Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 18
XVII. Depois.


Notas iniciais do capítulo

Espero, sinceramente, não ser espancada quando vocês terminarem de ler esse capítulo. Lembrem-se de que o amor no coração é sempre o que vence, hein? Não se esqueçam de comentar (seja palavras de ódio ou de amor ♥).



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POV Bella.

A água estava tão gelada que eu quase poderia sentir meus ombros sacudirem por vontade própria. Isso só aconteceu pelos dois segundos que Edward não entrou comigo no box e sorriu tortamente, passando os olhos discretamente, mais outra vez, pelo meu corpo nu. Ele já havia visto tudo que se podia imaginar, ele já havia me tocado da cabeça aos pés, então por que minhas bochechas insistiam em corar? Eu tentava dizer a minha mente que aquilo era besteira, que eu não deveria me envergonhar. Não mais.

Edward, porém, era dono do corpo que era interessantemente bonito, ele quem deveria ser observado mesmo que eu já houvesse o olhado de todos os ângulos possíveis. Sempre tinha alguma coisa a qual me passara despercebido, como os sinais de suas costas que eu adorava ficar olhando ou passar minha mão e perceber que eles não tinham elevação, pareciam pintinhas discretas e encantadoras.

Como eu estava falando antes de me perder pensando sobre o corpo de Edward, a água estava gelada nos dois primeiros segundos antes de as mãos de Edward estar acariciando meus braços, afastando o arrepio por causa da gelidez. Não funcionou já que eles voltaram a ficar arrepiados por causa de seu toque inacostumável e sorrindo com compreensão para mim, ele moveu meu corpo um pouco para trás, ficando debaixo do chuveiro juntamente comigo.

Ele ficava incrivelmente lindo com os cabelos ensopados escorridos na testa e os pingos de água fazendo seus olhos ficar prensados. Toda vez que eu o via daquele jeito, mais lindo do que eu estava habituada, eu me perguntava como em sã consciência Tanya havia deixado um homem como esse escapar? Eu sabia, sabia muito bem até, que ele tinha defeitos, mas as suas qualidades gritavam enquanto suas falhas sussurravam. Eram poucas, pequenas, bobas e que eu poderia me acostumar.

Eu queria me acostumar.

Seus lábios escorregaram para os meus só por um momento. Ah! Destes, eu nunca me cansaria, nem mesmo se eu fosse forçada a ficá-lo beijando vinte e quatro horas por dia. Seria um prazer poder cumprir essa penitência. Como havia alguém capaz de recusar o beijo de Edward? O modo como ele chupava lentamente o meu lábio superior e o modo como suas mãos inquietas deslizavam por minha cintura, acariciando-a, apertando-a, era impossível de se recusar. Impraticável.   

— Viemos para o banheiro tomar banho, não foi? — Sua pergunta se deu por meio de um arfar nervoso contra os meus lábios.

Eu sorri, abrindo meus olhos somente para ver os seus fechados. Sua testa estava franzida, em uma tentativa quase perdida de se controlar.

— Era essa a proposta. — Eu respondi depois de um tempo, subindo a mão de sua nuca para os seus cabelos molhados.

Ele suspirou e eu fechei meus olhos, sentindo sua testa molhada se encostar com a minha.

Só mais dessa vez. — Ele sussurrou, tomando meus lábios.

Sua mão deslizou sem muita dificuldade para a minha coxa e a levantou, trazendo-a até a sua cintura. Não foi complicado — nunca era — para ele se encaixar novamente em mim e voltarmos à maravilhosa sensação que estávamos envoltos a menos de uma hora atrás. Os gemidos que ele me segredava e que eu o segredava igualmente sendo abafados pela água constante que caia furiosamente contra o chão e contra nós.

Foi um grande gasto de água somente naquela tarde ou sei lá em que parte do dia em que nós estávamos, não me interessava saber sobre essas amenidades se existiam os lábios de Edward e estes estavam disponíveis para mim, apenas a alguns centímetros de distância.

Quando finalmente terminamos de tomar banho, Edward logo me impediu de vestir alguma coisa decente e me compeliu a usar uma camisa dele. Não foi esforço nenhum, claro, a camisa estava com o cheiro de seu perfume concentrada em toda a sua longa e larga extensão e era mais confortável do que o que eu planejava vestir antes — e esses motivos já eram o bastante para eu aceitar sem pensar duas vezes.

