Uma semana havia se passado desde os últimos acontecimentos pós-festa. Encarar toda aquela situação era bem mais difícil que os primos imaginavam. Esconder as coisas, se afastar sempre que aparecia alguém, fingir ódio, brigas era uma tarefa ao mesmo tempo fácil , porem sufocadora.

Mesmo com seus amigos sabendo de tudo, as caricias e beijos eram coisas que não demonstravam. Evitavam ao máximo, pois ainda era estranho, principalmente para os próprios.

- Preparados ? – Graça perguntou se aproximando de Juliana e Pietro, que estavam na sala assistindo algo

- Para?

- Oras , hoje é sábado e a faxina é por conta de vocês , lembram?

- Ah não mãe , ninguém merece – Pietro reclamou – poxa , é sábado, dia de sair e não de arrumar a casa

- Trato e trato – lembrou – e ainda mais , hoje ninguém vai sair, porque jantaremos juntos

Pietro resmungou algumas palavras  e logo depois de conformou, fazendo a prima rir da cena patética que ele acabara de fazer

- A senhora vai sair ? –juliana perguntou

- Vou comprar algumas coisas e mais tarde visitar uma amiga que está doente, vejo vocês mais tarde

- Que lindo – Pietro reclamou mais uma vez e viu sua mãe sair dando algumas risadinhas – Dá pra acreditar nisso ?

- Não mesmo – ela riu – Você ta parecendo aquelas meninas frescas que merecem um tapa na cara

- Não estou imitando-a

- Idiota!

- Vem minha faxineira – ele brincou – Temos que arrumar nosso lar

Ambos começaram pela parte de cima da casa. Juliana ficou por conta do quarto da tia e do próprio e Pietro com os dois outros quartos.

Enquanto terminava de arrumar o quarto da tia, percebeu que havia uma caixa em cima do guarda roupa e que não se lembrava de ter visto sua tia com ela no dia da mudança. Mesmo sabendo que aquilo não era certo, Juliana trancou a porta e a pegou, sentando na cama para analisar.

Ao abri-la , Juliana viu vários papeis e fotos. Sem perceber nada de diferente, decidiu guardar a caixa, mas quando estava quase fechando, viu um papel que lhe chamou muita atenção. Pegou o documento e abri-o , lendo o titulo completamente incrédula ‘‘Documentos de adoção’’ . Sem entender muito, continuou lendo e a cada linha ficava mais pasma. As lagrimas que estavam lutando para descer, finalmente saíram. Pietro era adotado

- Deus! – exclamou

- Juliana ? – Pietro bateu na porta , assustando a prima – Porque trancou a porta ?

- Err, só um minuto – recolheu todos os papeis da cama apressada e ainda em choque. Juntava tudo com rapidez, até que ela viu outra coisa que ela não tinha percebido ainda: um envelope. Parecia uma carta e rapidamente reconheceu a caligrafia, era da sua mãe.

- Ju ?

- Calma – tentou dizer.

Com o envelope ainda em mãos, novamente as lagrimas desceram pelo seu rosto. Porque sua tia escondera aquela carta de sua mãe? Porque não havia lhe contado que seu primo não era seu primo? Será que o próprio sabia disso? Provavelmente não. 

Havia muitas perguntas vagas para a própria tentar adivinhar e entender.

- Ju ? To começando a ficar preocupado , abra a porta

Juliana saiu do seu transe e fechou a caixa, colocando-a no lugar que estava. Respirou fundo e jogou água no rosto. Abriu a porta e Pietro a olhava confuso e com uma leve preocupação nos olhos

- Tudo bem ?

- Sim – respondeu naturalmente – Tive uns problemas , coisa de mulher

- Hum... terminou aqui já ?

- Sim

- Agora é a parte de baixo – disse desanimado, porem com um sorriso forçado.

Mesmo Pietro a fazendo rir com suas brincadeiras idiotas, Juliana não conseguia parar de pensar nas coisas que viu naquela caixa. A carta da sua mãe que a tia jamais havia entregando, a adoção de Pietro e cartas , varias cartas.

