Cap.2: Um novo mundo

Já deveria passar de meia-noite, mas o Dr. Williams estava imerso demais em seu trabalho para reparar nisso. Além dele, haviam permanecido no laboratório apenas seus mais fiéis assistentes a Dra. Fernandez e o Dr. Grant. Fora lhe dada a "honra"' de ser o chefe do projeto mais importante do século.

Ele fitou as incubadoras. O futuro do mundo estava nelas. Agora para Andrew Williams ter um dia estudado genética e edição de genes começou a parecer cada vez mais ter um erro. Aquele projeto deveria ser deixado para algum pesquisador impessoal e frio, pois oferecia duas alternativas igualmente trágicas a um homem de sentimento e ação como ele : desespero se fracassasse em seu objetivo já que a crise acabaria com o país , e se obtivesse sucesso a nação cairia na ignorância e no misticismo dos Dias Infames mais uma vez. Era difícil acreditar que aqueles fetos seria os responsáveis por qualquer que fosse o destino dos Estados Unidos

Ele fitou a encubadora 76-SDN. O bebê( ele ainda não entendia como tinha se apegado tanto a aquele experimento especifico) tinha alguns poucos cabelos pretos e olhos verdes como um mar raso. Já a encubadora 93-N continha o mais importante dos experimentos, um pequeno bebê de feições ligeiramente inumanas e ainda assim tão inocentes quantos a seu destino. As crianças eram as únicas coisas puras que restavam naquele mundo cujos valores estavam tão deturbados. "Que irônico o cientista responsável por um projeto tão perverso como esse falando de moral e bons costumes" Ele pensou levemente amargurado "Por que somos todos malditos hipócritas hoje em dia ?"

Os índices de corrupção eram altos em todos os países do mundo. O índice de violência subia cada vez mais. Havia problemas com superpopulação e uma crise de fome em mais de 30 países filiados à ONU. As florestas e bosques era uma lembrança de um passado distante na maioria dos lugares. As prisões estavam quase tão super superlotadas quanto os hospitais e falando neles faltavam leitos, médicos e equipamentos que fossem capazes de funcionar minimamente.

Ele suspirou, tinha medo de morrer e deixar seus filhos sem pai. Mesmo com o emprego de sua mulher, eles ainda passariam necessidade e muito provavelmente entrariam para a Lista dos Indesejáveis. Ele se apressou, tinha de chegar logo em casa. Sua mulher deveria estar extremamente preocupada, principalmente depois que ele se metera no lado errado de uma briga entre dois políticos da cidade.

Só mais um toque no teclado e uma rápida olhada nos dados, e finalmente a parte final do projeto estaria completa, e ele poderia voltar para o lar.Ele digitava rapidamente. Só mais uma  letra. Tudo que o doutor queria era poder fingir que não fizera aquela loucura. Que  sabia o preço para ultrapassar a própria e como ele tinha desonrado tudo o que já defendera.

— Merda! Alastair não teria feito isso. Seria demais… Ninguém ousaria - ele ouviu Trevor Grant murmurar de modo nervoso- Eles andaram roubando nossos dados, estão nos espionando e provavelmente tentando descobrir se fomos nós que sabotamos o antigo projeto. Não aguento mais isso

Andrew mal pode disfarçar o próprio nervosismo, pois conhecia-o bem o suficiente para ter muito receio do que aconteceria ao amigo se continuasse a falar do governo daquele modo. Já era ruim o bastante o envolvimento dos dois no Caso Gladis, e Trevor parecia não entender que aquele não era o lugar pra comentar as atitudes idiotas do Governo. Mas antes mesmo que pudesse fala, ouviu um grito .

— Não vou ficar por aqui ,nem mais um instante ! -Os olhos do amigo eram como buracos negros e fitavam todos os outros com algo que era apenas o mais próximo de chamas alimentadas pelo ódio. A máquina continuava a ronronar de maneira horrorosa, ignorando o terrível desenrolar da situação- Você as vê ? Você as vê? Essas coisas nojentas feitas pra enganar o povo. Pare, Andrew, ainda há tempo.Por nossa amizade, pare este horror, homem. Bianca, por favor, não faça isso.

Andrew então percebeu que Bianca estava telefonando para a Central. Tinha no rosto, uma expressão de puro terror.

—Desculpe, Trevor, mas não vou arriscar a vida da minha família! - disse a Dra. Fernandez, enquanto esperava ter a chamada aprovada, e mostrando a arma que carregava.

Andrew olhou para os dois e deu um passo pra trás, tentando ao máximo fingir que não podia ver o olhar de traição do amigo. Ele o que o amigo esperava que ele fizesse, o que Trevor acreditava que ele era. Mas tudo o que conseguiu fazer foi ficar parado enquanto Bianca denunciava as últimas e desonrosas palavras( na visão daquele maldito presidente).

Sua avó costumava dizer que as ações definiam um homem e vendo o amigo ser levado  e espancado pela polícia, o Dr. Williams teve uma unica certeza: Ele era um covarde.