Enquanto Edward se arrumava, eu saí para a varanda que tinha em meu quarto. Tomar um ar sempre fazia bem e ver a rua calma e silenciosa era relaxante, aquele bairro em especial me acalmava assim que eu colocava meus olhos nas árvores de baixo-porte e nas ramificações coloridas que ela possuía. Era uma boa visão. Ficou melhor quando senti lábios úmidos e mornos pousando na lateral de meu pescoço e mãos puxando a minha cintura com os dedos firmes. De encontro ao corpo de alguém que era ávido. Edward.

— Vem, vamos comer. — Ele me chamou, encostando o rosto em meu ombro e observando a rua calma junto comigo.

Eu gostava daquela sensação, a sensação que tudo era tão certo que criaríamos uma rotina a qual seguiríamos duramente. Mas eu logo caia na minha realidade de que amanhã esse sentimento seria reduzido ao pó porque o relacionamento que Edward e eu tínhamos, apesar do amor, nada era certo. Eu sabia, ou pelo menos eu queria acreditar que eu sabia sobre isso e já tinha me conformado.

Eu me conformaria se isso nos fizesse ficar bem sem brigar por todo o tempo que pudesse. Não queria nunca mais ficar uma semana inteira sem notícias dele e pensando que tudo tinha acabado de verdade, não queria sentir aquela desesperança de novo. Era a pior coisa do mundo que eu já tinha provado em toda a minha mínima existência. Talvez eu fosse lidar com coisas piores, mas por aquele momento brigar com Edward era pior.

Eram cinco horas da tarde e ainda estava claro, dando a impressão que as horas que o relógio marcava estavam erradas. Eu tinha a impressão de que tinha passado pouco tempo dentro do quarto com Edward, mas ao mesmo tempo quando eu me lembrava de todas as coisas que aconteceram eu poderia jurar que era o dia seguinte. Uma contradição que eu ainda não descobrira para qual lado eu dava mais crédito.

Edward tinha me ajudado a fazer umas gororobas para comer já que não sabíamos se jantávamos ou almoçávamos. A fome gritante, porém, decidia que não tínhamos tempo demais para pensar naquilo, então comemos a primeira coisa que vimos dentro do armário que precisava ser recarregado.

Atum com macarrão, tinha coisa melhor? Para a minha barriga faminta, qualquer coisa servia, então comi com mais rapidez que o normal, minha boca salivando a cada garfada que eu dava no macarrão. Edward, claro, estava igualmente esfomeado, comendo garfadas cheias em menos de cinco minutos. Repetimos, óbvio, ficar um dia inteiro sem comer era demais para o meu estômago que clamava por comida a cada três horas.

Valeu a pena sentir fome.

Quando estávamos no segundo prato, chegamos até a conversar uma vez que a pior parte da fome havia se passado. Na verdade, conversamos mais que comemos. Estávamos desprezando Charlie juntos e isso era uma coisa que me fez amá-lo mais ainda. Era bom ter alguém para compartilhar a repulsa que eu sentia por meu próprio pai, repulsa essa que era muito bem correspondida, eu sabia.

— Você vai ter que ir agora? — O indaguei com os olhos cravados nos pratos que eu despejava dentro da pia para lavar depois.

Como de manhã, ele encaixou as mãos em minha cintura e se encostou a  pia, encostando-me de frente ao corpo que agora só tinha a diferença de estar sem a camisa, deixando o peitoral atraente livre para meus dedos passearem sem ter que enfrentar a barreira do pano desnecessário.

— Você quer que eu vá? — Ele perguntou, abaixando o rosto para procurar meus olhos.

— Você já sabe a resposta, Edward. — Revirei meus olhos e passei a mão em sua nuca, deslizando-a por sua clavícula e a parando em seu braço. — Não quero que vá embora, isso não está transparente?

— Como água.

— Então… fique.

— Eu vou — Assim que ele falou isso, um enorme sorriso assaltou o meu rosto e o vendo, Edward sorriu também, acariciando a minha cintura. — Só tenho de ir pegar algumas roupas para ir ao trabalho amanhã. Eu vou estar aqui em menos de uma hora, prometo.

— Obrigada. — Suspirei.

