A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 10
O treino de esgrima


Notas iniciais do capítulo

Estou na fase de amar todos os capítulos que escrevo hahaha.
Tomara que amem também!



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Depois daquela estranha manifestação de carinho dos filhos de Hefesto por uma estranha que a irmã deles ainda é, me levantei e descobri que minhas malas estavam num compartimento secreto para que nenhum espertinho roubasse e pus num armário que fica escondido na parede, como minha cama.

Pego uma calça flare e blusa de mangas finas e uma sapatilha. Vou com Jessica para o banheiro, ela me mostra onde é. Não, não é limpo. Parece um banheiro de escola pública. Tomo banho em um dos boxes, a água está morna. Me surpreendo com isso. No acampamento de verão que eu fui, a água era gelada! Jessica diz que não é normal, é que essa semana nosso grupo ganhou a Caça à Bandeira, por isso, temos alguns privilégios. Não sei o que é Caça à Bandeira e nem tento saber, apenas continuo tomando banho.

Quando termino, me sinto bem melhor. Como se um quilo de tristeza por estar longe de Jay somado à confusão do sonho (que eu não lembro de jeito nenhum o que foi) e ao cansaço de começar uma vida nova tivesse ido para o ralo junto da camada de sujeira que eu acumulei de um dia inteiro sem banho misturado ao sal do mar. Sim, eu estava podre.

Mas agora eu me sinto de fato pronta para começar uma vida nova. Não espero de jeito nenhum substituir Jay pelos meus novos irmãos, mas isso não quer dizer que eu não possa me apegar a novas pessoas.

Junto a Jessica, volto para o chalé. Penteio os cabelos e ouço Jessica e Marly suspirarem sobre como meu cabelo é bonito e sedoso. Explico a elas que minha mãe presava muito a beleza e que comprava produtos para cuidar do meu cabelo. Ele acabou se acostumando. Além de ele já ser bonito naturalmente.

Ok, um pouco sobre mim agora. Sou alta e muito magra, quase não tenho corpo. Tenho algumas curvas, mas no geral sou magra. Meu cabelo é castanho e longo, ondulado, brilhoso e bem hidratado, como vocês imaginam. Vejam, é difícil manter meu cabelo longo e ondulado, já que estamos numa onda de lisos de comprimento médio. Mas eu gosto deles assim e é assim que eles vão ser. (E era assim que minha mãe deixava os cabelos dela.) Minha pele é um pouco bronzeada demais para o padrão americano, mas nada tão bronzeado que me caracterize como brasileira, como a pele da minha mãe era. Meu rosto é um pouco redondo, mas ainda sou magra. Meus olhos são lindos, perfeitamente alinhados e equidistantes do nariz. Meu nariz é levemente arrebitado e sua ponta é gordinha. Minha boca é média e os dentes perfeitos. Sim, eu sou bonita. Não tenho problema em achar isso.

As meninas aqui são bonitas também, mas seus rostos não são tão cuidados quanto os meus. Não sei se há alguma relação ao trabalho nas forjas ou se elas tem normalmente as manchas na pele. Ou se é a minha mãe que era uma maníaca por beleza que queria que eu fosse sua boneca. As mãos das meninas são calejadas e rudes, isso com certeza é por causa das forjas. Os seus músculos são infinitamente mais desenvolvidos que o meu. E seus corpos são bem mais bonitos.

– Vista uma roupa confortável – diz Marly. – Vamos treinar esgrima hoje.

Faço uma careta. Não gosto da palavra treinar. Sou extremamente preguiçosa para exercícios físicos, prefiro coisas intelectuais. Elas riem de mim e me incentivam a me trocar. Me troco, aproveitando que não tem meninos no quarto. Minhas roupas limpas são guardadas na cômoda e as sujas vão para uma lavanderia comunitária onde as harpias ou os campistas mais mal-comportados lavam. Marly instala um mini chip em cada peça para que elas não sejam extraviadas ou roubadas mesmo.

Nos dirigimos para a arena surpreendente. É uma pequena réplica do Coliseu e eu estranho, o Coliseu original é romano! Mas ok, não pergunto nada. Já deu para perceber que eu não sou muito de perguntar as coisas não é?

Entramos e lá dentro não é surpreendente, na verdade. Não deixa de ser lindo e admirável, mas eu imaginava que era assim, o chão de terra e as arquibancadas velhas, seguras por algo bem mais forte que tijolos: magia.

Todos os filhos de Hefesto estavam lá e menos que dez pessoas de outro chalé também. Estavam em formação circular, o chalé de Hefesto de um lado e os outros semideuses de outro.

– Aí está – disse Austin. – Nossa nova irmã, Melissa.

