Infiltradas escrita por Matheus


Capítulo 8
A Chegada




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Demorei a dormir aquela noite. Eu dava razão ao Lyko, mas lamentava termos nos conhecido numa situação como aquela. Por que tudo tinha de ser tão complicado? Além de ter sido enganado ele descobriu tudo muito tarde e não por uma confissão minha. Eu realmente estava errada e se existe uma vítima nessa história é ele. Vou compreender se ele não voltar, oque provavelmente não fará considerando a situação. Mas demorarei um tempo pra esquecê-lo e superar isso. Apesar desse pensamento racional agora, emocionalmente eu sofri bastante por ele ter ido embora. Quando fiquei sem voz para gritar seu nome, chorei, pelo resto da tarde.

Na manha seguinte acordei com o som de passos de cavalo-avestruz carregando uma carroça. Subi a encosta para ver quem passava. Já não estava chovendo, estava nublado e uma fina garoa tocava o meu rosto. Na estrada vinha um senhor, provavelmente um comerciante, sendo que carregava comida. Eu só havia comido algumas frutas que havia guardado nas vestes, pois o resto das compras deixei em algum lugar naquela maldita vila.

Subindo até a estrada, me prostrei em frente à carroça.

-Você precisa de alguma ajuda minha filha? –Perguntou o senhor de rosto bondoso.

Imaginei meu estado: O rosto inchado de chorar, com fome, o cabelo e as roupas úmidas por ter mergulhado no mar, por ter chovido o dia anterior inteiro e chamuscadas pelo incêndio. Minha aparência demonstrava o quanto precisava de ajuda.

-O senhor pode me dar uma carona? Eu preciso ir para a cidade da fonte do fogo, o senhor vai pra lá?

-Na verdade não vou pra lá, mas passo perto. Pode vir, suba – Ele me fez sinal para subir.

A carroça era simples, mas mais aconchegante que uma caverna. Era coberta e tinha sacos de frutas e arroz.

-Você parece com fome... Vai, pode pegar oque você quiser.

-Obrigada. – Sorri.

Não era hora de ser formal, peguei logo uma maça.

-Você passou por muita coisa não é? Enfrentou aquela chuva toda de ontem?

-Sim, mas achei uma caverna para me abrigar.

-Sabe, às vezes são necessárias tempestades para que o sol possa resplandecer mais belo.

-É verdade. – Eu disse olhando para o céu, que ainda estava nublado.

-Você vem de onde?

-Das colônias.

-Ah, as colônias... Eu gostaria de visita-las. Mas um lugar que eu queria mesmo ver é a tribo da água do norte!

-É mesmo?

-Sim, ouvi dizer que é lindo! Eu não acho que aquelas pessoas sejam ruins não.

-Não acha?

-Não, claro que não. Também não acho que uma moça como você possa ser uma espiã disfarçada ou uma sequestradora!

Ele sabia, ele deve ter visto meu cartaz de procurada. Era uma armadilha? Eu caí, e estava na carroça dele, pronta para ser entregue e trocada pela recompensa.

-Calma, eu não vou lhe entregar. – Disse ele, ao ver minha expressão. – Achei que você estivesse morta, todos da vila acham, não é qualquer uma que sobrevive a uma queda daquela. E ontem foram colados cartazes seus, de procurada, pela vila, você tinha que ver a cara deles quando souberam da recompensa pela sua prisão, achando que a mataram!

-Então o senhor não vai me entregar? Obrigada! – Sorri – Parece que nem todos da nação do fogo são maus.

-Assim como nem todos da tribo da água são bons. – Ele riu. – Você não estava acompanhada?

Aquele senhor tinha algo de diferente da maioria das pessoas que conheci na nação do fogo, apesar da aparência simples ele era um sábio. Senti que podia confiar nele, então contei a história.

-O amor costuma superar todos os obstáculos. – Disse ele. – Se ele o ama de verdade, ele vai voltar.