Pela sua expressão e o sorriso dele, eu pude perceber que o meu agradecimento por isso não era tão esperado, nem sequer normal. Eu o estava agradecendo pelo quê exatamente? Por ficar comigo essa noite quando não pode? Pela sua presença proibida? Talvez por mais que isso, mas não importava de verdade. O beijo rápido que ele me deu nos lábios confirmara a sua aprovação mesmo que surpresa.

— Eu volto logo. — Ele prometeu.

Eu suspirei com pesar e assenti.

POV Edward.

Queria poder ter sido mais inteligente e ter pensado em trazer roupas para poder ficar a noite com Bella, mas aí eu me lembrei de que eu estava bêbado quando eu parei o carro de qualquer jeito na porta dela. Tão bêbado que o carro estava torto contra a linha do asfalto, uma roda passando para cima do encostamento. Eu tinha de me lembrar de nunca mais beber e dirigir em seguida.

Eu não suportava pensar em sair de perto da Bella, no entanto eu sabia que tinha de ir pegar a maldita roupa e claro, trazer mais para que eu pudesse passar mais tempo perto dela. Tempo o qual parecia correr e parar logo quando acontecia algum maldito empecilho que me impedia de ficar mais. Era o que eu queria, ficar junto de Bella sem ter de me preocupar com Habeas Corpus, um demônio ruivo e todas essas merdas de visitas que eu tinha de fazer a Carlisle.

Antigamente, Tanya era quem fazia todas as visitas a ele já que ela quem era sua advogada, mas agora ela dizia estar se sentindo indisposta demais para sair de dentro do quarto. Eu particularmente achava que era falta de interesse e cansaço por todos esses anos lutando por um Habeas Corpus que só estava perto de sair agora. Ela deveria estar se sentindo animada com a quase finalização do processo, mas era ao contrário.

Falar com Carlisle era um motivo bom o suficiente para que quando eu chegasse ao apartamento meu humor estivesse o mais rabugento possível. Falar com ele desgastava a minha capacidade de perdão, ele sempre o pedia, nunca se esquecia de pedir perdão por tudo que ele fizera a mim e principalmente a Alice. Antes ele pedia para que eu acreditasse nele, acreditasse que ele havia caído em uma armação, mas todos os indícios eram nulos e ele não os falava para mim.

Era impossível acreditar em alguém que não lhe dá nenhum maldito motivo para isso. Eu até cheguei a acreditar nele nos primeiros dias, perguntar-me como havia acontecido isso, mas eu fui atrás de provas e a tentativa de estupro foi comprovada. Então eu parei e me conformei com a verdade que me foi uma tapa na cara na época. Tudo que eu me perguntava era: Como meu pai havia sido capaz de fazer isso?

Ter Cullen em meu sobrenome era motivo de vergonha.

Assim que abri a porta do meu carro, o cheiro de álcool atingiu minhas narinas com um ardor incômodo que me fez enrugá-las. Eu havia bebido aqui dentro do carro? Que ato de inteligência vindo de minha parte! De qualquer jeito, para tentar me livrar daquele odor, abri as janelas e deixei que o ar entrasse e purificasse o que eu havia sujado em minha bebedeira desenfreada.

Minha promessa de chegar com uma hora de antecedência foi para o espaço quando eu notei o engarrafamento que eu teria de enfrentar. Durou uma hora certa para que eu estivesse dentro do estacionamento do prédio, em minha vaga que agora não me era tão família quanto me parecia antes. Prova disso foi que eu demorei mais de cinco minutos para alinhar o carro de modo que eu não estivesse na área do vizinho explosivo que sempre reclamava.

Eu definitivamente preferia casas, apartamento tinha o fator de pegar o elevador que vinha cheio de gente. Eu odiava aquilo, odiava a merda da sensação que causava sentir aquela caixa de aço subindo com uma lentidão exacerbada para o último andar. Tanya, porém, teimou que queria ficar em apartamento quando nós chegamos a Los Angeles e naquela época eu aceitava qualquer decisão que ela tomasse. Um besta, isso que eu era.

 — Olha só quem decidiu dar as caras por aqui! — Alice exclamou quando eu abri a porta.

Ela estava sentada no sofá com Jasper ao seu lado, o braço dele sobre os ombros magros dela. Ele parecia quase constrangido.

