Só mais um amor adolescente. escrita por Rodrigo cT


Capítulo 1
I - Encontros.


Notas iniciais do capítulo

Caro amigo,
Você não me conhece, não sabe meu nome, pra falar a verdade provavelmente eu nem exista. Não me entenda errado tenho ótimos amigos, conhecidos e familiares, mas acho que nenhum deles merece ouvir meus lamentos. Não nos conhecemos, mas você é importante pra mim, essa é a minha história.



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O telefone tocava

–Tirei a sorte grande! Acabei de ganhar um bolsão inteiramente grátis para estudar computação gráfica na Six - Vander me ligava. Ele tinha na época seus 21 anos, recém livre de um relacionamento falido, sem grandes expectativas de vida, morava com a sua mãe, sempre foi um grande amigo para mim e um bom ouvinte. Confesso que ele conseguia ser mais caseiro do que eu, passava as noites jogando.

–Van, essas bolsas... – Não me deixou continuar, mas você já deve ter passado pela mesma situação de receber aquela ligação irritante de uma suposta bolsa adquirida em um sorteio que você nunca fez. Gostaria de saber como eles conseguem tantos dados.

–Não! Tenho certeza que não, mas quero me informar melhor, é lá no centro e tava pensando se você não pode ir comigo?

Por instante hesitei, iria me atrasar para o meu almoço, mas... -Claro. Encontrarei você em meia hora no ponto de ônibus.

Chegando ao ponto tivemos mais uma daquelas conversas de fim de namoro.

–Não consigo entender como não demos certo. Eu era o namorado perfeito, fazia de tudo, selecionava as melhores flores e as melhores palavras para dar a ela. Eu a amava e sei que era recíproco...

–Ela não te amava, pelo menos não do mesmo jeito- Não me levem a mal, não queria ser rude, mas esse era o único jeito de fazer aquele debate acabar.

–Tenho certeza que amava.

Foi uma viagem longa, choradeiras de fim do namoro são difíceis de consolar, falo por atual experiência própria, não existe palavra que conforte um coração partido.

–Acho que é ali, Marcos tinha me dito que é no último ponto da avenida rio branco e que de lá seria fácil achar- Marcos era o nosso amigo mais velho, o mais sábio e mais vivido do bando. Tinha trabalhado em diversos lugares e conhecido diversas mulheres, fato é que quando precisávamos era a ele que recorríamos, seja para receber uma palavra precisa ou uma ajuda para uma decisão.

Demoramos um pouco, mais de meia hora, para acharmos o local mesmo com toda a referência, não era tão simples como nosso amigo nos tinha dito. Chegando ao edifício, fiquei deslumbrado com toda a sua arquitetura moderna, um frontão grego, como o da academia de Atenas nos recebia, nunca tinha visto algo parecido, não nessa vida. O local mesclava o urbano com rústico, dando um efeito único e seu interior era todo modernizado com equipamentos de última ponta, realmente um lugar planejado por mestres.

Foi então que a avistei. Linda e com um sorriso que fazia com que todo o edifício parecesse um castelo de areia projetado por uma criança desleixada. Com um simples olhar a mesma me encantou com uma facilidade que eu julgava ser impossível e então enquanto estava embasbacado com tanta beleza surge uma voz angelical.

–Boa tarde, como posso ajudar-los?

Demorei um pouco para responder e meu amigo logo se adiantou"Boa tarde, linda. Recebi um telefonema me informando sobre uma bolsa a qual tinha me escrito."

–Sim, vou dar uma checada nos dados.

Nesse momento, ele piscou pra mim. Conhecia aquela piscadela, simples com um sorriso no canto da boca, esse era meu amigo preparando seu arco para abater mais uma vítima. Vê-lo em ação era algo inusitado, era metido a galã, cheio de frases feitas e jogadinhas armadas, como se tivesse aprendido a arte do flerte em algum livro para tolos e iniciantes. (Como o da série “para leigos”).

–Aqui está. Seu nome?

–Vander, mas pode me chamar de Van se quiser- Como disse, o famoso galanteador às avessas em ação.

–Data de nascimento?

–Dia 1 de agosto.

–Leonino?- ela riu

–Sim, você parece ser muito ligada em signos.

