Sonhos Distorcidos - Original escrita por Marie Lolita


Capítulo 2
01 - Conselhos de uma SEXOLOGA inexperiente


Notas iniciais do capítulo

Eu quero agradecer a minha queridíssima Lola Lolita - minha parente por consideração - pela recomendação. Isso significa muito para mim.
Enfim, o primeiro capítulo esta aí, espero que esteja bom.



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Atualmente

Desde os meus 11 anos de idade eu aprendi a não mais detestar esse parque, na verdade, agora eu o amo – coisa irônica – e desde aquele dia venho todo santo dia e sento no mesmo banco aonde ele me desenhou. Não sei muito bem o porquê, mas me sinto ligada aquele garoto, mesmo que não saiba nada sobre ele, nem o nome.

“Quem sabe se seu sonho envolver arte você também não entre na Royal, aí, se realmente for o destino e eu estiver lá e nos reconhecermos, eu te digo meu nome.”

Todos os dias eu me lembro o que ele me disse e virou meio que um mantra repeti-lo para mim mesma.

Mas por mais que eu tenha prometido que iria conseguir um sonho próprio, nada mudou, eu continue seguindo tudo que minha mãe me manda fazer, mas apenas duas coisas nos meus dias faz a minha vida não ser um completo inferno. Primeira: quando eu posso vir a esse parque e ficar sentada olhando o lago. Segunda: desenhar com meu irmão gêmeo. Nos dois aprendemos a amar a arte por igual. Quando dei conta já estávamos um do lado do outro desenhando em nossos próprios blocos de desenhos – isso, sendo que ele não gostava de mim, nem ao menos dirigia a palavra.

Eu e o Chay crescemos falando um para o outro que um dia entraríamos para a Academia Royal. Somente ele me entendia e por um tempo eu achei que isso não era só palavras ditas ao vento, eu realmente quis acreditar que eu faria a única coisa que eu já desejei fazer por mim mesma. Mas eu não sabia o quão enganada eu estava.

Mesmo a contra gosto eu continuei competindo em concursos idiotas de Miss e estranhamente comecei a ganhar todos em que entrava. O orgulho que minha mãe estava sentindo quase não cabia nela, isso, até eu dizer que queria desistir de tudo e estudar arte com o Chay. O Chay ela não foi contra em nenhum segundo, já que ela nem liga para ele, ao contrário de mim. Eu que queria que ela ignorasse a existência.

Resumindo, Chay pode fazer o que quiser e eu não. Mas há dois dias ele fugiu de casa – me deixando sozinha no meu inferno particular – e foi para o Japão trabalhar em um grande estúdio de animes e mangás. Aí você pergunta: como ele conseguiu fazer isso tendo apenas 16 anos? Bem, além de um ótimo desenhista, Chay é um ótimo falsificador, além de muito inteligente – tenho medo de um dia ele virar um terrorista ou um serial killer com toda essa inteligência.

Dou um pesado suspiro e descanso os cotovelos em minha coxa, olho pela milionésima vez para o magnífico desenho que o menino fez para mim, há 5 anos atrás e imagino por onde ele está, se vai tentar entrar na academia dos sonhos e qual é seu nome.

– Sabia que te encontraria aqui – disse uma voz feminina e em seguida se senta ao meu lado.

Nem precisei virar o rosto para saber quem era. Somente duas pessoas sabem do meu “lugar secreto”, e uma delas fugiu do país, a menos que seja uma aparição mediúnica ao meu lado só resta à segunda opção.

– Oi Mio – comprimento, sem vontade e ainda encarando a folha de papel.

– Fico feliz que minha presença te alegre – disse ironicamente. – Eu quero saber se é verdade o que eu ouvi, que você vai estudar numa escola na Europa, é verdade Faye?

Por um momento eu não digo nada, somente encaro a folha de desenho em minhas mãos. É doloroso admitir a verdade.

– Então é verdade – deduz Mio.

– Minha mãe quer que eu fique um ano fora e estude nessa escola idiota para jovens Misses.

– Você quer ir?

– Claro que não Mio. Eu quero ficar aqui, eu... eu quero realizar meu sonho – digo cabisbaixa.

Ficamos as duas em silêncio, meio pensativas, mas como eu conheço a Mio ela não aguentará a tortura do silêncio e abrira a boca a qualquer segundo.

– No que você esta pensando?

– Você mais que ninguém sabe no que estou pensando.

– Que a sua mãe é uma bruxa é que se fosse abduzida por alienígenas nem eles a aguentariam por dez segundos?

