If I Die Tomorrow escrita por Tcrah


Capítulo 8
Aprendendo a existir.




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_ Agora você pode me explicar o porquê de ter saído tão brava? – Perguntou Renata.

_ Sério Renata? Todo esse tempo que vamos passar dentro do avião você vai querer falar do Mark?

_ Sim. Eu soube que ele foi na festa ontem e vocês brigaram. O que ele estava fazendo lá?

_ Eu vou te explicar tudo isso quando chegarmos em Londres.

_ E por que não pode explicar agora?

_ Porque estamos dentro de um avião. Se você quiser me matar eu não terei pra onde fugir. E pior, se ficarmos irritadas uma com a outra, teremos que conviver harmoniosamente até pousarmos. Então, não, não quero passar a viagem toda brigada com você.

_ Por que você brigaria comigo? – Ela parou para pensar e me olhou séria. – Thamires, você e o Mark...?

_ Não! – Menti, mas fui convincente. Engoli o seco. – Eu pedi para o Mark ser seu médico particular.

_ O QUE? – Ela se levantou. Logo uma aeromoça apareceu e pediu para que ela se sentasse e colocasse o cinto porque o avião decolaria. – Por que você fez isso? Ele vem? Ele está aqui? Ele recusou? Vocês estão tendo um caso? Não mente pra mim.

_ Calma Renata. – Fechei os olhos, pensando em um jeito de encaixar a história cortando a parte em que nós subimos e tivemos um... Momento. – Ele apareceu lá com alguns amigos para se despedir da gente. Eu e ele conversamos um pouco e eu disse que confiava muito nele e que não queria um estranho tomando conta de você, ai eu perguntei pra ele se... Ele podia nos acompanhar em nossa viagem e ele estava pronto pra aceitar, quando um dos amigos dele interferiu. Disse que se eu levasse ele, estaria te matando porque ele nem conseguiu entrar pra faculdade de medicina e que só aparecia no hospital para fazer o curativo em algumas pessoas, já que o pai dele trabalha lá e não podia deixa-lo desempregado. – Respirei fundo. – Conclusão, é um babaca. Como eu sempre suspeitei.

Renata parecia estar surpresa e aliviada ao mesmo tempo.

Em fevereiro ela completa 28 anos. Para ela é só mais um dia normal. Ano passado, ela comemorou seu aniversário bêbada. Na verdade, ela passou o ano inteiro bêbada. Não me lembro da última vez que a vi sóbria. Em Vancouver, qualquer um pôde ver o quanto ela esteve triste, mas, meu Deus, é tão lindo quando essa garota sorri. Sinto vontade de abraça-la, mas talvez eu só pense sobre isso.

Segurei sua mão. Agora nada nos atrapalharia. Só eu e ela até o começo de abril. Comecei a pensar que, em certo ponto da vida, você repara que são poucas as pessoas que continuam do seu lado. Tirando sua esposa e filhos, você quase não tem amigos para descontrair. Pensei em todos os meus relacionamentos que já deram errado e no colo que a Renata me deu quando eu precisei. Cheguei a conclusão de que, mesmo as pessoas achando errado, Renata é a minha metade. Mesmo tendo que leva-la no hospital todos os meses, ela é a minha metade. Mesmo tendo que busca-la nos bares quando ela está bêbada demais para ir embora sozinha, ela é a minha metade. E não é o deus grego ou o Dênis que vão tirá-la de mim. Se isso significa que todos os dias da minha vida eu terei que cuidar dela, leva-la para sair, leva-la para comer, cuidar de seus remédios e de seu sono, então eu quero entrar de cabeça nisso tudo. Se isso significa que eu vou tê-la até o último segundo da minha vida, então eu quero entrar de cabeça nisso tudo. Porque só assim eu tenho certeza de que serei feliz de verdade.

Chegamos ao hotel e trocamos de roupa. Peguei um mapa da cidade enquanto Renata terminava de tirar algumas coisas da mala.

_ Então, nós podemos ir a um restaurante que tem aqui perto. Você terá de tomar dois remédios, um agora e outro durante o jantar. Parece ser bem seguro e é o melhor da cidade. – Ela veio até mim e tirou o mapa da minha mão.