–Sou sim, gosto de toda a mistificação que eles envolvem. Sou leonina também - respondeu um pouco sem graça.

–Também acredito nisso, apesar de não ler muito a respeito. Responde-me uma coisa, acha que leonina combina com leonino? – Perguntou com um sorriso promiscuo.

Aiai, com suas cantadas de dar inveja ao Zé bonitinho, não conseguia acreditar que suas cantadas davam tão certo.

–Não- Respondeu com seriedade, porém, sua voz suave tirava toda a grosseria dessa negação. -E você? Qual seu signo?- Virando agora para mim.

–Câncer. Respondi tentando não demonstrar nenhum interesse.

–Ih, emotivo, carente e sensível. Tenho uma grande amiga que é também, nos damos super bem- Respondeu entre sorrisos- Você tem quantos anos?

–18- Ainda tentando não demonstrar nenhum interesse.

–Nossa aparenta ser tão mais velho- Parecia realmente estar surpresa com o fato.

–Todo mundo me diz isso- E realmente diziam, acho que herdei tal fato do meu pai, temos feições desgastas por uma vida corrida e exigente.

–Está tudo bem com você?

–Sim, só acordei de péssimo humor hoje, me desculpe. Minha antipatia me incomodou.

Não sei direito bem a ordem dos fatos que ocorreram em seguida, fomos apresentados melhor ao curso, grande e moderno com telões por todas as partes, como já tinha reparado, descobrimos que a proposta da bolsa não era tão milagrosa, o curso oferecido era só de seis aulas, o resto do curso era pago em suaves prestações milionárias e por algum motivo que me parece confuso trocamos contato com a recepcionista.

–Espera, você não me disse seu nome- Vander, sempre Vander.

–Lícia.- Breve, da mesma maneira que eu a respondia.

Antes de sair do edifício não conseguir me conter, lancei um olhar para o balcão, ela estava me fitando com seus lindos olhos amendoados.

Na volta pra casa foi a minha vez de encher os ouvidos do amigo,

–Aquela garota era perfeita, tudo nela me agradava, seus olhos amendoados escuros e misteriosos, seu cabelo liso e jogado para trás, levemente penteado dando um ar sério para seu rosto angelical, seu sorriso perfeito, o som da voz que me lembram cantos líricos e é claro sua pele morena como bronze era a imagem perfeita de perfeição com toda a licença da redundância.

–Ih, você apaixonado? –Perguntou rindo.

Aquela pergunta me constrangeu, eu era ou fingia ser o mais solto, ficava bêbado em todas as nossas saídas e, sem uma pitada de modéstia, me dava bem com as mulheres. Tinha um fama e zelava por ela, eu sei idiotice da minha parte, mas nunca consegui entendido o porquê de ter desenvolvido essa característica, acho que se deve pela minha experiência com amor na terceira pessoa. Sou especialista em relacionamentos fracassados mesmo sem mesmo ter tido um, meus pais se divorciaram quando era pequeno e por mais que na época tivesse pouca idade guardo algumas lembranças dessa separação. Meu pai sempre voltava para casa, bêbado e fedido, de madrugada, bem clichê, mas isso nunca incomodou a minha mãe até que certo dia, na minha festa de cinco anos meu velho resolveu flertar com a mãe de um amigo meu. Desde então fui adestrado a fingir que entendia ver meu pai com a maior diversidade de mulheres, enquanto via minha mãe cada vez mais sozinha.

–Não, definitivamente não estou.

Fomos para a casa dele, iria ocorrer uma reunião com o nosso grupo de sempre. Jogamos um pouco de vídeo-game, confesso que perdia na maioria das vezes, me empolgava nos embates e perdia pelo nervosismo. Como de costume preparei meu copo duplo de alguma coisa alcoólica. Vander tinha um bar maravilhoso a sua disposição em casa, mas por algum motivo que nunca entendi, ele não era uma pessoa de bebedeiras, bebia pouco e socialmente. Não demorou muito para nossos amigos chegarem, bebemos, cantamos e conversamos bastante.

– E você, minha vadia? Como anda a vida?- Marcos me perguntava com bastante entusiasmo. Não espero que você entenda, mas tinha uma relação forte com meus amigos, ofendíamos uns aos outros por livre esporte.

– Ah, tudo normal como sempre...

