Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 15
Resgate


Notas iniciais do capítulo

Eeeeeeii!! Sentiram saudades?! *lê convencida u.ú
Bom, espero que gostem do capítulo ^^
Ah, o título ficou uma droga D: Eu realmente não consegui pensar em nenhum melhor que se encaixasse com o capítulo >
Qualquer coisa, estou disponível ou através de reviews, ou MP ^^
Obrigada a todos lindos divásticos e cativantes reviews :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324997/chapter/15

Minhas mãos vagueiam pelas antigas pedras, escorregadias. São velhas, e frágeis sob o toque. Não é mágico? Ter um passado, uma história. Elas têm tudo isso. Você tem. Eu também.

Suspiro, ficando irritada. Sinto a gripe se arrastar pelo meu corpo ensopado e gelado. A opção mais inteligente seria ficar próxima a Eric, mas eu não conseguiria fazer tal façanha. Não depois do que houve. Olho para cima, e ignoro propositalmente o peso de seu olhar, que não me abandonara um segundo sequer.

Raios translúcidos apresentam um belo amanhecer. Tudo está em um silêncio tranquilo. As pessoas devem estar acordando agora. Me pergunto se já notaram minha ausência, ou a de Eric.

Sabe, passar a noite toda em um poço frio, acordada, de pé, ao lado de Eric, não foi uma das melhores experiências da minha vida.

Estou prestes a abrir a boca, e dizer qualquer coisa, provavelmente algo relacionado à minha resposta, e suas consequências, mas ouço vozes distintas.

Aprumo a audição, e sou capaz de reconhecer nossos nomes serem chamados.

Esperança cresce em meu peito, mas logo é substituída por pesar. Se eu gritasse, viriam nos resgatar, porém, iriam – meus pais, no caso – punir-me.

Mas não é como se eu tivesse muitas opções. Na verdade só possuía uma.

Gritar por ajuda.

- Aqui! Socorro!

Ponho as mãos ao redor de minha boca, e uso todo meu fôlego, mesmo assim, minha voz sai rouca.

Eric permanece em silêncio, encostado com as costas contra a parede de pedras.

Vejo uma cabeça no topo do poço. Percebo, aliviada, que é Calli. Logo depois John também aparece. E Daniel, Bea, nosso professor de Educação Física. O diretor. E – merda! – meus pais. Até mesmo os progenitores do garoto que não para de me fitar.

Me pergunto como coube a cabeça de todo esse povo no topo do poço. Mas isso é o de menos.

O inferno está por vir.

É tudo muito confuso o que se segue. Pessoas gritando, discutindo a melhor maneira de nos tirar dali. Murmúrios. Indagações.

Ouço até risadinhas discretas.

Me perco nas palavras, embora tente as acompanhar. Eric não se move um centímetro. Então algo curioso acontece. Olho para meus dedos. Eles estão terrivelmente brancos. O chão, água, seja lá o que for, começa a ficar turvo. As pedras antigas parecem dançar. E as vozes, antes altas, agora semelham um ruído ao fundo.

Vou cair, penso. Vou cair e me afogar.

Meu corpo começa a oscilar, e nada posso fazer, se não cair. Mas de súbito, como era de se esperar, Eric se desloca de seu canto, pronto para socorrer-me.

Em seus braços, perdendo para a inconsciência, e ganhando para um frio progressivo, vejo seu rosto. Um misto de preocupação e... Arrependimento?

Não sei. Só sei que uma escuridão pôr-se a consumir minha visão aos poucos, começando pelas bordas. É sútil, e quando menos espero, desmaio.

***

Abro os olhos, com alguma dificuldade. Está tudo tão... Branco. Pisco algumas vezes, tentando acostumar minha visão. Espera, o que...?

Estou no hospital

Pânico, por estar onde estou, e alívio, por ter saído do poço.

Tento lembrar o que aconteceu. Certo, vieram ao nosso resgate. Lapsos de quando nos levaram para cima, através de uma corda amarrada em torno de mim, e outra de Eric, me atingem. Mas principalmente, sua pergunta vem de súbito, sem convite.

Você me quer?

