Recordações escrita por Nekoclair


Capítulo 3
3. Novas interações


Notas iniciais do capítulo

Olá, a quanto tempo... ^^' Desculpem a demora, mas eu enfim me mudei, por isso, agora acho que vou poder atualizar as fanfics com mais frequência! o/ Já era hora -ne? xD
Mas então, esse capítulo... Ele tem tudo que devia ter, tudo que eu havia reservado a ele. Mas, por alguma razão, eu não gostei 100% de como ele ficou. =< Mas eu não consegui mudar, então vou tentar recompensar nos próximos -ok?
Boa leitura!



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Capítulo 3

O som da água corrente batendo contra as laterais íngremes da pia não muito grande do banheiro era o único que me parecia ressonar naquele momento. Ou então, quem sabe, talvez fosse o único que me importava.

Subi o violáceo dos meus olhos até eles se refletirem em seu próprio reflexo, no espelho disposto à minha frente. Minha face clara, e agora também com aparência de cansada, levava os olhos úmidos e o rosto ainda um tanto avermelhado. A face de alguém que chorara, e qualquer um perceberia isso assim que me visse em tal estado.

Mas fazer o quê? Eu realmente chorara! Não, eu não desejava ter caído às lágrimas daquela forma, e ser visto pelo Gilbert naquele momento tão inoportuno também não estava em meu planejamento! Nada disso me era desejado, mas também não havia como ser evitado. Simplesmente porque, às vezes, as coisas tendem a acontecer mesmo contra a nossa vontade. E, além disso, pode acontecer de sermos vistos nessas situações indesejadas e desconfortáveis por pessoas que nós não desejávamos a presença, sobretudo, naquela instante.

Por mais que me parecesse estar sendo castigado pelo destino, tudo não passava de coincidências. Simples e catastróficas coincidências...

Levei ambas as mãos à cascata de água que abandonava a torneira, juntando-as em forma de concha até tê-las cheias até a borda, levando a seguir todo o líquido cristalino e frio recolhido ao meu rosto, principalmente aos olhos. Eu esfregava o local com força, desejando eliminar ao menos um pouco as evidências de meu choro.

Quando enfim desliguei a água e o som da cascata extinguiu-se, novamente as vozes das crianças que brincavam no jardim voltaram a ser escutadas pela minha pessoa. Inicialmente elas irritavam-me consideravelmente, mas eu estava me acostumando em um ritmo bem mais rápido do que eu imaginava possível. Elas não eram um incomodo tão grande quanto em julgara-as como ser.

Apressei-me banheiro a fora, tomado agora por certa ansiedade. Já se aproximava da hora do jantar e apenas mais meia hora restava até tal. Entretanto, eu desceria antes; e essa fora uma decisão feita, pela minha própria pessoa, durante a tarde que passara voando por meus olhos.

Eu refleti muito - muito mesmo - sobre a questão, mas eu sentia que, desde o princípio, não poderia ter sido diferente. No momento em que a ideia me ocorreu, percebi que minha teimosia não mais me permitiria voltar atrás. Mesmo as mil e uma razões do porque não levar tal decisão adiante, que eu estava muito bem ciente, eram incapazes de me deter.

Eu decidira que desejava ver Gilbert na situação mencionada por Ludwig mais cedo, durante o almoço. Eu necessitava ver para verdadeiramente acreditar e entender, para saber que eu não compreendera errado ou exagerara em meu julgamento.

Eu não duvidava das palavras do mais novo, não pensava que ele mentira; longe disso. Os olhos azuis claro do alemão cintilavam sinceridade enquanto conversávamos. Entretanto, ainda assim, eu sentia a louca necessidade de ver com meus próprios olhos aquele isolamento. Eu desejava compreender o albino ao menos um pouco, saber mais sobre a sua figura tão singular, e eu sentia que esse era um primeiro passo essencial.

Meus pés razoavelmente pequenos bateram contra a madeira desgastada dos degraus da escada, produzindo um ruído típico. Meus passos eram apressados, mas não era como se eu corresse ou coisa assim... Era apenas um andar um pouco mais rápido que o normal, nada mais!

Quando alcancei o térreo, o corredor encontrava-se praticamente vazio, exceto por uma ou duas almas passantes. Todos provavelmente se encontravam no jardim dos fundos da casa, aproveitando do sol forte que fazia.

Caminhei ansioso pela passagem até alcançar a batente da entrada para o refeitório, onde me posicionei. Joguei meus olhos ao interior do salão, a procura do albino, demorando um pouco até encontrá-lo por causa de meu posicionamento desfavorável em relação ao local onde ele se encontrava sentado.

