Estúpido Acidente! escrita por Julia


Capítulo 8
Eu estava sorrindo.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas! Ta chovendo muito aqui mas isso nao importa...

Esse capitulo ficou extremamente pequeno mas é necessário para o que virá!

Espero que gostem! ;)



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— Bom dia raio de sol! – Lia, “minha irmã” estava com um sorriso debochado no rosto assim que desci as escadas que davam para a luxuosa cozinha industrial da casa de Josh. 

Eu já tinha notado vezes passadas (antes mesmo dessa troca de corpos ocorrer) o quão rico era aquele garoto; sempre com celulares de última geração, roupas, calçados de marca e um sorrisinho debochado que pessoas irritantemente ricas sempre tem. 

Mesmo assim, não pude conter o meu choque na primeira vez que vi o interior da casa da família Greeanleaf, que parecia ser algo saído de uma capa de revista de decoração das mais famosas. Por fora era igual a todas as casas do bairro (inclusive a da minha vó), porém todo o luxo e conforto apareciam dentro do lugar, logo no hall de entrada.

Lia passou mais um pouco de geléia na torrada que segurava e me lançou um levantar de sobrancelhas bastante provocador.

 __Já ia te acordar mas pelo grito que você deu achei que tinha despertado por vontade própria.

Ah sim, a aranha enorme e peluda de brinquedo que estava a centímetros do meu rosto assim que abri os olhos. 

— Espera. Foi você?! – Ela me olhou como se eu fosse maluca no mesmo momento em que apontei meu dedo para seu rosto, com uma expressão furiosa e traída.

A vi rolar os olhos em resposta para meu tom indignado e empurrou uma tigela de cereal em minha direção.

— Você está mais dramático do que o habitual ultimamente. Bem, eu não estou realmente reclamando já que prefiro esse drama todo do que o banho gelado de mangueira contra minha vontade, como aconteceu da ultima vez que fiz essa pegadinha com você.

Segurei uma risada ao imaginar um Josh furioso se vingando da irmã mais nova, com um sorrisinho sádico nos lábios enquanto a deixava encharcada de água. Resolvi pegar a tigela e adicionar um pouco de leite no alimento, começando a mastigar com um humor bem melhor do que o anterior.

A mãe de Josh entrou na cozinha naquele instante, com seus saltos batendo no piso de forma decidida, os olhos voltados a todo momento para o celular; se dirigiu diretamente em direção a uma prateleira lotada com barras de proteína e outras coisas saudáveis e prontas, agarrando uma delas e colocando na bolsa de forma rápida.

Foi a minha vez de revirar os olhos, notando o quanto aquilo já estava virando rotina. Como Josh conseguia conviver com isso? 

— Bom dia mãe – Falei, buscando chamar sua atenção de alguma forma. Ela não se dignou a levantar os olhos, apenas ergueu levemente o queixo e soltou um ruído no fundo da garganta em resposta. Se sentou em uma das cadeiras do outro lado da mesa, esperando a empregada colocar um suco verde em sua frente enquanto continuava a digitar alguma coisa no celular.

— Bati em um garoto ontem – Menti e seus dedos não hesitaram nem por um segundo nas teclas no aparelho.

— Hmm.

— Fumei maconha.

— Aham, que ótimo.

Lia colocou uma mão em meu braço assim que viu meus punhos fechados, começando a tremerem de raiva. Eu não entendia muito bem o porque de todo aquele ódio que começava a surgir, queimando meu peito. Talvez uma parte em minha cabeça sentiu o que Josh sentia quando a mãe o ignorava. Mas ao contrário dele, eu não suportava aquilo.

Arranquei o celular de sua mão em um gesto violento e beirando ao infantil mas não me importava. Ouvi um som estrangulado sair de sua garganta parecendo algo muito semelhante ao nome de Josh e sorri de modo debochado.

— Você realmente não liga. Se ele… se eu sumisse não ia se importar não é? – Não a deixei responder e continuei – Você não sabe o que é ser mãe. Ser mãe é cuidar dos filhos, protegê-los e estar presente sempre que possível. Tenho certeza que nunca deve ter se importado o suficiente; afinal babás estão aí para isso não é mesmo?

A cada palavra amarga que eu soltava, seu rosto perdia mais um pouco a cor, a expressão raivosa dando lugar a uma neutra e séria, escondendo quaisquer que fossem seus pensamentos.

Lia me puxou de volta a cadeira (na qual eu nem tinha percebido ter me levantado) em um gesto exasperado e sussurrou furiosamente para eu ficar quieto.