Maldição! Aperto os olhos com força, e isso nada tem a ver com claridade.

“- Você. Me. Quer?

Meu Deus. E agora?

A vida não me preparou para esse tipo de coisa, esse tipo de, pergunta.

O que se faz, quando sua mente grita e entoa um sonoro “sim”, mas você só pensa em como se pronuncia um falso “não”?

- Não, - digo, quase engasgando – e sim, - complemento, para meu alívio e desespero – mas principalmente, não sei.

O poço é engolido por um silêncio opressor. Só consigo ver sua face, um misto de decepção e compreensão. E talvez um pouco de esperança? Não sei dizer. E não sei se quero saber.

Fujo de seu aperto, que não persiste em manter-me perto de si.

Vou para o mais longe o possível dele, e o frio que me aflige, tanto interno quanto externamente, é entorpecedor.”

Lembranças malditas. Malditas lembranças.

Mas é seu sussurro que me atormenta. Aquelas quatro minúsculas e poderosas palavras.

Não, não posso pensar mais nisso, caso contrário, enlouquecerei.

Tento ajeitar-me na cama desconfortável de hospital. Pelo menos não estava mais com tanto frio. Mas quando vejo a agulha no meu braço, devido ao soro, fico inerte.

Tenho pânico a agulhas.

Desde pequena fantasio com a hipótese de ela se quebrar dentro de mim, e dói mais a ideia que a picada em si. Eu fico imaginando ela dentro, solta, rasgando tudo por onde passa. Afundando na carne...

- Chris?

Um Eric abatido, desarrumado, e com olheiras, me olha da porta.

Ou seja, um alienígena. O Eric que conheço nunca esteve com uma aparência tão miserável.

- O que? – Pergunto estupidamente.

Ele suspira, e olha por cima do ombro, antes de fechar a porta e entrar no pequeno quarto de hospital.

- Se me pegarem aqui, estou frito. – E abre um meio sorriso singelo, um pouco trêmulo.

Se aproxima, e nada digo, apenas o observo. Então se senta na cadeira ao meu lado. Não me oponho quando pega minha mão e a põe entre as suas. Nesse momento, esqueço meu temor sobre agulhas.

- Você está bem? – Percebo como sua voz está rouca. Parece que a gripe nos pegou de jeito.

- Mais ou menos. – As palavras se arrastam, e possuem um gosto estranho em minha boca. Seu suspiro é melancólico.

Fecha os olhos e repousa a testa sobre nossas mãos unidas.

Espero alguns segundos, até que finalmente levanta o rosto, e me olha arrependido.

- Me perdoe.

- O que? Mas foi minha culpa... – Fico extremamente confusa.

- Meu celular não estragou nem molhou nem nada. Eu podia ter pedido ajuda logo que caímos, mas preferi pedir só pela manhã.

Algo se quebra dentro de mim.

- Mas por quê? – Começo a sentir uma raiva, como lava quente, subir pela minha garganta.

- Porque eu queria ficar com você. – Não era a resposta que eu esperava.

Preferia que ele dissesse que fez o que fez, para me irritar. Como uma brincadeirinha. Mas não isso.

- Eric, eu...

- Psiu, - me corta – não precisa dizer nada. Apenas pense no que falei no poço. É a verdade. É só o que eu quero.

Puxo minha mão da sua, e engulo o bolo que se formou em minha garganta.

- Vá. Antes que eu chame alguém. – Ele não se mexe. – Vá!

Levanta, com uma postura de dar dó, e acena afirmativamente.

Seus passos são lentos, vagarosos, e parecem demorar propositalmente para chegar até a porta. Sua mão repousa na maçaneta, e ele me lança um último olhar antes de ir.

“– Mas eu te quero.”

A lembrança das palavras forma um eco em minha mente. Ele me queria.

A mim.

Mas... Por quê?

Queria apenas esvaziar minha mente desses pensamentos torturantes, simplesmente não pensar e nem sentir. Mas era impossível. Aquilo ficava martelando, e logo uma dor irritante tomou forma, evoluindo aos poucos. Apertei meus olhos, implorando para que o sono vingasse, mas bem nessa hora a porta se abriu novamente.

