Visio Nocturna - Primeiro Desafio escrita por Kalevra


Capítulo 25
Capítulo 24




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Vitoria!

Assim que entramos na quadra eu senti a euforia e o nervosismo habituais que sempre aparecem no começo de cada jogo, mas desta vez era diferente. Eu não estava nervoso com medo de perder, pelo contrario eu sentia que poderia jogar sozinho contra o time adversário. As arquibancadas estavam lotadas com as cores vermelho e preto da St. Michael e Roxo e branco da Santa Madalena. Mesmo no meio de toda aquela gente eu pude distinguir a Mabi dos demais. Ela estava linda como sempre. Procurei pelo Rodrigo e pela Jessy, mas não os vi. 

O jogo começou e primeira certa foi do Flavio, um passe perfeito do Farofa. O primeiro período ficou 15x7 para nos.

“Saímos na frente com o dobro de pontos” O professor Alberto já foi falando assim que deu o primeiro intervalo “Eu quero mais entrosamento entre você, Thiago com o Patrick”. O Patrick era o Pivô mais alto do time por isso era sempre responsável por aproveitar os rebotes.

O juiz apitou o começo do segundo tempo e em menos de 10 segundos eu fui jogado no chão pelo Pivô do Santa Madalena. O Farofa mandou que eu mesmo cobrasse a falta. Seria uma cesta de 3 pontos, eu me concentrei e sussurrei “Esta é para você Mabi”. Eu senti um arrepio percorrendo o meu corpo e sabia que era a hora de arremessar. A bola foi direto na cesta. Não sei como, mas no meio de todas as vozes eu consegui escutar a da Mabi dizendo “parabéns Thi!”

 Depois dessa vieram varias outras no segundo período o placar ficou 35x14. Mais da metade dos pontos foram graças a mim e ao Farofa. A nossa vitoria foi decretada no terceiro período que deu uma diferença três vezes maior do placar adversário.

No vestiário o professor falou que a vaga no time titular era minha.

“E pensar que um baixinho como você ia se dar bem no jogo de hoje” Eu, o Rodrigo e Jessy fomos para uma sorveteria que fica em frente a nossa escola comemorar a vitoria e a minha “promoção a titular” Desde que chegamos lá o Rodrigo ficou fazendo piadinhas por causa dos meus 4 centímetros a menos.

“Deixa o Thiago em paz Rô. É maldade implicar com os baixinhos” A Jessy ria, mas eu fiz questão de lembra-la que eu ainda era maior do que ela. “Você ate que pode ser um pouquinho maior do que eu guri, mas ainda tem cara de menina”. Parece que ela nunca ia me deixar em paz por causa daquilo.

A conversa estava muito boa eu e o Rodrigo ficamos comentando sobre os lances do jogo e como era bom não ter aula.

- É, mas infelizmente só na primeira fase do campeonato que os jogos são durante a semana. Depois todos os jogos ficam sendo aos sábados.

Depois de um tempo e dois milk-shake’s eu resolvi deixar os dois a par dos últimos acontecimentos. Como eu ainda estava com a camiseta do basquete foi fácil mostrar a marca das presas da aranha. Eu mostrei o anel de Ouroboros, falei que quase ataquei o entregador de pizza – nesta hora a Jessy deu uma risada. O Rodrigo ficou calado o tempo todo apenas ouvindo, ele estava aliviado por nada ter acontecido com a Mabi. Foi quando eu falei que ele deveria ficar de olho nela que o Rodrigo fechou a cara.

- Você não entende Thiago? Foi só um sonho, você desmaiou a dois dias e deve ter alguma coisa errada na sua cabeça. Muitas vezes é comum a falta de sono causar alucinações. – Desde quando o Rodrigo era psicologo?

- Desde quando você é psicologo? Ate onde eu sei você nem gosta de medicina.

- Não precisa ser nenhum especialista para saber que você esta misturando sonho com realidade cara.