— Alice. — A repreendi.

— Você está com uma cara terrível, Edward, parece que… sei lá, passou a noite acordada. Parece, não. Você passou! — Ela arregalou os olhos.

— Não fale besteiras. — Murmurei, fechando a porta atrás de mim e procurando Tanya e toda a sua hostilidade com os olhos.

— Se for até onde ela está faça o favor de tentar esconder o seu pescoço. Tem um chupão enorme na lateral, está até com uns pontos roxos… que horror.  

A ignorei com veemência, olhando para Jasper.

— Então você estava querendo saber onde eu morava para isso, não é? — Minha voz era cheia de camaradagem e ele sorriu de lado, tirando o braço dos ombros de Alice para poder se levantar.

— Eu considerava te contar, mas… — Ele deu de ombro. 

— Era mais fácil você ter deixado de ser um donzelo e ter me pedido o número. — Resmunguei. — Eu iria descobrir de qualquer jeito, deveria saber disso.

— Eu sabia.

— Então apenas preferiu me encarar depois? — Não pude evitar soltar um riso. — Medroso. — Zombei, batendo em seu ombro.

Não me demorei muito na sala, Alice não estava de bom-humor e estava sempre me mandando os olhares hostis que ela aprendera com Tanya. Eu ainda não entendia o porquê de ela estar daquele jeito para o meu lado, eu sabia que não estava passando muito tempo dentro do apartamento, mas ela também não estava. Alguns dias ela passava até de noite com Jasper e sendo desse jeito ela não tinha que me cobrar presença.

Arrumei minha bolsa sem muita atenção, jogando dentro da mesma tudo que estivesse limpo e sem nenhum tipo de imperfeição. Eu não planejava ficar mais de três dias completos na casa de Bella, claro que não, eu ainda tinha que manter o noivado que em breve seria rompido com Tanya. Eu não aguentava mais ter que ficar com Tanya enquanto escondia Bella, não era de nenhum modo justo com ela.

Eu sabia que ela queria ter alguma coisa certa e eu também queria isso com a Bella, seria tudo mais fácil se eu pudesse entrar e sair de sua casa e não ficar contando o tempo que eu passava com ela. Isso não era uma vida justa e eu queria facilitar as coisas para o nosso lado.

Meus planos de falar com Tanya e acabar tudo que eu tivesse com ela, ruíram e se tornaram pó assim que eu bati na porta de seu quarto e com uma voz fraca, ela me respondeu que eu podia entrar. Era a primeira vez que ela falava comigo sem ser em um tom de nojo ou algumas das várias coisas que ela apresentava sempre que dirigia sua palavra a mim.

— Eu quero falar com você. — Murmurei.

— Ótimo porque eu também tenho algo a lhe informar. — Ela jogou o lençol grosso que estava a cobrindo para o lado e fungou, passando a mão pelo rosto que outrora eu achava não poder existir mais bonito em toda a terra.

Ela não estava mais tão bonita quanto antes, todos podiam perceber isso com facilidade. Seu rosto estava tão pálido que algumas veias apareciam, suas bochechas estavam magras e seus olhos perderam aquele brilho que era tão comum antes. Mas não era por aquele motivo que eu queria a deixar. Junto com a sua aparência saudável, seu bom-humor também havia se despedido sem muito alarde.

— Como é o nome dela? — Tanya perguntou indiferentemente enquanto mexia em alguma coisa em seu guarda-roupa.

— De quem?

— Da mulher com quem está me traindo. Ora, Edward, você quer que eu ache o quê? Você fica dias fora de casa e quer me enganar fingindo-se de sonso quando eu lhe pergunto o nome dela. Como ela se chama?

— Não é da sua conta.

Ela sorriu, virando-se para mim com a expressão neutra.

— Tenho certeza de que não.

— Você não tinha algo para me falar, não era? — Perguntei, impaciente.

— Na verdade para te mostrar… — Ela estendeu um envelope branco em minha direção e suspirou, olhando para o chão quando eu o peguei.

No envelope tinha impresso o símbolo de um hospital que só fazia exames e a partir daquele momento eu já tinha ideia do que estava por vir, mesmo esperando com todas as minhas forças que não fosse o que eu estava pensando. Não podia ser! Não tinha possibilidades viáveis — ou pelo menos era o que eu tentava me dizer. Eu sabia que haviam possibilidades, poucas, mas haviam.

