Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 33
Segundo livro. Capítulo IV - Cautela


Notas iniciais do capítulo

Heyy, gente! Vim postar assim que soube que o nyah havia saído da manutenção que parecia infindável! Pois é... enfim, quero dizer que tudo que acontece em ES acontece por uma determinada razão. Se lembrem disso antes de começarem a jogar pedras em mim hahah mas o príncipe (Segundo o apelido que Driih deu para o William) é um fofo e faz bem para a Bella ♥ Como não gostar dele? Ok, eu sei que tem vários modos, no entanto... se lembrem que ES é uma fanfic totalmente beward! ♥



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Flawless — The neighbourhood.

Tudo começou quando William apareceu no sábado pela manhã na porta da minha casa com seu sorriso sempre bem humorado. Eu ainda estava de pijama, bocejando a cada segundo que se passava. Claro que, por ter sido acordada, eu praguejava quando desci as escadas lentamente, tomando cuidado para não tropeçar nos degraus. Eram onze horas da manhã e eu não havia dormido o suficiente. Para quem planejava se acordar de uma hora da tarde, eu havia sido acordada cedo demais.

— O que fez no cabelo? — Sem pedir, ele já estava invadindo minha sala e pegando uma mecha de meu cabelo agora escuro entre os seus dedos.

— O que faz na minha casa de madrugada? — Rebati.

— Perguntei primeiro. — Como uma criança de cinco anos que se achava espetro demais, ergueu as sobrancelhas e exalou seu ar de imponência.

— Certo — Resmunguei. — Me dê um minuto.

Depois de subir as escadas para escovar meus dentes e colocar uma blusa de moletom por cima da minha blusa de alças curtas, desci novamente. William estava parado no mesmo lugar onde eu tinha o deixado, olhando ao redor com alguma coisa cômica em sua expressão. Depois quando virou seu rosto, bufou um riso.

— O que foi?

— A sua casa. — Ele murmurou. — Está tudo tão no lugar que parece que você tem TOC.

— Isso é porque você não viu o meu quarto. — Disse.

Sua gargalhada me fez perceber a ambiguidade presente no que eu havia falado. Virei-me para ele, fuzilando-o com os olhos.

— Não ouse…

— Está me convidando para conhecer seu quarto, Isabella? — Ele se aproximou perigosamente de mim. — Porque olha… não é uma má ideia.

Com as bochechas coradas, afastei-me.

— Pare com isso. — Sussurrei.

Antes que eu me afastasse e fosse para o canto oposto da cozinha como era o meu plano, sua mão se prendeu no casaco que eu vestia, puxando-me delicadamente. Permaneci olhando para o outro lado, acanhada demais para olhar em seus olhos sorridentes. O humor de William era invejável, sempre tão bom e paciente. Eu quase chegava a me envergonhar da minha chatice quando estava com ele.

— Você age como uma garotinha envergonhada. — Ele notou, segurando agora o meu pulso.

Bufei, girando o meu braço. A minha tentativa de soltá-lo de sua mão funcionou, porém somente por causa dele que me soltou quando percebeu a minha resistência.

— E irritada também.

— Espero que isso que você esteja me falando sejam elogios — O olhei com os olhos semicerrados. — Porque se não forem… ah, William, eu tenho pena de você.

Depois de eu ter tomado café da manhã, percebi que não era William que estava adiantado demais. Eu estava atrasada. Angela iria pegar Tyler na casa dele e iria nos encontrar no cinema para assistir qualquer um dos filmes que estariam passando por lá. Iríamos nos encontrar de uma hora da tarde e eram doze e meia quando eu decidi olhar para o relógio de verdade.

William apenas murmurou que eu precisava me concentrar mais nas coisas. Ultimamente eu andava muito distraída e, segundo ele, aquilo só acontecia quando ele estava por perto. Primeiro na faculdade, depois na minha casa…

— Aham, tá. — Concordei com ironia.

O deixei na sala com o controle da televisão em mãos quando subi para tomar banho e dar um jeito no meu cabelo armado e já cacheado nas pontas. Com malícia, ele sorriu tortamente e falou que já estava subindo. Para tomar banho comigo. Tudo que eu fiz foi gargalhar e fechar a porta do meu quarto com a chave.

Tentei ter criatividade ao me vestir e pela primeira vez desde que tinha chegado aqui em Cambridge, abri a parte do closet que Alice e Charlie haviam feito para mim. Era uma ocasião especial e sabia que lá tinha altas probabilidades de achar alguma coisa que eu gostasse e servisse para ir ao cinema.

