Os Gritos Do Tigre escrita por Bacon


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, gente, sei que estou escrevendo uma long, mas não resisti, eu PRECISAVA postar a história do meu Millo (mesmo que eu tenha chorado ao escrever, é.) Espero que gostem, sério :3
Se vocês ficarem com muito medo (o que eu duvido, masok), podem ler este meme que eu fiz com a minha amiga, Bold, que eu citei no disclaimer. É bem engraçado e eu dei umas belas zoadas com o Millo, tadinho X3 http://lailinha.deviantart.com/#/d5shez8
Bem, de qualquer jeito, espero que vocês tenham uma boa leitura e, por favor, mandem reviews ♥



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Era apenas uma história de terror.

Ninguém sabe onde, quando ou o porquê, mas, certa vez, houve um menino que nascera com uma mutação, de fato, muito intrigante. Suas orelhas ficavam no topo de sua cabeça, as quais eram pontudas e peludas, listradas de branco e laranja. Como... orelhas de animal. Suas órbitas eram completamente negras e, suas íris, esticadas para cima e para baixo, eram quase ovais, lembrando olhos felinos. Estas eram de um tom verde como o das folhas refletindo a luz do sol que – algumas versões da história afirmavam – brilhavam no escuro. Seus cílios inferiores eram grandes e esticados para as extremidades de seus olhos, dando-lhe um ar sinistro. O único detalhe humano de seus olhos eram suas pupilas, redondas.

Sua pele era exageradamente branca, mas suas bochechas sempre indicavam uma coloração rosada, enfatizadas pelos lábios finos e claros curvados num sorriso, o que deixava-o sempre com uma aparência realmente adorável, se não fosse por seus macabros olhos verdes. Os cabelos eram negros como a noite, que não emitiam um mínimo brilho sequer, compridos em uma altura que quase lhe atingiam os ombros. O garoto, porém, nunca mostrava seus grandes dentes brancos quando sorria, pois estes eram grandes e afiados, como enormes presas. Suas pontas apareciam ligeiramente quando ele falava, o que não era muito frequente. Suas unhas eram levemente pontudas, mas nada muito incomum.

E ele tinha uma cauda.

Assim como suas estranhas orelhas, a cauda era listrada de laranja e branco, fina e peluda, quase tão longa quanto suas pernas. Era como um membro qualquer, podendo mover-se de acordo com o que o garoto quisesse fazer. Porém ele limitava-se a escondê-la por debaixo de suas calças de farrapos. Ele se assemelhava a um tigre que não coube por completo em um pequeno corpo.

Nunca apresentara ameaça para a vila onde vivia e nunca fizera mal a ninguém. Tentava sempre manter a boca fechada, escondendo os dentes macabros, usando sempre um chapéu para esconder suas orelhas. Porém não havia como esconder seus olhos, o que mais assustava as pessoas. Mas o garoto tentava apenas ignorar aquele pequeno fato, sendo o mais dócil e carinhoso o possível com os demais, que, depois de acostumados com sua aparência macabra, pareciam até gostar da pequena criança, que não tinha mais de sete anos de idade e vivia sozinha num barraco feito de qualquer jeito.

Isso até ele ser sequestrado por homens malvados.

Estes homens invadiram tarde da noite a casa do pobre garotinho, que dormia tranquilamente, encolhido de frio em sua cama, usando uma camisola de lã ensebada e muito maior do que ele. Rapidamente, os sequestradores amordaçaram-no e amarraram-lhe as mãos e pés, levando-o para um lugar afastado de tudo e todos, escuro, exceto pelas velas que ficavam em mesas que continham certos... objetos cortantes.

Quando os três sequestradores e o menino ali chegaram, tiraram as roupas do pequenino, deixando-o nu. Prenderam-no a uma maca, porém esta ficava na vertical, era feita de metal e, sem dúvidas, era muito maior do que as normais. Os braços e pernas do menino foram esticados e presos, de modo a ficarem completamente expostos. A cabeça fora imobilizada, assim como cada um de seus dedos e sua cauda. O menino chorava, assustado, mas aquilo não era nada com que os homens maus se preocupassem.

E, como uma boa tortura, eles começaram espancando-o.

Nunca descobriram o motivo real do porquê dos homens torturarem o pequeno garotinho, porém algumas versões da história dizem que o menino era uma espécie de filho bastardo entre a mãe e um tigre selvagem que a estuprara. Não que isso fizesse sentido, era apenas uma história de terror. Mas, tendo um motivo ou não, os homens bateram e bateram no pobre garotinho, que nada fizera de errado para receber tal agressão. Onde quer que ele estivesse, seus gritos de agonia ecoavam pelas paredes negras e frias do cômodo ao que fora aprisionado, ricocheteando em sua mente.

