Sonhos Distorcidos - Original escrita por Marie Lolita


Capítulo 1
Prólogo - Diga não a ESPONJA


Notas iniciais do capítulo

Eu espero que vocês gostem, eu amo a Faye e queria que vocês senyissem o mesmo por ela.
Boa leitura!



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5 anos atrás

    Eu corri desesperada de casa e sequer olhei para trás, muito menos tinha um lugar em mente para ir, mas isso não importa, só o que importa é que eu falhei pela terceira vez e que minha mãe esta furiosa com a minha derrota.

    Eu não acredito que falhei mais uma vez, penso.

    Quando parei de correr e me dei conta da onde estava vi que estava perdida no parque nacional. Ironicamente, aquele é o lugar que eu mais detesto em toda a cidade, pois há seis meses atrás meu pai me levou no zoológico e comprou todos os bichinhos de pelúcia que eu quis. Eu estava achando aquele um dos melhores dias da minha vida, pois quase nunca conseguia ficar com meu pai, isso, até ele me levar para esse parque, me comprar um sorvete duplo de chocolate e dizer que estava indo embora de casa, que iria se separar da minha mãe.

      Já que estou aqui – infelizmente – e a tristeza que já não era pequena só aumentou com a lembrança daquela tarde desastrosa, me sento no primeiro banco vago que encontro. Assim que sento e me vejo sozinha o bolo na minha garganta é insuportável e não consigo mais segurar o choro, nem mais por um segundo.

      As lágrimas escorrem soltas pela minha face e a dor que esta acumulada em meu peito é tanta que é inevitável reprimir os soluços.

     A minha mãe está muito decepcionado comigo por ter perdido os últimos concursos de Miss que entrei. Das outras vezes, ela conseguiu esconder seu desconforto com a minha derrota e fita de terceiro lugar, mas dessa vez ela me olhou com seus olhos verdes azulados de decepção e me deu um tapa no rosto ao falar que estava tudo bem o terceiro lugar e respondeu que não espera nada menos que o primeiro lugar, o resto são perdedores e ela não criou uma filha para ser uma perdedora.

    Por mais que me doa ouvir cada uma daquelas palavras, ela esta certa. O único propósito para ter nascido foi realizar o sonho dela de ser Miss. Desde que me conheço como gente o meu sonho sempre foi o da minha mãe, nada mais que isso.

    – Me desculpe – pronunciei para o vento – eu a decepcionei, mamãe. – Um soluço me invade a garganta e eu me abraço para tentar algum conforto.

   O conforto foi inútil, por mais que eu tente e até crave as unhas nos braços, aquele abraço é superficial, falso. Até isso é uma decepção.

    – Você não devia chorar, eu acho que um sorriso combina mais com você – ouso uma voz um pouco distante de mim dizer.

    Nunca esperei o encontro que estava preste a acontecer, mas eu devo minha vida... não, eu devo o meu verdadeiro sonho a esse encontro inesperado.

    Eu ergui a cabeça para achar o dono daquelas palavras, mas os olhos embaçados de lágrimas dificultam a visualização de qualquer coisa. Passei as costas das mãos embaixo dos olhos, secando aquelas lágrimas irritantes.

    Foi então que eu vi um garoto sentado no banco a minha frente do outro lado do pequeno lago, ele segurava um bloco grande de papel e um lápis de desenho em uma das mãos.

    – Tente fazer isso, olha – ele abriu um sorriso enorme e branco para mim, me incentivando a fazer o mesmo.

    Não consegui me conter e também abri um sorriso, não tão bonito e branco como o dele, o meu lembra mais alguém abrindo uma fresta de uma cortina para ver do lado de fora da janela. Apenas um sorriso tímido.

    – Isso, muito bem. Precisa treinar mais um pouco o tamanho do sorriso, mas eu tinha razão.

    – Razão no quê? – perguntei curiosa.

    – Você fica linda sorrindo – abriu outro sorriso intenso.

    Mesmo tendo apenas 11 anos de idade eu já sei o que aquelas palavras significavam, quer dizer, mais ou menos. Não pude evitar corar e desviar os olhos dos dele, mas isso só fez com que o meu sorriso aumentasse um pouco mais.

   – Viu? Esta melhorando cada vez mais nisso.

   Ele se levanta do banco e anda em minha direção a passos infantis e animados, contornando o lago. Olhei aquele garoto de cima a baixo e percebi que ele não deve ser mais velho que eu, isso se não tiver a minha idade.

    – Por que esta chorando, Babydoll? – ele pergunta se sentando ao meu lado e ajeitando sua roupa azul marinho de marinheiro.

