HELENA

Peguei o carro de Márcia emprestado e disparei com André para a casa da vovó, que agora é minha casa.

Fazia cincos desde da morte dela. Era verdade o que ela dizia. Ela e Ysill possuíam um elo empático. Quando ele foi banido para o abismo fora de Nitha (além do oceano) minha vó também não suportou...

Também faz cincos anos que prometi a Zyah que nos encontraríamos. Deuses. É tão difícil acreditar que eu o veria novamente que não chego a respirar.

Já terminei a faculdade. História e ciências sociais. Nada mal não? André já está começando. Plenos 17 anos e ele continua vendo Transformers todo o dia na hora do almoço. Sei disso porque ele não para de me visitar. Hoje é um dos dias. Ele insistiu que eu o levasse para ver o Espelho. Tive que contar a verdade depois de ficar um mês fora... Um ciclo equivale a um ano, eu sei... mas se você contar com essas paradas científicas e confusas entenderá (talvez) porque só fiquei um mês no tempo terráqueo.

Estávamos chegando. Não tive coragem de tirar a decoração oriental que vovó sempre apreciou em sua casa. Zyah está provavelmente casado. Não podemos nos prender um ao outro já que só nos vemos a cada cinco anos. Mesmo que signifique ser infiel com o atual namorado.

Estaciono o carro. André tirou os fones de ouvido. Tão altos que eu podia ouvir Smels Like Teen Spirit perfeitamente.

- Você comprou outro DVD, né? - pergunta André.

- Claro! Não ia continuar com aquele dinossauro.

Saio do carro.

- Comprou um Playstation? - ele pergunta enquanto pego as chaves e abro a porta.

- Não, André!

- Mas aquele seu Playstation II tá muito velho.

- Por Lyra, André! Compra um com o dinheiro da mesada.

André ri alto.

- Mesada? Aqueles míseros 20 reais.

- Se juntar por um ano terá mais de 100!

Sim, as discussões continuavam. Menores agora que ele não tem mais 12 anos e eu não tenho mais 16. Mas ainda sim constantes! Bom, o que seria de nós sem elas?

Checo o relógio. 11 horas. Tenho que chegar ao meio-dia, que equivale a meia-noite de ontem/hoje em Nitha. Difícil entender, sei bem!

Subo as escadas com pressa. André corria atrás de mim. Nem sei como ele conseguia com aqueles tênis completamente estranhos.

Abro a porta do quarto da vovó. Ainda me dava arrepios. Ela havia morrido aqui, quando voltei. Tentou me atacar e disse coisas piores do que ela dizia quando eu era pequena. Disse que eu condenei o único amor dela e não merecia encontrar o meu.

André também parecia tenso. Ele viveu as mesmas experiências que eu em relação a ela... E ele era muito mais novo!

Abro a porta secreta e entro na escura e resguardada Sala do Espelho. Ele estava lá, normal como qualquer espelho poderia ser. Esperando que o relógio bata meio-dia para que o mundo gire.

- É ele? – André pergunta.

- Sim – respondo.

- Posso visitar...

- Não. Se for, só voltará no mês que vem. Apenas eu retornarei hoje... Foi o que Lyra determinou.

André fez um muxoxo.

- Que sem graça. Vai passar um dia com o cara?

Abro um sorriso.

- Um dia é o suficiente.

Meio-dia. Uma fumaça negra cobriu o Espelho. O habitual buraco negro formando-se. Disse a André que se afastasse. E, passo a passo, caminhei em direção à minha casa e a Zyah.