Era mais um dia desagradável e quente, com grandes proporções a dar algo errado. Não pense que sou pessimista. Hoje é o dia de mais um conselho de classe, e tenho certeza que algum professor vai encontrar algo para falar sobre mim. Sobre meu problema em prestar atenção nas coisas, o modo como intimido os grandalhões da minha sala com apenas um olhar, e, principalmente, pelo fato de ser a garota mais estranha de toda a sala. Não, eu não estou exagerando. Eu realmente sou diferente, e tenho um motivo para isso, mesmo que não muito agradável.
Depois de um certo tempo sentada de frente para a televisão , ouvi os passos pesados na pequena escadinha em frente de casa. Tão logo a porta se abriu e se fechou com força. Minha mãe chegava em casa.

– Qual é o seu problema, garota?! - A voz furiosa afirmava que meu pressentimento estava certo. Desliguei a T.V. e levantei do sofá. - Você tem noção de como é vergonhoso chegar na sua escola e saber que SEMPRE tem alguma reclamação sobre você?

– Hm, isso seria resolvido se você não fosse mais na escola. - Ponderei, com o meu mais amplo descaso por aquilo . Já estava acostumada.

– Não brinque com isso, garota! Não admito mais isso! - E lá vamos nós, pensei e virei as costas, indo em direção ao meu quarto. - Volte aqui. Não terminei nossa conversa, monstrinho estupido! -

– Monstrinho? Heh, a senhora dorme com o primeiro cara bonitinho que encontra e vem ME culpar? - Fechei os punhos, a muito tempo aturava aquele tipo de coisa calada. - Deveria agradecer aos deuses por não ter deixado algum monstro te devorar! - Esbravejei, e me virando vi o olhar horrorizado dela.

– Suma daqui. - O olhar horrorizado não durou muito. Logo a ira voltou a assumir, e eu, mais uma vez, notei nossas diferenças.

Ela era uma típica americana, alta, de olhar e cor viva, levemente morena, longos cabelos castanhos e olhos azuis tão belos que seriam invejados. Na verdade, Katherina nem sequer parecia minha mãe. Por que? Simples. Eu era uma coisa branca, sem graça, com olhos negros e profundos, cabelos negros e lisos que por implicância de Afrodite vive bagunçado. E claro, sem contar que eu também era uma semideusa.
Suspirei fundo e subi as escadarias até meu quarto, apressada. Me tranquei lá e corri para o banheiro. Me olhei no espelho por um longo tempo, usava uma camisa preta folgada de alguma banda antiga, já desbotada, uma calça jeans e apenas meias por estar em casa. Spikes e uma maquiagem em um tom sombrio, na verdade, nem sequer era maquiagem, já era algo meu ser assustadora. Encarei-me por um bom tempo até que tive os primeiros sinais de lágrimas tentando escapar. Não gostava daquilo, não gostava de ser fraca. Com raiva fechei o punho e, em uma atitude completamente idiota, soquei o espelho. Não tardando em sentir a dor pelo pedaço de vidro que rasgara a pele. Mordi os lábios e segurei o grito, deixando as lágrimas escorrerem enquanto retirava o vidro.

Agora teria um motivo para chorar.