O dia já estava amanhecendo quando Aang acordou. Sua visão ainda estava embassada, quase não conseguia ver o que o cercava. Seu corpo doía muito e estava com dor de cabeça insuportável. Ele ouvira uma voz perto, mas não conseguiu reconhecê-la.

—Monge Gyatso, ele acordou!—parecia ser uma garota, e Aang percebeu a felicidade na voz dela— Venha ver!

Passos apressados vieram na sua direção. Sua visão estava melhorando e ele conseguiu identificar seu mestre, parado à sua frente.

Estava deitado numa cama, havia um pequeno móvel de madeira a seu lado e duas cadeiras ao lado da cama, onde Gyatso sentara.

—Aang, como você está?

—Estou... um pouco tonto e sentindo muita dor— sua voz ainda estava fraca e falhando, porém o monge sorriu extremamente contente com aquela melhora.

—Isso é ótimo! Muito bom.

Aang percebeu que seus ombros, barriga e costas estavam enfaixados. Ele sentia fortes pontadas no peito e no meio da coluna, além de não sentir o seu braço esquerdo. Tentou ficar sentado, mas uma dor insuportável o fez voltar a deitar.

—Mestre, o que aconteceu?— falou o garoto— Eu não me lembro de nada, só que eu caí da arena.

—Você...não se lembra?— Gyatso parecia confuso. Aang confirmou com a cabeça— Você venceu, Aang!— o monge falou, com um sorriso largo, todo orgulhoso— Só que seus ferimentos foram fortes. Você desmaiou logo em seguida e está aqui há um bom tempo.

—O-o que?— Aang não estava entendo. Ele estava ficou desmaido por muito tempo? Ele olhou pela pequena janela lateral e percebeu que era manhã— Que dia é hoje?

—Quarta-feira.

Aang olhou ao seu redor. Era estranho, parecia que não tinham se passados mais que alguns minutos, porém, na verdade, estava desmaiado desde segunda-feira. Aquilo o aterrorizava, principalmente pelo fato de não poder se lembrar de nada.

Ele voltou-se para seu mestre, que estava com expressão neutra. Aang deu um grande sorriso.

—Então eu ganhei?— os dois riram juntos.

—Sim, e você tinha que ver a cara do Rein! Ele ficou furioso com a derrota, saiu bufando— os dois riram novamente. Parecia que Aang já estava bem melhor.

De repente, Gyatso ficou sério. Sua expressão era de nervosismo.

—Aang...você tem certeza que não se lembra de nada? Tente se lembrar!

Aang olhou para o monge. Ele parecia preocupado. Tentou varrer sua cabeça à procura de alguma pista. Algumas imagens passaram pela sua cabeça.

—Eu... eu me lembro que estava sem forças, caído no chão — Aang continuava tentando encaixar as imagens— Eu ía desistir, não aguentava mais... até que um homem apareceu.

Gyatso ouvia com atenção ao garoto, que falava como se não se referisse a ele.

—Quem apareceu, Aang?

—Eu não sei, não o conheço— o garoto fez uma pausa, tentando se lembrar dos detalhes— Era alto, com uma barba grande e usava roupas vermelhas. E ele me disse... que eu tinha que continuar lutando.

Nesse momento as imagens na sua cabeça ficaram escuras e uma forte dor de cabeça invadiu Aang. Ele perdeu a concentração e abaixou a cabeça, indicando que terminara seu relato.

Ao seu lado, o monge parecia atônito. O garoto disse que alguém o ajudara, apesar de Gyatso não ter visto ninguém fazé-lo, ainda mais vestindo vermelho. Isso estava se encaminhando para onde tinha imaginado. Aang estava dando os primeiros sinais.

Os dois foram surpreendidos quando a porta foi escancarada, batendo contra a parede com força. Por ela entraram, correndo, Kyro, Sonam, Kym e Rinzen.

—Aang, até que enfim— falou Kyro. Os garotos todos abraçaram o amigo e se empoleiraram ao lado da cama— Viemos assim que soubemos que tinha acordado.

—Obrigado, me sinto melhor agora.

Os garotos sorriram, percebendo que Aang estava de volta.

—Você nos deixou preocupados depois da luta!— Kyro deu um soco no peito de Aang, cumprimentando-o, mas isso só fez o garoto gemer de dor— De toda forma, parabéns pela vitória, você foi demais!

Aang apertou a mão do amigo. É verdade, ele ganhara, apesar de tudo.

—Então, já que está tudo certo, eu já vou. Preciso resolver alguns problemas— falou Gyatso, se levantando da cadeira e indo em direção à porta— Tchau, garotos.

Dito isso, ele se retirou e fechou a porta, deixando os garotos à sós.

—Aang, acha que consegue lutar hoje?— perguntou Rinzen, que estava ainda preocupada com o estado do garoto.

—É verdade, tinha me esquecido do campeonato!— Aang falou, com novos pensamentos se formando em sua cabeça— Não sei se vou conseguir... mas vou tentar.

—É assim que se fala, garoto!— falou Kym, que até então se manteve calada.

—Falando em campeonato, Bumo e Basu venceram?— perguntou Aang, se referindo aos outros competidores do Templo do Sul.

—Na verdade não, você foi o único do Templo do Sul que ganhou— disse Rinzen

Aang deu um pequeno sorriso em resposta. Por um lado era bom: não queria enfrentar alguém de seu Templo. Porém, queria que os companheiros também tivessem vencido.

Ele olhou para Kyro, procurando a expressão do garoto, que se encontrava feliz e distraída

—Ah, Kyro, eu perdi seu jogo de Bolas de Ar!— percebeu Aang, quase saltando da cama.

—Não tem problema, eu entendo— falou Kyro, balançando a cabeça—Além disso, você não perdeu muita coisa, foi uma vitória fácil!

—Ha! Eu sabia que você venceria!—Aang comemorou, satisfeito com aquela notícia— Tenho certeza que vencerá o próximo jogo, e dessa vez eu estarei lá!

—Tem certeza?

—Sim, eu prometo.

Todos riram juntos, como se fosse uma grande piada. A verdade é que estavam todos aliviados pela melhora de Aang à tempo para continuar no Campeonato de Duelos e da recente vitória de Kyro.

Aang olhou através da sala, para dentro de si. Não estava totalmente curado, ainda sentia muitas dores por todo o corpo, mas iria tentar com todas as suas forças.

Essa seria a segunda luta, onde os 3 competidores de cada sexo se enfrentam numa só luta, com um único round. Então Aang teria que enfrentar mais dois dominadores , e ser o último a sair da arena.

Ele precisava ganhar. Para provar a todos que não era fraco, como foi no primeiro duelo. E lá no fundo, Aang sentia que estava preparado para isso.