Enfaixei minha mão com cautela e soltando alguns xingamentos, não sou a mulher maravilha e aquilo REALMENTE tinha doído... Mas foi por impulso. Suspirei fundo e lavei a pia do banheiro, limpando o sangue e juntando os cacos do espelho que havia se espalhado. Até pensei na confusão que aquilo poderia resultar, mas deixei de lado. Já tinha sido expulsa de casa mesmo, não sairia sem deixar um prejuízo. Sorri, levemente irônica, com uma leve vontade de quebrar mais alguma coisa, mas me contive. Minha mão ainda doía.
Não demorei e preparei uma mochila com algumas peças de roupa, coisas leves, itens pessoais, um isqueiro e algumas barras de chocolate. Sentei-me na cama, pensando onde diabos iria parar. Não tinha nenhum parente vivo, praticamente, e o único lugar para onde poderia correr não me considerava uma boa visita. Olhei ao redor e parei o olhar sobre o criado mudo, onde meu palito de cabelo estava repousado. Era prateado, fino e em uma das pontas o desenho de uma tulipa era formado. Aquilo era a única parte do meu passado que resolvi guardar. Era a única coisa que precisava.

– Pois é, garota, parece que teremos mais uma aventura. - Levantei e peguei o palito, fazendo um coque em meu cabelo e o usando para prende-lo. Peguei a mochila e caminhei até a porta, dando uma ultima olhada em meu quarto. Possivelmente não o veria mais. - É, adeus. -

Desci as escadas da forma mais silenciosa que podia, mas não deu para evitar de encontra-la me esperando ao pé da escada. Com um sorriso vitorioso por se livrar de mim. Suspirei e continuei descendo, e a vi prestes de abrir a boca para falar mas alguma coisa, mas por sorte a campainha tocou. Fui salva pelo gongo.

– Faça algo de útil e atenda a porta. - Ela soltou entre dentes e virou as costas, indo para a cozinha. Suspirei aliviada e fui em direção a porta.

A campainha tocou mais uma vez e me apressei um pouco, olhando, curiosa, pelo olho mágico. Me assustei ao ver uma grande coisa verde e preta, que ao se afastar revelou ser o olho de um garoto aparentemente comum, da minha idade. E atras dele uma jovem de cabelos loiros também da mesma faixa etária. Não conhecia nenhum deles. Mas a próxima coisa que notei foi a camisa que eles usavam. Era laranja, com um simbolo que eu conhecia bem.
Meu coração palpitou e eu me afastei da porta, tremendo e sentindo a cabeça girar. A campainha tocou mais uma vez e logo ouvi os passos da minha mãe. Respirei fundo e levei a mão até a maçaneta, agora notando o quanto tremia. Forçando o meu corpo a me obedecer, abri a porta e coloquei o rosto, mais pálido do que o comum, para fora, encarando-os.

– Olá, meu nome é Percy Jackson. -