Infiltradas escrita por Matheus


Capítulo 1
Infiltradas




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Eu estava do lado de fora, perto de uma cerca congelada pelo frio. Por mais neve que tivessem os pinheiros, do outro lado da cerca, não era o suficiente para me sentir em casa. Estava longe o bastante da casa grande e aqui podia dobra a água do gelo da cerca sem que me vissem. Congelava e descongelava distraída, enquanto pensava no futuro. O dia do casamento estava se aproximando e isso me deixava incerta. Levei um susto, atirando toda a água da cerca, quando minha mãe se aproximou e falou:

–Zilá, você está dobrando?

–Esse não é meu nome, meu nome é Kayla.

–Desde que viemos para a nação do fogo, seu nome passou a ser Zilá e você está proibida de dobrar, já falamos sobre isso! Alguém pode ver e estaria tudo perdido!

Desde que viemos para a nação do fogo eu tenho que usar esse nome, vestes vermelhas e esconder minha dobra. Minha mãe conseguiu um casamento para mim com um jovem de uma família nobre, que ainda segue a tradição de casamento arranjado.

–Olhe, eu queria mesmo conversar com você longe daquela casa – Ela se sentou numa rocha, eu sentei na cerca. - Hoje a noite haverá um jantar. Nele, estarão os Pais do Lyko, a irmã dele e uma convidada especial, amiga dela e da família. Essa moça que virá é amiga de infância da princesa. Olhe com que pessoas estamos nos metendo Kayla! Este casamento nos põe direto na mais alta classe da nação do fogo!- Minha mãe sorria e segura as próprias mãos, entusiasmada.

–Ainda assim são da nação do fogo. A nação que está em guerra com a nossa! Meu pai pode estar em qualquer navio da frota da tribo da água do norte ou pode ter sido capturado, ou pior, pode ter sido morto por estas pessoas! E nós aqui...

–A nação do fogo é a nação mais próspera, nós apenas nos mudamos.

–Nos traímos a nossa tribo!

–Não é bem assim Zilá.

–Kayla! Meu nome é Kayla! Eu odeio essa nação, eu odeio essa família, eu odeio o Lyko! – Após dizer isso eu saí em direção à mansão, minha mãe me seguiu. Quando se aproximou disse:

–Arrume-se para o jantar porque além de termos a convidada especial, hoje vamos discutir os preparativos para o casamento.

Eu fui direto para o quarto e sentei na penteadeira. O casamento seria em dois dias e eu não queria me casar. Pensava em meu pai e meus amigos, como estariam agora? Bom, eu estava em uma casa com todos os confortos e com a promessa de viver com os regalos de uma família nobre, da nação do fogo, para sempre. Mas era a mesma nação que guerreava com a minha e que não teria piedade de mim se eu vivesse lá. Isso me fazia lembrar que por mais que a dobra fosse uma dádiva, na situação que estaria, casada e vivendo para sempre na nação do fogo, seria extremamente difícil esconder a dobra e consequentemente, minha origem. Esse casamento tinha tudo para dar errado, mas minha mãe não enxergava isso, pelo contrário, achava que seria um plano infalível que nos traria felicidade pelo resto da vida.

Fui acordada dessas reflexões quando ouvi uma batida na porta. Vi no espelho a irmã do Lyko, a Yoko, entrando no quarto.

–Você quer ajuda para pentear? – Eu estava com a escova na mão. Entreguei a ela, com um sorriso nada feliz. Ela sentou-se atrás de mim onde podia pentear e olhar nos meus olhos pelo espelho. Enquanto penteava, falou:

–Hoje virá para o jantar uma amiga minha, ela ficará até o dia do casamento.

–Sim, minha mãe me contou. Ela é amiga da princesa não é?

–É, é sim, a Azula. – Tive a impressão de que ela não gostava da princesa, provavelmente nunca pode ser parte do seu circulo de amizades. – O casamento vai ser lindo. Eu desejo muita felicidade para vocês. Mas Zilá, - falou, tomando um ar sério- eu te conheço há poucos dias. Não sei de onde você veio nem seus hábitos ou amizades. Por isso eu preciso lembrar que você está entrando em uma família tradicional. São muito poucas as famílias que seguem a tradição do casamento arranjado por exemplo. Todos na vila nos conhecem e nossos antepassados sempre estiveram ligados com a família real. Sabe, meu bisavô foi general na guerra contra os nômades do ar. -Ela me olhava pelo espelho, com bastante orgulho disso- Então, você deverá sempre agir conforme a norma culta, seguindo as tradições sem questioná-las. E sempre respeitar o seu marido. Lembre-se que carregará consigo um nome a zelar. Meus pais te escolheram e eu vou confiar neles. Isso precisava ser dito por alguém antes do casamento, mas minha mãe não leva jeito pra essas coisas... - Depois de falar com seriedade, agora sorriu.

Ela tinha prendido meu cabelo como as moças da nação do fogo costumavam usar e então me ajudou a por um vestido mais elegante para o jantar. Abraçou-me, dizendo que sabia que seriam grandes amigas, e antes de sair, disse que alguém me chamaria para o jantar.

Aproveitei e procurei minhas coisas da tribo da água. De dentro de um pequeno saco de couro, que eu deixava bem escondido entre as minhas coisas, tirei uma carta do meu pai, que estava navegando com a frota da tribo da água do norte e provavelmente ainda estava. Nessa carta ele dizia que tinha muita saudade e que estava ansioso para nos ver logo. Saber que ele nunca mais nos veria me dava um aperto no coração. Eu também sentia muita saudade.

Minha mãe abriu a porta, colocou a cabeça, e disse:

–A senhora Zhenni virá lhe chamar. – E ao ver a carta disse, movimentando o braço- Guarde isso!

Ela saiu com pressa. Eu guardei a carta, sentei na poltrona com um livro na mão, ajeitei o cabelo e logo ouvi a senhora bater na porta.

–Pode entrar- Eu falei.

Ela tinha os cabelos escuros assim como todos da família. Era baixa, acima do peso e tinha um ar bondoso e preocupado. Sempre procurando agir na linha, queria que tudo ao seu redor fosse correto, principalmente a sua família. Ela abriu a porta e lá mesmo falou:

–Você pode vir para o jantar, será servido assim que a convidada chegar. - Antes de sair, deu uma olhada na capa do livro que eu segurava como se estivesse lendo. Era um romance clássico da nação do fogo, que envolvia guerra, trazia conceitos ultrapassados e sempre exaltava a nação do fogo, procurando instigar um extremo nacionalismo. Por não ter interesse, eu nunca li. Respirei fundo, e fui em direção à porta.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: O Jantar



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