Não demorei nada para achar algo que me agradasse e fosse simples. Depois, eu me lembraria de agradecer mais uma vez a Alice por saber tão bem do meu gosto por roupas, fazendo-me ter vontade de vestir todas de uma vez só. Agradeceria a ela por ter me salvado. E depois a Charlie que foi o patrocinador disso tudo. E por ter a preocupação de pensar sobre aquilo também.

A minha escolha foi uma blusa de manga comprida justa, bege e rendada. E eu quase soltei um suspiro de frustração quando percebi que meus shorts ficariam intocados até eu voltar no Natal para Los Angeles. Cambridge era fria demais para usar alguma coisa que não cobrisse todo o comprimento das pernas. Por isso, sem protelar mais, peguei uma calça preta e um casaco antes de sair do closet.

Assim que terminei de vestir a calça e o casaco, meus olhos se voltaram para a direção onde um par de botas estava escorado na parede.

Quando eu parei na escada, meus olhos varreram a sala a procura de William, só o achando fuçando algo na minha estante. Meus porta-retratos. Em especial um que estava virando para baixo. Um que tinha a minha foto junto com Edward. Eu me lembrava bem dessa, estávamos sorridentes no meu aniversário e não economizávamos nos olhares carinhosos — os quais não passaram desapercebidos por minha mãe e a câmera que estava sempre pronta para tirar mais uma foto. Havia três porta-retratos abaixados.

Pigarreei alto para que ele parasse de xeretar minhas coisas. Fiz uma anotação mental de tirar aquelas fotos dali quando suportasse olhá-las sem sentir meus olhos marejarem. William, como se não estivesse mexendo nas minhas coisas, virou-se muito calmamente em minha direção e me olhou.

— Algumas pessoas dizem que é mal-educado ver porta-retratos que estão abaixados.

Ele apenas deu de ombros.

— Você teve alguma coisa com esse cara?

Passei por ele e enquanto pensava sobre qual resposta o daria, tirei as fotos do porta-retratos, pensando em rasgá-las. Contudo, eu não era forte o bastante. Apenas juntei-as em minhas mãos e as deixei em cima do balcão da cozinha, deixando para pensar depois no que eu faria com elas. Talvez queimar, rasgar, guardar… Embora o presente fosse doloroso, as memórias ainda continuavam intactas, lembrando-me do quanto eram boas as horas com ele.

— Tive. — Prensei meus lábios e me virei para frente, encostando-me ao balcão e olhando com acanhamento para baixo.

Eu queria sorrir. Não de felicidade, de amargura ao pensar em tudo que um dia já ousei ter com Edward. De amargura ao notar que desde o começo eu sabia que por um ou outro problema, nada daria certo para nós dois. A teimosia falou mais alto e me fez ignorar os alertas constantes que minha mente dava.

De um jeito ou de outro, tudo havia dado errado. E talvez aquilo fosse a coisa certa para acontecer.

— O que aconteceu?

— Eu vim para Cambridge. Isso aconteceu. — Apesar de estar hesitante ao falar para William sobre Edward e toda a estupidez que eu assumi, parecia quase o certo a se fazer.

— Não consigo entender. — Ele franziu a testa.

— Ele teve coisas mais importantes para fazer. Relacionamento a distância é uma furada, William, uma furada. Nunca funciona. — Eu ainda não tinha coragem de olhar para ele, não queria que ele visse as minhas bochechas coradas e os meus olhos cheios de saudades de um tempo que claramente não iria voltar.

— Você… — Eu ergui meus olhos para ele quando percebi sua hesitação. — Você ainda gosta dele? — Gostar era uma palavra tão esdrúxula para o que eu sentia por Edward antes

— Está mais para ressentimento.

— Bom… não vamos pensar mais nisso. — Ele declarou, voltando a sua animação característica e puxando o meu casaco para que eu me desencostasse do balcão.

Fiquei grata que William não prolongasse o assunto, ele sempre parecia saber com perfeição os limites que não deveria infligir. Conversar sobre Edward normalmente tinha um limite muito curto o qual ele respeitou sem muito esforço. Foi naquela hora, com aquela percepção, que notei que eu poderia ficar conversando com ele pelo resto do dia e em nenhum momento ele me irritaria. De nenhuma forma. Era incrível o quanto ele já me conhecia, tanto em tão pouco tempo.

