Acordei com uma maldita dor de cabeça e um humor de lobo com rabo pisado. A luz entrava pelas janelas sem cortinas da casa que minha mãe deixou para mim. Seth ficava nos dias de patrulha, o que me deixava com muitas saudades dos dias em que meu pai ainda vivia. 

Mesmo aborrecida, levantei da cama e comecei a catar as roupas espalhadas pelo chão. Havia muita bagunça, pois eu não arrumava nunca já que minha mãe não estava mais ali para me obrigar. Seth dormira em seu antigo quarto e, provavelmente, já havia ido embora. Eu estava sozinha com meus pensamentos e sabia que seria um péssimo dia. Logo, eu estaria pondo fogo na casa e correndo nua pela floresta. Mentira, mas eu estava muito irritada.

De três coisas eu tinha certeza:

1- Aquele fenômeno havia sido provocado por algo sobrenatural;

2- Eu sabia quem seria capaz de algo tão grandioso;

3- Era assustador o que aquilo tudo poderia significar para mim.

A única incerteza era o porquê. Se ele estava mesmo fazendo aquilo, qual seria o motivo? Como ele poderia manipular algo tão instável quanto a natureza, de tão longe? Por que em La Push? Por que eu sentia que aquilo era um sinal para mim? Eu tinha certeza de que enlouqueceria se continuasse tentando descobrir algo. Eu precisava fazer algo. Só não sabia o quê.

O tempo estava a cada dia mais quente, então saí de casa apenas com short jeans, uma regatinha fina com uma camisa xadrez aberta por cima e velhos tênis imundos que eram do Seth antes de ter um surto de crescimento. Ainda agradeço não ter tido um desses também. Nunca aceitaria calçar 43...

Andei sob o sol quente por cerca de vinte minutos até chegar àquela casa que um dia tanto frequentei, mas que desde a traição não pude sequer olhar. Bati na porta e ouvi que alguém caminhava pesadamente pelo lado de dentro até tocar a maçaneta e abrir, me olhando com olhos surpresos e, um pouco assustados.

- Oi.

- O.. oi! - seu rosto estava tenso e suas cicatrizes escondidas sob mechas dos longos cabelos.

- Hum... posso conversar com você?

Ela acenou e eu a seguia para dentro de casa. Entenda que era a atitude mais difícil que eu já havia tomado desde nosso rompimento. Todos esses anos meus dias tinham sido mais difíceis pelo simples fato de não poder falar com ela. Desta vez seria diferente, pois não tinha nada a ver com o que nos acontecera antes, mas ainda assim era difícil. E eu ainda era Leah Clearwater...

Sentada desconfortavelmente, Emily ainda me olhava espantada, mas eu não conseguia dizer o que queria e precisava. Ela se moveu, lentamente.

- Pensei que nunca mais viria aqui... que nunca mais falaria comigo de novo...

- Também pensei, mas algo aconteceu e não entendo o motivo dessa necessidade repentina de falar com você sobre isso.

- Ainda que não acredite, saiba que sempre estive aqui por você e que teria evitado toda aquela loucura se tivesse escolha, mas...

- Você não tinha. Sei que não. Mas isso não tornava as coisas mais fáceis. O maldito destino e essa coisa de lobo não tinha o direito de nos controlar, mas fez. Não é sobre nada disso que quero falar, se me permite...

- Pode me contar o que for! Estarei aqui por você. - neste momento, seus olhos brilhavam e uma cascata de lágrimas irrompia em seu rosto. Não pude conter a emoção e quase chorei também, mas eu não tinha mais água salgada no corpo...

- Algo muito estranho está acontecendo.

- Eu sei. Sam me contou. - ao dizer seu nome ela baixou a cabeça e ficou olhando para as próprias mãos.

- Mas ele não te contou se sabe o que é ou de onde vem, contou?

- Não...

- Ele não sabe. Só eu sei e, talvez o Seth, mas você precisa guardar esse segredo, por enquanto! Sam não pode saber de nada. Ninguém pode, até que eu resolva isso.

- Mas, como? O que você sabe sobre isso?

- Sei que fez aquilo. Só pode ser ele, mas ainda não sei porquê.Foi o sangue-suga egípcio, aquele que...

- manipula os elementos! Lembro-me dele, claro! Ele não é como os outros. É simpático, doce e não tem aquele olhar assassino. É quase como um Cullen.

Fiquei surpresa com a descrição de Benjamin, mas só podia concordar. Ele era mesmo diferente e, por alguma razão, eu estava diferente.

Deixei Emily sentindo-me mais leve. Ela sorria qunado me deu um abraço de despedida e eu retribuí. Estava mais difícil ser Leah, mas ao menos, eu poderia contar com alguém. Eu estava prestes a enlouquecer, mas não sem lutar. Um cara não acabaria comigo pela segunda vez. Muito menos um sangue-suga. O problema é que sentia algo aflorando no peito, mas não era o número do meu sutiã.