No alto do papel tinha a confirmação do meu temor. “Teste de gravidez” era o que tinha escrito no maldito papel branco. Tinha também um monte de dados de Tanya os quais eu passei direto, meus olhos desesperados para a confirmação definitiva de que eu tinha estragado tudo. Tudo de uma vez só, que grande merda.

Positivo, era o que tinha escrito no final do papel em negrito, destacando o resultado. Eu reli aquela palavra mil vezes somente para perceber que não havia chances de um “Positivo” ser confundido com um “Negativo”. Não havia chances algumas, era o que estava informando ali. Era definitivo.

— Tem… — A voz de Tanya falhou por um momento e ela pigarreou baixo. — Ele tem catorze… três meses e duas semanas, para ser mais específica. Foi na última vez que dormimos juntos. Você se lembra?

Tencionei a minha mandíbula e olhei para a parede em vez de encarar a ruiva que estava quase em lágrimas a minha frente.

— Eu não vou te pedir para ficar comigo porque eu não quero ficar com você. Não mais, Edward. As coisas não são como antes e… não tem a mesma coisa. — A respiração dela foi alta e pesada, dificultosa. — Eu sei que você está me entendendo. — Escutei os passos quase mudos dela contra o tapete e seus dedos em meu braço, cautelosos e gelados demais.

Ela virou o meu queixo em sua direção para que eu encarasse os seus olhos marejados e vermelhos de lágrimas que caíram mais cedo.

— Você deve ter entendido mais facilmente que eu já que você desistiu de nós mais rápido do que eu pensei em fazer… eu… sinto muito se as coisas entre a gente não deram certo. — As lágrimas escorreram em suas bochechas e ela comprimiu os lábios, soltando os dedos de meu queixo para passá-los por sua bochecha. — Eu sinto que a maioria da culpa foi minha porque eu sei que você tentou. Tentou para valer, eu admito. Eu apenas… eu não sentia vontade de tentar junto. Eu estava cansada, Edward.

Ergui o meu queixo e apertei meus dentes chegando a ter raiva de mim mesmo.

— Aonde você quer chegar?

— Eu não quero que o meu fi…

— Nosso, Tanya, nosso. — A corrigi duramente.

— Eu não quero que ele fique sem saber quem é o pai, mas se você quiser desse jeito, não vai ser eu quem vai lhe impedir. É preferível isso a um aborto…

— Você não me conhece mesmo, não é? — Indaguei e arranquei seus dedos de meu braço. — Eu nunca mataria um filho meu. Nunca. Não sei que tipo de pessoa você acha que eu sou.  

— Eu sei…

— Não, você não sabe! — Exclamei, exasperado. — Eu assumo as minhas responsabilidades, consegue entender isso? Eu assumo porque fui eu quem fez, não foi? Cabe lidar com os efeitos da irresponsabilidade.

— Fico feliz que pense desse jeito. — Murmurou e eu somente dei de ombros.

— E quanto a sua anemia? — A perguntei depois de ter respirado fundo.

Ela suspirou, demonstrando que ainda odiava falar sobre aquele assunto. Pela sua falta de respostas, eu presumi que seu tratamento havia sido interrompido em algum mês do ano retrasado, quando saímos da faculdade e viemos para Los Angeles. Apesar de discordar com aquela atitude vinda de sua parte, eu não me importei, tinha muita coisa acontecendo naquela época para pensar nessas amenidades.

Naquela hora, porém, não era exatamente uma amenidade a sua falta de preocupação com o tratamento. 

— Você vai continuar o maldito tratamento. — Murmurei, raivoso. — Por meu filho. — Completei por fim.

Tanya engoliu em seco e assentiu, limpando mais uma lágrima que escorreu de seus olhos e perdeu a velocidade em suas bochechas magras.

— Tudo bem, Edward. — Ela sussurrou.

— Se é só isso que quer me informar, eu vou embora agora. — Eu peguei a mochila pesada que eu tinha apoiado no chão e devido ao seu peso, caído para a frente. A coloquei nas costas e esperei que ela me respondesse algo.

