Ela acordou com dor de cabeça. Novamente.

Abriu os olhos lentamente, com a visão se acostumando com a iluminação do ambiente. Podia sentir que estava repousada em um travesseiro de penas macio, e estava coberta com um lençol fino até o alto da cintura. Também percebeu que seu ferimento estava envolto por uma gaze grossa.

Ela virou a cabeça para a esquerda, e deu de cara com uma parede e uma pequena mesa de cerejeira, onde estava repousada um bule e uma xícara azuis e brancos, por cima de uma pequena e delicada bandeja de prata.

Mary franziu a testa, tentando se lembrar o que havia acontecido. Ela estava na Caçada, e encontra um grupo de monstros. O.K. Depois, desmaiou e acordou com Quione lambendo seu rosto. Um calafrio percorreu sua espinha. Como pôde se esquecer de Quione?

Censurando a dor de cabeça, se virou e tentou sentar na cama, para poder descer. Mas nem bem sentou e duas mãos grandes a agarraram pelos ombros, a fazendo congelar no lugar.

– Calma. Sua loba está a salvo. - Ela olhou para cima e reconheceu John, com seus olhos cor de âmbar e seus cabelos castanhos bagunçados, e suas olheiras faziam Mary se perguntar se ele dormia nesses dias.

Ela olhou para baixo, e viu Quione enroscada logo abaixo da cama, respirando levemente. Ela relaxou os ombros, e sentiu uma tontura, que a fez ver o mundo girar.

John a soltou, olhando desconfiado por um momento, e Mary viu o que poderia ser preocupação em seus olhos, mas a expressão foi muito rápida para que ela pudesse dizer algo. Ele se afastou, dando a volta na cama e indo até a mesinha, e colocando um pouco do líquido do bule na xícara. Ele ofereceu a ela.

– Tome, talvez melhore essa sua tontura.

Ela hesitou um momento antes de pegar a xícara. Ele era um desconhecido, um bad boy, um garoto. Mas a recebeu bem. Talvez ela pudesse deixar um pouquinho de lado o ódio e aceitar a ação que estava fazendo. Ela pegou a xícara e viu que era uma espécie de chá. Cheirava rosas e madeira, e também estava na temperatura que Mary apreciava. Ela deu um longo gole e apreciou o doce sabor e aroma da bebida. Quando percebeu, a xícara já estava vazia e ela se sentia muito melhor, apesar de ainda ter um pouco de fome.

Vendo toda a receptividade ela se lembrou das enrascadas que já havia se metido. Todas elas, praticamente, começavam com isso. Aceita um lanche? Você parece querer. Então, aceitava e era atacada por algum monstro. Ou as vezes, ela nem era tratada bem para ser atacada.

– Onde estou? - Ela perguntou, com a voz rouca. Sua garganta estava seca, mesmo com o chá.

– Na enfermaria, ainda no Instituto. - Ele respondeu, colocando as mãos no bolso da calça e se apoiando na cama ao lado. Sua camisa azul escura estava parcialmente escondida por um casaco preto, com alguns detalhes bordados em prata. Ela percebeu que era um casaco Polo. Eles eram bem confortáveis.

– Já se passaram um dia, não?

Ele riu.

– Já se passaram quatro, na verdade. Você teve um ferimento bem sério, e preocupou todo mundo, logo que não acordava. Ficou conhecida por quase todo o Instituto, apesar de eu não ter falado nada.

– Todo o Instituto...? Quantas pessoas tem aqui?

John olhou para o teto e murmurou algumas coisas que Mary não entendeu. Parecia uma contagem ou uma oração. Ela pôde ver uma marca, uma espécie de tatuagem, que aparecia no pescoço. Era um embaralhado de linhas. Logo depois, ele abaixou novamente a cabeça, voltando a olhar para ela.

– Dez pessoas. Tirando você, claro, que é uma mudana.

Mesmo sem saber o que significava, Mary se irritou e tentou se levantar, até perceber que estava com um fino vestido. Ela ficou vermelha, mas por sorte não havia retirado as pernas debaixo do lençol.

– Onde está minha mochila? - Ela perguntou, irritada. John deu um suspiro e agarrou algo negro que estava no chão. Ela arrancou a bolsa da mão dele com raiva e se enrolou no lençol e se encaminhou para o que parecia o banheiro. O lençol passou pela plumagem de Quione, fazendo a loba acordar e pular em direção à dona.

– Agora não, Quione. - Então fechou a porta do banheiro com um estrondo, deixando John boquiaberto. Logo que entrou no banheiro, ela jogou o lençol no chão, e espalhou o conteúdo da mochila negra em cima da pia.

Ela tirou o vestido e colocou uma blusa de frio negra, junto com calças cenouras e sapatenis pretos, que achou no fundo da mochila. Como filha de Hades, gostava de ter a escuridão junto de si. Ela parecia uma ninja.

Penteou os longos cabelos loiros, que chegavam a ser quase brancos. Ela sempre achava estranho o fato de possuir mechas pretas naturais misturadas aos cabelos claros. Ela deixou o pente de volta na pia do banheiro claro, e fez uma trança única, para não deixar os cabelos soltos. Ela guardou as coisas novamente na mochila e agarrou o lençol e o vestido do chão.

Ela saiu do banheiro e sentiu Quione se metendo em seus pés, o que poderia derrubar até mesmo um elefante, mas além da Caçadora já estar acostumada com isso, ela tinha algo que era além de um equilíbrio perfeito.

Ela logo chegou onde John estava brincando com uma adaga, mas logo que sentiu a a aproximação da garota, ele guardou o instrumento. Estava com uma expressão estranha no rosto, mas Mary meio que conhecia. Era do tipo: fale algo que eu não gosto e eu te bato. Ela conhecia aquela expressão por ela mesma.

– Bem, obrigado, mas eu tenho que ir - ela disse, jogando o lençol na cama e estendendo o vestido que estava usando para ele.

– Desculpe, mas você vai ter que ficar. Gil e Percy querem conversar com você. - Ele respondeu e pegou o vestido.

Mary deu um suspiro. Já estava esperando algo assim, então o que tinha para perder? Mesmo assim, seu colar negro ardeu. Ela agarrou com força o pingente de espada. Todos pensariam que era somente um colar com pingente de espada, mas havia um nome em grego escrito em prata atrás: σκοτώνει σκιές, que Mary lembrava o significado de ponta cabeça. Matassombras. Ela mesma havia batizado assim, por a espada ser criada de sombras e ela matar na velocidade de tais.

– Ok, mas depois disso eu vou embora.

John se levantou e se encaminhou lentamente para a saída, ainda com as mãos no bolso, sendo seguido por Mary e Quione.