Deixei que William dirigisse quando Alice me ligou e, incapacitada de ignorar uma ligação da baixinha, a atendi. Eu nem gostava tanto assim mesmo do meu carro… era preto, longo e curvilíneo, sem graça. Preferia o meu sedã cruze vermelho que havia sido deixado na garagem de minha antiga casa. Ele se encheria de poeira e sofreria… preferi não pensar muito sobre o assunto.

— Bellinha! — Alice suspirou.

— Alice.

— Que saudades! Eu sei, eu sei, te liguei ontem e provavelmente você está ocupada com os lances da faculdade e essas coisas, mas… precisei falar com você.

— Eu não estou tão ocupada assim que não possa falar com você. — Revirei meus olhos e sorri brevemente. Alice sempre fazia meu humor se iluminar e fora ela, só conhecia uma pessoa que tinha a mesma capacidade. William que estava ao meu lado.

— Me diga como você está. O que está fazendo, com quem anda saindo, quero saber de tudo. Céus, Isabella, eu sinto tanto a sua falta!

Eu sorri brevemente, colocando a franja que caíra por meus olhos atrás de minha orelha direita.

— Ok, vamos com calma. — Disse. — Eu estou bem e agora estou indo para o cinema. Ando saindo com umas pessoas legais e sim, eu também sinto a sua falta. Agonizantemente.

— Ih, Bella, nem vem com palavras difíceis. — Ela resmungou. — Vamos falar inglês dos Estados Unidos, sim? E por falar nisso… você já está com sotaque, sabia? Eu ainda não consigo me decidir se eu gosto ou não.

— Ah, droga! Eu planejava manter meu sotaque americano.

— É… você não conseguiu.

— Até parece que você está falando com um perfeito sotaque britânico. — William falou e eu voltei minha atenção para ele. Fiz uma carranca e como uma criança de cinco anos, eu mandei-lhe a língua. — Que maduro de sua parte. — Ele gargalhou.

— Bella? — Alice me chamou. — De quem é essa voz sexy?

— Ah… é o William.

— Não me lembro de você ter me falado de nenhum William. — Seu tom foi duro e mal-humorado, provavelmente desaprovando eternamente a mísera falta de informação que eu tinha me esquecido de dá-la.

Não tive o que comentar do cinema, Tyler estava mais irritante com seus olhares e suas perguntas constantes sobre o que diabos eu fizera no cabelo. Ele disse para mim que gostava de loiras, mas não se importava, abriria uma exceção para mim e eu deveria aceitá-la porque não era sempre que aquilo acontecia. Minha reação foi mais ou menos erguer as sobrancelhas enquanto ria com desprezo.

Eu não costumava ser tão chata. Tyler estava quebrando cada vez mais o meu recorde de paciência.

Eu gosto de morenas. — William murmurou.

Angela e eu rimos. Tyler apenas bufou e cruzou os braços, revirando os olhos. Eu não conseguia entender o porquê de ele não se mancar e perceber que não tinha chance alguma comigo. Eu realmente não sabia qual era o problema com ele. Tantas pessoas recebiam foras piores do que eu já o dei e agiam normalmente depois disso. Pessoas maduras faziam isso. Percebiam que a amizade bastava.

Tyler não era assim. Nem muito menos maduro.

Eu deveria ter pensado nisso quando fiz o convite abrangente para o cinema. Deveria ter cancelado somente com ele, mentindo sobre as impossibilidades que Angela, eu e William iríamos ter. Pelo visto, ele conseguia ser legal e maduro com Angela e ainda estava me perguntava quando eu era a diferença entre nós duas para que sua mente não aceitasse a amizade.

Na sala do cinema, me sentei do lado de William e de Angela. Eu estava tremendo de frio e de medo quando o filme começou. Com o frio foi fácil de lidar, aqueci minhas mãos descobertas no saco de pipoca e evitei tomar a coca-cola enquanto não estivesse mais aquecida — o que não aconteceria enquanto eu não saísse daquela sala congelante. Lidar com o medo foi pior, eu acabei não conseguindo.

Naquele momento, estava odiando William com todas as forças que eu tinha dentro do meu ser. Foi ele que teve a brilhante ideia de assistirmos um filme de terror e como eu e Angela não encontramos nenhum que nos interessasse, assentimos. Eu odiava filmes de terror, mas pensava que seria forte o bastante para não me deixar afetar com toda aquela coisa sobrenatural e horrível. Pensei errado.

Eu continuava a mesma medrosa de sempre.

Teria me agarrado ao casaco de Angela se ela já não estivesse inclinada na direção de Tyler, agarrando o seu casaco também com medo. Sem opções e desesperada para ter algum lugar para esconder meu rosto, puxei o braço de William para perto de mim e escondi meu rosto em seu ombro. Cheiroso, por acaso.