Tanya parecia estar aérea, entorpecida demais para pensar em uma resposta boa o bastante para me falar. Toda a preocupação que lhe foi direcionada foi somente por causa do bebê que ela esperava, um bebê que tinha o meu material genético. Eu era bem sincero ao dizer que preferia que aquele pequeno feto não existisse, não agora, nem com ela, porém a gravidez dela era uma coisa da qual eu não poderia correr. Eu não era mais um garoto, tinha de assumir os meus erros e não fugir deles.

— Pensei que passaria a noite em casa. — Sussurrou. — Hoje.

— Eu não quero. — Tentei não soar áspero, aquela frase não era falada com o intuito de machucá-la, meu intuito era ser… franco sobre a situação das coisas.

Ela fechou os olhos — o que não adiantou nada porque suas lágrimas deram um jeito de escaparem e deslizarem por sua bochecha mais uma vez. Sua respiração se tornou entrecortada como se tivesse algo em sua garganta impedindo o ar de passar. Pareceu-me quase um som de sufocamento quando ela soluçou baixo, pondo uma mão na frente do nariz e da boca.

— Não chore. — Murmurei. Normalmente eu não era tão frouxo quando se tratava de lágrimas de outras pessoas se eu não conhecesse estas mesmas. Mas eu a conhecia, bem demais até. Eu sabia, por exemplo, que a única vez que ela derramara uma lágrima perto de mim foi quando seu pai falecera ano passado e só. Esse era o mínimo histórico de lágrimas vindas dela perto de mim.

Tanya evitava, ela sempre tentou e conseguiu ser forte nas frentes das pessoas. E eu era uma dessas pessoas das quais ela ocultava as lágrimas que eu sabia muito bem existirem quando ela estava tomando banho, sozinha. Ninguém é forte o tempo todo e apesar de Tanya querer muito assumir sua característica de força imponente, não conseguia. E essas tais vezes que ela falhava eram raras. Raríssimas.

Ela ainda estava de olhos fechados quando minha mão pousou em sua bochecha e meu polegar limpou as lágrimas de sua bochecha e logo outras novas e frescas estavam substituindo as antigas de forma rápida. Eu não iria a abraçar, não podia sequer imaginar que ela me abraçaria, mas Tanya o fez, envolvendo seus braços que me pareciam magros demais ao meu redor e me apertando.

Ela nunca me abraçara daquele jeito. Nem mesmo quando ainda éramos da faculdade e tínhamos toda aquela paixão para distribuir.

— Como chegamos a isso, Edward? — Ela perguntou, soluçando.

— Eu não sei.

— Eu sinto sua falta. — Confessou, pressionando o nariz em meu peito como se fosse fazer o mesmo de antes: sentir o meu cheiro e sorrir, levantar o rosto e me beijar docemente.

 — Eu também, Tanya, eu também. — Murmurei com o rosto enterrado em seus cabelos que antes eram menos quebradiços e mais cheirosos.

Naquele momento, pelo menos, o que eu disse era verdade. Eu sentia sua falta, sentia falta de como tudo era antes.

— Então… volte. — Ela levantou o rosto para mim e me encarou, os olhos azuis implorando de um jeito como nunca fizeram antes. — Podemos recomeçar, Edward, podemos… criar o nosso filho juntos.

— Tanya…

— Você a ama, não é? — Sua voz foi suave. — Como você pôde amar alguém tão facilmente? Em somente algumas semanas…

— Ela é fácil de ser amada. — Sussurrei.

Tanya soluçou mais uma vez e pressionou o nariz contra o meu peito com mais força até me soltar e limpar com as palmas das mãos os dois lados de sua bochecha. Ela me olhou e seus olhos se encheram de lágrimas de novo e então em uma atitude que eu não esperava que ela tomasse, Tanya pegou sua mão direita e tirou o anel que estava pousado em seu dedo anelar. O mesmo que eu colocara há um ano. 

Ela olhou para a aliança por uns instantes e depois, pegando a minha mão — seus dedos ainda continuavam estranhamente gelados — direita, analisou rapidamente, percebendo a ausência da aliança. Um sorriso amargo nasceu em seu rosto e ela pousou o pequeno objeto reluzente na palma da minha mão, suspirando.

— Você vai ficar aqui enquanto estiver esperando o bebê. — A disse. — É melhor que fique próxima caso algo acontecer.

— Sim.

— Eu vou cuidar de você — Pausei e olhei através dela, para a parede. — E do bebê.