    – Babydoll?

    – Você parece uma linda boneca francesa, daquelas que são bem delicadas, ainda mais com esse seu cabelo loiro acinzentado. – explicou.

    Eu não ia mais questionar quanto ao apelido incomum – até porque achei meio que fofo – e muito menos iria dizer o que aconteceu. Mesmo sendo fofo ele ainda é um estranho para mim.

    – Nada, apenas senti a necessidade de chorar. Às vezes isso faz bem – digo simplesmente e para completar minha mentira eu dou um sorriso falso.

    Ele me olha por um instante e parece ponderar no que disse. Talvez ele tenha acreditado.

    – Muito bem, digamos que eu acredite no que você disse, o que eu poderia fazer para ver um dos seus melhores sorrisos?

    – Ahn?

    Que garoto estranho, penso o observando. Ele não age como os outros garotos. Ele parece que quer realmente me agradar e até parece sedutor para sua idade, seja ela qual for.

    – Já sei – abriu outro sorriso e se escondeu atrás do bloco de papel.

    Estranhamente eu não me sentia mais triste, não com ele ali. É quase como se nada de ruim no mundo pudesse me atingir e mesmo que isso acontecesse ele estaria ali para me fazer sorrir quantas vezes fosse preciso.

    Cai na real Faye, ele é apenas um garoto estranho, um qualquer, não um príncipe encantado num cavalo branco como você fantasia achar um dia, me lembrei da realidade.

    – O que você esta fazendo? – perguntei depois de dez minutos e tentei espiar, mas ele abaixou o bloco de papel e o abraçou.

    – Não olhe ainda – me repreendeu.

    Por mais longos dez minutos eu fiquei na minha curiosidade, só escutado o som do lápis contra a estrutura da folha, mas não fazia idéia do que ele fazia.

    – Ah, chega, se você não me mostrar agora eu vou embora – disse com raiva.

    – Só mais um minuto.

    – Sem mais um milésimo de segundo. Mostra-me.

    Dizendo isso eu arranquei o bloco das mãos deles, que protestou antes que eu visse. Eu olhei para a folha de papel e tenho certeza que meus olhos brilharam ao ver o desenho em minhas mãos.

   Na imagem, ele me retratou sentada no banco, sozinha, mas eu parecia tão linda, quase como uma fada sem asas e com um sorriso tão grande quanto meus lábios carnudos deixavam e os meus cachos loiros muito bem definidos, caindo como uma cascata de molas em minhas costas. O corpo rodeado da luz do sol. Se eu não conhecesse aquela garota eu deduziria que poderia ser uma estrela de cinema ou um anjo sem asas.

    – E-Essa sou eu?

    – Sim. Essa é você quando sorri, mas ainda não acabei – ele tentou puxar o bloco das minhas mãos, mas eu o agarrei com mais força e o abracei contra o peito e abaixei um pouco a cabeça. – P-Por que você esta chorando? Ficou tão ruim assim? Não é essa reação que eu queria. Eu pensei que você ficaria feliz, arco-íris.

    Foi então que percebi que realmente estava chorando e sem ao menos perceber que as lágrimas rolavam, mas dessa vez era por um motivo bom.

    Eu assenti negativamente e me agarrei mais ao bloco de papel, como se ele fosse um tesouro muito valioso.

    – Então o que foi?

    – Ninguém nunca fez uma coisa tão bonita só para que eu sorrisse. Obrigada. – eu virei meu rosto para ele e dei um sorriso.

    No mesmo instante ele corou e desviou os olhos de mim, assim como eu tinha feito na primeira vez, mas eu não entendi e naquele momento nem me passou pela cabeça pergunta o porquê.

    Magnífico! Divino! Esplêndido! Excepcional!

    Nem com todas as palavras do dicionário eu poderia descrever aquele desenho maravilhoso.

    – Você desenha muito bem. O desenho está perfeito – disse olhando mais uma vez para mim mesma.

    Confesso que a garota retratada no papel com lápis preto parece mais viva, feliz e com o sorriso mais lindo que já vi na vida, isso sem contar o cenário ao redor; as árvores com flores de cerejeiras, o lago de água cristalina, os cisnes negros dentro da água e toda a natureza que parece mais viva do que nunca.

    – Eu tento – ele disse, ficando sem graça por causa do meu elogio. – Minha mãe diz que é saudável ter um hobby e tentei vários, até me apaixonar por desenho e agora meu sonho é me tornar um artista famoso, mas para isso, vou primeiro entrar na Academia de Artes Royal.