–Vamos perder a nossa puta por uma índia recepcionista- Van, logo me cortava.

–Não acredito. Logo ele?- marcos dizia entre risos

–Me questionei o mesmo, uma graça nosso bebê está crescendo- Infelizmente nesse grupo de amigos eu era o mais novo e causa de muita preocupação, graças as minhas incansáveis bebedeiras. A mãe do Van me chamava de “anjinho”, eu realmente adorava aqueles apelidos, não pelo significado, e sim pela maneira carinhosa que ela me tratava, sempre fui carente de afeto materno.

–E você? Como anda a Karine? – Perguntei tentando desviar o foco da atenção.

–Ah, continua na mesma, temos personalidades muito diferentes. Ela é extremamente caseira e não acompanha meu ritmo, preciso sair e explorar o mundo enquanto ela só precisa de uma bela comédia romântica e um pouco de pipoca.

Conciliar o namoro é realmente uma tarefa difícil, acredito que o erro da maioria das pessoas é a concepção que o namoro é a transformação de duas vidas em uma, excluindo toda a vida anterior, amigos, sonhos, tudo no lixo e isso acaba causa grande insatisfação. Na verdade, o que deveria ser feito é uma criação de uma nova vida, nossa preocupação, novos sonhos, um casal deve ter ambições conjugues e separadas, mas isso é quase impossível de ser por em prática, deve ser por isso que é quase impossível encontrar um casal 100% satisfeito.

–Acho que é normal- disse sem demonstrar minha verdadeira opinião. Infelizmente, acredito que por ser o mais novo, eu não era levado muito a sério pelos meus adoráveis amigos.

–Preciso ir galera, tenho que resolver algumas coisas ainda e já esta ficando tarde.

–Sei... Vai é ficar de papinho com a Lícia.

É, ele tinha razão.

Chegando a minha casa, não pude esperar muito para conversar com ela ”Oi” digitei timidamente. E nesse simples “oi” tivemos uma conversa maravilhosa que durou minha noite e minha madruga. Conversas infinitas e gostos parecidos. Acabei conhecendo melhor a vida abusiva e mágica dela e ela acabou conhecendo um pouco da minha vida sem graça. Não era o tipo de garota de baladas e festa, gostava de trilhas, de artes, livros e música, mas música de verdade não essa lixeira que o povo ouve hoje em dia. Até que um dia, em um surto de coragem, ou por um pingo de milagre tive a coragem de chamá-la para sair, uma coisa boba a chamei para ver uma comédia nacional que tinha acabo de estrear e pra minha surpresa e satisfação ela aceitou. Lembro de como tinha ficado feliz e ansioso.

No dia seguinte, acordo com a mesma empolgação que a do dia anterior e por algum motivo que até hoje não me lembro que resolvi levar meu violão pro colégio, coisa que nunca faço, talvez seja por alguma obra do destino, por mais que não acredite no mesmo. Acho um absurdo à idéia de algo imutável que não importa as escolhas que você faça existe certa coisa que vai acontecer, você querendo ou não. A única coisa que sei é que nesse dia eu conheci o Victor.

–Violão maneiro. Toca faz muito tempo? – Perguntou timidamente.

–Não muito, deveria levar isso mais a sério.

–Gosta de tocar que tipo de música?

–Tenho um gosto variado, mas tenho uma simpatia com o the smiths.

–Show, gosto demais deles, apesar de achar que a galera de hoje em dia tenha deixado um pouco de lado as músicas antigas. Desculpa, sou Victor.

–Fica tranqüilo é bom poder conhecer alguém que goste de boa música.

Ele era um típico jovem deslocado e como eu parecia ter repetido alguns anos do colégio, aparentava ter em torno de 19 ou 20 anos, não perguntei por achar desnecessário. Tinha um sorriso engraçado que me lembrava algum ator brasileiro desajeitado.

–Mora por perto?

–Sim, algumas ruas atrás do colégio.

–Deve ser uma tremenda merda então, deve ser difícil de desligar desse mundo.

–Não tanto quanto parece, mas não vejo a hora de sair daqui a logo. Pode não parecer, mas não levo jeito pra fazer amizades aqui.






















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Notas finais do capítulo

Por favor, leiam e critiquem. É o meu primeiro romance.



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