— Não sei como planeja fazer isso estando mais longe que nunca.

— Vou ser mais presente. — Prometi. — Mas eu tenho a minha vida também…

Despedimo-nos com poucas palavras e antes de sair, deixei a sua aliança pousada em cima da pequena estante a qual suportava a televisão. Ela estava absorta demais pegando uma manta dentro do guarda-roupa para notar, entretanto em breve — esperava que quando eu tivesse bem longe — ela notaria. Tanya era detalhista, qualquer coisa que estivesse fora do lugar e ela percebia em apenas minutos.

Jasper já havia ido embora quando eu apareci no sofá, somente Alice estava sentada ao sofá com o notebook nas pernas, as sobrancelhas franzidas. Sua concentração naquilo que estava fazendo era tão grande que quando eu me arrastei para a sala, ela sequer virou o rosto para me observar. Ao contrário, ela só se virou quando eu pigarreei e aturdida, minha irmã olhou para a minha camisa e depois para o meu pescoço.

Alice engoliu com dificuldade e desviou os olhos de mim para a janela aberta.

— Você, hum, está indo para onde agora? — Perguntou, sua voz se mostrando forçadamente impassível.

Eu a conhecia bem demais para saber que tinha algo errado, mas minha pressa era maior do que qualquer coisa que ela tivesse me escondendo.

— Alice…

— Tudo bem, eu sei que é difícil falar a palavra “amante”. Mas só me diga se… você está indo para a casa dessa tal mulher.

— Não é “amante” — Vociferei, ofendido por Bella. —, é namorada, não há mais compromisso algum entre eu e Tanya.

— Ah! — Ela fingiu surpresa. — E quando é que você vai me apresentar essa tal namorada?

— Quando eu e ela quisermos.

— Tudo bem então, Edward, pode voltar para a garota que você usa e finge estar apaixonado. — A voz dela foi indiferente e eu demorei um momento para assimilar suas palavras. Eu recusei de início as suas palavras até notar que, sim, minha irmã havia falado aquilo para mim.

— Eu não a uso, Alice, eu a amo. Será que é tão difícil para você aceitar isso?

Ela deu de ombros e bufando de raiva, saí do apartamento.

A rua estava livre, não tinha trânsito nenhum, mas de alguma forma eu tive que dirigir lentamente por causa de meus pensamentos que voavam de volta para Tanya e o bebê que ela carrega em seu ventre. Tudo que eu me perguntava era como eu poderia ter sido tão estúpido a esse ponto. Bella, mesmo que não demonstrasse, ficaria arrasada — nas melhores das expectativas — e eu não estava com vontade de acabar com o clima leve em que nos encontrávamos.

Comecei a pensar na desculpa que a daria somente quando estacionei o carro na frente da casa dela. Pude vê-la espiando pela janela e a fechando rapidamente, abrindo a porta da frente em segundos e acenando da porta de entrada com a mão. Bella ainda não aparentava nenhum sinal que estava raivosa por meu notável atraso e eu esperei que ela permanecesse naquilo pelo resto do dia. Pelo menos até o assunto se tornar parte do passado.  

— Hey! Estaciona na garagem.

A garagem era grande o bastante para abrigar o Sedã Cruze vermelho que era sexy como a dona e o meu volvo sem grandes problemas. Não demorei muito para ajustar o carro, na verdade eu nem olhei se ele havia ficado alinhado com a visão privilegiada que eu tinha das coxas de Bella quase desnudas pela camisa que eu lhe dei ficar curta. Depois, se eu me lembrasse, eu lhe diria para fechar a cortina da janela que dava para a garagem, qualquer um poderia vê-la como eu estava vendo e com certeza a ideia não me agradava.

— Volte já para dentro, suas coxas são bonitas demais para serem amostradas para alguém sem ser eu. — Disse a ela assim que saí da garagem.

Ela estendeu o braço para fechar a tampa da garagem com o controle e com o outro que estava livre, envolveu o meu pescoço e me abraçou, beijando o meu queixo carinhosamente enquanto sorria.

— O jantar ainda está quente. — Bella disse. — Você chegou na hora certa.   

