Carla chamou Emily e seguiu com Amanda para seu quarto pra se aprontarem para saírem.

Chegando lá, não adiantou Amanda tentar resistir, as duas estavam empolgadas com a ideia de montar a morena. Pareciam ter voltado aos tempos de infância. Fizeram dela uma boneca. Nem sequer deixaram-na escolher a roupa que iria vestir.

–Quase pronta. - dizia Emily enquanto finalizava a make que fazia em Amanda.

Estavam reunidas no quarto de Carla. Amanda estava sentada na cama enquanto Emily a maquiava. Carla, por sua vez estava de pé, escovando os cabelos e deixando-os ainda mais lisos.

–Eu também já estou terminando. - avisou Carla deixando o secador de lado. - Só falta achar o meu batom vermelho.

As coisas estavam todas espalhadas por sobre a cama e Carla vasculhou pela bagunça ali à procura do objeto.

–Você adora essa cor, não é?! Você sempre usa. - a loira comentou.

–O Paulo adora. - destacou sorridente e aplicando o batom sobre os lábios de desenho definidos.

–Ah, tá explicado então. - sorriu de volta. - Já o Vinícius gosta que eu use batons mais claros, sabe, cor de boca ou até um coral. E você Amanda, de que cor o Vitor prefere os seus lábios? - perguntou despretensiosa.

Amanda sentiu um frio tão grande na barriga que nem conseguiu responder ou pensar em algo. As duas esperavam enquanto a morena gaguejava sem saber o que responder.

–A...eu nunca perguntei e nem ele me falou que eu me lembre.

–Nossa, o Vitor é mesmo muito romântico. - ironizou Carla voltando a passar seu batom.

E cá esteva Amanda fazendo uma das coisas que ela detestava, ter que mentir. O problema era que devido a situação em que se encontrava, não mentir se tornava praticamente impossível.

–Tá mas, o que ele mais elogia em você? - a loira insistiu. - Sabe, quando vocês estão sozinhos.

–B-Bom... - gaguejou.

Não conseguia pensar em nada para responder a Emily, que parecia curiosa, até porque sabia que Vitor jamais a olharia ou a repararia dessa forma e não acreditava que possuísse algo que chamasse a atenção dele.

Emily ainda estava atenta as palavras que não saíam. Enquanto a morena começava a suar.

–Não seja ingênua Emily. - Carla cortou. - Tá na cara que o Vitor não é de elogios, nem sequer com a namorada. Nossa... - bufou revirando os olhos de frente para o espelho.

–Não, é, ...eu me lembrei, ele gosta do meu cabelo. Eu já os deixei lisos uma vez mas o Vitor disse que prefere eles assim, cacheados.

–Sério? Que fofo! - a loira sorriu. - Prontinho terminei. - afastando-se.

–Obrigada Emily! - levantou e conferiu o resultado no espelho.

–Mas e você Amanda, - Carla terminou e guardou o batom avermelhado. - O que você viu no Vitor? Tá certo que ele é bonito, mas vamos combinar que o temperamento dele às vezes irrita. - cruzou os braços.

–Carla, não me leve a mal, mas eu acho que o meu cunhado pensa o mesmo de você. - provocou rindo no final.

–E você tá do lado de quem, hein?!

–Tá, não falo mais nada. - a loira riu e afastou-se um pouco precaução.

–Então Amanda? - virou-se para a morena novamente.

–Eu...

Ela começou, seus olhar se voltou para o nada, se perdendo nas lembranças que tinha desde que eles se conheceram, concluindo que.

–Me sinto protegida com ele. - corou, principalmente ao lembrar-se da noite anterior.

Carla ficou surpresa com a resposta de Amanda. Não era bem o que esperava ouvir mas, pode perceber sinceridade nas palavras da amiga.

Até mesmo a morena se surpreendeu com suas palavras. Eram de uma certeza que nem ela sabia de onde vinha.

–Olha, pra falar a verdade, - a loira tomou a fala e prosseguiu. - eu bem que já tinha reparado que o Vitor parece cuidar de você do mesmo jeito que ele cuida da Kimberli. Quer dizer, com a mesma atenção. Eu acho isso lindo entre um casal!

–É, agora que você falou Emily. - Carla observou levando a mão ao queixo.