Gilbert tinha as feições sérias enquanto levava, aos lábios, um arroz enfeitado por verduras e temperos coloridos. Ele era a única alma naquele local e, por causa disso, o salão aparentava ser ainda maior do que da última vez que eu o visitara, na hora do almoço. Chegava a parecer outro lugar, sem as conversas, broncas, gritos de crianças... Não pude evitar de pensar que ele me parecia um tanto solitário dentre todo aquele espaço vazio.

Um aperto desconfortável tomou meu peito, fazendo-me levar instintivamente uma das mãos ao local, fechando-a sobre o tecido. Eu me sentia sufocado de certa forma. Aquela cena, aquela situação, era alvo de minha tristeza e de minha ira, simultaneamente.

Gilbert levou o garfo novamente à boca, as feições não muito alegres divergiam das que eu normalmente via em sua face travessa. Eu desejava poder fazer alguma coisa, mas isso seria impossível.

– O que está fazendo?

Uma voz desconhecida ressoou subitamente em minhas costas, fazendo-me virar de imediato, meu coração dando pulos que me alcançavam a boca. Uma jovem, uns anos mais velha, de longos cabelos castanhos e olhos de uma tonalidade bem esverdeada, encontrava-se postada logo atrás de mim, vestida com um vestido branco e delicado que lhe caía muito bem. Apenas um pensamento reinou em minha mente, o qual acabou por escapar por entre meus lábios entreabertos antes mesmo que eu percebesse.

– Que linda...

Meus olhos fixaram-se na jovem e se negavam a perdê-la de vista. Ela encarava-me, simultaneamente, os olhos bastante confusos.

– O que disse? – perguntou ela.

Meu coração bateu forte e minha face imediatamente enrubesceu quando percebi o que eu havia feito, ou, no caso, falado. Uma agitação incontrolável tratou de possuir cada músculo de meu corpo, fazendo com que alguns poucos tremores se sucedessem.

– Na-Nada! E-Eu só estava pensando que... Que os olhos da senhorita são muito belos! É um verde bem diferente e simplesmente não pude ignorá-los! – as palavras se enrolavam enquanto abandonavam meus lábios.

Ela primeiramente permaneceu em silêncio, um tanto confusa e surpresa, mas então sorriu gentilmente, soltando um riso contido.

– Obrigada. – ela disse, enfim, com um leve sorriso nos lábios – Qual o seu nome? Você é o menino novo?

– Roderich Edelstein e sim. – eu respondi, ainda exasperado.

O nervosismo que repentinamente havia possuído meu corpo apenas aumentava a cada palavra que ela proferia em sua voz suave. Por Deus, o que há comigo?!

– Muito prazer, Roderich. Meu nome é Elizabeta Héderváry, mas pode me chama de Eliza.

– O prazer é meu, senhorita Elizabeta. – eu disse, enquanto fazia uma leve reverência à jovem diante de mim, usando de todos os meus esforços para me acalmar ao menos um pouco.

Ela riu brevemente mais uma vez, escondendo os lábios finos entre os dedos de uma das mãos.

– Oh, Roderich, não precisa ser tão formal! Você, afinal, é só uma criança. – ela levou as mãos aos meus cabelos, bagunçando-os durante um afago.

– A-Ah... Certo... Eliza. – eu disse, constrangido. O apelido da garota soou doce em meus lábios, deixando-me um tanto alegre.

Um leve sorriso formou-se inconscientemente em meus lábios, os quais se abriram a fim de algo pronunciar mas foram interrompidos antes disso.

– Ei, Eliza! Ainda está por aqui?

Uma voz familiar soou, vinda do refeitório, fazendo com que eu e a garota direcionássemos, simultaneamente, nossos olhares à origem da voz: o albino, que vinha em nossa direção um tanto sorridente. Ao que me viu seu sorriso, de alguma forma, alargou-se um pouco mais, o que me fez estremecer levemente.

– Olá, Gil. Como estava a comida? – perguntou a garota, gentilmente.

– O de sempre. O de sempre, minha cara Eliza. – ele suspirou cansadamente – E boa noite, jovem mestre. Muito bom te ver. – ele completou com um largo sorriso, direcionado exclusivamente a mim.

– Boa noite, Gilbert... – eu o respondi, um tanto incomodado por conta de seu olhar penetrante.

O albino tinha essa habilidade: seus olhos, seus sorrisos, as suas palavras, tudo nele possuía considerável impacto em minha pessoa. Eu não me sentia mal perto de si, apenas estranho. Bastante estranho...

Elizabeta olhou de Gilbert para mim e então sorriu um tanto mais largamente, um brilho radiante cintilava em seus orbes verdes.