Não satisfeitos com apenas uma “leve” surra, os homens pegaram alguns dos objetos cortantes que haviam disposto sobre algumas mesas e começaram seu trabalho. Os gritos do garotinho, agoniados e carregados de dor, ecoavam pelo lugar a cada instante, enlouquecendo-o. Lágrimas e mais lágrimas corriam por suas bochechas, agora sujas de seu próprio sangue, a única fonte de calor “externa” que ele tinha, exceto pelas velas que, vez ou outra, as chamas aumentavam de intensidade. A cada dia (ou seriam apenas horas?) que se passava, mais e mais cicatrizes, cada vez maiores, surgiam em seu pequenino e frágil corpo de criança. Algumas das feridas não chegavam a cicatrizar, apodrecendo sua pele.

Mas ele não poderia morrer assim. Era fácil demais.

Quando uma parte do garoto estava podre demais a ponto de matá-lo, essa parte era cortada, esfolada, o que fosse, e dolorosas injeções de vitaminas eram injetadas em seu corpinho, facilitando a cicatrização. O mesmo era feito com os nutrientes necessários para que o garoto continuasse vivo. Este, porém, não sabia de onde aqueles homens arranjavam tantas coisas, que deveriam ser caríssimas, assim como a água escura que era obrigado a beber de tempos em tempos. Sinceramente, era melhor que não soubesse.

O que ninguém percebeu foi que, com o tempo, os cabelos do garoto começaram a ganhar um brilho dourado e as velas começaram a perder sua claridade, sempre sendo substituídas por outras e outras e outras. Chegou um ponto que o garotinho, antes moreno, estava quase... louro. Nenhum dos quatro notou a diferença, é claro. O próprio menino nem podia (e não queria) olhar para si mesmo, e os homens sequer olhavam-no no rosto, além de que o natural seria seus cabelos embranquecerem. Mas, como dito antes, aquele garoto não era, nem de longe, uma criatura “natural”.

E assim o tempo foi passando, passando... até que a cauda dele caiu.

Isso mesmo, caiu. Aquele era um dos lugares mais sensíveis do menininho, sendo assim o ponto mais maltratado pelos homens maus. Chegou uma hora que ele não sentia mais dor, mas continuava a gritar, pois, assim, não teria que sofrer em outros locais. E a cauda começou a ser cortada, esfolada, os pelos arrancados um a um por uma pinça... Apodreceu tanto, sem nenhuma insinuação de recuperação e um cheiro tão horrível, que simplesmente caiu. O lugar onde ela estava nem mesmo sangrou e o menino não soube se ela já havia sido cortada ou não. Seu destino era morrer ali, numa agonia eterna. Por que se importar com detalhes tão pequenos e insignificantes como uma cauda que nunca mais usaria?

Certo dia, porém, um dos homens maus, de cabelos castanhos espetados para todos os lados e cruéis olhos azuis, disse-lhe:

– Sabe, garoto, já nem tem mais graça brincar contigo. Você mal tem voz para gritar – riu, acompanhado pelos irmãos. – Você realmente tem uma voz muito linda quando grita e, ah, como grita alto. – Seus lábios curvaram-se num maldoso sorriso. O menino apenas o ouvia, com um rosto inexpressivo. Com o passar do tempo, enormes manchas escuras formaram-se embaixo de seus olhos, as unhas haviam crescido a ponto de contorcerem-se para cima e para baixo em seus dedos e a voz do pequeno era fraca e rouca. – Fale alguma coisa, inútil! – o homem meteu-lhe um soco no rosto. O menino ganiu, assustado, com os olhos novamente marejados. Os outros, novamente, riram.

– E, misericordiosos do jeito que somos – disse o segundo, que tinha os mesmos olhos dos outros dois, porém cabelos alourados. –, vamos dar um fim à essa sua ridícula vida. – Levantou um balde cheio de um líquido amarelado e fedorento, que pingava das bordas, caindo no chão... Gasolina.

Mas o terceiro homem, idiota, inventou de abrir um isqueiro e começar a fumar.

– NÃO! – gritaram os outros dois, em uníssono. Ambos saíram correndo, seguidos pelo outro, que deixara o isqueiro aberto e o cigarro quentes caírem na poça de gasolina derrubada do balde.