Parte de mim queria que fosse. Parte de mim achava que era ele.

- Sim. – Digo suavemente, mas quando ergo meus olhos, vejo minha mãe ao lado de um médico.

- Sim o que? – Posso perceber que ela não sabe se fica brava ou preocupada.

- Nada. – Minto.

Eles se aproximam, e enquanto o médico fica realizando seu trabalho habitual, sou fuzilada por um olhar materno amedrontador.

Parece que o frio fez com que eu desmaiasse, e se tivesse ficado mais um pouco lá, teria pneumonia. Mas, segundo o médico, eu tive ‘sorte”, e só fiquei resfriada. Ele receitou alguns remédios e também prestou alguns conselhos. Logo após, se retirou e me deixou a sós com a fera.

Me encolho, sem saber o que dizer. É ela quem começa.

- O que a senhorita estava fazendo lá? – Sua falsa calma é pior que palavras gritadas.

- Eu caí. – Digo miseravelmente.

Mamãe rola os olhos.

- Eu não achava que você tivesse se jogado dentro mesmo. Mas como foi até lá?

- Hnm... Eu precisava resolver algumas coisas com Eric, e concordei em ir ao parque para conversar. E acabei caindo e o levando junto. Desculpe... – Completo com um fiapo de voz.

Sua respiração está pesada.

- Você conhece muito bem nossa política sobre horários. E a desobedeceu.

- Desculpe... – Repito.

- Suas desculpas não mudam nada, mas acho bom mesmo que esteja arrependida. Mas não pense que vai se safar dessa facilmente. Está de castigo, compreende?

Aceno tristemente, apesar de não esperar nada menos que isso.

- E posso saber o que foi falar com ele?

Não, não podia de jeito nenhum. Caso ela descobrisse sobre a festa, eu estava frita, tipo, num castigo perpétuo. Mas principalmente, ela não podia saber sobre meus recentes sentimentos revoltos. Minha preocupação, era de que ela entendesse melhor que eu o que se passava comigo.

- Era sobre uma briga que tivemos. – Minto. – Que envolvia a Caolha.

Seus olhos se estreitam, e fica óbvio que não acredita em mim.

Nessa hora, sou salva pela porta, que se abre novamente. Callilda entra correndo, toda serelepe. Saltita até mim, e se ajoelha ao meu lado.

- Chris, você está bem?! Meu Deus, fiquei tão preocupada!

Afago seus cabelos, lhe roubando um sorrisinho aliviado.

- Sim, estou melhor.

Minha mãe se levanta nessa hora.

- Preciso ir falar com seu pai, mas nós iremos terminar essa conversa mais tarde.

Com isso se retira do quarto, deixando calafrios de temor com suas palavras nada bem-vindas.

- Você está encrencada. – Calli observa.

- Você não tem ideia. – Minha voz soa calma, mas isso é só efeito do pânico que se forma dentro de mim.

- Escuta, desculpe por aquilo. – Ela soa arrependida, e demoro um pouco para lembrar ao que está se referindo.

- Que isso, - digo – foi minha culpa. Eu fui muito grossa contigo. Eu estava... Confusa.

- Aposto que essa confusão tem nome. – Diz com uma sobrancelha erguida. Mordo o lábio, e passo a fitar meu braço perfurado.

- Sim, tem. E eu não sei mais o que fazer. – Desabafo.

- Eu sei o que você deveria ter feito há muito tempo. Você também sabe.

Nego veemente.

- Não, não sei.

Seu pequeno e delicado dedo se enrosca em um cacho dourado meu.

- Sua ceguinha.

Fico em silêncio, sem saber o que dizer. Por fim, Calli se levanta, repentina, como se houvesse se lembrado de algo.

- Eu preciso ir, mas vou voltar mais tarde. Pense no que te disse. Ah, e me pediram para te entregar isso.

Retira do bolso algo pequeno, e o deposita em minha mão.

Não noto sua saída, apenas foco toda minha atenção no delicado objeto.

Um suspiro de admiração escapa, enquanto sou transportada quatro anos atrás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

BjxxxxxxxxxxxxxxxxX ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mais Do Que Você Imagina" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.