Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 14
Enamorada


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais, por favor.



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POV Callilda

Listras ou bolas? Bolinhas, aliás, pela circunferência delas.

Fito ambas as meias, indecisa, sem saber qual escolher.

Aquela com listras intercaladas, ora verdes, ora rosa, ou a azul turquesa com pintinhas lilás?

Hnm, dúvida cruel...

— Ok, então serão as duas! — Digo com um ar triunfante, pondo a listrada no pé esquerdo. Quando termino, vou diante ao espelho.

Vejo uma mini garota, cabelos rosa-te-cegando apontados para diversos lados diferentes, grandes olhos redondos e cinzentos, delineados por um roxo profundo. Cada unha, uma cor. Cada tênis, outra cor. Uma saia de pregas azul marinho, com tachinhas perdidas, acumuladas, e isoladas, tudo ao mesmo tempo. Uma camisa branca de botões, e um colete verde musgo por cima. Puxei as meias até o joelho. E prontinho!

Uma belezura, como diria minha mamãe. Pego minha mochila, perto da minha “parede-rascunho”. É nela que penduro meus desenhos, até algumas pinturas. Ultimamente John tem ganhado destaque ali. São muitos esboços dele, e todos me fazem suspirar. E sonhar acordada. E dormindo também.

É mágico, não é? Gostar de alguém. Estar apaixonado.

Sim, porque eu estava ridiculamente apaixonada por ele. E desconfiava que fosse reciproco.

Quando você tem oportunidades como essa, agarre com ambas as mãos, crave as unhas, aperte bem, e nunca, jamais, a solte.

Eu conheço certa pessoa que ignora a realidade, e tenta a todo custo chutar sua oportunidade para bem longe. E aposto que quando isso acontecer, ela irá lamentar muito. Todos tem um limite, até mesmo ele.

Suspirando, com pensamentos repreensores direcionados para a tal certa pessoa, saio do meu quarto. Nossa casa é bem pequena, um andar só, e bastante modesta. Mas muito aconchegante. E desorganizada. Porém era aquele tipo de bagunça receptiva.

Desvio daquela bola peluda e laranja ferrugem, que atende por Aslan, e pulo por cima de um balde. O que foi? Eu curto Nárnia, adoraria ter nascido lá, e ter um par de chifres na cabeça. Na verdade, eu adoraria ter nascido em todos os lugares do mundo e da imaginação. Ter tido todas as vidas possíveis, e todas as experiências impossíveis. Queria poder me dividir em mil Callildas, e não perder nada que o mundo tem a oferecer. Mas a existência em si é uma perda.

Consigo atravessar o pequeno e entulhado corredor até chegar à cozinha, onde tudo relacionado à comida se realiza. Mamãe está preparando torradas, e quando me vê, sorri.

Não consigo afugentar o pensamento de que ela é a melhor mãe do mundo. Sempre me olha com ternura, trata-me como igual, e nunca vacila diante das minhas maluquices. Na verdade, ela as aceita muito bem.

Abraço-a por trás, sentindo um cheiro de tinta, que agora até se tornou seu perfume. Adoro esse cheiro.

— Ei minha linda, dormiu bem? — Sua voz lembra dias frios, debaixo das cobertas, tomando algo quente na companhia de um bom livro. Eu sei que é estranho pensar assim, embora eu seja toda estranha. Mas isso é sinônimo de lar para mim. Assim como seu abraço.

— Sim, mãe, muito. Sonhei com brócolis me perseguindo, mas no fim, algumas beterrabas me salvaram.

Ela ri, e sou incapaz de permanecer séria. Muitas das coisas que eu digo não devem ser levadas ao pé da letra, e minha mãe sabe disso melhor que ninguém. Mas tão logo paro de rir ou até mesmo sorrir, e mordo o lábio. Isso não passa despercebido diante dos olhos de mãe treinados dela.

— O que foi Callilda? Diga. — Ela complementa, quando permaneço em silêncio. Apenas ela fala meu nome inteiro, e não me importo. Esse nome, argh, foi uma das únicas coisas que meu pai deixou, se não a única. Eu não era mais que um bebê de colo quando meu progenitor — sintam a ironia — trocou minha mãe por uma qualquer. Não acho que algum dia eu vá perdoá-lo. As pessoas vivem dizendo que perdão é algo lindo e tal, mas vai dizer isso para quem sofre.

Além do mais, se eu não o perdoo, não é pelo fato de ter me privado de uma companhia paterna durante toda a minha vida. O principal motivo, é por ter magoado minha mãe. Isso, eu nunca vou esquecer. Nem de todas suas lágrimas, ou todas as vezes que ela se esforçou para permanecer forte por mim.

— Callilda? — Sua voz faz com que eu volte do mundo da Lua.