— Sabe, esse é o sentido de trazer garotas para assistir um filme de terror. — Ele disse e antes que eu pudesse me afastar, colocou o braço no qual eu me escondia ao redor de meus ombros, puxando-me para perto o tanto que a cadeira individual permitia.

— Pare de flertar comigo. — Sussurrei. — Não vale agora.

— Graças ao filme, vale sim.

Alguma criatura diabólica gritou na tela, fazendo-me tremer e fechar meus olhos fortemente contra o ombro de William. Queria também colocar as mãos nos meus ouvidos para não escutar mais nada, mas optei pela normalidade.

— Faltam quantos minutos para o filme acabar? — Perguntei.

— Uma hora e quarenta e cinco minutos. Faz apenas vinte minutos que estamos aqui.

— Isso é uma tortura. — Murmurei desgostosamente.

Eu passaria uma hora e quarenta e cinco minutos com o rosto enterrado no ombro de William.

Por várias vezes tentei espiar o filme e dizer a mim mesma que aquilo era besteira, que não existia e que aquelas situações aterrorizantes nunca aconteceriam comigo. Não funcionou, nem mesmo quando eu tentei impetrar um mantra que dizia “Isso não é real, não é real, não é real”. Era igualmente inútil. Até que eu desisti e encostei meu rosto no ombro de William e fitei a tela enorme, esperando qualquer movimento estranho acontecer para fechar meus olhos em uma tentativa de tranquilidade.

Eu poderia ter dormido sem muito esforço se não fosse pelo filme. O cheiro dele era tão bom e tranquilizante…

— Angela, você pode dormir lá em casa hoje? — Eu perguntei assim que saí da sala de cinema.

Ela riu.

— Essa é uma pergunta de verdade?

— Sim. — Murmurei envergonhada. — Eu… eu… esse filme acabou com toda a vontade de ficar em minha casa sozinha hoje.

— Hum… não tem problemas, mas tenho que pegar algumas coisas em minha casa. Pode me esperar por algumas horas? Acho que de sete horas estou chegando por lá…

— Sim, eu… vou deixar William na casa dele e depois chego por lá.

Fomos em um silêncio confortável até à casa da mãe de William que era onde ele estava hospedado até consertarem uma infiltração que havia acabado com uma parede de sua sala. Foi com uma expressão hilária de pesar que ele disse que o processo demoraria duas semanas uma vez que teria de consertar o problema da infiltração, pintar a parede danificada e, acima disso tudo, esperar a boa vontade do pedreiro.

Nisso tudo daria duas semanas inteiras para que ele voltasse à privacidade e conforto.

Ainda o fiz ir comigo a uma livraria, abusando de sua boa vontade. Não que parecesse um esforço muito grande para William ficar comigo e eu esperava que realmente não fosse. Esperei que ficar comigo fosse tão simples como eu achava. Eu não era uma má companhia, era? Eu não tinha muita certeza sobre a resposta. De qualquer jeito, antes que eu entrasse no carro, ele me deu um beijo na testa que ficou formigando por muito tempo depois.

Naquele dia, após chegar a minha casa, encorajei-me o suficiente para esperar a banheira encher. Água morna, claro. Tomar banho em água gelada em Cambridge era pedir para congelar instantaneamente. Fiquei lá além do planejado, distraindo-me com o calor confortável e as ondas que eu fazia com a mão, distraidamente.

Lembrei-me de Edward e pela primeira vez em muito tempo, o pensamento não enviou ondas de dor para a minha mente. Eu achava que aquele era o sentido da palavra “superar”. Pensar e não doer. Pensar e não ter raiva ou ressentimento. Ainda estava aperfeiçoando, mas, mesmo assim, era um avanço e tanto. Um avanço do qual eu me orgulhava.

A semana seguinte se passou sem muitas surpresas, eu dormia a maioria do dia por estar acabada das aulas que estavam começando a me sufocar. Toda noite, eu saia com William para tomar chocolate quente ou chá — que eu descobrira amar e não conseguir viver por muitos dias. O incrível disso tudo era que quanto mais tempo eu passava junto dele, mais eu queria ficar.

Ele era uma ótima companhia. Uma das melhores que eu já havia encontrado em toda a minha vida. Nunca nos faltava assunto e se em algum minuto parássemos de falar, o silêncio era extremamente confortável. Eu gostava de ficar com ele, tinha como não gostar? Ele era engraçado, agradável e… e bonito também. Ok, a beleza era algo que não tinha como negar nele, era perceptível. E como se não fosse o bastante todos esses adjetivos, ele também tinha um sorriso lindo e contagiante. William apenas não podia saber desses pensamentos, seu ego era fingidamente inflado.

