tudo que eu tinha na vida...

Seus olhos estavam tristes e brilhantes. Mas não podiam ser lágrimas, ela não poderia acreditar que aquele garoto arrogante e despreocupado estaria chorando na sua frente agora.

— Eu pensei que você fosse morrer... — Ele falou com a voz rouca suave.

Ela o olhou se perguntando como podia ter raiva dele.

— Você fala como se importasse o que acontece comigo ou não — Jennifer quase gritou — Foi você que sumiu e me ignorou. Desde que nos conhecemos você sempre agiu de forma ignorante comigo e...

— Te ignorei porque — Ele a interrompeu — Não sei lidar com você... Pensei que fosse melhor ignorar, mas as coisas não mudaram... É como se fosse predestinado... Nós sempre nos encontramos de alguma maneira. Não importa para onde eu vá, oque eu fale ou o que eu faça... Eu sempre chego a você novamente.

Ela ficou calada, apenas o encarando. O rosto molhado pela chuva e talvez por lágrimas, já não sabia ao certo.

Ele pousou o indicador em seu pescoço a fazendo estremecer. Passou a mão pelo seu rosto a puxando com delicadeza pelo queixo beijando seu rosto enquanto ela fechava os olhos lutando para não sentir nada. Então sem dizer mais nada a puxou para si. A encarando uma última vez com os olhos escuros enigmáticos e intensos antes de beija-la. Ela não recuou como pensou que iria. Ela não conseguia, ela não queria. E para finalizar o pacote de surpresas do dia ela finalmente descobriu que ela queria aquilo muito mais do que alguém deseja um beijo. E, desde o início ela mentira para si mesma, para no final parar ali com Scott.

Ele levantou do carro a puxando junto sem separar o beijo. Ele tinha um toque suave num beijo amargo e preciso. Seus braços pousados com firmeza na cintura dela enquanto ela segurava em seu rosto frio e molhado da chuva. E lá estava ela... Mais uma vez contrariada por Scott Vitorino, o anjo renegado, seu amor secreto.


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