- Quem é você? – Perguntei assim que o susto passou

- Pode me chamar de Lucem.

Ele falou com uma voz suave, bonita e quase hipnótica. Quando o olhei vi que era um homem alto e com longos cabelos loiros. Estava usando óculos escuros. Seu rosto não me era estranho. Eu sentia que o conhecia de algum lugar.

- Como entrou na minha casa? – Perguntei um pouco mais alto para que minha mãe pudesse escutar.

- Eu fui convidado... Há muito tempo pelo seu pai.

Ao dizer isto tirou os óculos e se virou para mim. Eu pude ver os seus olhos. Eram de um tom estranho de cinza claro. Me perdi um pouco naquele olhar, que era tão hipnótico quanto sua voz, ate me lembrar do que ele tinha dito.

“Convidado pelo meu pai? Como assim?”

- O Senhor disse que...

- Por favor, me chame de Lucem, afinal o Senhor esta no Céu não é?

Ele disse isso com um sorriso estranho no rosto.

- Tudo bem. Você disse que foi convidado pelo meu pai?

- Isso mesmo.

- Vocês eram amigos? – uma estranha excitação tomou conta de mim. Um amigo do meu pai?

- Podemos dizer que éramos sócios. Mas você não me respondeu.

- Não respondi o que?

- Não há nada que você faria pela garota? – Ao dizer isto seus olhos emitiram um brilho estranho e eu me senti estranho, como se minha mente estivesse voando. Não respondi, pelo contrario, me calei e fiquei olhando pra calçada da frente onde Mabi e Farofa riam de alguma piada. Ao ver que eu não respondi Lucem tornou a falar, mas desta vez sua voz saiu um pouco mais forte:

- Você olha para aquela garota com um olhar de quem ama. Você a deseja acima de tudo? Eu posso ajudá-lo.

Isso já estava ficando estranho. Quem ele pensava que era? Entra no meu carro e começa a falar como se me conhecesse.

- Olha Lucem, não quero parecer grosso e mal-educado, mas eu estou atrasado agora e...

- Tudo bem. Eu entendo que deve ser difícil aceitar que você deseja alguma coisa que não pode ter. Você queria estar lá, com ela não é? “Por que Mabi esta nos braços dele e não nos meus?” Você se pergunta isto com frenquencia. Na escuridão do seu quarto você faz planos para um futuro, futuro este que você deseja passar com a irmã do seu melhor amigo. Você espera que um dia tudo vá melhorar não é? Um dia Mabi será sua. Um dia entendera seus sonhos. Um dia saberá o que é ter um pai – enquanto ele falava uma tristeza foi tomando conta de mim. Ele estava certo. Eu era assim, sempre esperando que as coisas melhorassem, mas o que eu fazia? Nada! Apenas ficava tendo piedade de mim mesmo.

“você não há quer?” Eu a quero mais do que qualquer outra coisa.

Eu olhei em direção a rua e lá estava ela. Linda. Parecia um anjo. Estava sorrindo. Estava sorrindo pra ele!

“Deixe-me sozinho” Foi tudo o que eu consegui dizer.

- Você está sozinho Thiago, mas só porque quer. Eu posso te dar tudo.

- Por que você quer me ajudar?

- Seu pai lhe abandonou e eu gosto de você e só quero ajudá-lo. Pense no que eu te disse. Mabi pode ser sua. Há quantas noites você não dorme sem o uso de calmantes? Mas tudo bem, você quer ficar sozinho, eu vou embora. Eu voltarei quando tiver cansado de apenas olhar pra ela.

Lucem colocou os óculos e saiu do carro. Mas ele deixou para trás um rastro de tristeza. Era estranho, de alguma maneira Lucem me passou confiança. Ele podia fazer a Mabi ser minha? Como? Será que ele era um amigo do meu pai? Eu fiquei tão perdido em meus pensamentos que nem notei quando minha mãe entrou no carro.

- Que carinha é esta meu filho? Você esta bem?

Eu apenas confirmei com a cabeça. Pensei em pergunta se ela conhecia este tal de Lucem, mas eu sabia que, assim como o cara de hoje cedo, ele só apareceu para mim. Para mim e para o meu pai.

Minha mãe tirou o carro da garagem e eu só tive tempo de ver Mabi, o amor da minha vida, perdida em um beijo com outro homem.