Aquilo me deixou muito nervoso e antes que eu pudesse perceber já estava de pé e falando mais alto.

- Eu não estou misturando nada! Olhe para o meu braço, a marca da mordida da aranha esta aqui para quem quiser ver. E por falar em “ver” você narrou uma historia ate mais surreal que a minha. Agora você vai me dizer que o Lucem também é fruto da minha imaginação? Que eu sonhei com o novo professor antes mesmo de conhecê-lo? Você só esta assustado e com medo de perder a sua irmã, mas quando ela estiver morta não venha me dizer que eu estava certo.

Eu não sabia que a mão do Rodrigo era tão pesada. Assim que aquelas palavras saíram da minha boca eu tive vontade de as engolir. O Rodrigo simplesmente se levantou e me deu um soco no rosto quase me derrubando no chão. A Jessy soltou uma exclamação e segurou o braço do Rodrigo que apenas se desvencilhou e saiu da sorveteria sem dizer nada. Algumas pessoas que estava lá ficaram olhando e o Sr. Otavio, dono da sorveteria, foi perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de gelo. Eu que estava a ponto de explodir não respondi nada, apenas me sentei na cadeira e fiquei nutrindo uma raiva muito grande de mim e mais ainda do Rodrigo.

A Jessy porem o pediu um pouco de gelo e desculpas pela confusão.

- Você pegou pesado também ne guri. Ta que a garota é o amor da sua vida, mas antes disto ela é a irmã do Rô. Não precisava ter falado aquilo.

Eu fiquei calado observando o Sr. Otavio trazer uma espécie de bolsa de gelo.

- Eu sei que exagerei Jessy e ate mereci o soco, mas ele praticamente me chamou de louco.

A Jessy pegou a bolsa de gelo, se sentou do meu lado e começou a falar. “Não foi isso não seu cabeça dura.” Ela colocou a bolsa no meu rosto. Na hora o gelo só fez doer mais, mas em pouco tempo minha bochecha parou de doer. “Não estamos duvidando de que tem alguma coisa errada acontecendo, só achamos que ao dormir você pode ter sonhado com tudo isto. Ontem você ate caiu e bateu com a cabeça no chão e também o Lucem me pareceu um pouco suspeito. Eu senti e ainda sinto um arrepio quando chego muito perto dele.” Ela parou por um momento. Acho que ela estava pensando se valia a pena ou não dizer mais alguma coisa. Ficamos em silencio observando o movimento da rua quando do nada ela pegou a minha mão e pediu para ver o anel que o Lucem havia me dado. Eu tirei e na mesma hora me senti vulnerável, como se estivesse nu ali com todos me olhando. A Jessy o analisava como uma criança curiosa e depois de o colocar e tirar de todos os dedos ficou encarando a serpente, não pude deixar de rir imaginando o que ela deveria estar pensando. Ela o encarou mais uma vez antes de falar. “Guri, você ter este anel é prova de que o Lucem é, mais ou menos, quem diz ser. Que ele existe e boa parte do que esta acontecendo, realmente, esta acontecendo. Eu e o Rodrigo só preferimos acreditar no que você viu e fez acordado. Ele esta preocupado com a irmã e o futuro cunhado” Ela me devolveu o anel, que na mesma hora eu coloquei no dedo, me deu um tapa na testa e foi devolver a bolsa de gelo. Fiquei sentado pensando em tudo que ela falou. Tinha um pouco de lógica, mas nem ela e nem o Rodrigo seriam capazes de entender, não seriam capazes de sentir que tudo era real. É claro que eu desejava que tudo não passasse de mais um pesadelo, mas não era.