_ Não. – Disse.

_ Para de brincadeira, Renata. Nós precisamos comer alguma coisa. – Peguei o mapa de volta.

_ Não Thamires. Eu não vou com você aos lugares mais seguros da cidade. Para de agir como se fosse minha mãe. Eu e você vamos a algum bar aqui perto. Vamos beber, rir atoa, dançar pela rua até ficarmos tão exaustas a ponto de ter que voltar de táxi para o hotel e depois vamos       “estrear” esse quarto. – Ela riu maliciosa e me beijou. – E você vai aceitar que não é minha mãe, e sim minha namorada. Eu tenho um novo rim que pode facilmente ser fodido se eu beber vodca demais, mas não vamos nos preocupar com isso, ou vamos?

_ Talvez a gente se preocupe um pouco... – Isso a irritou, porque ela suspirou e se afastou.

_ Vou sair. Você vem ou vai ficar ai comendo mosca? – Ela bateu a porta, o que me fez ir atrás dela.

Caminhamos de mãos dadas pela rua, até entrar em um bar um pouco estranho. As pessoas que estavam lá não pareciam ser bêbados.

_ Barman. – Disse Renata, mas apareceu uma garota. – Ou bargirl. – Ela a olhou de cima a baixo, comendo-a com os olhos. Dei um cutucão em Renata para que ela parasse, mas ela mordeu os lábios. A menina percebeu e retribuiu o sorriso. – Não sabia que aqui tinha strip tease.

_ Não tem. – Respondeu a moça. – Acho que você confundiu a cafeteria com um bar, mas se tiver confundido, vai ser pior para mim, pois você sairá sem me dar seu telefone. – É impressão minha ou elas estão flertando na minha frente? Renata apenas sorriu e se aproximou.

_ Renata. – Disse ela.

_ Sadie. – Respondeu a moça.

_ Prazer. Muito prazer. – Renata e Sadie estavam a menos de um palmo de distância.

_ Ok! – Falei, puxando Renata de volta para o seu lugar. – Desculpa ter confundido, viu Red.

_ É Sadie. – Corrigiu.

_ Tanto faz. – Levantei e puxei Renata. – Vamos para um bar, esse lugar aqui é chato.

_ Eu estava começando a gostar daqui. – Disse Renata.

_ Renata, que porra é essa? – Virei-a e olhei-a nos olhos. – Você diz para eu agir como sua namorada e está flertando com a vadia do bar?

_ Tá, desculpa. Mas você tem que admitir que ela é bonita.

_ Por que você está fazendo isso? Achei que estivéssemos namorando. – Falei impaciente.

_ A gente já estava namorando quando você e Mark dormiram juntos.

_ O que? Eu e Mark não... De onde você tirou isso?

_ É você tem razão. Vocês não dormiram juntos. Só fizeram amor na NOSSA cama. Na cama em que nós fizemos amor algumas horas antes de você e ele... Que nojo Thamires. Achei que você fosse melhor que isso, sabia? Mandou eu pegar sua carteira no banheiro e eu, inocente, acreditei em você.

_ Me... Me desculpa Renata. Eu juro para você que não foi minha intenção te magoar. – Abaixei a cabeça. – Mas saiba que eu amo você e não o Mark. Com ele foi só coisa de momento, eu juro. Você tem que acreditar em mim.

_ Eu acredito em você. Eu sou mais forte do que pareço, Thamires. Acostume-se com isso.

Renata saiu e me deixou sozinha no meio da rua. Continuei andando pensando no que fazer para recompensar tudo aquilo que a fiz passar. Logo agora que nós estávamos indo bem. Logo agora que eu aceitei que estava apaixonada por ela.

Entrei num bar. Num bar de verdade e sentei em frente ao balcão. Fiquei olhando as pessoas e imaginando o que poderia ter acontecido nas vidas delas para elas estarem aqui.

_ Esse lugar está ocupado? – Disse um garoto que parecia ser bem mais novo que eu.

_ Não, fica a vontade.

Ele se sentou e pediu uma bebida para ele e para mim. Me cantou algumas vezes, mas sem sucesso.

_ Você é mais difícil do que eu imaginei. – Ele disse, finalmente.

