Caminhamos por entre as arvores, conforme caminhávamos o chão branco pálido coberto de neve, agora estava verde por uma grama saudável e brilhante, ao passarmos ao lado de uma arvore, as pétalas das flores da mesma voaram para fora de si e tomaram forma de uma mulher, que acenou para mim e para Lucia, acenamos de volta e continuamos seguindo os outros.

Ao chegarmos ao acampamento, uma trombeta soou avisando a nossa chegada, por onde passávamos todos se viravam para olhar nos, alguns murmuravam alguma coisa, ali haviam, faunos, centauros, e alguns animais também, conforme andávamos eles começaram  a nos seguir até a barraca principal, onde Aslam estava, paramos a frente da barraca e um centauro veio a frente, Pedro desembainhou sua espada e disse:

-Nós viemos para ver Aslam.

Então a tenda da barraca começou a se mover em sinal de que alguém iria sair dali, todos a nossa volta começaram a se curvar, e de lá de dentro saiu um enorme leão, ele não tinha o tamanho de um leão normal, muito menos a expressão de um leão normal, sua expressão era sabia, ele impunha autoridade, então fizemos o mesmo que todos e nos curvamos. E ele começou a dizer:

-Bem vindos Pedro e Lukas, filhos de Adão. Bem vindas Suzana, Melissa e Lucia, filhas de Eva. E bem vindos castores. Mas onde está o sexto?

Então nos levantamos e Pedro começou a explicar:

-Por isso viemos senhor, precisamos de ajuda.

-Nós... Tivemos um problema pelo caminho. –disse Suzana.

-Edmundo foi capturado pela feiticeira. –eu disse.

-Capturado? Como isso aconteceu? –perguntou Aslam.

Abaixamos a cabeça e ficamos em silencio, então o senhor castor disse:

-Ele... Os traiu senhor.

-Então traiu todos nós. –manifestou-se o centauro.

-Paz Oreus. –disse Aslam. – Sei que existe uma explicação para tudo isso.

Ele se virou para nós, e Pedro disse:

-Foi minha culpa, fui severo com ele.

Suzana e eu colocamos a mão sobre os ombros de Pedro e ela disse:

-Todos nós.

-Talvez se tivéssemos sido mais únicos isso não teria acontecido. –eu disse arrependida de muitos dos meus atos.

-Senhor ele é nosso irmão.

-E é importante para nós. –Lukas manifestou-se pela primeira vez.

-Sim eu sei, mas isso torna a traição pior ainda. –disse Aslam, então baixamos a cabeça. – Será mais difícil do que pensam.

-Porem não impossível não é senhor? –perguntei esperançosa.

-Não querida, nada é impossível. –respondeu ele sorrindo.

Sorrimos todos com essa nova esperança que nascia em nossos corações.

Tomamos um banho e nos trocamos, eu fui a primeira a sair, Suzana e Lucia ainda ficaram um pouco ali no riacho, eu fui dar uma volta pelo acampamento e avistei Pedro e Aslam conversando, me direcionei até eles, eles não notaram a minha presença, quando cheguei Pedro dizia:

-Mas nem pude proteger a minha família!

-Trouxe-os em segurança até aqui. –disse Aslam.

Pedro olhou para o horizonte e disse:

-Nem todos.

Coloquei a mão em seu ombro e ele se virou para mim, então eu disse:

-Não foi sua culpa Edmundo ter sido raptado.

-Nem sua Melissa. –disse Aslam.

-Eu estava ao seu lado, se eu ao menos o tivesse puxado comigo, ele estaria aqui agora.

-Você não podia prever o que ia acontecer. –Pedro tentou me acalmar.

-Mas estava obvio demais, qualquer teria puxado ele! –me exaltei um pouco.

-Melissa, não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos decidir o que vai acontecer no futuro. –disse Aslam me acalmando.

Sorri para ele.

-Vou fazer o possível para ajudar Edmundo. Mas peço a vocês dois que pensem no que eu lhes peço. –disse ele e olhou na direção do acampamento. – Eu também quero minha família segura.

Eu e Pedro compreendemos o que ele queria dizer, ficamos um tempo ali olhando o horizonte, quando ouvimos a corneta de Suzana tocar, eu e Pedro nos olhamos e dissemos em uníssono:

-SUZANA!

Corremos morro abaixo e fomos até o riacho onde ela e Lucia se encontravam em cima de uma arvore, e os lobos abaixo, prontos para pega-las, corremos até eles e desembainhamos nossas espadas.

-Para trás! –gritou Pedro.

-Não encostem suas patas nelas! –gritei.

E o lobo começou a dizer:

-Por favor, sabemos que vocês não têm coragem, já passamos por isso antes!

-Pedro, Meli! Cuidado! –gritou Suzana.

Alguns soldados e Aslam chegaram, Aslam imobilizou um terceiro lobo,os soldados estavam prontos para lutar, mas Aslam os parou:

-Não, esta batalha são deles.

-Podem pensar que são reis, mas irão morrer como CÃES!

Os lobos pularam em cima de nós, instintivamente enfiei a espada no lobo, mas ele caiu em cima de mim.

-PEDRO! MELISSA! –ouvi Suzana e Lucia gritarem.

Elas tiraram os lobos de cima de nós, estava confusa, não conseguia falar nada, apenas nos abraçamos e então Lukas chegou e se juntou a nós:

-Vocês estão bem? Feriram-se? Estão doloridos? Machucaram-se?

