A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 6
O pai


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas eu estava sem saco de postar, sem inspiração e sem tempo.
Enfim, espero que gostem desse capítulo, achei delicioso de escrever... Mas lembrem: nem tudo o que parece é.



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Me surpreendo um pouco ao saber que a enfermaria fica dentro da Casa Grande. Ou seja, eu realmente não vou conhecer nada do acampamento além da decoração rústica e bem estranha, misturada com inspirações modernas. Gostei do que vi. A sala principal tem móveis de madeira bem trabalhados – e eu sei quando um móvel é bem feito – e as paredes têm cabeças de animais penduradas. Em contraste a isso, o toque minimalista e monocromático dos tons de marrom e bege.

Eu sei o que vocês estão pensando que isso não equivale ao que vocês pensam do Acampamento, mas é assim que ele é. E sim, eu entendo um pouco de decoração.

Elius me apresenta a Quíron como filha. Eu rio. Para todos os efeitos judiciais, ele – ou a versão mais velha dele – me adotou.

Quíron é um homem velho. Não digo velho no sentido rugas na cara e pele flácida. Se eu não desconfiasse da idade relacionada à mitologia grega – que é o que dizem que eu estou vivendo – provavelmente eu diria que ele tem seus cinquenta anos. Mas os olhos dele não me deixam mentir. Eles devem ter milhares de anos.

Mamãe me ensinou a olhar nos olhos das pessoas para saber que elas são. Os olhos não mentem. Você pode mentir à vontade, desde que seus olhos não estejam à vista. Ela dizia também que os olhos são a porta da alma.

Então, eu meio que fui obrigada a aprender a ler os olhos das pessoas.

– É raro um semideus sobreviver até os dezesseis anos longe do acampamento sem ser encontrado por monstros – diz ele. – Mas, nós temos contato com esse lugar em que você estava. Muitas daquelas crianças são semideuses. Claro que ninguém sabe de nada até a hora certa. Bom, aqui você está. Presumo que Jacqueline e Elius disseram alguma coisa sobre vocês serem filhas de deuses.

– Disseram – respondo. – Mas não sei quem é meu pai.

– Eu sei que você não sabe – ele responde minha resposta. – Raramente alguém sabe. Mas, se você tiver sorte, ele vai reclamá-la.

Finjo que entendo o que ele disse. Claro que não adianta, já que ele pode ver que eu não entendi. Mas tudo bem, depois eu pergunto a Elius.

– Temos um filme explicando sobre a nossa vida – comenta Quíron depois que ninguém diz nada. A não ser que saiba algo sobre a história da Grécia Antiga.

– Está falando de mitologia? – pergunto, já que é sobre isso que se trata.

– Estou falando de história – responde meio irritado. – Com o tempo você entenderá a diferença.

– Bom, eu entendo de mitologia grega um pouco, vovô adorava.

– Então está perfeito. Peço desculpas pela minha indelicadeza, mas tenho um grande problema para resolver. Então, Elius, porque não apresenta o acampamento para nossa nova moradora.

– Tudo bem – Elius aceita a proposta, e eu tinha até esquecido que ele está aqui.

– Até mais, Melissa – Quíron se despede de mim.

– Até mais – respondo.

Elius segura a minha mão, fazendo meu coração palpitar, por causa daquela corrente elétrica instalada em mim hoje mais cedo. Que droga. Será que vai ser assim para sempre?

Eu e Elius saímos. Ele me mostra cada lugarzinho do acampamento, que eu não vou descrever agora porque vocês já conhecem. Desculpem-me, mas é isso.

Ok. Estou me sentindo péssima narradora, por isso vou dizer qual lugar mais gostei. E não é surpresa nenhuma: a praia. A água azul perfeita e a areia branquinha. O sol... não sei como descrever, está perfeito.

Agi por impulso quando chegamos lá e atravessamos a faixa de grama que separa o acampamento da praia. Nem percebi e meus pés estavam na água, fria, mas gostosa. Fui entrando mais e mais e estava toda molhada e nadando. Gente, como eu amo o mar. Me pergunto se não posso ser filha de Poseidon, o deus do mar. Começo a considerar essa possibilidade. Não é tão ruim, ele é um deus poderoso. Tão poderoso que foi confundido com o “vilão da história” por algumas pessoas...

– Pai? – pergunto baixinho. – Pai! Pai... Por que você não me procurou por todos esses anos? Quase dezessete! – brinco com a água. – E Jayme? Ele é meu irmão, é seu filho também? Ai, pai – acho que você já sabe, já que seu irmão é o todo poderoso do submundo – mas mamãe morreu. Aposto que ela estava bastante apaixonada por você quando me teve... E até depois. Sabe, ela nunca teve outro namorado. E sabe de outra coisa, meu avô provavelmente ia...