— Comece a agir como uma mãe com dois filhos que você é, ou então eu não hesito em esquecer disso também.

Vi sua mandíbula se mexer levemente debaixo da pele e ela respirou fundo, pegando a bolsa ao seu lado, enganchando no braço e me encarando profundamente com um olhar que não consegui compreender. 

— Você não sabe de nada. 

Franzi a testa com sua frase misteriosa, em tom baixo, contido, mas que parecia carregar sentimentos fortes e poderosos. Sua figura se virou e marchou em direção a porta de um jeito resoluto e confiante, bastante inabalável em comparação com a turbulência que vi dentro de seus olhos. 

— O que foi isso? - Ouvi a garota ao meu lado questionar, mas eu estava abalada e surpresa com o que havia acontecido. Não esperava aquela emoção e... aquilo era dor no olhar da mãe de Josh?

Bem, para ser sincera, eu pretendia magoá-la; do mesmo jeito que me sentia magoada a favor de Josh, mas não esperava que surtisse efeito. Afinal, ela realmente não se importava com os filhos, certo?

Larguei a tigela com o conteúdo pela metade no balcão e fui em direção ao quarto com diversos pensamentos rondando em minha mente, tentando entender todo o contexto e ao mesmo tempo, começando a voltar aos meus sentidos e me repreendendo por ter me metido em um assunto que não era realmente meu para intervir. 

Era estranho. Em um momento eu estava apenas irritada com as atitudes da mulher e no outro, uma onda de sentimentos desconfortáveis me invadiu assim que comecei a pensar em tudo o que o Josh passava diariamente. 

Me joguei na cama com pouca delicadeza e encarei o teto branco do quarto do garoto, tentando compreender as minhas ações explosivas. É claro, eu poderia estar apenas simpatizando com a situação dele; eu já tinha uma personalidade forte por natureza e mesmo que sempre estivéssemos em pé de guerra, não queria dizer que eu não tinha empatia ou era uma megera sem coração como ele provavelmente acreditava. 

Ainda assim, toda a situação fora estranha e meio surreal, como se de repente os pensamentos e mágoas de Josh invadissem os meus próprios. 

— Hey!

Levantei a cabeça, com preguiça de ter que erguer todo o corpo para falar com a mesma pessoa que ocupava os meus pensamentos no momento (ok, aquilo era estranho). Reconhecer Josh pelo som da minha voz era algo que eu não tinha certeza conseguir me acostumar tão cedo.

Por fim, resolvi me erguer com dificuldade da cama macia e ir em direção a janela, me escorando no parapeito e me vendo, quero dizer, vendo Josh apoiado em sua própria janela da mesma maneira em que eu agora me encontrava.

— Ah é, oi. Tinha esquecido por um momento que agora você é meu vizinho. O quão bizarra é essa situação, para meus avós morarem do lado da sua casa? Você acredita nessas coisas de destino? 

Josh revirou os olhos de um modo bastante irritante, o que me incomodou já que era o meu rosto ali e não queria acreditar que eu podia ser desagradável daquela maneira.

— Ouvi gritos ai. Tudo bem? Alguma coisa grave aconteceu?

— Huh, bem, na verdade, depende do ponto de vista. Gritar com a sua mãe por ela ser uma péssima progenitora é considerando alguma coisa muito grave pra você?

Ele arregalou os olhos e seu braço escorregou do parapeito, o fazendo cambalear para frente em um gesto cômico. 

— Você fez o que?! – O grito estridente acertou em cheio meus tímpanos e encolhi o corpo, notando meu rosto perder a cor. Contei tudo o que havia acontecido e quase esperei ver seu corpo pequeno, saltar da janela e voar direto para meu pescoço. 

— Annelise, eu não estou acreditando que você disse tudo isso para a minha mãe – Dei um sorriso amarelo em resposta, torcendo as mãos nervosa e ele puxou os cabelos compridos em um gesto de desespero universal – É loucura! Quero dizer, isso estava entalado na minha garganta faz séculos mas... ela nunca mais vai olhar na minha cara! É bem capaz de me deserdar! Por que disse aquilo?

Abri e fechei a boca, sem saber o que falar, envergonhada e com uma culpa crescente em meu peito. 

— Eu não sei ta legal! É só que ela estava me irritando tanto com aquele celular enfiado no rosto o tempo todo e eu só... fiquei imaginando você nessa situação por tantos anos e sei lá, fiquei com raiva. Foi tudo muito rápido e estranho e meio doido. Me desculpe, ok? Eu não queria ter feito isso!