-Eu não sei... oque eu pretendia fazer pra família dele, e ainda escondi tudo. Ele descobriu da pior forma... Não sei se um amor pode sobreviver a isso.

-O primeiro passo para ser perdoada, é perdoar a si mesma. Agora, se um amor sobrevive a isso, você verá.

A viajem durou em torno de uma hora.

-Segue essa estradinha – Disse ele, apontando – Segue toda vida, que vai chegar na entrada da cidade. Tome cuidado Kayla.

Ele foi até a carroça e voltou com um saco e um pano.

-Aqui, maças caso você tenha fome e uma capa para se esconder, já que está sendo procurada.

-Obrigada Ori, você me ajudou muito.

Eu o abracei antes de ele partir. O saco tinha algumas maçãs, mas entre elas havia uma peça de pai sho, era uma peça da lótus branca. Entre as árvores, um tanto longe da rua, havia um lago, onde eu tomei banho antes de seguir o Caminho para a cidade. Vesti a capa e parti pela estradinha.

Eu caminhava planejando. Então eu iria lá, me encontraria com a minha mãe e daríamos um jeito de sair da nação do fogo. Podíamos votar para a tribo da água do norte e dizer que estivemos viajando pelo reino da terra. Não falamos nada pra ninguém porque sabíamos que seriam contra, que diriam que era uma viagem muito perigosa... E lyko? Lyko seria só passado, um romance da nação do fogo que eu guardaria em segredo para sempre. Me casaria com alguém da tribo da água e seria feliz.

Depois de algum tempo pude ver a entrada da cidade, então vesti o capuz da capa. Era meio dia, mas o sol estava escondido atrás das nuvens. Era uma cidade industrial, com construções alinhadas até o centro. No horizonte, o mar. Desci a rua até o centro, onde havia uma estátua gigantesca, que soltava fogo bela boca e pelas mãos o tempo todo, ela dava nome à cidade. Devia ser do senhor do fogo, demonstrando o poder da sua nação, era um tanto que amedrontadora pra mim. Corri o olhar pelas pessoas que caminhavam por ali, mas minha mãe parecia ainda não ter chegado, então esperei ali, embaixo da estatua.

Na parede de uma das construções estava colado mais um cartaz meu. O capuz da capa escondia meu rosto. Depois que eu e a minha mãe saíssemos daqui deveríamos ficar o mais longe possível das cidades. Ela estava demorando... Aí me dei por conta que ela não havia confirmado que viria, que também fugiria, ela nem teve como. Eu estava me baseando na boa fé. Mas talvez ela não viesse por outro motivo, talvez tenha sido impedida de vir, ou algum problema pelo caminho, ela poderia estar correndo perigo agora mesmo, e nem sequer é dobradora!

Assombrada por essas ideias, eu olhei para todos os lados procurando ela. Na minha frente, mas longe, avistei uma jovem senhora de expressões severas, o cabelo curto, e de traços que indicavam que ela fora, na juventude, tão bonita quanto eu. Quando ela me viu também sorriu, e veio até mim.

-Mãe! – Eu disse, abraçando-a. – Que bom que você veio, agora podemos voltar para casa e esquecer tudo isso.

-Kayla, é bom vem que está sã e salva. Você me deixou tão angustiada menina! Nunca mais suma desse jeito!

Apesar da fala severa ela sorria e me olhava, como se nunca tivesse olhado antes.

-Não mãe, nunca mais vamos nos separar.

-E Lyko, ele fugiu com você?

-Ahm, mais ou menos, depois eu te conto direito...

Mal eu terminei de falar e uma mão tapou a minha boca, e em seguida seguraram meus braços. Percebi que estava sem a touca.

-Solte ela! – Disse minha mãe antes de taparem a boca dela também.

A puxaram para mais longe e uma labareda de fogo irrompeu entre nós. Em seguida apareceu Kozu na minha frente, sorrindo.

-Te peguei – Disse ele, muito próximo do meu rosto.

Eu me debatia e tentava gritar, até que levei uma pancada na cabeça e não vi mais nada.


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