Eu dormir tão bem que nem ouvi o meu despertador, fui acordado pela minha mãe que já veio perguntando se eu queria ficar em casa por não ter dormido bem.

“Pelo contrario mamãe, eu dormir super bem. Sem nenhum pesadelo.” Eu me levantei dei um beijo nela e fui direto para o chuveiro. Como eu já estava em cima da hora não tomei café da manhã, apenas peguei uma maça na fruteira e fui correndo pra escola, literalmente. O céu estava claro e com poucas nuvens e o vento estava muito agradável. Não sei se foi pelo vento e o Sol ou se foi por ter dormido tão bem à noite, mas em pouco eu estava correndo. Cheguei na St. Michael na metade do tempo e me surpreendi por não estar cansado e nem suado, parecia que eu tinha feito apenas uma caminhada.

No caminho para a minha sala eu me encontrei com alguns dos meus colegas indo em direção a quadra. Foi ai que eu me lembrei que hoje era o primeiro jogo do campeonato de basquete. Mudei de direção e me lembrando que não poderia jogar no time titular no campeonato anual de basquete por estar 2 quilos acima do permitido. Este era o vigésimo campeonato anual de basquete de New Valley. Quando a cidade completou 10 anos o prefeito realizou um pequeno campeonato de basquete entre as 5 escolas da época, entre elas a Saint Michael. A programação foi feita de maneira que a final caísse no dia do aniversario da cidade. A ideia agradou tanto os moradores que foi decidido que o campeonato aconteceria em todo aniversario. Já no ano seguinte o time de New Valley foi campeão nacional de basquete e a cidade começou a receber investimentos para o esporte. Não muito tempo depois New Valley ficou conhecida como a “Cidade do basquete”. Hoje, com mais de 30 escolas (particulares, estaduais, militares e religiosas) o “campeonato anual de aniversario de New Valley” se transformou em um dos maiores eventos esportivos da região de Valley. A idade mínima para fazer parte do time da sua escola é 13 anos, eu participei dos dois últimos e nas duas ocasiões a St. Michael ficou em segundo lugar, perdendo o titulo para o Colégio Militar Estrela do Oriente. Apesar de não ter entrado no time titular eu fiz de tudo para entrar no peso mínimo a tempo de participar do time reserva.

Eu estava de cabeça baixa indo para o vestiário quando trombei em alguém, me virei para pedir desculpas e dei de cara com o Lucem. Por lembrar do campeonato de basquete acabei me esquecendo de procurar o Rodrigo para saber como tinha sido a reunião do dia anterior e também para contar para ele e pra Jessy sobre o meu anel, as aranhas e sobre como eu quase ataquei o entregador de pizzas pensando que era o meu pai. No entanto foi só me encontrar com o Lucem que todas as lembranças voltaram. Ele estava elegante como sempre, vestindo um terno preto com uma gravata vinho. Atrás estava um grupo de alunos, provavelmente novatos que se perderam a caminho do ginásio.

Lucem fez sinal um sinal para que os alunos o esperassem e me pediu para acompanhá-lo. “Tudo bem Thiago? Você parece um pouco triste. Dormiu mal esta noite?”. Lucem me perguntou assim que nos afastamos um pouco. Eu respondi que estava bem e que nunca havia dormido melhor em toda minha vida, mas estava chateado por não poder jogar na estreia do campeonato.

“Bom, ninguém mandou ficar comendo pizza todo dia” ele deu um leve sorriso, mas logo ficou serio. “Olha é melhor você correr senão não vai dar tempo de você fazer uma cesta de três pontos para uma garotinha que já deve estar na arquibancada.”

Eu ia perguntar qual parte do ‘gordos não jogam’ ele não tinha entendido quando vi que nem o Lucem e nem os novatos estavam no corredor.

Assim que cheguei ao vestiário o professor Alberto (que também é o técnico do time de basquete) perguntou se eu estava com os exames de saúde em dia, como eu havia feito um check-up para os testes dos reservas apenas confirmei com a cabeça. “Ótimo! Pode ir colocar o uniforme e ir para o aquecimento, o jogo é daqui meia hora e o Paulo faltou. Você vai entrar no lugar dele como Ala (os alas jogam pelos cantos, sua função muda bastante podendo ajudar o base ou fazendo cestas). Eu mal podia acreditar que eu ia jogar. Agradeci o professor e fui correndo me aprontar. Chegando na área de aquecimento o Farofa, que é o Base do time uma espécie de cérebro da equipe, veio me perguntar se seria eu que ficaria no lugar do Paulo eu confirmei e aproveitei para perguntar o que tinha acontecido já que o Paulo não perderia o jogo de estreia por nada.

“Um cara fazendo uma conversão errada acabou batendo no carro da mãe dele. Não precisa fazer esta cara – O Farofa acrescentou - tudo bem ninguém se feriu e o seguro vai cobrir todos os gastos.”

Já que estava tudo bem eu não senti vergonha por ter gostado, um pouco, da noticia. Com certeza isto foi obra do Lucem, por isso ele havia mandado correr para o vestiário.  

Depois do aquecimento o Farofa explicou qual formação seria usada e me deixou a par dos últimos treinos. Tudo isto em menos de 30 minutos, realmente ele merecia ser Base. Por causa da sua habilidade no basquete o Farofa jogava como reserva do time de New Valley e já umas das promessas para o “Time do vale” que é o time que representa a região de Valley no campeonato nacional. O professor Alberto nos chamou de volta para o vestiário para as ultimas orientações. ”Como vocês já sabem o nosso adversário de hoje é a escola Santa Madalena e no ano passado eles ficaram com uma boa pontuação, mas não chegaram as quartas de final. Podemos passar por eles hoje sem problemas.” Quanto mais ele falava das expectativas deste ano mais eu sentia uma agitação crescendo dentro de mim e sem perceber eu puxei o time para um grito de guerra.

“Este é o espírito Thiago! Agora vão lá e vençam!” O professor gritou mais alto do que a gente. O Farofa me deu um tapinha nas costas e juntos fomos para a quadra.