Tudo parecia estar acontecendo em imagens para Aang, como se não fossem contínuas, sem formar um “vídeo”. E a cada imagem, Shyo e Ceelo pareciam mais perto dele, prontos para dar o primeiro golpe.

Sua perna estava esticada à frente, enquanto a outra estava um pouco dobrada, numa posição de batalha defensiva. Estava pronto para receber o golpe, não importando como ele fosse. E o ataque aconteceu antes que tinha imaginado, dos dois garotos.

Eles estavam dominando o ar em volta do punho, para aumentar o tamanho e a força do soco. Os dois vieram numa velocidade incrível, mas Aang estava preparado. Um dos socos, o jovem dominador do Sul conseguiu desviar,mas o outro acertou-o em cheio no peito, fazendo-o recuar alguns centímetros com o impacto, mas se manteu na posição, sem recuar mais.

Aang ficou surpreso consigo mesmo. Seu peito ainda latejava ininterrupto por causa do primeiro duelo, mas não sentia dor alguma a mais, como se o soco não tivesse surtido muito efeito. Ele se lembrava, o soco tinha acertado-o em cheio, com uma força muito grande, mas... ele não sentia os efeitos dele. Ele olhou para o peito, pra conferir se ele ainda estava ali, inteiro. E estava, sem nenhum arranhão. Somente a dor latejante, que conseguia ignorar facilmente.

Aang sorriu, satisfeito.

Bem, pelo menos ele tinha sobrevivido ao primeiro ataque.

Ceelo, que havia acertado o soco, estava parado encarando o alvo. Sim, ele acertara, mas Aang ainda estava em pé. E pior, ele estava sorrindo, até mesmo surpreso. Por uma fração de segundo ele se paralisou, sem entender o que acontecera. Mas ele voltou à realidade na mesma rapidez, pronto para outro ataque.

Dessa vez, ele lançou um chute giratório no ar, fazendo esse se dobrar, indo na direção de Aang, como um chicote circular, mas o jovem do Templo do Sul conseguiu desviar o ataque com facilidade, fazendo-o ricochetear e ir na direção de Shyo, que quase foi acertado.

Aang sorriu de novo, dessa vez diretamente para Ceelo. O garoto estava incrédulo. Aquele baixinho estava controlando seus ataques sem nem recuar. E continuava sorrindo, como se não estivesse sentindo nada. Ele olhou pra plateia. Todos estavam olhando para ele, como que esperando que ele fizesse algo melhor. Estava sendo envergonhado.

Novamente, ele partiu junto com Shyo para um ataque direto. Ele dobrou o ar nos pés para pegar um impulso, se lançando em cima de Aang, que continuava na posição defensiva. Sua mão estava novamente coberta por dominação de ar, para intensificar o ataque. Ele estava sentindo a raiva subir para sua cabeça. Iria acertá-lo dessa vez com mais força.

Sua raiva estava tão grande que mal percebeu o movimento de Aang, e quando o fez já era tarde. O garoto havia saído da posição com um pequeno impulso com o pé, desviando para direita dos ataques. Ceelo e Shyo passaram direto, errando o alvo novamente. Aang se dirigiu à outra ponta da arena e ficou novamente na posição defensiva.

Os jovens do Norte demoraram para se recompor e entrar novamente na batalha. Ceelo, assim que se virou encarou Aang, que continuava na posição, como se ele não tivesse feito nada. A raiva tomou-o totalmente. Ele sabia que deixar sentimentos como a raiva dominá-lo ía contra tudo o que aprendeu, mas ele não se importava com as regras e ensinamentos. Não agora, só queria que aquele garoto pagasse.

Ele encarou Aang, com a respiração pesada, rangendo os dentes. Ele firmou os pés, e num movimento muito rápido, ele puxou uma grande quantidade de ar e mirou no jovem à sua frente, colocando muita força. Aang fexou os braços, como que formando um escudo.

O ataque chegou com uma força avassaladora, ricocheteando nos seus braços, fazendo Aang recuar mais alguns centímetros, e continuava pressionando para trás. Em um relance, Aang percebeu que estava na beirada da arena. Ele não aguentaria muito mais, iria acabar caindo pra fora como da última vez. Mas se caísse de novo... não teria mais chances, ele perderia.

Naquele momento Shyo já havia se juntado à Ceelo, aumentando a força e a pressão do ataque em Aang, que agora estava cada vez mais perto da beirada.E eles não diminuíram a pressão. Pelo contrário. Ao ver Aang ranger os dentes pelo esforço, aumentaram ainda mais a pressão.

A pressão estava esmagando-o e ameaçando fazê-lo voar umas centenas de metros pra fora da arena. Ele já estava muito exausto por manter sua defesa, sem recuar, e seu pé já tocava a beirada, perdendo espaço para se apoiar no chão.

Então, Ceelo viu,  ele estava sem espaço pra mais que uma perna. Ele ía cair, tinha certeza, desse ataque ele não escaparia. Continuou depositando todas as suas forças naquele golpe, puxando mais e mais ar na direção de Aang.

Aang vasculhava sua mente, olhando todas as suas aulas com o Gyatso. Precisava se lembrar de algum contragolpe, precisava sair daquela beirada, e o mais importante, não podia cair. Ele lembrou de muitos golpes que seu mestre o ensinara. A Parede Frontal, que movimentava os braços para formar uma parede-barreira contra qualquer ataque. Também se lembrava do Contra Soco, em que ele dominava o ar no seu pulso, para aparar uma bola de ar ou outro ataque qualquer. Haviam muitos outros movimentos defensivos, mas nenhum parecia útil para sua situação.

Mas... havia uma forma. Ele não sabia nenhum movimento adequado, mas sabia uma forma de sair daquela situação. Teria que inventar. Em menos de um segundo, ele já tinha se decidido. Com as últimas forças que ainda tinha nas mãos, ele conseguiu fazer a forte corrente de ar retroceder alguns centímetros.

Ele tomou impulso com o pé que ainda estava de dentro, indo para fora da arena. No ar, ele conseguiu girar e, juntando muita força, ele conseguiu dar um chute giratório, que acertou a corrente de ar. Ele colocou toda sua força, mas ainda sim foi por pouco que ele conseguiu fazer a corrente ricochetear, e provavelmente, havia quebrado a perna com aquele impacto. Mas isso não importava, ele tinha conseguido desviar o ataque.

Com a outra perna ele comprimiu o ar e o impulsionou novamente para dentro da arena, caindo deitado, sentindo-se finalmente exausto.

Sua perna doía muito, e ele não conseguia mexê-la sem quase cair novamente de dor. Depois de quase dez segundo, levantando primeiro uma das pernas, e depois posicionando a outra, machucada, de forma ereta, pra então ficar em pé.

Ele olhou pra frente, ainda confuso e tonto. Ceelo estava perplexo, olhando pro nada, com os olhos arregalados. E ao seu lado... não tinha ninguém . Shyo não estava ali, ao lado do colega do Norte. Por uma fração de segundo, Aang ficou sem saber o que aconteceu, se perguntando onde estava seu inimigo.

Depois de alguns segundos, Aang focalizou a sombra atrás de Ceelo. Lá embaixo, fora da arena, totalmente derrotado, estava Shyo. Não era possível, não acreditava nos seus olhos. Teve que olhar mais algumas vezes para acreditar no que estava na sua frente.

De alguma forma, ele conseguira fazer a corrente ricochetear e ir diretamente em Shyo e, provavelmente , o ataque pegara-o totalmente despreparado, e o resto fora inevitável. Ele foi jogado para fora da arena.

Aang sorriu, satisfeito.