-Calma Lukas, estamos bem. –disse acalmando o garoto antes que ele tivesse um ataque do coração.

Aslam soltou o lobo que estava de baixo de sua pata e ordenou aos guardas:

-Sigam-no. Ele os levara até Edmundo. Pedro, Melissa, levantem- se e limpem as espadas.

Fizemos o que ele disse e nos curvamos a sua frente.

-Levantem-se. Sir Pedro e Melissa, ruína dos lobos, cavaleiros de Nárnia!

Enchemos-nos de orgulho, Lukas e as meninas sorriram para nós, e então voltamos ao acampamento, entramos em uma tenda e começamos a conversar:

-Vocês dois foram incríveis! –exclamou Lucia.

-E eu perdi essa. –resmungou Lukas.

-Terá outra chance de nos ver em ação Lukas. –eu disse.

Todos nós rimos, ficamos ali por um tempo jogando conversa fora, então Pedro disse:

-Acho que vou tomar um ar.

-Vou com você. –disse eu sorrindo.

Levantamos-nos e saímos da tenda, logo que saímos avistamos Oreus, que havia seguido o lobo para resgatar Edmundo, ele olhou para nós e fez um sinal com a cabeça indicando para onde mais cedo Aslam conversara comigo e com Pedro, olhamos para lá, e Edmundo estava de cabeça baixa enquanto Aslam lhe falava algumas coisas. Lucia, Suzana e Lukas saíram da tenda, quando Lucia viu Edmundo gritou:

-Edmundo!

Ela ia correr até ele, mas Pedro a impediu, o grito de Lucia chamou a atenção dos dois que conversavam ali em cima, eles olharam para nós, Pedro ainda parecia desapontado com Edmundo, Lucia e Suzana estavam felizes ao vê-lo, Lukas estava com uma expressão indiferente, e eu acho que devia estar com a mesma expressão de Pedro, apesar de não saber exatamente se estava chateada ou feliz, Edmundo e Aslam vieram em nossa direção.

-O que passou, passou. Não vale a pena discutir com Edmundo sobre o ocorrido. –disse Aslam e se retirou.

Edmundo olhou para nós meio sem graça e disse apenas:

-Ola.

Suzana, Lucia e Lukas, foram abraçá-lo, e Suzana perguntou:

-Você esta bem?

-Um pouco cansado.

-Descanse um pouco. –disse Pedro apontando para a barraca.

Edmundo foi caminhando até lá, e então Pedro o chamou:

-E Edmundo... Tente não se perder.

Edmundo riu e assentiu, Pedro não estava mais zangado com ele o que era bom, eu estava um pouco mais afastada de todos, Edmundo parou um pouco a minha frente, esperando que eu dissesse algo, minha posição era rígida, eu estava de braços cruzados e uma expressão desaprovadora no rosto, eles olhavam para mim esperando a minha reação, caminhei até mais perto de Edmundo, e lhe dei um tapa leve ta cabeça, ele estava pronto para começar a se desculpar, quando eu o envolvi em um abraço apertado, e disse:

-Desculpe por não cuidar bem de você.

-Não, eu é que devo me desculpar, devia ter lhe ouvido àquela hora, obrigada por se preocupar comigo. –disse ele.

Separamos-nos de nosso abraço, eu lhe lancei um sorriso e disse:

-Vá. Descanse um pouco.

Ele caminhou até a tenda e entrou na mesma, todos sorriram para mim, Pedro se aproximou e disse:

-Pensei que ia começar a gritar com ele.

-Não era o certo a fazer. –respondi.

-Você fez bem. –disse Lukas colocando a mão sobre meu ombro.

Sorri e assenti, fui dar uma volta pelo acampamento e me sentei, encostada em uma arvore e a sombra da mesma. Fique ali observando o céu por um tempo, até que Aslam se pôs ao meu lado:

-Você é muito sabia apesar de sua idade Melissa.

-Nem tanto, Aslam sinceramente, não sei se estou pronta para uma guerra, muito menos para liderar uma, sai de casa para me afastar de uma guerra que nem era minha, mas agora estou envolvida em uma guerra na qual as pessoas esperam que eu lidere. –desabafei.

-Você tem mais habilidades do que pensa minha querida. –disse ele.

-O senhor Noel me disse algo parecido com isso, eu não entendo, diga-me Aslam, o que isso significa.

-Tudo tem o seu tempo minha querida, e quando chegar a hora você entenderá perfeitamente. –disse ele me deixando mais curiosa ainda.

-Eu tenho medo de ir para a guerra, não posso fazer isso sozinha.

-Você tem mais coragem dentro de si do que qualquer outro aqui, você só precisa acreditar mais em si mesma, e, além disso, você não esta sozinha. –disse ele olhando para Lukas que vinha em minha direção, olhei para ele e me lembrei que mesmo quando perdi meus pais ele estava lá, mesmo sofrendo pelos seus próprios pais ele estava lá para me apoiar, Aslam tinha razão eu realmente não estava sozinha.

Ele se retirou e Lukas veio falar comigo:

-Sobre o que estavam falando?

-Nada demais. –menti.

Ele deu de ombros e disse:

-Venha, vamos comer alguma coisa.

Ele me estendeu a mão, me levantei e fomos para junto dos outros.