Deitamo-nos cedo naquela noite, logo após escovarmos os dentes depois do jantar. Eu não dormi imediatamente, mas ela, sim. Parecia estar tão cansada como se tivesse trabalhado o dia inteiro, porém eu sabia que a culpa era atribuída ao desejo enorme que acumulamos. Não sei para a Bella, mas me parecia que desde que dormimos juntos, havia se passado alguns dias quando na verdade havia sido essa manhã.

Aposto que ela não se sentia dessa mesma forma, ela não havia tido um dia tão cheio de informações quanto eu. E sim, eu tinha consciência que em breve teria de contá-la a respeito da gravidez de Tanya, porém eu não havia tido sequer coragem de contá-la sobre meu rompimento. Um assunto levaria a outro e eu não queria contá-la aquilo agora, queria sentir pelo menos a sensação de paz uma vez mais.

Perguntei-me se a felicidade de saber que eu não tinha mais nada com Tanya sobrepujaria a raiva que ela teria ao saber que ela estava grávida. Eu optei em acreditar mais na primeira, mesmo sabendo a lógica que a segunda opção possuía — lógica a qual eu tinha quase certeza que Bella perceberia na hora. Agora, com o bebê vindo, eu tinha um laço mais forte com Tanya, um laço que eu não poderia me desfazer. Ela era mãe do meu filho. Meu filho.

Acordei-me mais cedo que ela naquele dia, minha mente despertando pela bagunça que meus pensamentos se encontravam. Bella parecia adoravelmente tranquila dormindo agarrada com o meu lençol, suas coxas pálidas e curvilíneas se mostrando com perfeição pela camisa que subira durante o seu sono conturbado.

Tomei banho no banheiro do corredor para que o trepidar da água contra o piso não a acordasse e depois entrei novamente no quarto para me vestir.

Como eu ainda estava mais que adiantado e eu realmente não chegaria cedo naquele trabalho desgastante, fui fazer o café-da-manhã como em um modo de tentar recompensá-la pelas notícias que viriam a seguir. Eu sabia que era um modo miserável de pedir desculpas pelos meus erros, mas era o único jeito que eu tinha em mente. Bella não iria ser comprada somente por um café-da-manhã, eu sabia, eu a conhecia. Melhor do que ninguém nunca a conheceu presunçosa, minha mente lembrou.

Ela acordou relativamente cedo, apoiando as mãos em minha cintura para poder se erguer e beijar o meu pescoço com os lábios que, independente do tipo de beijo, me enlouqueceriam em apenas segundos. Eu realmente gostaria de saber o que me rendia tão fácil a ela desse jeito, mas logo parei de procurar por respostas quando virei-me para a minha frente e a olhei.

Linda, assim como todas as vezes que ela se acordava com as bordas dos olhos inchados e o rosto amassado e corado.

— Bom dia, meu amor. — Sussurrei a ela.

Bella sorriu, se derretendo daquele jeito que somente ela tinha a capacidade de fazer. Deixou-se ser beijada sem falar nada, seu hálito de creme dental esquentando a pele de meu queixo…

Estaríamos aos beijos se a maldita campainha não tivesse tocado e nos interrompido com o seu som estridente que já estava me irritando de verdade. Bella me mandou ficar na cozinha, caso fosse alguém que nos conhecesse, mas eu não segui sua ordem, eu queria que todos soubessem que eu estava com ela e isso era uma coisa certa. Ela era oficial e livremente minha, todos deviam saber disso.

Eu estava apoiando as mãos na cintura de Bella e sussurrando que deveríamos tirar esse tipo de campainha gritante da casa quando ela abriu a porta. Eu podia ver o sorriso leve e distraído em seus lábios murchando na medida em que ela reconhecia a pessoa a sua frente. Não estava olhando para a rua, somente para o seu rosto, no entanto diante a sua reação, fui forçado a olhar para frente.

— Alice? — Bella foi a primeira a criar uma reação decente. 


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Notas finais do capítulo

Eu poderia postar todo dia já que eu tenho até o capítulo 36 escrito, mas acredito que os poucos comentários demoram muito e fica impossível de fazer isso. Pensem nisso. E ah, gente, obrigada mesmo a quem comentou no capítulo passado! Amei ler e responder todos ♥ posto quando vocês quiserem que eu poste. Megg, como assim? Simples: comentem. Espero que tenham gostado desse capítulo, hein? ♥ beijos e boa noite!