A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 5
O primeiro amigo


Notas iniciais do capítulo

Não esqueçam de reler o quarto capítulo, que está alterado!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324866/chapter/5

Quando acordo numa maca desconfortável, o sol brilha. Estou tão tonta que até abrir os olhos dói. A luz me incomoda, estou impressionada com a luminosidade do lugar.

– Finalmente – diz a voz de Elius. – Estou esperando há horas.

Olho ao redor, mas no mesmo instante me arrependo de ter feito isso. Tudo escurece diante de mim, minha cabeça gira e meu estomago embrulha. Quase caio de volta na maca, mas alguém – Elius, suponho – me segura.

– Tome, um pouco de néctar, vai te ajudar a se recuperar.

– Um pouco de o quê?! – Pergunto assustada. O que ele quer me dar?

– É para você se sentir melhor.

Pego, sem conseguir enxergar direito, o copo que ele me oferece. Bebo lentamente e me sinto um pouco melhor.

Depois de alguns minutos, consigo me sentar e ver nitidamente o quarto. Tem outras macas parecidas ao meu redor e tudo é triste. Parece com a enfermaria do orfanato que eu morava, só que mais iluminada e em tons terrosos.

Um pouco depois, eu me sinto perfeitamente bem.

– Melhor? – pergunta Elius.

– Muito.

Mas eu não o vejo. Olho em volta procurando por ele , mas ele não está lá. A única pessoa que vejo é um garoto magro e alto, loiro e jovem que provavelmente tem a mesma idade que eu.

Estou prestes a perguntar quem é ele e onde está Elius, mas ele fala:

– É o efeito do néctar. Ele cura semideuses. Se você fosse mortal, seria só pó agora.

Meus olhos se arregalam. É a voz de Elius saindo do garoto. Olhando bem, ele parece mesmo com Elius; numa versão mais nova, mais magra e mais alta do homem que me adotou.

Ele viu minha expressão assustada e riu de mim. Minha expressão passa de surpresa para zangada. Qual é a graça?

– Sim, sou eu, Elius. Um pouco diferente do que você imaginava, mas ainda assim.

– Então, você definitivamente não é meu novo pai.

Ele ri e fica em silêncio.

– Por que eu estou aqui? – pergunto depois de um momento de silêncio constrangedor. É a primeira vez que eu realmente falo com uma das pessoas que me tirou do orfanato, que me afastou de Jay. Eu deveria estar com raiva. Não deveria?

– Você ainda não percebeu o que é? – Responde, com outra pergunta. – Você é filha de um deus. Aqui é o único lugar seguro para nós.

– Você também é filho de um deus?

– Sim, Apolo.

– Deus do sol. E seu nome é Elius? Que criativo, hein!

Ele revira os olhos e fica quieto, provavelmente pensando se deve ou não explicar a origem do seu nome. Me arrependo imediatamente de ter dito isso, vai que é um ponto fraco dele...

Mas, ele suspira e fala:

– Depois que os pais e irmãos da minha mãe morreram num incêndio na antiga casa deles no interior do Texas, ela entrou em depressão. Foi morar com a tia dela, mas teve depressão profunda, mas naquela época, ninguém sabia bem o que era aquilo. Ela melhorou depois que conheceu Apolo, mas a relação deles durou apenas uma semana. Entenda, todas as relações entre deuses e mortais são momentâneas. Os deuses não têm permissão para viver com humanos e a maioria deles é casado. Minha mãe soube que estava grávida algumas outras semanas mais tarde. Ela queria que eu continuasse com a alegria da vida dela, por isso, me deu um nome que a lembrasse meu pai e que lembrasse alegria. Mas ela não sabia que meu pai é um deus nem nada. E ela também não sabia que eu não traria alegria nenhuma, só problemas.

Nossa. Não sei o que dizer. Sou péssima com palavras. Consigo enrolar Jay porque ele tem apenas quatro anos, mas as palavras de consolo de Jay não são válidas para um garoto de mais ou menos 16 anos.

– E isso tudo só para explicar um nome.

Ele dá um sorriso murcho.

– Eu não sei o que deu em mim para contar. Nunca disse isso para ninguém antes, nem para Quíron que ainda insiste para que eu conte. É íntimo demais. Eu amo muito minha mãe e isso é triste para mim.

– E onde ela está agora?

– Internada. Nós descobrimos que eu sou semideus juntos. Foi demais para ela. Ela está delirante num centro de reabilitação psicológica, ou, melhor dizendo, hospício. Faz quatro anos que não falo com ela, não posso. Na maioria das vezes que vou lá, ela está fragilizada demais e não posso nem vê-la. Quando ela está melhor e eu chego a tentar falar com ela, ela sempre piora. Sempre lembra da minha história e enlouquece.

– Nossa. É uma pena. E eu realmente não sei o que dizer.

– Nem precisa. Só falar sobre isso já é bom.

Sorrio. Sei bem como é. Por anos convivi fechada no meu mundo com apenas Jay querendo falar com alguém que me entendesse. Mas não estou pronta para isso, ainda não.

– Então, você já está melhor, não é?

Afirmo com a cabeça.

– É bom você levantar e vir conhecer sua nova casa.

– Sim, senhor, pai.

Ele completa minha risada.

Levanto lentamente com a ajuda de Elius, que me dá a mão e passa o braço em volta da minha cintura. Não lembro quando foi a última vez que eu deixei alguém, além de Jay, me tocar. Uma corrente elétrica passa por todo meu corpo e me deixa agitada.

Saímos da enfermaria, calados. Ele revelou tanto dele ali, que de um homem passou a um garoto, um garotinho que perdeu a mãe para algo pior que a morte. Porque ela ainda está lá, mas distante, intocável.

– Ah, e aquela garota, Olivia... Pelos deuses, ela não para de falar!

Faço uma careta.

– Argh, ela é uma vadia.

Ele fica surpreso com as palavras que uso, mas não há melhor. Ela é exatamente, isso, uma vadia que não tem o que fazer e por isso inferniza a vida das outras pessoas.

Ele me abraça e sorri.

– Então tá. Vamos conhecer o acampamento. Mas antes, temos que passar na Casa Grande e falar com o Quíron. Antes de conhecer, você tem que saber como as coisas funcionam aqui dentro. Sua vida acabou de começar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram do amiguinho de Melissa?
Vão gostando...