Estava gostando de ficar com ele mais do que gostaria de qualquer outro amigo. Não éramos mais somente amigos. Não aconteceu de uma hora para a outra, é claro. Nem sequer havia acontecido ainda. Não se não prestássemos atenção aos pequenos detalhes que William deixava implícito. Era complicado e simples ao mesmo tempo. Ele tornava as coisas tão simples quanto respirar.

Eu não gostava da ideia de estar me deixando ser fraca por outra pessoa, mas William era diferente. Tinha quase uma certeza concreta que ele não me machucaria, não querendo. E daquela vez, eu jurei para mim que não estava me enganando.

E, no final de tudo, não estava.

William era hesitante de um modo muito bom. Gostava da cautela dele, do quanto ele parecia preocupado com os limites que eram quase inexistentes, gostava que ele esperasse por minhas reações para fazer a maioria das coisas. Gostava de seus beijos em meu cabelo, em minhas bochechas, em minha testa, em meu queijo… gostava de quando ele se parava e pedia desculpas, acanhado. Gostava do ar britânico adorável que ele tinha.

Nós ainda não tínhamos nos beijado nos lábios até o dia da festa de Lauren que uma semana antes tinha exigido com um sorriso simpático a minha presença. Não que eu estivesse com ciúmes — longe de mim isso, William e eu não tínhamos nada sério —, mas eu apostava um lanche na cantina da universidade que ela queria mais é que ele fosse. Eu podia perceber. Ela mal me conhecia! Já a vi, contudo, olhando para William sempre que ele estava distraído.

Um dia antes da festa, ele tinha sugerido não ir e era tudo que eu mais queria. Com Lauren implorando daquele jeito, a ideia de não ir foi substituída por uma de dar uma “passadinha” por lá. Eu poderia ficar em casa, sim, mas… mas eu não queria ficar sozinha num sábado a noite. Agora eu tinha quase pavor a ficar sozinha uma vez que William e toda a sua energia eram sempre presentes.

Só uma passadinha, eu me disse mentalmente, conformada. Decidi que o vestido bege que eu usava estava bom o bastante e, claro, a meia-calça translúcida preta para cobrir minhas pernas do frio característico de Cambridge. Até pensei em colocar um casaco, mas aí eu desci apressada para atender a campainha que tocava e eu sabia ser William que havia vindo me pegar para irmos à festa.

Ele estava lindo com uma camisa preta, um casaco marrom e seu típico sorriso sarcástico. Seu cabelo escuro estava úmido quando eu passei meus dedos por eles assim que o senti me abraçando apertado. Como sempre fazia. Deixei um beijo cauteloso em seu maxilar com o máximo de cuidado para não borrar o meu batom e ri quando me afastei e percebi que o havia melado.

— Você está linda. — William elogiou.

Por algum motivo bobo minhas bochechas coraram e eu lhe sorri, afastando-me um passo antes de lhe olhar.

— Você até que não está tão mal. — Dei de ombros relaxadamente. Mas eu e ele sabíamos que ele estava lindo.

William inclinou o rosto para frente mais uma vez e desviou na última hora os seus lábios dos meus, beijando-me a nuca, embaixo da orelha. Minha reação foi previsível, apenas suspirei e estremeci com os braços arrepiados. Ele não deixou de perceber o meu tremor, por isso uma risada discreta escapuliu de seus lábios.

Queria lhe mandar um olhar repreensor, um daqueles que sempre o fazia rir e erguer as mãos como se estivesse se rendendo. Minhas bochechas, no entanto, estavam coradas demais para erguer meu rosto e lhe olhar. Para escapulir da situação, fui até o meu sofá lentamente — esperando que quando eu voltasse meu rosto já estivesse normal — e peguei a minha bolsa que eu já havia arrumado.

— Vamos? — O chamei.

William entrelaçou sua mão com a minha e se aproximou.

— Se alguém se aproximar de você com segundas intenções, eu quebro a cara do miserável. — Sussurrou e inspirou longamente o cheiro do perfume que se concentrava em meu pescoço. — Sim? — E ele ainda era cauteloso para pedir permissão.

— Sim. — Sussurrei.

Seus lábios pousaram brevemente na linha do meu maxilar antes que ele me puxasse para a porta.