— Eu briguei com a Chris, mamãe. E odiei isso. — Desabafo. Ela me fita pensativa, enquanto escora o quadril no fogão.

— E qual foi o motivo?

— Algo bobo, muito bobo. — Respondo vagamente. Nem eu sabia mais qual era o motivo. Um pouco, não, na verdade muito, se deveu ao seu extremo mau humor. Típico. E um pouquinho, bem, por ela não confiar em mim. Poxa, era óbvio que algo estava acontecendo, mas Christina preferia manter para si mesma seja lá o que fosse. Eu sempre confiava meus segredos para ela. Não era justo.

— Se foi pouca coisa, — mamãe prende minha atenção — então vocês logo vão se reconciliar, você vai ver. — E afaga meus cabelos rebeldes, com um sorriso terno.

Concordo, um pouco distraída. Não conseguia parar de pensar em John. Sua face enchia minha mente, e praticamente todos meus pensamentos estavam voltados para ele. Estar apaixonada, ah, era tão bom.

Quando nos sentamos à mesa, percebi que mamãe lançou-me um sábio olhar, porém divertido. Senti minhas bochechas pegarem fogo, e só então, notei o bobo sorriso estampado em meu pequeno e redondo rosto.

Mordo a torrada acompanhada de manteiga para disfarçar meu constrangimento.

Após termos tomado o café matinal juntas, mamãe me deu carona até a escola. Ela não confiava nas minhas habilidades de motorista, e muito menos apreciava a pobre Bibi.

No caminho para escola, fiquei jogando o celular de uma mão para outra, e nesses passes, o sininho do chaveiro , duas vezes maiores do que o celular ficava fazendo um barulho irritante. Eu jurava que minha mãe iria me mandar parar, mas apenas continuou dirigindo com a face da tranquilidade.

Estacionou em frente ao colégio, e após um beijo de despedida, foi embora.

Ajeitei a bolsa no ombro, e me pus a caminhar. Joguei o celular dentro dela, decidida a conversar com a Chris pessoalmente.

Cheguei onde Bea estava.

— Oi, como vai? — Pergunto alegremente. Veja bem, eu era uma pessoa alegre em 99% do tempo. Um claro contraste com minha melhor amiga. Na verdade, éramos como água e vinho.

Christina era simplesmente linda demais. Parecia uma modelo, apesar de não ser tão alta. Mas ela tinha algo mais, sabe, que a destacava das outras. E não, não vou ficar dizendo que ela é mais linda que eu, apesar de ser um pouco verdade, e nem vou ficar me depreciando.

Existem diferentes tipos de padrões de beleza. E cada um é especial de uma forma diferente.

Até mesmo os defeitos se tornam qualidades se você os olhar direito. Eu, por exemplo, tenho orelhas muito grandes. É trágico, dado aos meus padrões minúsculos. Estatura pequena, rosto pequeno, pés pequenos, orelhas grandes. Sim, nada nesse mundo anda fazendo sentido. Mas eu gosto delas. São as minhas orelhas ridiculamente grandes e desproporcionais. Ninguém mais tem um par igual. Quando diziam coisas que podem ser consideradas ofensivas na minha infância, como apelidos bobocas, eu apenas ria e concordava.

Sabe de uma coisa? Um pequeno segredo nem tão secreto assim?

A gente é aquilo que quer ser. Aquilo que deixamos ou não as pessoas dizerem. Se você acreditar em alguém, quando esse indivíduo te chamar de feia ou burra, então você será. Caso contrário, não. Você é o que acredita, compreende?

Quando lhe disserem algo desagradável, não fuja. Não chore. Não acredite. Erga o queixo e encare. Sorria. Mostre que não é nenhuma fraca.

Poxa, as pessoas são todas tão lindas e especiais do seu próprio jeito. Não deixem que alguém os faça acreditar no contrário.

Sorrio com tais pensamentos. Podem me chamar de sonhadora ou tagarela, mas é só o que acredito.

Sinto uma mão em meu ombro, no exato momento em que Bea parece repetir algo irritada.

Viro, e sei quem é, antes mesmo de vê-lo.

Magia. É a palavra que me vêm à mente para descrever o momento.

Ele sorri com a boca e os olhos, e a forma como me olha, ah, como se estivesse compartilhando um segredo. Ou relembrando um segredo só nosso. É tão íntimo. E me deixa eufórica, ávida por mais, constrangida, maravilhada, tudo ao mesmo tempo.

Quero desviar o olhar, mas não consigo. Fico lá, estática, com uma espécie de chama aquecendo meu peito. Uma queimação tão boa, um nervosismo tão doce.

Agora, eu precisava ouvir sua voz. Ter certeza de que ele é real.

— Calli. — Um suspiro no mínimo constrangedor escapa. Mas ele apenas sorri ainda mais, uma espécie de sorrisinho convencido e convidativo.