Só então Amanda parou pra pensar nas palavras que ela mesma havia dito. No fundo era verdade, sentia-se protegida ao lado do rapaz. Mesmo que na maioria das vezes Vitor se mostrasse ser distante e até mesmo insensível, de uma coisa ela não tinha dúvidas, podia confiar nele e isso lhe trazia uma sensação de segurança.

–E... - iniciou Carla.

Parecia que o questionário ainda não havia terminado, pensou Amanda sentando-se novamente na cama e deixando as duas de pé.

–O que mais? - continuou Carla.

–Como assim? - Amanda perguntou sem saber o que falar.

–Fala mais. O Vitor é tão fechado que fica difícil saber o que mais faz parte da personalidade dele além daquela cara amarrada que ele tem.

–É, ele é bem sério. - pronunciou com o olhar vago.

–Mas você não parece se importar. - observou a loira.

–A... Não, eu prefiro assim. - afirmou incerta.

–Sério? - Carla questionou pasma. - Não acredito Amanda. - provocou. - Você toda delicada e se sentindo atraída por caras com "cara de maus"? - gargalhou.

–M-Mas não foi isso que eu quis dizer...

– Por essa eu não esperava. - continuou ela. - Quer dizer que você não liga mesmo por ele ser assim?

–Não, não. O Vitor também é carinhoso comigo. - respondeu incerta e morta de vergonha.

–Onde? - questionou Carla mais uma vez. - Só se for na cama.

–Oh Carla?! - Emily a repreendeu.

–Estou falando mais vocês parecem não acreditar né?! Eu conheço o Vitor a muito tempo e nunca pude ver mais dele do que aquela mau humor de sempre que ele tem. - revirou os olhos. - É meu amigo, seu namorado mas, é um mala Amanda.

–Para Carla. - advertiu Emily tentando não rir. - Deixa ela em paz.

Amanda não respondeu nada, simplesmente travou na hora, ficando vermelha da cabeça aos pés gradativamente.

–Esquece Amanda, a Carla é meio sem noção às vezes. - sorriu para a morena. - Mas me fala, como vocês se conheceram? - perguntou a loira.

–A... na faculdade. Bem... - pensou em manipular a história verdadeira. - Nós já tínhamos nos visto antes, ele veio falar comigo e, um tempo depois, depois de nos conhecermos melhor, - mentiu ela. - ele me pediu em namoro.

–Quem se interessou primeiro foi ele então? - perguntou Emily.

–É, sim. - concluiu assim, já que aquela proposta havia partido dele.

–E você se rendeu, confessa. - cutucou Carla sentando-se ao lado dela.

–A... Bom, o Vitor é bonito, muito bonito, - suspirou sem perceber. - eu, jamais imaginei que ele se interessaria por uma garota assim como eu.

–Por que? - cortou Carla. - Você também é bonita Amanda.

–A, mas, é que ele é... - deu pra ver o rosto da morena corar. - Ai, eu não sei como me expressar meninas. - encolheu-se de vergonha por ter o olhar das duas sobre si.

–Awn! Eu acho fofo o jeito como você fica toda tímida falando dele. - disse Emily. - Ele causa mesmo isso em você?

–Eu, acho, que sim. - respondeu ainda mais envergonhada, nem ela tinha noção disso, até agora.

Começar a falar nele e pensar nele a fizeram enxergar algo que, até então, não tinha percebido. Que ninguém havia causado isso nela antes. Toda essa falta de concentração quando ele estava por perto, o frio que vinha em sua barriga quando ele a olhava, o coração disparar quando a beijava. Aquela conversa forçada a fez perceber isso.

–Eu confesso que também era assim quando comecei a namorar com o Vinícius. Tímida e até insegura. - riu ao lembrar-se. - Eu acho que te entendo Amanda, é por que ele tem essa postura séria e fechada que chega a intimidar a gente.

–É, talvez seja por isso. - ela sorriu tímida.

Carla, ainda sentada ao lado de Amanda, sorriu e passou o braço pelo ombro dela, dando um meio abraço na amiga.

–Vai entender o que foi que você viu naquele chato, né?! - brincou.

–Bem, agora eu vou indo pra vocês terminarem. - disse a loira.

–Valeu Emily! - agradeceu Carla antes que a amiga saísse.