– Então vocês já se conheciam? – ela perguntou, animada.

– Mas é claro que sim, Eliza! Eu e o Rod somos os melhores amigos de todo o universo! – ele disse, em alto e bom som, envolvendo meus ombros por seus braços, trazendo-me para mais perto de si.

– Não exagere, Gilbert. Somos colegas de quarto, no máximo.

– Não precisa ser tímido, Rod! Não há porque se sentir assim! Não é mais fácil simplesmente admitirmos nossa relação? Quero dizer... Depois de cair às lágrimas em meus braços, pedindo para que eu o salvasse da gigantesca solidão que te abalava, não resta sequer dúvida quanto à nossa proximidade!

– Na-Não foi nada disso! – eu repliquei, sentindo minha face subitamente se esquentar, tanto por causa de minha raiva quanto por minha vergonha. Elizabeta não precisava ouvir isso, ainda mais pela boca exagerada do Gilbert!

Mirei a jovem, exasperado, desejando que ela compreendesse meus sinais mudos, mas acabei por ver algo que mudou por completo minha linha de raciocínio, algo por demais curioso: ela sorria, desta vez de uma forma mais pura, mais sincera, e mais encantadora, além de que se encontrava visivelmente distraída. Ela tinha as feições repletas de um curioso alívio e alegria.

Fiquei a fitá-la por alguns instantes, perdido em seu sorriso, mas então nossos olhos se cruzaram e ela pareceu livrar-se imediatamente de seu transe, voltando às suas feições anteriores.

– Bem, garotos, eu tenho que ir agora. Nos vemos amanhã se possível, okay? Tenho que ver algumas coisas relacionadas às minhas aulas ainda...

– Ah, certo... – eu balbuciei, numa voz fraca e carregada de uma leve decepção. A essa altura eu já havia desistido de afastar o albino, que ainda se pendurava em mim apesar de ser alguns centímetros mais alto. – Mas o que exatamente você ensina, Eliza? Se me permite perguntar...

– Violino. – foi Gilbert quem respondeu, numa voz relativamente séria – E ela toca muito bem para quem tem apenas catorze anos! – ele completou, virando-se a mim e exibindo um sorriso admirado.

Seus olhos e sorriso novamente me incomodaram, fazendo-me desviar o rosto em direção à garota exclusivamente. 

– Bem, eu tive aulas desde bem pequena... Eu apenas passo um pouco do que sei para os que desejam.

– Mesmo assim, Eliza! Você é incrível! Eu daria de tudo para ter aulas com você novamente!

As feições da jovem tornaram-se repentinamente entristecidas, culpadas e chocadas. Os seus olhos verdes foram de encontro ao chão e por lá permaneceram. Eu assistia a tudo, curioso.

O que havia acontecido com seu sorriso, com sua alegria?

– E-Eu tenho que ir agora... E realmente me desculpe, Gil. Desculpe mesmo...

Ela nos deu as costas e se pôs a se afastar, tomada por aparente agitação. Seguimos Eliza durante todo o percurso, com nossos olhos, vendo-a estagnar quando alcançava a sala dos funcionários, localizada quase na extremidade oposta do corredor. Ela se virou e chamou-me, a voz agora mais calma e normal.

– Ah, Roderich, eu já ia me esquecendo! Mais do que os meus verdes, olhos de cores incomuns, como os seus, são muito mais belos. E, bem... Por favor, cuide do Gil enquanto eu estiver ausente.

Ela deu um rápido aceno e então desapareceu pela porta. Gilbert e eu permanecemos simplesmente encarando o obstáculo de madeira que agora ocultava a garota, o braço do alemão ainda circundando meus ombros.

Suspirei, cansado, direcionando-me enfim ao albino.

– Você poderia me soltar agora?

Gilbert de forma alguma reagiu, nem com palavras nem com gestos. Permaneceu estático por alguns instantes, seu olhar ainda preso à porta, e então se virou lentamente a mim, suas feições sérias e intimidadoras.

– Ei, Rod... Você não estaria apaixonado pela Eliza, estaria?

Sua pergunta me surpreende de tão repentina, fazendo-me ser tomado novamente por uma fraca coloração escarlate.

– Po-Por que a pergunta?

– Acredite, apenas estou querendo o seu bem. Jogue esses sentimentos nada saudáveis fora o quanto antes, ou você irá se arrepender mais pra frente. A Eliza não é uma simples garota de catorze anos, bonita e que possui incríveis habilidades no violino... – ele deu uma breve pausa, seus olhos ainda presos aos meus – Ela é uma jovem de catorze anos, bonita, rica, violinista e filha única do dono deste orfanato! Nunca que a família dela aceitaria um simples órfão, sem qualquer status ou mesmo família, como você!