-Você fica linda de avental sabia ? – ele se aproximou de Juliana , que riu sem graça

- Tá dizendo que tenho cara de empregada ?

- Não – ele corrigiu – só que fica linda como tal

- Idiota

- Vem cá – ele a puxou pela cordinha do avental e devagar depositou os lábios nos dela. Um beijo calmo e sem pressa.

Depois de passarem a tarde toda arrumando as coisas, ambos deitaram no sofá e ficaram ate que Graça chegasse, o que não demorou muito, já que estava quase anoitecendo quando eles terminaram as tarefas.

- Trouxe comida – Disse ao chegar – Uau ! Gostei de ver

- Obrigada

- Parabéns

- Mas estou morto

- Vai sobreviver filhote – riu para ele – Então ? Banho e depois jantar, em quinze minutos

Pietro subiu e Juliana ficou observando a tia por um tempo. Ao perceber o que a menina fazia, parou o que estava fazendo e perguntou

- Algum problema querida ?

- Nenhum tia – respondeu forçando um sorriso – Vou tomar banho

Subiu para seu quarto e permitiu respirar normalmente. Como iria perguntar uma coisa daquela para sua tia? Se fez , com certeza tivera uma razão, mas por que fez ?

Depois do banho, Juliana percebeu uma coisa que não tinha parado para pensar.

‘’- Bem que ele podia ser adotado – brincou – Resolveria

- Um pouco – riu- apesar que primo não é considerado tão parente assim né

- Eu que perguntou , porque você também já deu uns pegas na sua prima Aline

- Isso faz tempo – rolou os olhos – e não estava apaixonado por ela’’

Nada mais impedia Juliana de ficar com Pietro. Mesmo assim não estava feliz por isso, não agora. Sabia que o primo iria sofrer muito quando descobrisse a verdade. Juliana se viu diante de um dilema: contar a Pietro a verdade e assim poder viver a relação deles ou esconder a verdade, deixando as coisas como estava.

Desceu para o jantar e os dois já estavam na mesa. Juliana sentou-se ao lado da tia e forçou um sorriso. Estava sufocada e queria gritar a verdade, antes de explodir.

- Então ? Como está sua amiga mãe ?

Ao escutar a palavra mãe vindo da boca de Pietro, Juliana sentiu seus olhos ficarem umedecidos. Ficou paralisada e tentava não transparecer as coisas que estava sentindo.

- Melhor filho – respondeu sem animo – Espero que fique mais

- Ficará – ele sorriu para ele que fez o mesmo

Juliana poderia até contar a verdade, mas sabia o quanto ambos se amavam. Nunca tivera visto uma relação de mãe e filho como a de sua tia e Pietro. Nem a própria era assim com seus pais. Era lindo de ver. Sentiria mau por estragar uma coisa dessa forma.

Depois do jantar, sua tia ficou arrumando a cozinha enquanto eles foram para a sala. Juliana estava quieta desde o jantar e sua única vontade era de não ter nunca aberto aquela caixa.

- Ju ? – Pietro sussurrou – você está bem ?

- Só cansada

- Certeza ? – perguntou e ela apenas assentiu voltando a atenção para a televisão , mesmo não tendo idéia do que se passava nela.

Sua tia logo se juntou a eles e ficaram assim por quase uma hora e meia, vendo algum filme. Já se passava das onze, quando sua tia resolver subir para se deitar.

- Acho que também vou dormir – Juliana disse bocejando

- Vai me deixar aqui sozinho mesmo ? – Pietro fez drama

- Sim – respondeu com humor lhe dando um selinho logo em seguida – Boa noite

Subiu as escadas decidida do que iria fazer. Precisava saber a verdade antes que soltasse qualquer coisa para Pietro, piorando a situação.

Bateu na porta do quarto de sua tia, que autorizou sua entrada.

- Tia ?

- Sim querida

- Precisamos conversar