– Mio! – a repreendi.

– Tá bom. Mesmo que não deixe de ser verdade, claro – deu de ombros. – Você esta pensando naquele garoto, não é? – assenti afirmadamente. – Então por que você não faz o exame de admissão? Talvez você o ache.

– Não posso.

– O que te impede, Faye?

– Você sabe muito bem o que me impede. – Pelo amor de Deus, pare de usar a desculpa que é sua mãe que não a deixa fazer o que quer. Antigamente até poderia ser, mas agora você mesma acredita em sua desculpa e prefere ficar com ela a sair da sua zona de conforto – Mio disse com raiva e me olhando ferozmente com seus olhos castanho-escuros. 

Mio é minha amiga de infância e nunca a ouvi falar desse jeito comigo. Ela nunca me repreendeu, apenas me dava conselhos da forma mais fofa e doida que alguém pode ser. Ela nunca realmente se meteu nos meus assuntos pessoas, a menos que eu deixasse. O que esta acontecendo?

– Mio... Você nunca falou comigo assim?

– Eu estou cansada de você se menosprezar e dizer que não pode fazer aquilo que quer, pois você pode. Você tem tudo para realizar os seus sonhos, basta acreditar.

Um sorriso brotou em meus lábios e eu realmente senti dentro de mim que poderia fazer aquilo. Poderia alcançar meu sonho.

– Se sua mãe não conseguiu ser uma Miss quando era mais jovem, não é você que vai ser por ela, pois você tem um sonho e um possível romance para correr atrás.

– Nã-não é um romance, você sabe disso Mio. Ele é apenas um amigo que me ajudou – disse gaguejando e corando ao mesmo tempo.

Merda! Sempre que algo envolve esse garoto eu fico corada e gaguejo como uma louca.

– Chame como você quiser, meu amor, mas isso só vai acabar de um jeito e é com beijos e muitos amassos. Não se esqueça de usar preservativo, amor é lindo, mas segurança em primeiro lugar.

– MIO! – Grito a repreendendo e tentando esconder meu rosto cor de pimentão.

Alguém, por favor, me afogue no lago com os patos, o mais rápido possível.

– Oras, Faye, você deveria me agradecer por todos os conselhos que já te dei, foi sempre pensando em sua segurança e bem estar – ela da um sorriso enorme.

– Até aquele do Kama Sutra? – levanto uma sobrancelha, debochadamente.

– Principalmente esse. Uma garota preparada para tudo vale por duas.

– Não vejo como – murmuro baixinho.

Para quem não conhece a Mio, de primeira vista ela parece uma boneca indígena, com sua pele caramelo, o cabelo todo cacheado na cor mel, grandes olhos castanho-escuros, rosto coração, boca delicada, estatura mediana e estilo folk, que acentua ainda mais sua origem indígena. Mas isso tudo é uma fachada. Ela é a pessoa mais doida, com mais casos amorosos do que todos os meus dedos deixam contar e tarada com T maiúsculo. Fale de Kama Sutra ou 50 Tons de Cinzas perto dela que a conversa vai durar por muuuuito tempo. Você tem dúvida de sexo? A sexóloga Mio responde qualquer questão – mesmo eu achando que ela ainda é virgem e essa é outra encenação dela, mas nunca disse nada.

– Sabe Mio, esse seu discurso é muito motivador e tal – menos a parte do Kama Sutra –, mas tem um pequeno detalhe muito importante que você não esta levando em conta.

– Ah é, qual?

– A prova é amanhã! – Grito a plenos pulmões, como se ela fosse surda, assustando aos cisnes.

– Ah, é mesmo. Eu não sabia – Mio da um sorriso de inocente e pisca nervosamente seus olhos com cílios espessos.

– Como você pode vir confortar e aconselhar alguém se nem ao menos sabe direito os detalhes?

– Desculpa, mas eu não sou psicóloga nas horas vagas, sou sexóloga – declara com muito orgulho.

Ai santo Pikachu. Só eu para arranjar e suportar uma coisa dessas.

Ficamos caladas por um minuto e Mio esta com um óculos de professora – que não sei da onde ela tirou – e com um dedo no queixo, pensativa.

– O Chay se escreveu para fazer a prova, não é? – pergunta ela, afinal.

– Se escreveu, mas se você não se lembra, o Chay esta no Japão e como eu sei que você é péssima em geografia, o Japão fica do outro lado do mundo se você for comparar com os Estados Unidos.