Minhas sobrancelhas se contraíram, desagradadas para com as palavras que me eram dirigidas.

– Por isso, jovem mestre, desista, ou terá seu coração aos pedaços bem em breve. – ele concluiu.

– Você não precisa dizer nada disso... Até porque eu não estou apaixonado pela Eliza. Como poderia? Eu mal a conheço!

O albino encarou-me por alguns segundos, calado, fitando o fundo dos meus olhos com demasiada atenção. Eu tinha um olhar zangado pousado sobre si, mas ele não o levava em consideração; nunca levava. E eu odiava especialmente essa parte da sua personalidade. Era como se ele não se importasse com opiniões alheias, apenas a própria. Isso era desprezível.

Gilbert sorriu levemente e então me libertou, dando-me enfim espaço para ajeitar minhas roupas amassadas.

– Ótimo! Melhor assim! Não seria nada legal se um aristocrata como você caísse novamente às lágrimas, sabe. E...

Ele pousou as mãos em meus ombros, uma de cada lado de minha cabeça, e apressou seu rosto rapidamente em direção ao meu. Fechei os olhos, sentindo as batidas de meu coração de repente acelerarem, mas estranhamente nada se sucedeu. Abri os olhos lentamente, deparando-me com os olhos escarlates do albino a centímetros dos meus, encarando-me atentamente.

O ar invadiu-me os pulmões, ao ser puxado de forma exasperada. As batidas de meu coração, que corria acelerado, alcançavam-me até os ouvidos. Minha face quente provavelmente exibia uma forte coloridão. Esse era meu estado após o súbito movimento de Gilbert, mas que apenas servira para me assustar.

Eu jurava que ele ia me beijar... Beijar como os mais velhos fazem, lábios nos lábios. Mas... Isso é impossível. Quero dizer, papai e mamãe sempre disseram que isso se faz com pessoas do sexo oposto. Ou seja, por que Gilbert sequer me beijaria? Então por que eu estava tão certo de que ele o faria?

O que há comigo?

O silêncio se firmou entre nós, de forma desconfortável. Eu encarava o vazio, ainda atordoado e pensativo, buscando respostas ao que eu não compreendia. Gilbert então sorriu e se afastou, indo em direção à escada sem pronunciar sequer uma palavra que explicasse seus atos. Eu observava seus movimentos, confuso, ainda estático e sentindo a face um tanto quente.

Já ao pé dos degraus, o alemão se volto a mim, sorrindo largamente.

– A Eliza tinha razão. Os olhos do jovem mestre são realmente muito bonitos. Por que será que eu não havia percebido isso antes?

Ele então sumiu, subindo as escadas correndo como a criança que era e causando um alto ruído durante o processo. Meus olhos permaneceram paralisados, incapazes de abandonar o local onde o alemão se encontrara repousado nos segundos anteriores.

Mas o quê?... O que aconteceu aqui?

Desviei enfim os olhos e me encaminhei à cozinha, onde eu já via certo movimento. Meu interior ainda inquieto e desequilibrado, não me permitia sossegar de forma alguma. Estagnei na entrada e levei uma das mãos aos lábios, mordendo a lateral de um dos dedos levemente.

– Idiota. – pronunciei, numa voz baixa.

Dei mais um passo, adentrando definitivamente o refeitório e sendo envolto imediatamente pelo forte odor de comida. Meu estômago se remexeu por causa da fome, afinal eu praticamente não almoçara, mas meus pensamentos impediam-me de reagir de alguma forma. Gilbert continuava a perturbar minha linha de raciocínio, alternando espaço com a última fala de Eliza:

Por favor, cuide do Gil na minha ausência.”

Suspirei, profundamente, encaminhando-me finalmente ao balcão, a fim de me servir do arroz confeitado que estava sendo servido como jantar.

Por que eu, Eliza? Por que logo eu?...



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Notas finais do capítulo

Obrigada aos que leram!
E se alguém souber me dizer o porquê do capítulo estar ruim, eu agradeço. =< Assim quem sabe eu evito isso nos demais...
E hoje é o meu aniversário! o/ Então que tal me presentearem com reviews? :3 Hein, hein? E eu queria que meus leitores fujões retornassem se possível. ^^' E que os fantasmas se revelassem, afinal eu adoraria conhecê-los!
Bem, é isso. Atualizarei assim que possível então não desistam ainda! Tentarei fazer a demora valer mais a pena. xD
BJJS e até uma próxima!!