Quis voltar para dentro do carro assim que avistei a casa de Lauren iluminada e cheia de gente nas janelas e porta principal. Além de não gostar de aglomeração, a música estava alta demais para a minha paciência. Disse para mim mesma mais uma vez que em breve eu poderia puxar William para virmos embora e fazer qualquer coisa sem ser tentar achar um lugar para pousar o pé dentro daquele lugar.

Só iríamos dar uma “passadinha”. Somente.

Eram dez horas da noite, de dez e meia eu daria algum jeito de arrancar William de lá ou lançar um charme e dizer que iria embora. Quando ele me perguntasse como eu voltaria para minha casa, diria que iria pedir a alguns dos colegas de sala que tínhamos e não hesitariam em realizar o meu pedido. Eu conhecia William, sabia que esse “argumento” seria bom o bastante para largar qualquer coisa que ele estivesse fazendo.

Se ele me irritasse de verdade, pegaria um táxi e iria para casa. Era um ótimo plano.

Os problemas começaram quando entramos na sala que havia se transformado em uma pista de dança e demos de cara com Tyler — que já estava meio bêbado. Eu juro que quase pude sentir seu olhar queimando a mão de William que enlaçava calmamente minha cintura. Naquela hora, ele não deu muita importância para aquilo e logo se virou para conversar com uma menina.

Ainda fiquei olhando o bastante para vê-los se beijando rudemente, chegava a ser um ato violento e indecente. Estremeci de nojo.

— Bella! Will! — Escutei a voz de Angela nos chamando.

Eu quase ri quando notei os seus lábios vermelhos e ao seu lado, Eric, o tal garoto da aula de anatomia. Ele também estava com os lábios vermelhos e William disfarçou uma risada com uma tosse. Para pará-lo, belisquei-lhe com a mão que pousava na lateral de sua cintura. Feliz ou infelizmente, sua pele não era tão flácida quanto eu esperava e tive bastante dificuldade para fincar meus dedos.

Angela, por sua vez, não foi nada discreta quando viu a mão de William pousada em minha cintura. Tudo bem que alguns dias atrás eu a havia contado sobre o “clima” que estava rolando entre nós, mas ela nunca presenciou ao vivo e em cores o que eu a informava. Eu evitava contatos como esses dentro da universidade e William, graças aos céus, entendia isso perfeitamente.

— Oi, Angela. — Eu cumprimentei. Quando Eric se virou para falar com William, ergui as sobrancelhas e sorri maliciosamente para ela. — Hmm, não é?

Ela retribuiu, dando uma gargalhada.

— Exatamente. — Concordou.

Não ficamos lá por muito tempo a mais, Angela logo foi se agarrar com Eric em outro lugar e Lauren chegou para falar com William, ignorando a mão dele em minha cintura. Sim, estava com ciúmes. Sim, estava começando a detestá-la. Por estar sendo completamente excluída do assunto por Lauren e pelas tentativas falhas de William de me inserir naquela merda de assunto, dei uma desculpa que estava com sede e que iria pegar alguma água para beber.

Até cheguei a pegar um copo de coca-cola para tentar matar minha sede. Cheguei até a beber distraidamente enquanto olhava o barman que colocava algum líquido verde em um copo transparente. Deixei o copo já vazio em qualquer lugar e ponderei se eu queria mesmo provar aquilo. Disse a mim mesmo, teimosamente, que só iria provar. Somente provar. E se fosse algo forte demais, deixaria para lá.

— E aí, doçura? Quer de qual? — Ele se virou para mim.

— Do verde.

— Você quer dizer do copo que tem a luz verde, não é? — Perguntou franzindo o cenho.

Senti minha bochecha esquentando com a minha ignorância sobre bebidas, então para contornar a situação, assenti e sorri sem graça.

— Posso fazer igual para você se quiser beber Vodca. Só temos essa — O barman propôs.

O que eu tinha a perder? Minha sobriedade provavelmente, mas disse a mim mesma que só era um gole e depois beberia somente alguma coisa que não tivesse álcool. Esse, como todos os outros, era um plano perfeito. Eu não planejava ficar bêbada em uma festa, é claro.

— Feito. — Concordei.

— É para beber de uma vez só. — Ok, não vai rolar só beber um gole. Aproximei o copo de meu nariz, percebendo o cheiro forte que aquilo tinha. O gosto devia ser terrível e eu estava prestes a desistir. — Isso não é vinho para degustar, garota, é beber sem pensar em nada.