BUM!

Depois de uma rápida explosão de luz e calor, um silêncio quase amedrontador se seguiu. Eles adentraram a sala de tortura e arquejaram. Estava tudo intacto. A maca, os bisturis, as mesas, tudo. Havia apenas uma única vela acesa, que brilhava mais intensamente do que qualquer outra já brilhara antes, e que antes não estava lá. Aquilo era estranho, mas o que mais os amedrontou foi outra coisa.

Não havia mais ninguém preso à maca e, um metro e poucos centímetros acima da vela, dois felinos olhos verdes brilhavam no escuro, com enormes presas brancas, manchadas aqui e ali de vermelho refletindo a luz da vela logo abaixo, curvadas num enorme sorriso maníaco.

– Ora, ora, ora – disse uma rouca, fina e doce voz de criança –, aqui está tão silencioso... Por que não escutamos alguns maravilhosos gritos de agonia, sim?

Ninguém sabe o que de fato ocorrera depois disso. Algumas histórias afirmam que a ira do garoto transformara-o em um animal furioso e sedento por sangue, matando a todos da forma mais violenta imaginável. Outras afirmam que os homens tentaram prendê-lo novamente, mas seu corpo não era material e os homens foram mortos agonizantemente. Outras, ainda, dizem que os três fugiram apenas para enlouquecerem mais tarde, aos gritos, por aparições do menininho.

Mas em um ponto, todas concordavam: o menino fugira, louco e sedento por gritos de dor e agonia alheios.

Diz a lenda que, em lugares escuros e silenciosos, uma pequena e suave luz de vela pode ser vista ao longe, aproximando-se lentamente. Dois olhos verdes apareceriam em seguida, seguidos por uma visão completa de um adorável garotinho de cabelos louros, que brilham como ouro à luz da vela, grandes olheiras, um sorriso meigo no rosto, orelhas de animal no topo da cabeça, usando nada mais nada menos do que uma camisola grande demais para ele, que se arrastava quando ele andava, com as extremidades manchadas de algo vermelho e... sangue. Grandes marcas de sangue em seu rosto. E – até mesmo o mais idiota nos homens poderia perceber – aquele sangue era fresco e de outra pessoa. O garoto lentamente colocaria sua preciosa vela no chão e, em seguida, dobraria os braços e abaixaria suas mangas, deixando expostas suas enormes e afiadas unhas coloridas de vermelho e marrom. Ele lentamente lamberia suas garras, limpando-as, com um sorriso malicioso no rosto. Sua vítima há muito já estaria paralisada, se não de medo, por uma mágica que sua vela emanava. E, assim, o garotinho iria aproximar-se da pessoa e lentamente torturá-la até a morte, deliciando-se com seus gritos de horror. Mas, quaisquer que fosse a quantidade de vítimas, seu desejo nunca seria saciado, pois nenhum grito, por mais delicioso que fosse, poderia fazê-lo esquecer de seus próprios: gritos de um menininho assustado, sem ter culpa de ter nascido deformado, que nunca fizera nada de ruim em sua vida. Ele nunca esqueceria o sofrimento. Nunca.

Mas, é claro, aquilo era apenas uma história de terror, daquelas que se contam em volta da aconchegante fogueira de acampamentos, com crianças rindo, cantando e empanturrando-se de marshmallows. Nada com o que se preocupar, já que o garoto, os homens maus e ninguém daquela história jamais existira.

Mas não. Will sabia que não era assim.

Era escuro, tarde da noite. Ele não sabia onde estava. Queria apenas voltar para sua aconchegante casa, com seu irmão ao seu lado, o qual iria protegê-lo de qualquer mau, junto de sua “mãe”. Mas ele estava perdido, num lugar estranho e escuro, e uma pequena luz aproximava-se. Amedrontado, Will começou a chorar como o bebê que era e se sentou apoiado em uma árvore, abraçando os próprios joelhos, como se aquilo fosse defendê-lo.

Não passou muito tempo e Millo estava lá, com seus macabros olhos verdes, sorriso meigo e cílios enormes e sinistros.