A vantagem de ser viciado em sorvete e ir tomar no mínimo três vezes por semana era que o Sr. Otavio me fez uma conta que eu poderia pagar todo inicio de mês, mas isto trazia uma grande desvantagem também já que quase metade da minha mesada era só para pagá-lo. Assim que a Jessy devolveu a bolsa de gelo e colocou a conta dela e do Rodrigo no meu nome fomos embora. “Não precisa me deixar no ponto de ônibus não Guri.” A Jessy falou assim que saímos da sorveteria. “Como a mudança já é daqui dois dias minha mãe inventou de dar uma geral no apartamento, ai eu estou indo pra lá e não precisa se oferecer para ajudar. Você sabe como minha mãe é com limpeza.” É eu sabia. A tia Lucia era quase doente em se tratando de limpeza. Já perdi a conta de quantas empregadas minha mãe indicou pra ela. Por este motivo concordei que seria melhor não tentar ajudar. “Você tem razão, para o meu próprio bem é melhor ficar bem longe da sua nova casa por hoje. Vou pelo menos te deixar na porta.” A tia Lucia tinha conseguido um prédio bem no próximo a St. Michael, em torno de 10 minutos de caminhada. Durante este tempo eu e a Jessy ficamos imaginando como seria morar perto um do outro novamente. “Com certeza vamos fazer muita sessão terror lá em casa”. Quando eu ainda morava em Next Valley todo sábado tinha a “sessão terror” na casa da Jessy. O nome era só para fazer pose já que se dependesse dela só veríamos comedia e ação. A gente ficava quase a madrugada toda assistindo filme que raramente eram de terror. A Jessy não admite, mas tem medo de fantasmas. Sempre fazia a mãe dela dar a maior volta só para não passar perto do cemitério que ficava perto da nossa escola. “Podemos ate fazer. Contanto que você não venha dormir comigo de medo. Porque você sempre ia no quarto e perguntava se podia dormir lá e eu sempre acabava sendo jogado da cama”. Eu falei fazendo dando um beliscão nela que retrucou dizendo que ia fazer questão de pedir para dormir no “quarto” – eu não ficava bem em um quarto porque a casa dela só tem dois, então eu dormia no sofá-cama do escritório -  só para me fazer dormir no colchão no chão. Era estranho, mas ate justo depois de mais velhos a Jessy não dormir mais comigo. Estranho porque nos éramos praticamente irmãos e justo porque ainda assim ela é uma menina e eu um menino. Depois de grande das vezes que eu fui dormir na casa dela e levava um filme de terror de verdade a Jessy ficava com medo pedia para dormir comigo. Por causa da nossa idade eu passei a dormir em um colchonete no chão do escritório e ela ficava no sofá-cama.

Chegamos praticamente juntos com a tia Lucia que veio me dar um abraço e dizer que agora teria um quarto lá pra mim já que o apartamento era bem grande. Eu sorri e deu um abraço de agradecimento nela. Quando ela foi olhar o apartamento e viu que tinha três quartos conversou com a minha mãe e as duas compraram uma cama extra para colocar no que a tia Lucia dizia ser o “meu quarto”.

“Vamos subindo Ana, temos muito que fazer e sábado vocês vão poder fazer aquela sessão cinema”. A Jessy fez uma careta ao ser chamada de Ana. Falou com a mãe dela que só ia se despedir e que já estava indo.

“Olha guri, eu sei que você e o Rodrigo vão fazer as pazes assim que chegar em casa. Ele só esta preocupado e eu também estou. Quero os meus dois amigos sábado bem cedo aqui me ajudando com a mudança e depois ficando para a “festa” de inauguração. Me ouviu?” Eu apenas afirmei e deu um sorrio de lado. Eu ainda estava triste por ter falado aquilo com o Rodrigo me sentindo um verdadeiro idiota, mas também estava chateado por ele dizer que eu estava ficando doido. “Pode tratar de rir direito, você tem que se concentrar no campeonato, no trabalho com a Mabi e ate neste Lucem que, desculpa, é muito sinistro.”

Ela me deu um abraço e também disse que tudo ia ficar bem. Observei ela entrando no prédio e desejei do fundo do meu coração que ela estivesse certa, mas o “fundo do meu coração” me dizia que ela estava errada. 


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