...

Antes de voltar para seu quarto, Emily passou pela sala e viu o marido no sofá conversando com Paulo e Thomas.

Seguiu direto para a cozinha.

–Devíamos ter ficado em casa. - pensou alto enquanto enchia um copo com água para si.

–Falou comigo? - perguntou Thomas adentrando no cômodo.

A loira olhou para traz surpresa, não imaginava que tivesse alguém ali.

–Thomas? Não te vi chegando.

–Desculpe se te assustei. -sorriu.

Chegou apoiando-se no balcão ao lado da geladeira enquanto a moça se servia.

–Não, eu só estava um pouco distraída.

–Parece ser outra coisa. Estresse talvez.

–A, não, eu só estou cansada. - tentou desconversar.

–Talvez sair um pouco fosse uma boa maneira de se distrair. - sugeriu. - Ainda da tempo de vir com a gente.

–Obrigada mas, não. Pode deixar, só preciso ficar em casa quietinha. - sorriu simpática.

–Se você prefere.

–Sim, assim aproveito e me aventuro na cozinha um pouco, faz um bom tempo que não cozinho nada. - riu - Nem sequer água fervente.

O rapaz soltou um sorriso simpático e logo os dos estavam rindo juntos.

–Então você gosta de cozinhar Emily?

–A... mais ou menos... Não vou mentir, minha mãe sempre foi ótima na cozinha, mas, já eu... que negação. - levou uma das mãos a testa.

–Entendi. - sorriu mais uma vez.

Um belo e perfeito sorriso, daqueles que dá vontade de ficar admirando o tempo todo. Pensava a loira enquanto bebia, enfim, seu copo de água.

...

–Estamos prontas! Já podemos ir.

–Nossa! - exclamou Paulo ao ver a namorada chegar. - Valeu a pena esperar, pois você está linda! - a abraçou pela cintura, selando lhe os lábios com um beijo.

– Muito obrigada! - o agradeceu sorridente.

–Ué, cadê o Vitor? - perguntou ao notar a falta do namorado.

–Ele estava no quarto. - informou Thomas vindo da cozinha. - terminando de se arrumar, eu acho.

–Vai lá e chama ele Amanda. - apressou Carla.

A morena saiu e ao chegar em frente a porta, parou. Decidiu bater antes de entrar dessa vez. Assim o fez e, ouvindo a permissão dele, abriu a porta.

–Eu já estou indo. - afirmou Vitor.

Estava de frente para o espelho que havia do lado de fora da porta do roupeiro, ajeitando o punho da camisa. Ela ficou a esperá-lo. Ele parecia estar com dificuldades com aquele pequeno botão.

A moça soltou um discreto sorriso ao vê-lo franzir as sobrancelhas tentando, ainda sem sucesso, abotoar o punho da camisa.

Aquela expressão séria que ele tinha podia até ser constante em sua face, mas também o deixava mais bonito. Pensou ela sorrindo mais uma vez.

–Você pode me ajudar aqui? - pediu ele. - É difícil fazer isso com uma mão só.

–Sim, claro.

Ela se aproximou para ajudá-lo e em menos de dois segundos cumpriu sua missão.

–Pronto. - disse ao terminar e mirando os olhos dele, que fez o mesmo por um breve instante.

–É impressão minha ou a Carla atacou novamente? - perguntou ao ver os cachos da morena lisos mais uma vez.

–O que?... A sim, como sempre ela insistiu, disse que é bom mudar de vez em quando. - soltou um sorriso sutil. - Foi por isso. Mas dessa vez eu pedi para ela prender um pouco ao invés de deixar tudo solto. - explicou.

A frente do cabelo da moça estava pra traz, preso por uma presilha preta, bem no alto de sua cabeça, e as laterais caíam levemente sobre seu rosto.

–Sim. Ficou bonito! - elogiou admirando discretamente os olhos dela.

Nem é preciso dizer que Amanda ficou sem jeito com o elogio dele. Nem sequer o agradeceu.

–Obrigado! - apontou para seu punho.

Ele a agradeceu voltando-se para o espelho e ela lhe deu espaço.

Ele era gentil, podia até se fazer de durão na maioria das vezes mas, no fundo, Amanda sabia que ele era gentil. Mesmo que ele não demostrasse isso aos outros. E ela não podia evitar em sentir-se feliz por Vitor revelar essa qualidade, que muitos desconheciam, só para ela.

