Três vozes e o Mistério Dos Ocultos escrita por Fran Carvalho


Capítulo 2
Filosofia mágica / Odeio diários / Formatura


Notas iniciais do capítulo

Bem aqui começam os diários... Para identificar cada uma, basta ver a assinatura no final de cada um.

♥♥♥ - Melissa (a humana com dom de visão)
♫♪♪♫ - Larissa (a fada rebelde)
:3 - Márcia (a futura vampira)

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325200/chapter/2

Luzíada, 29 de janeiro de 2005.

Eu e minha irmã mais velha sempre nos entendemos. Até mesmo quando o assunto era minhas crenças, ela tentava me respeitar, apesar de não gostar muito da ideia. Éramos companheiros para assuntos dos mais diversos. E foi numa ajuda que pedi para uma redação que veio a nossa primeira conversa sobre "filosofia mágica".

- Por que você não escreve sobre os animais ou a importância da conscientização política? Ou algo assim? - indagou Márcia em meio a um bocejo - Por que sempre tem que escrever sobre fadas ou magia?

Revirei os olhos, indignada. Minha irmã era mesmo uma incrédula de mão cheia.

- Porque eu tenho que escrever sobre algo que esteja familiarizada, lembra? - respondi - E além disso, eu gosto de falar sobre elas, me faz bem.

Ela concordou com a cabeça, conflitante, tentando encontrar argumentos. Eu ri.

- Mana, por que é tão fácil para vocês acreditarem em religiões e tão difícil acreditar num mundo paralelo? - perguntei, curiosamente - Será que esse mundo não é pequeno demais para ser só isso?

Ela pareceu interessar-se, curvou-se para mais perto do meu rosto, sorrindo.

- Tem razão - comentou - Como podemos acreditar em coisas tão metafísicas e não acreditarmos em seres mitológicos. Talvez porque eles sejam histórias para crianças? - ela enfatizou tanto a última palavra que eu tremi.

- Toda a história tem um fundo de verdade, mana - expliquei - Lembra daquilo sobre a chapéuzinho ser vítima de pedofilia e tudo mais? Pois então.

Márcia respirou fundo sem ação.

- Ok, você pode estar certa. Mas digamos que eu acredito em você e tudo. Onde fica o que você acredita em termos de religião?Onde fica Deus e tudo mais?

Dei um sorriso fraco. Ela estava começando a pensar, isso era bom.

- É simples, maninha - tentei explicar - Fadas são protetoras da natureza, desde os primórdios do nosso mundo. De todas as naturezas, de todos os mundos. E isso as fazem especiais.

Ela assentiu, interessada. Seus olhos brilhavam de curiosidade.

- Deus quis assim, é o que eu acho - encolhi os ombros - Se hoje a natureza está se esvaindo, não é por descuido do homem, que sempre desrespeitou a natureza da própria casa. Mas pela falta de crença da nossa espécie.

- Vai dizer agora que elas morrem se eu não acreditar nelas?

Neguei com a cabeça.

- Você não - expliquei - As crianças. Crianças deveriam acreditar em contos de fadas, mas elas perdem a magia cedo demais. As fadas morrem e a natureza fica desprotegida.

Márcia gargalhou.

- Até que gostei da sua histórinha - riu-se - Vou até contar para os meus alunos, eles vão curtir.

Revirei os olhos novamente. Isso já nem me magoava mais, estava acostumada.

- E se você já não é mais criança, por que precisa acreditar nelas? - perguntou a senhorita "não acredito em fadas".

- Porque eu as vejo - falei - Elas são reais para mim, não é só uma crença. É tão real quanto eu sou para você. Mas meu dom é único. Pessoas sem inocência não podem ter contato com fadas.

As rugas de indignação tomaram conta da testa de Márcia.

- Quer dizer que qualquer criança pode ver uma fada? - ela perguntou.

Eu assenti.

- Sim, qualquer uma. - falei - Até a idade em que sua inocência é perdida e ela possa entender o verdadeiro sentido do amor e do encontro de corpos. Então, se torna oficialmente uma adulta. Pelo menos na concepção das fadas.

- Caramba, Melissa - surtou ela - Toda essa inteligência desperdiçada com coisas sentido. Você daria uma boa professora, se desse oportunidade a você mesma.

Soltei um grunido, como se sentisse dor.

- Tudo o que sei foi ensinado por elas, mana, eu sinto muito.

Ela ergueu-se, frustrada.

- Claro, claro que foi - bufou - Escreve sobre isso aí, vai tirar dez fácil. Concordei, satisfeita.

- Mana - chamei, antes que ela saísse pela porta - Sinto muito por não ser a irmã madura que você queria ter.

Ela sorriu.

- Você é a irmã perfeita que eu queria ter, Mel. Só que dez vezes mais ingênua.

Ela saiu, e eu deitei a cabeça no travesseiro, sorrindo. Mal sabia a grande professora que eu já não era mais ingênua, tampouco inocente. Em menos de vinte e quatro horas, todo o meu dom iria embora junto com a minha honra.

Porque eu amava um garoto perfeito.

♥♥♥

CuteWolrd, 29 de janeiro de 2005.

Odeio diários. 

Mas fadas são obrigadas a terem um.

Então não me obrigue a usar "querido diário" e essas drogas todas.

Mas que seja.

Meu mundo é composto por seres que os humanos acham que não existem: vampiros, elfos, fadas, bruxas...