Irritada com a tagarelice do barman, virei o copo em meus lábios abertos. Meus olhos lacrimejaram e revoltada, minha garganta ardeu cruelmente. Aquilo era terrível, uma das piores bebidas que eu já havia ousado tomar em toda a minha vida. Até cerveja superava aquele negócio transparente.

— Isso! — Ele exclamou, empolgado. — Em breve a sua garganta vai parar de arder.

Bom, não parou. Em represália ao desconforto, o efeito quase instantâneo que a Vodca causava era ótimo, era quase como flutuar sem sair do lugar.

— Quero outro. — O disse.

Eu já segurava outro copo transparente com uma luz vermelha dessa vez quando o senti saindo de minha mão com delicadeza. Eu não estava bêbada, mas os meus… hmm, reflexos estavam lentos por minha baixa resistência. E também a luz da pista de dança não ajudava em nada na minha situação.

O rosto de William, devido às luzes, ficava claro e escuro.

— Se desiludiu tanto que está recorrendo às bebidas, Isabella? — Um sorriso torto apareceu em seus lábios.

— Não. — Bufei.

— Quantos ela já tomou? — Ele recorreu ao barman daquela vez.

— Uns cinco… — Mentiu ele.

Arregalei meus olhos.

— É mentira! — Exclamei. — Só tomei um verde…

— Verde? — Indagou William franzindo o cenho.

— É a cor da luz. — O barman disse entediado.

— Que seja. — Bufei. — Só tomei um copo e ia tomar esse quando você o tirou de minhas mãos. Devolva-me.

— Cinco, é? — Ele se virou para o barman que permanecia com um sorriso cínico e divertido nos lábios.

— Um! — Me exasperei.

— Cinco. — Concordou ele. As luzes piscaram mais uma vez.

— Mentiroso de merda. — Exclamei, lançando-lhe um olhar ameaçador.

— É, cara, foi um. — O barman ergueu as mãos ainda com o sorriso em seu rosto longo. Ele não era bem o que eu chamava de bonito, mas olhar para o seu rosto e sua expressão me fazia ter vontade de rir. E não era porque eu tinha bebido um copo de Vodca.

— Cinco definitivamente. — William concluiu.

Bufei e pulei do banco alto que eu tinha me sentado. William me seguiu enquanto eu cruzava a pista da dança usando meus cotovelos para afastar as pessoas que estavam distraídas e acabavam esbarrando em mim. Senti meu pulso ser puxado calmamente quando eu cheguei até a parede de vidro que dividia a sala do jardim enorme e inabitado. William se aproximou de mim até que eu estivesse quase prensada contra a parede, sua mão impossibilitando a minha passagem quando eu olhei para o lado.

— Não se irrite. — Pela música alta, eu só percebi o movimento de seus lábios. — Embora você fique linda desse jeito.

— Você não estava batendo papo com a Lauren, não foi? — Pressionei meus olhos.

Ele sorriu.

— Você está com ciúmes. — Odiei ver a afirmação nada duvidosa que ele fazia.

— Não estou.

— Está sim, Isabella. — Outra coisa que eu gostava nele era o modo que ele falava o meu nome completo em seus lábios. Lenta e voluptuosamente. Se sua boca já me atraía em ocasiões normais, naquela hora atraiu mais. Mil vezes mais.

Seu olhar se desviou para os meus lábios entreabertos e com a mão que pousava em meu ombro, subiu para eles, tocando-os hesitantemente.

— Eu…

— Sim. — Sussurrei, erguendo meu rosto e ficando nas pontas dos pés para conseguir beijá-lo.

Seu beijo iria sem dúvida alguma para o topo da lista que eu tinha sobre as coisas que eu gostava nele. Era firme e moderado. Sua boca contra a minha fazia uma pressão contida, na medida certa e seus toques em minha cintura eram de reconhecimento. Ele sorriu em meus lábios e eu não pude deixar de retribuir. Envolvi um braço até suas costas agarrei um punhado de seu cabelo encaracolado em minha outra mão, erguendo-me mais uma vez nas pontas dos pés ao notar que eu havia relaxado.

William abaixou seu rosto o máximo que conseguiu e ainda assim ele era muito mais alto que eu. Não foi um problema muito grande naquela hora, eu me ergui, ele se abaixou, eu o puxei pela nuca, ele ergueu o meu rosto… fizemos o que pudemos para que nossos lábios continuar juntos pelo máximo de tempo que conseguimos. A minha sede de seus beijos estava longe de ser saciada quando ele foi puxado de mim de repente.

Abri os olhos atordoada e com os lábios latejando. Tentei localizar William, mas ele tinha sumido tão rápido e as malditas luzes continuavam piscando freneticamente.