Amanda, em pé à porta onde estava, se pegou a observar o rapaz enquanto este dava os últimos retoques em si mesmo. Ele ajeitou os cabelo castanhos para cima levando-os para traz, num penteado simples e prático, mas que também o deixava sofisticado, principalmente com aquela camisa social que ele estava usando. A cor vinho combinava com sua personalidade forte, pensou ela ainda entretida o observando.

–Vamos?

A pergunta a fez despertar do transe em que se encontrava.

–A...sim. Vamos, todos já estão esperando.

O casal seguiu para o encontro dos amigos na sala da casa.

–Você demorou hein?!...

–Mesmo? Eu nem notei. - estava disposto a não aceitar as provocações da amiga.

Pegou a morena pela mão e foi saindo em direção à porta.

–Vamos. - chamou os que ficaram para trás.

–Você sabe que ele ainda tá mordido com o que você falou. - cochichou no ouvido de Carla

–Eu sei. Mas foi ele quem começou. - riu baixinho com ele.

–Vamos antes que ele deixe a gente pra trás. - alertou Thomas passando pelo casal.

Os cinco saíram.

...

Chegaram a um barzinho próximo a praça principal, no centro da cidade turística em que estavam.

Vitor e Thomas estavam conversando enquanto esperavam as meninas que tinham ido ao toalete e por Paulo que levantou-se para atender um ligação.

–E a empresa do seu pai, você ou o Vinícius já decidiu ou ao menos pensou em começar a gerenciá-la?

–E o Vinícius lá tem jeito pra isso?

–E quanto a você? Por que não começa a ir, com o seu pai, para ver o que você acha. Afinal, tudo aquilo também irá ser seu um dia.

Vitor parou duvidoso e encarou o amigo sentado ao lado.

–Espera aí, me diz uma coisa, por acaso foi a minha mãe quem pediu para ter essa conversa comigo? - questionou desconfiado.

O loiro soltou um sorriso maroto.

–Ela até que pediu com jeitinho.

–Essa não! Qual é Thomas? Não acredito que ela te pediu pra me dar conselhos e você aceitou?

–Foi mau cara, mas eu não resisti, queria ver qual seria a sua reação. - riu descontroladamente.

–Era só o que me faltava mesmo?

–Parei. - se recompôs.

–E quanto a você, como está por lá? Morar sozinho ter que cuidar de tudo?

–Até que eu tô dando conta. O problema é que quase não tenho tempo pra mim. - lamentou mirando o lugar e as pessoas ali.

–Sei, conta outra Thomas, você sempre foi caseiro, o Paulo e eu tínhamos que quase te obrigar a vir pra cá nos finais de semana. - relembrou. - Caso contrário você ficava enfurnado em casa.

–Tá, admito que sim. Mas estou falando de arrumar uma namorada e não ficar rolo como você e o Vinícius faziam. Ou será que ainda fazem? - perguntou levando o copo a boca.

–Que?

–Se bem me lembro, vocês dois não podiam ver um "rabo de saias". E, nem sempre conseguimos perder velhos hábitos, não é?! Bem, talvez o Vinícius não, já que ele está casado mas, e você?

–Eu o que?

–O seu lance com a Amanda é sério ou é só mais uma das suas aventuras?

–Não é um lance, é namoro. E sim, é sério.- afirmou enchendo tanto o seu copo quanto o do amigo.

–Sei. - afirmou um tanto desconfiado. - Ela parece ser uma garota legal e é bem bonita.

–Sim ela é. - afirmou enquanto tomava um gole em seu copo.

–Ela por acaso sabe do seu passado negro? - provocou sorrindo de canto.

–Passado é passado. - sorriu de volta. - E não tem nada pra ela saber.

–Concordo! - ergueu o copo para que pudessem brindar. - Sábias palavras meu amigo. Mulher nenhuma precisa saber do passado de um homem.

Os dois amigos brindaram e riam um pouco mais.

–Mas, por falar em passado. - iniciou Thomas. - Sabe quem foi que esteve perguntando por você?

–Quem? - perguntou curioso.

–Ninguém mais ninguém menos que, Érika.

Continua...