Não existe um só tipo de fada, existem gêneros ou raças, que nos subdividem onde vivo.

CuteWorld é a terra das fadas protetoras, ou fadas guerreiras, e somos as fadas mais parecidas com as histórias infantis.

Ao menos elas são.

Não é fácil viver em CuteWorld.

Os humanos falam em contos de fadas, como se a nossa vida fosse um mar de rosas. Mas nem tudo é como parece ser.

Meu nome é Larissa Bell, e eu sou a Fada da Música.

Cada uma de nós tem uma missão na Terra, como protetora. Protegemos o que nos foi designado. Eu protejo músicos.

Tenho a honra de ser neta da rainha Vitória, a Fada da Família, cuja cor principal é o azul escuro. As princesas, são duas: minha mãe, Debby, é a Fada do Casamento, e é casada com meu pai, Juan, o Senhor do Tempo (um elfo de mais de três séculos). Minha tia é Gabby, a conhecida Fada Azul, protetora das águas e da natureza. A filha dela, Éllen, é a Fada da Riqueza, e é a pessoa que eu mais odeio na Terra.

Depois da nossa família real, a Bell, temos mas duas famílias nobres. Koala Doll é a deprimida e quase sem poderes Fada dos Animais. Matilde, sua filha mais velha, é a sexy Fada do Sexo, que é minha única amiga por aqui. E a pequena Pig, de três anos, é a nova Fada da Primavera.

E a última família nobre são as guerreiras irmãs Cool. Cléo, a Fada da Guerra; Ciça, a Fada das Florestas e a pura e inocente Sandra, a Fada do Amor e das Donzelas.

Hoje estava tudo um tédio mortal na janta de campanha da Fada Azul, a irmã gêmea da minha mãe. Apesar de saber que o cargo de rainha já estava ganho (antes de se aposentar, minha vó praticamente nomeara Gabby rainha em seu lugar), minha tia insistia na democracia.

Chata.

As candidatas era Fada Azul, Cléo e Koala. Nenhuma das outras duas estava envolvida com a campanha eleitoral, porque bem, Gabby já tinha o trono, isso era óbvio, até para mim.

Eu girava meu copo já vazio, pensando. A maioria das fadas eram frutos de relacionamentos curtos com seres humanos. Eu sou a exceção a regra. Meu pai é o grandioso elfo Juan, o Senhor do Tempo. O casamento dos dois dura até hoje.

Minha mãe era a bela Debby, a Fada do Casamento. Sou conhecida por aqui por dois motivos. Primeiro: sou a única fada fruto de um casamento . Segundo: sou a única fada rebelde e roqueira que já existiu na História.

E vamos deixar algo claro: odeio vestidos, glitter e qualquer coisa que lembre brilho. E odeio rosa. E odeio qualquer coisa que as outras fadas amam.

- Entediada? - perguntou minha prima insuportável, Ellen, a Fada da Riqueza.

Levantei a cabeça na direção da voz irritante.

- Me deixa em paz, coisa amarela - falei, a respeito da cor do pó mágico característico dela.

Ela sentou na cadeira em minha frente, escorando a mão no queixo e o cotovelo na mesa.

- Você é a Fada da Música, Larissa - ela separou as silábas e falou-as devagar, como se eu tivesse três anos - Deveria ser mais animada.

Dei de ombros, indiferente.

- Sou a Fada da Música, não da dança, coisa lenta - falei, irônica - Boa música, lembra?

Apontei para minha tatuagem no ombro, um teclado e uma nota musical.

- A verdadeira música.

Ellen revirou os olhos, toscamente.

- E rock é boa música - ironizou.

Fuzilei a garota.

- Rock é MEU estilo musical, idiota - falei - Mas, sim, rock é boa música.

Ela riu, maliciosamente.

- Vou ajudar minha mãe, Lari - falou, erguendo-se - Vejo você depois.

Graças a Deus.

Assenti. Cansada de tudo, coloquei o fone no ouvido com Green Day, no volume máximo.

♫♪♪♫

05 de fevereiro de 2005.

Formatura

Nunca tive diários. Acho que não tinha paciência para isso. Mas a ideia da professora de criar um blog foi interessante, acabei aderindo.

Depois de seis meses de estágio, lecionando a uma turminha de terceiro ano, hoje finalmente foi o dia da minha tão sonhada formatura.

Estávamos no grande salão onde a formatura ocorreria, desde as duas da tarde. Passamos a tarde entre ensaios e mudanças de horário, para enfim, vestir as túnicas azuis escuras, e a fita roxa, que simboliza o magistério.

Meu nome foi anunciado, e meus pais e Melissa fizeram uma algazarra, acompanhados dos gritinhos da pequena Isabel. Como eu estava feliz! Vendo meu sonho realizado e minha família me prestigiando. Fui ao encontro do professor, que me esperava com o diploma em mãos. 

Eu suava frio, e o sorriso ia de uma orelha a outra. Se felicidade fosse líquida, seria possível que estivesse saindo pelos meus poros.

Depois da festa na boate perto da escola, cheguei cansada, troquei de roupa, e vim postar por aqui.

Daqui pouco menos de um mês, vou me mudar para uma cidade pequena, de nome Mariluz, onde vou ter meu primeiro emprego.

Espero que muitas surpresas me esperem lá.

postado por Profª Márcia às 3:49


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo grande, né? Espero que sejam todos assim! Semana que vem tem mais ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Três vozes e o Mistério Dos Ocultos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.