A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 9
Os irmãos


Notas iniciais do capítulo

Geeeeeeeeeente, tô apaixonada por esse capítulo, não poderia ser mais fofo!!



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São quatro horas da manhã. Vejo isso no relógio ao lado da cama do garotinho que não tem nem dez anos e está esparramado na cama, sem lençol. Os outros filhos de Hefesto também não usam lençol e os que usam, cobrem apenas as pernas com lençóis finos. Claro que o aquecedor está agradável, numa temperatura fresca. Mas o frio que eu sinto vem de dentro de mim, não importa o número de lençóis que eu use.

Levanto e vejo que eu não troquei de roupa desde que saí do orfanato. Me sinto podre. Procuro um banheiro no quarto, mas não tem. Sei que o normal dos acampamentos de verão é um banheiro coletivo, mas por favor, aqui é um acampamento de filhos de deuses! Torço agora para que eles sejam ao menos limpos.

Saio silenciosamente do chalé, apenas para ver olhos estranhos me olhando no escuro. Lembro do que Elius me falou sobre o horário de recolher. Ele disse que as harpias jantavam os semideuses, mas eu não imaginei que elas ficassem até a madrugada bisbilhotando, esperando alguma presa. Volto rapidamente para o chalé, ainda em silêncio.

Deito na cama ainda com as roupas sujas. Não posso nem trocar de roupa, não faço ideia de onde está minha mala.

Eu realmente acredito que não vou dormir. Acho que vou passar horas me revirando, até o sol raiar e minha única opção ser a de levantar e seguir minha nova rotina, morrendo de sono.

Mas não é isso que acontece. Eu durmo quase imediatamente e não sonho nada.


Hoje é segunda-feira. Dia de acordar correndo e fazer o café de Jay. Depois, vou me juntar a ele e apenas brincar, nada de ensinar coisas a ele. Vou correr com ele, como eu nunca tive chance de fazer com ninguém quando tinha quatro anos. Porque vovô era velho demais e mamãe nunca me dava atenção para esse tipo de coisa. Ela apenas me enfeitava como se eu fosse sua boneca. Mas com Jay não vai ser assim, eu não vou deixar.


É o que eu penso antes de abrir os olhos e lembrar que não estou mais naquele orfanato e que Jayme está a quilômetros de distância. E me sinto mal em pensar que estou com outros irmãos e ele só. Deus – ou deuses? – sabe como ele está sem mim. E ninguém tem como saber como eu estou sem ele. Nem mesmo eu.

– Gente, ela acordou – ouço a voz grave de Austin dizer.

Sento na cama. Todos os outros filhos de Hefesto estão amontoados a minha volta. Sorrisos estão estampados em seus rostos. Faço uma careta e me espreguiço.

Austin me entrega uma bandeja com café da manhã e eu como silenciosamente, prestando atenção enquanto ele me apresenta os membros do chalé 9.

– Bom, começando por mim. Meu nome é Austin Bradley e tenho 19 anos. Moro no acampamento há oito. A menininha aqui – aponta para uma garota enorme com músculos fortes e feições de mulher, que faz uma careta ao ouvir a palavra “menininha” – é Marly. Ela tem 19 anos e está aqui há sete. Ali na frente – aponta para o outro lado do quarto – é e Marc Owen, irmão gêmeo de Marly. Jessica é essa garota muito doida, ela tem 16 anos e está aqui  quatro – ele me mostra a menina mais próxima a mim, que é musculosa e alta. – Esse pequeno é o George, ele tem 15 anos e está aqui  3. Brand aqui tem 12 anos e chegou no verão passado. Chegou aqui na mesma época que Charles, que tem 10 anos. E, para completar, Tom, o caçula de 8 anos e chegou aqui nas férias de inverno.

Sorrio para eles. Tento achar algum traço de antipatia que Elius falou, mas, além do garoto gêmeo, Marc, que está de costas para mim, todos parecem ser bem simpáticos. Não sei se é porque eles são meus irmãos ou se eles são normalmente assim, mas eles estão sendo.

– Sou Melissa, mas vocês vão me chamar de Missy. Tenho dezesseis anos e cheguei aqui a umas trinta horas. Tenho um irmão de quatro anos chamado Jayme que está num orfanato.

Essa última frase sai por impulso. Não queria dizer isso para eles, mas a frase sai.

Todos olham para mim com aquela cara de pena que eu odeio. Odeio parecer a mais frágil, que não aguenta viver longe do irmãozinho, mas é exatamente isso que eu sou.

– Ele é semideus? – pergunta George.

– Não sei – respondo. – Não tenho como saber.

Todos ficam num silêncio desagradável.

É estranho que eles queiram saber sobre meu irmão. Desde que eu cheguei aqui, imaginei Jay e qualquer outro irmão que eu viesse a ter como uma mistura heterogênea de óleo e água, onde um não reagem. Ou mais, como extremos opostos, sem nenhuma proximidade entre eles. Mas não sei se é assim que tudo funciona. Nem sei mesmo se Jay é filho do meu pai.

– Não se preocupe – diz Jessica. – Nós vamos dar um jeito nisso. E vamos garantir que ele não te esqueça. Onde era o seu orfanato?

– Nova Iorque – respondo, com um pouco de saudade. Não do orfanato, mas do meu irmãozinho. – Orfanato St. Jerome Emiliani.

Todos os filhos de Hefesto se entreolham e dão uma risadinha. Isso poderia ser um problema, mas filhos de Hefesto são sérios. Pelo menos eu sou.

Decido confiar neles. Afinal, eles não podem fazer nenhum mal ao meu irmãozinho.

Podem?


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Notas finais do capítulo

Bom, o que acharam do chalé 9? Uns fofos, não é?