– Melissa! – Elius grita, tirando-me do meu momento de devaneio. Olho para ele. Ele está acenando desesperadamente para eu voltar para a terra. Faço um sinal com a mão a Berta, pedindo para ele esperar.

– Pai, olha, tenho que sair. Mas eu vou voltar a te ver, ok? Afinal, nesse acampamento incrível não faltam oportunidades para eu falar com você, não é?

– Elius! – grito, saindo da água correndo.

Ele está fazendo cara estranha para mim.

Não me importo. Saio feliz e dou um abraço molhado nele. Nunca me senti tão feliz na minha vida. É realmente como e eu tivesse me encontrado. Estou sorrindo. Deuses! Quanto tempo faz que não sorrio de verdade.

– Você está louca? O que estava fazendo no mar?

– Sei lá... Ele foi me puxando me puxando. Como se eu tivesse uma afinidade com ele. Será que eu sou filha de Poseidon? Sei lá, não me parece tão estranho.

Ele me olha seriamente, como se não estivesse gostando nada daquilo.

– O que foi? – pergunto. O que diabos tem de errado com meu amigo?

– Não é nada bom você ser atraída pelo mar. Se você for realmente filha de Poseidon, bom... não sei. É impossível! Poseidon não pode ter filhos. Nenhum dos três grandes pode!

Ele termina quase gritando. Sussurro um “por quê?”, com um medo estranho. É um medo que Elius transmite.

– Porque eu não posso me arriscar a perder você.

Sinto um pequeno tremor percorrer o corpo e um suor frio. Será que nunca vou parar de sentir isso? Será que eu estou me apaixonando mesmo? Mas que droga! É o primeiro menino que eu conheço, como posso me apaixonar?

– Por que você me perderia?

Ele me fala que os três grandes, os três irmãos filhos de Cronos e Reia, não podem ter filhos. Explica o rolo que os filhos deles causaram, um rolo bem grande: a segunda guerra mundial. Então fizeram um tipo de acordo para não terem mais filhos dos três grandes. O que significa que, se eu for filha de Poseidon, eu tenho que morrer, já que mataram todos eles sessenta anos atrás e que eu não deveria ter nascido.

Fico sem palavras. Como assim, eu deveria morrer? Eu não quero morrer.

– Então não vamos contar a ninguém que sou filha dele.

– E torcer para que ele não te reclame.

Ele provavelmente vê minha cara de interrogação, já que acrescenta:

– Reclamar é, basicamente, quando um deus assume que você é filho dele. Aconteceu com Julia.

Minha cara de interrogação some. Fico com aquela cara de "ah, entendi". Ele quer dizer que seu pai passa anos longe de você para quando você chegar no acampamento te fazer bilhar com um símbolo esquisito em cima da cabeça.

Então vamos esperar que ele não me reclame ou que eu não dê sinais de ser filha dele.

– Mas calma, você pode não ser filha dele.

– Sinceramente, não acho que eu não seja filha dele. A única justificativa disso que aconteceu é eu ser filha dele.

Ele dá um suspiro, desaprovando a ideia.

– Então, não tem um nome para eu te chamar além de Melissa? – ele muda de assunto – É muito complicado para eu ficar falando o tempo todo.

Penso um pouco antes de responder.

– Não sei. Meu irmão mais novo me chama de Cissa, mas ele nem fala direito, só quatro anos... E minha mãe sempre me chamava de filha, bebê, princesa.Meu avô também. E eu não tinha amigos, então, nada de apelidos.

– Entendo... Esse negócio de não ter amigos é bem chato. Mas eu sei como é, nunca tive muitos amigos antes de chegar aqui. Então eu vou te chamar de Missy.

– Missy – repito, apreciando o nome. – Eu gosto. É um apelido comum, me faz sentir normal.

Ele sorri.

Ele faz uma coisa que, mesmo que eu queira secretamente que aconteça, me surpreende.

Ele me beija.


Antes que qualquer um possa dizer alguma coisa, ele fala:



– Missy, você foi reclamada!


E, de fato, fui reclamada. Estou brilhando e o símbolo do meu pai está acima da minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram do beijo?? Haha. Mas não fiquem tão animadas... muita coisa ainda vai acontecer.
Digo de novo: a história está apenas começando.
Comentem aqui pra me estimular a continuar escrevendo...



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