Assim que a última palavra saiu, fechei meus lábios com uma rapidez impressionante, sentindo meus dentes baterem em um som alto e dolorido, meus olhos se arregalando levemente e meu peito subindo e descendo com força, buscando por fôlego.

Eu realmente não queria ter notado o pequeno sorriso de canto que Josh agora estampava com meus lábios, parecendo muito satisfeito consigo mesmo, ainda que com traços óbvios de surpresa e bem mais recuperado do que segundos atrás. 

 

— Bom, ela com certeza vai me deserdar, então já esteja preparada para arrumar as malas, mas… Eu te desculpo. Não é como seu eu não quisesse ter dito aquilo para ela também, você só foi mais corajosa. 

Eu ri, mas endireitei meu corpo dando um pequeno passo para trás pela surpresa. 

— Uau Greeanleaf, isso foi mesmo um elogio ou os meus ouvidos, quer dizer, os seus ouvidos estão trancados? 

— Ha ha. Muito engraçado garota. Não foi um elogio, eu só estava constatando um… fato. - Ele torceu o nariz em uma careta engraçada, mas pude ver suas bochechas começando a ficar vermelhas. 

Eu era bastante fofa envergonhada, quem diria. 

Soltei uma risada meio latido com o embaraço de Josh e praticamente senti meus olhos brilharem em malícia. 

— Não precisa ficar envergonhado, você sabe Josh. É normal elogiar a minha pessoa, não se pode evitar, não lute contra. 

— Cale a boca McCarty - Ele soltou um bufo de raiva mas franziu a testa, rindo em descrença logo depois - Isso tudo é tão estranho. 

— O que? Essa troca de corpos maluca ou o fato de você estar me elogiando sem ameaças envolvidas?

— Na verdade eu estava falando em como é estranho estarmos conversando sem todo o costumeiro ódio mútuo, mas acho que isso também conta. 

Eu soltei uma gargalhada de tom rouco que Josh sempre tinha e o encarei divertida.

— É verdade, isso com certeza é estranho. Mas, não é de todo o ruim, você até que pode ser legal quando quer Greeanleaf. 

Percebi meu erro assim que terminei de falar, vendo Josh imitar minhas açoes de anteriores e já sabia o que iria sair de sua boca antes mesmo que acontecesse. 

— Uau McCarty, isso foi mesmo um elogio ou os meus ouvidos, quer dizer, os seus ouvidos estão trancados? 

Rolei meus olhos em resposta, não me dignando a continuar sua idiotice, mas tive a certeza de que ele podia notar meu sorriso de lado que eu tentava a todo custo esconder. 

Antes que ele pudesse fazer mais algum comentário sarcástico sobre aquilo (ou não, já que agora éramos… amigos? Ou alguma coisa assim) uma batida na porta e a voz da irmã de Josh me chamando para conversar sobre os recentes acontecimentos preencheram o quarto. 

— Acho que tenho que ir. Sua irmã me chama.

— Essa frase é tão estranha, sério.

Dessa vez não pude conter a risada e vi Josh sorri alegre com aquilo, como se estivesse tentando mesmo me fazer rir. 

O que não era possível, claro. Não éramos mais inimigos declarados, mas o fato dele se esforçar para me fazer rir não era algo que fosse acontecer, era algo íntimo e carinhoso demais quando eu sabia que ele não se sentia daquela forma por mim, assim como eu jamais sentiria algo por ele.

Ou era isso que eu tentava me convencer. Não queria ter sentimentos ainda mais confusos, principalmente com toda a questão da troca de corpos envolvida. 

— Josh! A gente precisa conversar sobre a merda que você fez! 

A voz de Lia aumentou, assim como as batidas na porta e Josh soltou uma risada anasalada ao ouvi-la da janela do meu quarto. 

— É melhor você ir. Ela fica terrível quando está irritada. Boa sorte pirralha.

Deu uma piscadela (nossa, eu devia ter feito mais aquilo, era bastante atraente; iria conquistar muitos caras com aquela técnica) e com um sorriso de lado, sumiu quarto a dentro.

— Não sou pirralha, seu babaca! 

Meu grito não foi correspondido e apenas encarei a janela vazia, tentando me convencer de que estava irritada com aquele garoto, de que ele ainda me causava ódio e infernizava meus dias.

Para a minha surpresa, no entanto, eu estava sorrindo. 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? DEIXEM REVIEWS!!

Beijoss!



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