– Fique sabendo, moçinha, que eu sei muito bem onde fica o Japão e sei que ele esta em Tóquio, capital do país, que fica perto de Yokohama, Kioto, Kawasaki...

– Para de usar o Google do celular para parecer inteligente e informada – a interrompo pegando o aparelho das mãos dela. – O fato é: o Chay não esta aqui, ele me abandonou, assim como meu pai fez – digo com a voz embargada de tristeza e raiva.

É horrível admitir o óbvio, mas dizer em voz alta me faz acreditar que aquilo é real e que não posso ficar dependendo de mais ninguém a não ser eu, já que todas as pessoas que eu amo vão embora ou me dão as costas.

Mio também pareceu triste, mas quando cogitei a idéia dela estar triste por mim ou pelo Chay o costumeiro sorriso 100 watts voltou.

– Sabe Faye, você se parece com o Chay.

– Será que é por que somos gêmeos idênticos, Mio? – digo sarcástica.

– Sabia que com roupas de homem, uma peruca e tirar seus peitos pequenos – Obrigada por lembrar esse detalhe Mio – você pode até que ficar parecida com ele.

– O que você quer dizer, além de falar que não tenho curvas, peitos e pareço um homem?

– Que com o toque certo e uma fada madrinha você pode se transformar no Chay e fazer o exame de admissão no lugar dele. Sei que você consegue.

– E depois o que Mio? Se eu passo, vou continuar sendo um homem? Impossível!

– Você achou que era impossível ter um sonho e veja agora, você tem um. Além do mais, você tem que achar esse tal garoto desenhista que você me disse, pois pelo que eu sei, você não se lembra da aparência dele, só do sorriso e que ele te chamava de Babydoll.

– É, por mais que eu tente não consigo me lembrar do rosto dele. Isso não é estranho?

– Não, você que é meio tapadinha mesmo. – Lancei um olhar feroz para ela. – Mas uma tapadinha que eu amo – ela me abraça e depois dá espaço para olhar em meus olhos. – Você quer que uma qualquer o tire de você?

A resposta é não.

Um sentimento de raiva me consume só de pensar qualquer garota com ele; estando perto dele, o confortando, desenhando com ele, posando para ele, o abraçando, o beijando... Aí credo, estou parecendo a Mio.

A única coisa que consegui fazer foi assentir negativamente com a cabeça. Eu estou corada e com muita raiva do pensamento de ele estar com qualquer garota que não seja eu. Espera... isso é ciúmes?

– Que droga! – penso alto, mais alto do que devia.

Tiro meus olhos cheios de raiva do desenho que ele fez para mim e encaro Mio ao meu lado, ela esta com um sorriso malicioso nos lábios e os olhos estão com a mensagem de “eu sabia, garota”.

– Esta com raiva Faye? – pergunta de forma maliciosa.

– Cla-claro que não. Não seja ridícula, ele é só meu amigo e só o vi uma vez, ele pode namorar quem quiser. Isso não quer dizer que eu esteja com ciúmes – cruzo os braços na frente do peito e viro o rosto para o lado oposto dela.

– Eu nunca disse que você estava com ciúmes – seu tom malicioso se intensificou e ela dá um sorriso maroto de canto. Eu ainda estou esperando quem vai me jogar no lago e não se esqueça de amarrar uma bigorna ou ancora no meu tornozelo, vai que eu volto de teimosa e passo mais mico.

– Admita Faye, você esta morrendo de ciúmes.

– Ta-talvez – surrei, olhando minhas próprias mãos. Mio abre seu sorriso e se levanta, pegando o meu pulso e me colocando de pé também, só para me arrastar parque afora.

– Mio, o que você esta fazendo? – perguntei desesperada.

– Se você não quer que ninguém o roube de você, como disse, e quer correr atrás do seu sonho, então você só tem uma alternativa – disse sob os ombros, mas ainda andando.

– A sua idéia maluca? – Sim. Você se tornara um homem, meu amor, pode apostar suas fichas nisso, palavra de fada madrinha – ela sorri. Realmente essa é minha única opção? Se for, eu vou ter coragem de ir adiante?

Aí santo Pikachu, me de forças para aguentar qualquer que seja minha decisão. E meu desenhista, espere por mim mais um pouco, por favor.


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Notas finais do capítulo

Mereço comentários? Críticas? Não sei se vocês não falarem. FALEM!!
Já imaginou ter uma amiga como a Mio? Iria ser legal de certa forma.