    Sonho. Parece que quanto mais eu tento fugir dessa palavra eu não consigo. Ela me persegue, junto com os olhos de decepção da minha mãe.

    No mesmo segundo eu fico cabisbaixa e o garoto sentado ao meu lado perceber.

     – Você tem um sonho?

     Eu tenho um sonho? Eu tenho o da minha mãe, será que isso é o bastante?

     – Eu quero ganhar muitos concursos e virar uma Miss um dia? – declaro sem certeza.

     – Você não parece ter certeza do seu sonho.

     – Bem, é o que minha mãe quer, então é o que eu quero.

     – Não. Você não pode pegar o sonho de outra pessoa e fazer seu ou até mesmo ser obrigada a isso, é errado – para uma criança ele falou aquilo com firmeza e parecia ter razão.

     – Como assim não posso fazer o sonho da minha mãe o meu? Eu nasci para realizá-lo – falo brava.

     Como esse garotinho tem coragem de me confrontar e dizer o que é certo e errado sendo que nem me conhece?

    – Você precisa de um sonho próprio. Um sonho que seja seu motivo de vida, que te mova para seguir cada vez mais em frente, você tem que sentir a paixão do desejo de atingir sua meta dentro de você. Pode ser qualquer coisa, desde que seja seu e de mais ninguém – falou com intensidade em cada palavra.

    – Isso é ser egoísta.

    – Se quiser considerar dessa forma, tudo bem, mas é melhor que ser uma esponja e absorver o sonho e vontade dos outros, não acha?

     Um sonho próprio. Eu sou capaz disso? Posso desejar ter algo só meu? Mas e minha mãe?

    – Não é tão simples assim – murmuro.

    – Claro que é – ele se levanta em um pulo e espalma alguma sujeira invisível de seu short e das meias pretas até o joelho. – Você só precisa começar a tentar.

    – Começar a tentar?

    – Olha, por que você não começa a tentar com um hobby, como eu fiz?

    – Hobby?

    – Você não tem nenhum?

    – Eu participo de concursos de beleza.

    – Não. Não é isso que eu quero dizer. – Ele solta um suspiro pesado e passa a mão por seu sedoso cabelo o desarrumando ainda mais. – Olha, então vamos fazer assim, eu te dou esse bloco de folhas e o desenho que fiz e você tenta começar a desenhar, se não for isso que você goste, então ache outra coisa que queira, entendeu?

    – Você vai me dar o desenho que fez? – perguntei com meus olhinhos verdes azulados brilhando só em pensar em ter aquilo para mim.

    Eu tenho certeza que passarei dias e intermináveis horas admirando cada detalhe dos traços, como se estivesse observando alguma pintura de Leonardo Da Vinci ou outro artista que poderia ser equiparado com aquele garoto.

    – Claro que vou – ele abriu mais uma vez um daqueles sorrisos brancos e intensos para mim, mas dessa vez eu retribui.

    O menino tirou do bolso do short um antiquado relógio prata de bolso, daqueles que você só vê em museus, ele abriu a tampa e consultou as horas com uma carranca preocupada, como se estivesse atrasado para um compromisso inadiável.

    – Tenho que ir andado. Quem sabe nos encontramos algum dia, arco-íris – ele pegou o pequeno estojo de lápis e me deu as costas.

    Eu procurei por uma assinatura com o nome dele pelos cantos do desenho, mas não tinha nenhuma. No mesmo segundo me coloquei em pé.

    – Eu não sei seu nome – disse.

    – Quem sabe se seu sonho envolver arte você também não entre na Royal, aí, se realmente for o destino e eu estiver lá e nos reconhecermos, eu te digo meu nome.

    Ele olhou para mim sob seus pequenos ombros, e veio correndo em minha direção. Assim que ficamos frente a frente ele se abaixa e me da um beijo na bochecha logo em seguida lança mais um de seus sorrisos matadores, olhando fixamente para meus olhos ele diz:

   – Eu realmente espero te ver uma outra vez, Babydoll.

    Depois disso ele me deu as costas novamente e volta a andar, se distanciando de mim, que fiquei fitando suas costas com um sorriso bobo e com um mão na bochecha – agora corada – que ele beijou. Ainda podia sentir o calor dos lábios macios dele contra minha pele.

    Mas agora eu estou decidida a encontar o MEU sonho e não ser mais uma esponja. Mas a pergunta é: minha mãe irá entender minha decisão?

   

   

   


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Detestaram? Querem fazer uma fogueira e me jogarem dentro? Aí, eu não sei, vocês tem que me dizer o que acharam, senão nunca vou saber.