Com um choque, Will percebeu que eles eram quase iguais. Nascera com a mesma mutação de Millo, com orelhas peludas no topo de sua cabeça, listradas de branco e preto. Tinha uma cauda também peluda e listrada, grandes olhos azuis de felino e dentes afiados. Ele não queria ser assim, nunca quis. Mas assim nascera e assim seria até o fim dos tempos. Porém, diferentemente (ou igualmente?) a Millo, Will tinha cabelos negros, mas um risco branco, de aproximadamente um dedo adulto de largura, dividia-lhe a franja do resto do cabelo. Sua pele era extremamente branca, sempre corada e seus olhos azuis realmente brilhavam no escuro. Mas ninguém nunca fizera mau algum a ele. Talvez por seu irmão, um musculoso rapaz de 19 anos, sempre protegê-lo. Sabia que não era o fato de ser meigo com todos, pois Millo agira igualmente grande parte de sua vida e, mesmo assim, nada impediu que ele fosse sequestrado e torturado. Desde que aprendera a compreender o que escutava, Will sempre tivera medo daquela assombração, Millo. E lá estava ele, frente a frente com seu maior medo.

Millo parecera notar a semelhança entre ambos. Lentamente, apoiou sua vela no chão, e ficou de quatro, engatinhando até seu semelhante, com o rosto mais lindo e inocente que poderia fazer. Sentiu o outro estremecer a tocar-lhe os joelhos. Millo, então, levantou sua mão direita, fazendo com que a longa manga caísse até seu pulso, expondo suas enormes unhas, e tocou um ponto embaixo do queixo de Will, fazendo com que este levantasse o rosto, a não ser que quisesse ter sua garganta cortada.

– Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Millo sorriu. – Um irmãozinho?

– E-Eu... Eu não sou... S-S-Seu irmão... S-Senhor Millo.

Senhor Millo? – riu. – O que você pensa que eu sou, algum tipo de idoso? – Sorriu diabolicamente. – Não, meu amor... Eu sou exatamente como você... Você sabe disso... – seus olhos pareceram brilhar com mais intensidade. Will, tremendo e esforçando-se para não chorar, nada respondeu, irritando o louro. – Tsc. Vamos, Will. Fale comigo. – incentivou o outro, com a voz mais suave que conseguiu.

– E-Eu... O admiro m-muito... M-Millo... – mentiu. Estava ficando cada vez mais perturbado, principalmente com o fato do outro saber seu nome.

Millo lambeu os lábios sujos, deliciando-se com o sabor do sangue de sua última vítima. A voz de ambos os meninos-tigre eram iguais. Ele finalmente, finalmente poderia ouvir-se novamente pela última vez, podendo, então, descansar seu espírito. Levantou a mão ainda coberta pela manga da camisola para começar seu trabalho, mas...

– WILL! – uma grossa voz masculina gritou, seguida por uma de garota. Pequenos pontos de luz apareciam por entre as árvores. – WILL, ONDE VOCÊ ESTÁ?!

– Oh, droga... O maninho e a “mamãe” chegaram? – Millo riu sadicamente, enquanto deslizava a unha de seu dedo indicador pela bochecha de Will, fazendo uma, não, duas ondulações em sua pele. O moreno mordeu o lábio, esforçando-se para não gemer de dor. Ele sabia o que o outro queria e não podia dá-lo, ou seria sua morte. – Vamos, Will... – Millo pressionou seu dedo com mais força, cortando a bochecha de Will mais profundamente, indo agora em direção à lateral de seu pescoço. – Deixe-me ouvir sua bela voz... Ah... – suspirou ao ouvir a aproximação das outras pessoas, já realmente muito perto dos tigres. – Que assim seja. Nos veremos novamente. Amanhã. Depois... – sorriu, mostrando todas as suas presas, rindo, as sombras que a vela fazia em seu rosto tornando-o mais e mais sinistro. – Todas as noites.

Um vento frio bateu, a chama se apagou e, um instante depois, Millo já não estava mais lá.

O pequeno Will foi encontrado poucos segundos depois, tremendo e chorando baixinho, encarando o lugar vazio que Millo havia deixado. Seu irmão mais velho, de cabelos e olhos escuros, expressão zangada e um corpo realmente muito musculoso, praguejou. A moça que o acompanhava, de cabelos cor de chocolate, olhos claros e um corpo com curvas bem definidas, arquejou. O corte no rosto do pequenino menino-tigre estendia-se do começo de sua bochecha, perto de sua boca, até o pescoço, desenhando um grande M em letra cursiva em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? :3
Eu realmente me esforcei para deixar tudo direitinho e o mais real o possível ^u^ Sinto muito se algumas partes soarem confusas, isso talvez me tenha passado despercebido. E SIM, ELES SÃO METADE TIGRE, METADE GENTE u____u Pode me tacar pedras, I regret nothing *yao ming face*
Mereço reviews? :3