Queria tanto aqueles lábios para mim.

E não, não nos beijamos ainda. Eu realmente fiquei conversando com ele na Bibi. E acabei adormecendo e despertando no aconchego de seus braços.

Seria aquilo um prefácio do paraíso?

Não tinha certeza de nada naquela hora.

Ouço um pigarrear atrás de mim, provavelmente Bea. Ignoro.

Olho para suas mãos, e lá está, o Miojo.

Sabe, eu amo muito o Miojo. Por motivos óbvios. Amo também aula de português agora. A professora também, sabia?

— Como está nosso garoto? — Pergunto, odiando como minha voz fica fina. Isso sempre acontece quando estou perto dele. O garoto simplesmente mexe com meu sistema nervoso.

— Bem, ainda mais agora, com sua masculinidade reforçada.

Provavelmente atingi o tom mais escuro de vermelho. Digamos que não gostei do pobre Miojo não ter um aparelho sexual reprodutivo, e então, bem, eu improvisei.

Sem demais detalhes. Apenas tenham em mente que agora posso ser vovó.

— Sim, bem, ele está bem machão. — Sorrio amarelo.

Nesse momento o vento sopra, suave, como uma poesia alada. Vejo uma madeixa rosa interferir em minha visão. John se aproxima, roubando do meu pulmão todo seu ar. Fico tonta, mas em momento algum desvio o olhar.

Ele coloca de forma delicada, com a ponta dos dedos, aquele pequeno fragmento de cabelo rebelde atrás da minha orelha gigante.

Então se afasta, com um olhar e sorriso satisfeitos.

Solto a respiração, e quase vejo estrelinhas, constelações e galáxias.

— Vamos? — Pergunta com uma sobrancelha arqueada. Como se eu tivesse força para negar.

Concordo com um leve balançar de cabeça. Estou tonta. E extremamente enamorada.

Estou apaixonada pelo mistério que emana dele. Seu jeito reservado e discreto. O modo como parece preferir a solidão às pessoas. Sempre só, em seu próprio mundo. Ouvindo música, lendo um livro, com uma mexa de cabelo caindo sobre seus lindos olhos negros. Eram imãs para os meus. E principalmente, amava o modo como me olhava. O modo como permitiu que eu fizesse parte de seu mundo. Parecia tão... Certo. Como se estivéssemos destinados a ficar juntos.

Eu soube, no momento em que o vi, há cinco anos, que não havia espaço para nenhum outro garoto.

Estávamos ensopados, sob uma chuva malandra, que ia e vinha, esperando nossas caronas.

Ficamos sentados em um banco, lado a lado. Um silêncio que valia mais que infinitas palavras.

Minha mãe chegou antes naquele dia, e antes de entrar no carro, virei-me para olhá-lo uma última vez.

Seus olhos escuros apontavam diretamente para mim. E então abriu um pequeno sorriso que me fez tropeçar em meus próprios pés e cair na valeta cheia de água da chuva.

Naquela noite eu sonhei com ele.

E na seguinte, fiquei resfriada.

Compreende agora? Parece destino. Como se nada pudesse interferir nessa felicidade. Ela é intocável.

Sorrio, satisfeita com tais conclusões. Bem nessa hora meu celular vibra. Pego-o rápida, torcendo para que seja a Chris.

Mas para meu desânimo e completo espanto, era o Eric.

Logo, devia ter algo a ver com a Chris. Onde um estava, o outro não se encontrava muito longe. Pobre garota iludida e estúpida.

— Alô? — Espero cinco segundos, e ninguém responde. Quando olho a tela, percebo que era uma mensagem. Quase bato com o celular na minha testa.

Mas então, leio a mensagem.

Qualquer tipo de movimento ou expressão era inviável nessa hora.

Eu e a Christina estamos presos no “poço” do parque. Chame ajuda.


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Notas finais do capítulo

Oii!! Então, primeiramente, agradeço pelos lindos reviews *.*
Um obrigada especial a minha lindja marida centésima Apenas Uma Sobrevivente :D
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Ok, segundo, eu demorei porque a escola está puxada. Imaginem, aula o dia todo >< Mas é bem legal :]
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Terceiro, vou escrever o próximo capítulo entre amanhã e domingo, mas só posto com reviews satisfatórios u.ú
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Hnm, quarto, deixe-me lembrar... Ah, certo! Bom, quanto às pessoas que desejam ardentemente POV do Eric, ele só vai vir depois de uma recomendação :D
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Quinto, para os antigos leitores de Amor À 19ª Vista, vai ter POV da Adelina também ^^
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Sexto, gostaram do mistério prolongado??? kkkkkkkkkkkkk
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Sétimo, bjxxxxxxxxxxxxxxxxX gente que habita meu ♥