Arfei quando o vi. Ele estava no chão e Tyler estava ajoelhado ao seu lado, distribuindo socos por todo o seu rosto.

Não tive reação. Minha mente estava disparando em várias direções, lenta pela bebida e pelo beijo de William que continuava em meus lábios. Podia sentir a raiva e o choque deslizando gentilmente para dentro de mim, instigando-me e parando-me quando eu ordenava ter alguma reação. O que Tyler queria? Por que ele estava batendo no William? Eu não tinha nenhuma dessas respostas, tudo que eu sabia era que Tyler era um babaca.

Felizmente, William era ágil e alto. Muito mais alto que Tyler que agora estava no chão, o nariz sangrando e provavelmente quebrado. Eu queria puxar William e dizer que estava bom e que poderíamos ir para casa, contudo tinha a certeza de que ele não me escutaria por causa da música. Eu provavelmente também não o conseguiria afastar. Ele parecia tão… exasperado.

Olhei para os lados à procura de ajuda, mas tudo parecia tão borrado e sem sentido…

Graças aos céus, um grupo de garotos havia avistado a briga e seguraram Tyler e William a tempo. Antes que ambos se matassem. E eu sabia que não era hora para notar uma coisa daquelas, mas Tyler estava com o rosto inchado de tanto soco que levou. Bem feito, meu lado impiedoso pensou.

— Ela é minha! — Pela voz, eu podia deduzir muito bem que Tyler havia bebido mais do que deveria. — Isabella é minha, seu idiota. Você não tinha o direito de se aproximar dela! Eu vou matar você!

— Vamos ver se você consegue. — William se sacudiu para tentar se soltar.

Aproximei-me dele e forcei-me a sair da letargia que me encontrava para tocar-lhe o braço cautelosamente e chamar sua atenção para mim.

— William… — Eu chamei. — Se acalme.

— Eu vou estraçalhar a cara desse idiota. Estraçalhar!

— Pode deixar comigo. — Disse para os garotos que o seguravam. — Obrigada.

O puxei para o jardim com toda a força que eu consegui porque William não cooperava para nada e eu estava começando a ficar com raiva de verdade dele. Raiva de sua teimosia e inconsequência. Será que ele não conseguia enxergar que já estava bom de confusão?

— Porra, Isabella, me deixa…

O soltei quase raivosamente, empurrando-o o mais longe de mim que eu consegui.

Então vai. Vai pra lá e se machuca mais do que já está.

— Eu estava te defendendo daquele miserável…

— Você está machucado e eu realmente não preciso mais de nenhuma defesa. Foi o suficiente, obrigada. Não quero que se machuque mais. — Senti as bordas de meus olhos marejarem por algo que eu não tinha certeza o que era.

Era a TPM, a minha baixa tolerância a Vodca, o lábio inferior e a maçã do rosto de William machucados… era coisa demais para um dia só.

William me deu as costas e passou a mão por cima do cabelo, respirando fundo audivelmente. Eu sabia, entendia que ele tinha um temperamento forte quando era preciso e que Tyler era um idiota cujo merecia levar vários socos, mas eu… tinha de admitir estar assustada. Era por esse exato motivo que eu odiava festas com bebidas alcoólicas, alguém sempre acabava bebendo demais e fazendo coisas descontroladas.

Eu não percebi quando ele se virou de novo para mim, apenas senti seus braços se fechando ao redor de minha cintura e a casca grossa de uma árvore contra as minhas costas.

— Me desculpe — William disse.

Eu apenas assenti e sorri quando ele deixou beijos breves por meu ombro, pescoço, maxilar e bochecha. Em um convite mudo e desejoso, ergui meu rosto para beijá-lo. Ele não hesitou um segundo a mais para aceitar meu convite.

Não foi uma noite completamente perdida, afinal.

O problema com o amor é que eu estou cego

Ele sacode meus pulmões, mas minha mente está

Emaranhada entre suas pequenas falhas.

Suas falhas, seus defeitos, suas falhas.


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Notas finais do capítulo

Hmmm, sim, o Williiam e a Bella irão namorar ♥ Se vcs comentarem o rápido o suficiente, posto até metade da semana que vem! Beijos, gentes, qualquer pergunta é só mandar.
E, plmdds, eu quero saber o que vocês sugerem para ter como Extra (já temos dois e só falta um para completar 50 capítulos) em ES.
E em breve irei postar duas histórias novas! Quem quiser saber mais é só me mandar uma MP ♥ beijoss!



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