Ele me abraça e eu solto um grunhido de surpresa. É a segunda pessoa que me toca de forma tão íntima além de Jay. Mas eu sorrio. Porque eu gostei muito do abraço. Me fez sentir aquecida e em casa. Me fez sentir como se meu avô tivesse me abraçando de novo, mesmo depois de quase cinco anos da sua morte. E, claro, me fez sentir saudade, mas eu deixei os sentimentos bons superarem os ruins.

– Pensávamos que você seria mais uma do show de horrores – disse uma garota alta e ruiva. – Mas você até que é bonitinha.

Os outros riram. Menos uma garotinha, que aparentava ter dez anos e não gostar nada daquela situação. Ignorei-as porque foi assim que aprendi com minha mãe.

– Cale-se, Ruth – disse Marly. – Não foi nada difícil quebrar seu nariz daquela vez e não vai ser difícil fazer de novo. Então, não perturbe a menina.

A tal Ruth se sentiu ameaçada de verdade por Marly, já que recuou até onde era possível. O chalé dela recuou junto.

Austin pigarreou e logo começou a falar:

– Então, o chalé de Afrodite e o de Hefesto se juntaram por determinação do diretor de atividades do acampamento para treinar. Não é um tempo bom para nos mantermos parados e precisamos de toda a defesa possível. Como todas as pessoas do chalé de Afrodite têm alguma noção de esgrima, e todas as pessoas do chalé de Hefesto, menos Missy aqui, entendem bem a arte da luta, vamos nos separar em pares, de acordo com os níveis de habilidade.

Fiquei junto de um garoto. Ele é tão bonito quanto todos os outros no chalé. Ele é forte, não tanto quanto os filhos de Hefesto (menos as garotas e crianças), que passam horas e dias nas forjas, mas é bastante forte. E alto, mais alto que eu. Seus olhos são muito azuis. Ele tem um rosto firme, anguloso. Seu cabelo é loiro e cacheado.

– Sou Jake Cole – ele diz e estende a mão para me cumprimentar. Sua voz é grave e a fala, macia.

– Melissa Campbell – respondo, apertando sua mão.

Ele me dá uma espada e me ensina umas noções básicas de esgrima.

– Segure a espada com a mão que você escreve.

Seguro com a mão esquerda e ele arregala os olhos.

– Canhota? Isso é muito bom. Pode confundir os inimigos que não são acostumados. Mas cuidado, não são todos os inimigos que têm essa dificuldade. E ainda tem aqueles que se acostumam rapidamente com a situação na qual os oponentes os colocam. Ah ainda tem a questão de o seu lado esquerdo, que é onde fica o coração, estar desprotegido. Mas isso pode ser corrigido com um escudo grande... ou será que ficaria pesado? Tome aqui.

Ele me dá um escudo e eu tento assimilar o que ele fala. Ele fala muito e muito rápido!

O escudo é pesado e grande. Não consigo segurá-lo e o derrubo no chão. Não faz muito barulho por causa do chão de areia da arena. Mas ainda faz um barulho abafado e algumas pessoas olham para nós, mas logo voltam às suas atividades. Ele veste uma armadura e pega um escudo e volta a falar:

– Vou te treinar já com o escudo para você se acostumar com o peso do equipamento. Não vamos treinar de armadura ainda porque você tem que se acostumar com os movimentos. Vamos começar com a estocada. O que é a estocada? É um golpe realizado pela ponta da arma. É bom se você quiser manter distância, mas você precisa aplicar a força certa ou a espada cai da sua mão.

Ele faz um movimento circular curto num boneco de palha que está ao nosso lado e o atinge com a ponta da espada, fazendo um corte curto e leve no pobre bonequinho.

– Viu bem o que eu fiz?

Afirmo com a cabeça.

– Você vai repetir esse movimento até dominá-lo.

Tento uma vez e a espada cai da minha mão quando bato no bonequinho. Isso faz minha mão doer e eu dou um grito. Todos olham para mim de novo, mas agora com cara de preocupados, principalmente os filhos de Hefesto. Digo que não é nada e eles voltam às suas atividades.

Jake dá um sorrisinho de canto de boca bem charmoso e diz que eu tinha aplicado força de menos. Ele segura a minha mão que está no cabo da espada e posiciona meu braço na forma certa de atingir o boneco. Ele diz que eu não devo aplicar força demais, nem força de menos, apenas uma força suficiente para movimentar a espada e que eu não deveria ficar tão rígida, deveria fazer tudo isso com suavidade, como uma dança.

Tento fazer tudo isso.

Mas é difícil. É difícil naturalmente e é difícil quando você tem um menino forte ao seu redor conduzindo seus passos. É difícil fazer isso tudo sentindo que o conheço de algum lugar. É difícil fazer isso tudo enquanto tento controlar o formigamento na minha barriga, parecido com o que eu senti quando Elius me beijou.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam de Jake? Nada ainda? Esperem para conhecê-lo mais!!!