-15 anos depois-

Laura agora acordava de uma noite de sono revigorante. Seu dia anterior tinha sido cansativo na empresa que agora ela administrava junto de Vinnicius. Ela abriu os olhos e procurou algo no vazio ao seu lado. Vinnicius já tinha se levantado. Ela se levantou então e seguiu pelo corredor da casa e entrou no quarto no final do mesmo. Abriu a porta lentamente. Sentado na poltrona de canto estava Vinnicius com Gabriela no colo. Os primeiros raios de sol entrando pela janela iluminavam as doces feições dela em seu sono de garotinha de 4 anos. Isso sempre surpreendia Laura. Ela adorava ver sua filha dormindo em sua inocência. Ela se aproximou deu um selinho em Vinnicius, seu marido há 7 anos, e depositou um beijo na testa da filha, se ajoelhou ao lado da poltrona com a cabeça recostada no braço da poltrona. Vinnicius ajeitou Gabriela em seu colo de modo que ele pudesse ter uma mão livre e acariciou os cabelos de Laura, agora bagunçados e soltos sobre os ombros, os dedos carinhosos desembaraçando alguns nós aqui e ali. Laura fechou os olhos se lembrando do tempo que eram namorados e iam ao parque em finais de sábado. Ela sempre deitava sua cabeça no colo de Vinnicius e assistia o sol se pondo atrás dos prédios enquanto ele lhe acariciava a cabeça docemente, como fazia agora.

-Oi, princesinha. – disse Vinnicius baixinho quando a filha abriu os olhos azuis preguiçosamente.

-Oi, papai. – disse ela com sua voz doce e meiga.

Laura se levantou e encarou a menininha.

-Oi, minha flor.

-Oi, mamãe. – Gabriela abriu um sorriso lindo, seus dentinhos pequenos aumentando ainda mais a delicadeza daquela criatura tão frágil aos olhos de Laura. Ela abraçou forte o pai, envolvendo seu pescoço com os bracinhos magros e depois se esticou em direção à mãe. Laura pegou a menina em seus braços e a rodou uma vez, fazendo-a gargalhar, depois ela a aproximou do rosto sorrindo e Gabriela deu um beijo em sua bochecha. – Nós vamos ao parque hoje, mamãe? – seus olhos já brilhando com a ideia.

-Humn.. vou pensar. – disse Laura fazendo tom de mistério. Vinnicius se encaminhando pra elas. Ele as abraçou.

-Você quer ir ao parque, pequena? – perguntou o pai.

-Quero sim! – disse ela. Vinnicius e Laura se olharam, Laura piscou pra ele.

-Então ao parque iremos! – disse Laura sacudindo levemente a menina em seus braços.

-Obaa! – Gabriela bateu palmas e deu um beijo em seu pai e um em sua mãe.

-Ora essa! Mas a essa hora já fazendo festa? – perguntou alguém enquanto entrava no quarto.

-Vovô! Você vai ao parque com a gente? – disse Gabriela ainda mais alegre.

-Ao parque? Mas é claro que sim! – disse ele pegando no colo.

-Bom dia, pai. – disse Laura.

-Bom dia, minha princesa. – ele disse.

-Ela é rainha, vô! – disse Gabriela autoritariamente.

-Ops. Me desculpe então, princesinha. Sua mamãe é sua rainha, mas eu não me acostumo nunca em vê-la assim. – disse ele piscando pra netinha ainda em seu colo.

-Então, vamos cuidar da vida. Vamos só depois do almoço. E ainda temos que ir à Missa.

Depois desse comentário de Laura todos foram para seus afazeres de Domingo.

Laura colocou Gabriela num andador e foi pra cozinha cuidar do café da manhã. A menininha nasceu com uma deficiência que dificultava seu desenvolvimento de equilíbrio e coordenação motora das pernas. Ela fazia um tratamento especial e aos poucos evoluía, mas isso não diminuía sua felicidade ou a de sua família. Só aumentava o amor e companheirismo deles. Muitas vezes em dificuldades entre Laura e Vinnicius, foi o problema da garotinha que os ajudou a ver que nada é impossível quando há amor verdadeiro, e que mesmo com dificuldades, nada é maior que a força do amor. A garotinha amava viver, mesmo com sua dificuldade era feliz ao extremo e isso era exemplo e força pros pais nos momentos difíceis.

Vinnicius ficou com Gabriela assistindo desenhos até o café ficar pronto.

Seu Pedro, o pai de Laura, foi comprar o jornal e algumas frutas pro passeio no parque.

Eles tomaram café. Foram à Missa, que era uma atividade que era parte deles. O dia era incompleto sem o encontro com Deus. A fé nessa família se desenvolveu quando Laura se mudou e encontrou amigos que iam à Igreja. Ela via algo diferente neles e quis saber o que era. Quis experimentar também, então ela teve seu encontro pessoal com Deus e nunca mais abandonou a Caminhada na Igreja, e consigo levou Vinnicius e o pai. Assim que a garotinha nasceu ela também foi conduzida à Fé. Era essa união com Deus que também os mantinha firmes e juntos.

Depois almoçaram num restaurante perto de casa, e foram ao parque. Ficaram lá a tarde toda. Brincaram juntos, lancharam, e se divertiram.

Ao final da tarde, enquanto Seu Pedro brincava com Gabriela, o sol já quase se punha quando, como nos velhos tempos, Laura se deitou no colo do marido e recebia um cafuné. Dessa vez ela não observou o sol. Ela fechou os olhos e pensou na sua trajetória até ali. O momento em que saiu de casa, deixando amigos e histórias em outro lugar e foi em busca de seus sonhos. Os momentos de reencontros com as amigas, as novas amizades, o estágio, as promoções, o dia que se formou em Administração, as conquistas. O casamento. Aquele foi um dos dias mais felizes de sua vida, bem como os 9 meses em que esperou pra ver o rostinho de sua filha, o dia de seu nascimento. Se lembrou de quando arrumou seu primeiro emprego estável anos antes, e foi correndo buscar o pai pra morar com ela. A felicidade de saber dos novos passos que Wesley deu, da superação dele, a felicidade de saber que o mundo dele também seguiu em frente. A felicidade de saber como sua vida era perfeita. Perfeita a seu modo, com seus problemas, suas adversidades e seus desafios.

Uma lágrima cheia dessas lembranças e de alegria lhe escapou dos olhos. Vinnicius a enxugou. Eles se levantaram e se abraçaram.

-Está tudo bem, meu amor? – perguntou ele preocupado.

-Está. Tudo maravilhoso. – Laura sorriu. Aquele sorriso que Vinnicius amava.

-Eu te amo. – ele disse – Eu te amo, pra sempre.

-Se eu não puder ter um pra sempre com você, eu me contento com um “Até que a morte nos separe”. – ela disse com um sorriso a frase que usaram no dia do casamento deles. Com isso eles se beijaram. O beijo mais apaixonado. Como se fosse o primeiro outra vez.