_ É. Todo esse perfil de “garota abandonada que precisa urgentemente de colo” é falso. – Mostrei uma aliança de noivado para ele. Aliança na qual não tinha dono. Eu sempre coloco quando vou a baladas ou bares para despistar os pegadores de plantão tipo o Mark. O Mark. Por que eu ainda penso nele? Tudo bem que, em anos, ele foi o primeiro amigo que eu tive, mas isso não significa que eu deva pensar nele. Ele vacilou comigo e isso não tinha perdão.

Voltei para o hotel e ouvi algumas risadas de dentro do quarto. Quando abri a porta, vi Sadie saindo do banho sem toalha nenhuma e Renata deitada na cama.

_ QUE PORRA É ESSA? – Gritei. Renata continuou rindo e levantou para cobrir Sadie, que estava roxa de vergonha. – O que você está fazendo aqui? Vocês se conheceram hoje!

_ Pois é, mas minha agenda estava fazia. – Disse Renata, bebendo um copo de vinho e abraçando Sadie que parecia estar tão envergonhada a ponto de querer desaparecer. – Onde você estava? Demorou.

_ Eu fui a um bar. – Disse, tirando a aliança falsa do dedo e colocando no bolso. – Mas você já tinha companhia. – Sorri ironicamente.

_ Sadie só estava me mostrando as coisas boas que Londres tem para oferecer. – As duas riram.

 _ Eu juro que se você não sumir da minha frente agora eu vou te jogar pela janela. – Disse, respirando fundo. Sadie se apressou em colocar sua roupa e, quando estava saindo do quarto, Renata a puxou pelo braço e beijou seus lábios. Depois prometeu que ligaria. – Você fez isso para me magoar, para dar o troco na mesma moeda.

_ Não. – Disse Renata. – Seria um bom plano... Cruel, mas bom. – Ela veio até mim e secou uma lágrima que eu deixei escorrer. – Eu fiz isso porque deu vontade. Há tanto tempo que eu sigo regras, Thamires. Eu só queria extravasar.

_ E não pensou em mim?

_ Claro que eu pensei em você, meu amor. Pensei num ménage à trois. – Ela sorriu. – Você sabe que eu te amo mais do que conseguiria amar qualquer outra garota no mundo. Eu só queria me divertir de um jeito que você também pudesse se divertir. – Revirei os olhos. Não estava acreditando que ela estava falando isso. – Não fica brava, foi um sentimento puro. Eu juro. Mas se te irritou, eu não faço de novo.

_ Tudo bem. – Respirei fundo. – Eu te desculpo porque eu acredito que você não quis me magoar, do mesmo jeito que eu não quis te magoar quando dormi com o Mark. – Ela revirou os olhos e bebeu o vinho. – Mas não faça de novo, porque se você fizer... Eu vou embora.

_ Eu não sabia que você estaria sensível hoje. – Ela deitou-se na cama e fez sinal para que eu deitasse com ela. – Eu cometo muitos erros porque eu não penso em como as pessoas vão se sentir quando eu fizer. Cometo tantos erros que afastei todas as pessoas que eram próximas de mim. Além de você, Thamires, eu nunca havia beijado a boca de outra pessoa. Quem dirá dormir. Eu sei que daqui a um tempo, você enjoará de ficar só comigo, mas eu nunca vou enjoar de ficar com você. Então eu estou te pedindo para acreditar na minha palavra... Não há ninguém no mundo que eu ame tanto quanto amo você. – Ela encostou a cabeça em meu ombro e adormeceu.

Todo esse tempo eu tenho sido injusta com ela, mas isso não significa que eu deva perdoar toda vez que ela dormir com outra pessoa. Todos que eram próximos de Renata acharam que seria melhor se ela ficasse internada, já que, segundo eles, ela é um peso morto. Renata nunca soube como é ser amada ou sequer respeitada. Acredito que ela só ficou com a Sadie para saber como é ter a atenção que ela sempre mereceu e nunca recebeu de outra pessoa que não fosse eu. 


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Notas finais do capítulo

Não fiquem bravos... Comentem! Vocês sumiram D: se gostarem, comentem, please.



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